sexta-feira, 23 de junho de 2017

Os Mártires do Araguaia.


    O Elo Perdido VII em...
     Os Mártires
              do
         Araguaia.   

                                     Preferiram o opróbrio de Cristo a riquezas e ouros.

  Autor: Wolfgang Dankmar Gunthe

 

  Moção de louvor...

 Aos 47 mártires que com ardor se dedicaram ao trabalho evangélico com firme propósito e deram suas vidas para comunhão dos índios  e humildes a estes nós dedicamos este livro para que seus nomes sejam lembrados e fiquem gravados como parceiros de Cristo levando em seus corações a epístola ardente da fé: “Por que buscais a tantos quando há só UM a ser encontrado?”

·      Padre João Fuchs.

·      Padre Pedro Sacilotti.

·      Coadjutor Pelegrino.

·      Bispo Dom Pedro Maria Casaldaliga Plá.

·      Padre João Bosco Burnier.

·      Padre Francisco Jaques Jentel.

·      Padre Rodolfo Lukenbeim.

·      Padre Dom Inácio de Azevedo*

·      Padre Diogo de Andrade*

Mais 38 irmãos* jogados ao mar. pgs 85*.

 Introdução...

OBRIGADO  SENHOR...

 Escrever este livro me parecia algo difícil e muito distante, mas agora ele está pronto. Durante este trabalho eu implorava a ajuda do Nosso Pai, e, em muitos momentos eu a senti me confortando especialmente nas horas mais difíceis afastando de mim o cansaço e o desanimo que tentavam me abater. Finalmente o terminei, não com meu único esforço, mas com o apoio de Deus. A Ti Meu Senhor, eu agradeço de coração.

       O autor.

 2 Timóteo 3.16.- “Toda escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir justiça”.

                           *

             Revoltas Ambíguas

                  Baixo e médio rio Araguaia.

                O eixo central Brasil se revolta.

               Chacina no rio das Mortes -1934

             Guerrilhado Araguaia   1967 a 1973.

           História de  Sta.Terezinha  1954 a 1974.

        Assassinato em Meirure MT.......05/07/1976.

      Assassinato em Cascalheira MT....... 11/10/1976.

Assassinato em Porto Alegre do Norte MT.17/12/1979.

Posto da Mata  –conflito  e  violência  2012/2013/2014.

Quarenta Missionários Jesuítas foram assassinados    e

jogados ao mar por corsários franceses em 07-1570.

                                         *

Conceito...teónaturalis...

                *São três as etapas intercaladas a serem percorridas pelo Espirito humano: “O teológico”-Agir com afeição e pensar para agir; “O metafísico”- Deduzir para Induzir a fim de instruir; e “O Positivo”-Saber, prever e prover corretamente. (wdgh-2013).

 ...Navegando nas memórias...

                   É preciso retroagir para reviver e só assim imortalizar em livros os feitos de homens que lutaram bravamente contra as intempéries, as adversidades e as injustiças sociais, onde a balança da Justiça tendia a pender mais em favor dos afortunados, e, em detrimento dos mais necessitados. Estes indômitos Cavaleiros da Fé levavam à sua frente o nome de Jesus Cristo na conquista de uma evangelização mansa e pacifica desta terra, mesmo que se preciso fosse, com o sacrifício de suas vidas, e para que a geração do futuro não venha perder estas preciosas jóias de nossa “história” que se acham, algures, encravadas em intocáveis e recônditos lugares nos humildes corações deste povo do sertão, é preciso ir buscá-las bem no fundo e trazê-las para a luz da nossa história contemporânea para conhecimento da nova geração.

                   É essa é a minha missão.

B.G 20/02/2014 –Wolfgang Dankmar Gunther.

                              &

              Recordando o histórico de cada Padre, do Coadjutor e do Bispo, levamos em conta as suas vidas e suas missões.

                   São estes, os mais humildes serviçais da fé que preferiram “o opróbrio de Cristo a riquezas e ouros”, que deixaram escritos com sangue a sua trajetória, assim como Cristo, a que vieram  neste nosso planeta terra;

Padre João Fuchs – Trucidado pelos índios Xavantes em 1934.

Padre Pedro Sacilotti-Trucidado pelos índios Xavantes em 1934.

Coadjutor José Pellegrino – faleceu em Araguaiana 21.05.1934.

Padre Francisco Jentel– Morreu vitima sangramento interno 1973.

Padre Rodolfo Lunkenbein - Assassinado em Meirure  em 1976.

Padre João Bosco Burnier – Assassinado em Cascalheira em 1976.

Bispo D. Pedro M. Casaldaliga Plá- faleceu S. F. Araguaia 2020.

Quarenta Jesuítas foram assassinados e jogados ao mar em 1570.

                                 §


BL 01...

Chacina no rio das Mortes-1934.       

O Pe. João Fuchs nasceu em 1880 em Plaffnau no Cantão de Lucerna na Suíça alemã, sendo filho de Francisco e de Anna Meyer. Quase nada sabemos de sua primeira juventude, mas o sentimento católico devia ser bem vivo na família se, além do filho missionário todas as filhas nutriram para com as missões o mais profundo amor consagrando a elas sua atividade e enviando anualmente valiosos auxílios espirituais e materiais para os missionários.

Pe. Pedro Sacilotti nascido em Cannes (S. Paulo) em 1898 era brasileiro, filho de Antônio e de Genoveffa, vênetos, que transmitiram ao filho as qualidades típicas da família italiana: fé profunda, amor ao trabalho e ao sacrifício, com coragem indômita para arrostar as dificuldades. Em 1915 entrou no Aspirantado de Lavrinhas e após o curso filosófico e o tirocínio prático foi enviado a Turim (Crocetta) onde se ordenou Padre em 1925. De grande humildade e profundo respeito para com os Superiores, receiava que o defeito da gaguice lhe impedisse a realização do sonho de ser um dia sacerdote e missionário; nada disso. Pois Deus lhe concedeu ser Padre salesiano e missionário, logo que ele voltou ao Brasil.

Coadjutor José Pellegrino nasceu em Benevagienna (Mondoví-Itália), filho de Giovanni e de Caterina Gallo, a 20 de agosto de 1880. E faleceu em 1934.

 

Compilações....

                    O Pe. Sacilloti e o Pe. João Fuchs tinha suas desobrigas estendidas de Araguaiana no rio Araguaia por este abaixo até Mato Verde e depois subiam o rio até a embocadura  com o rio da Mortes e por este adentro até Sta. Terezinha  já no alto Rio da Mortes ou rio Manso e vice versa.

                   Mato Verde era uma pequena vila a beira rio que havia sido habitada por Lucio Pereira Luz e mais uma boa leva de lavradores e vaqueiros, em maio de 1934, a vila ficava apenas a uns dois mil metros do Morro dos Padres na mesma margem. Os dois padres tinham por companhia um Bororo Luiz que era o motorista e piloto de sua embarcação, e vez por outra a presença do Coadjutor Pellegrino. Que foi vitima de uma devastadora chaga que o vitimou. Lembro ainda que haja muitos anos atrás eu escutei por varias vezes e por vários índios Karajas da aldeia de Santa Izabel, contarem que não dormiam nas praias do rio das Mortes porque ela causava feridas nas peles como queimaduras e muitas bolhas nas costas e pernas. Por algumas vezes, anos depois, vinham aviões”Catalina” anfíbios de dois motores, da charqueada de Araguacema TO, e ali pousavam e enchiam sacos de areia e decolava para o exterior. Falava-se em areia monazítica.

1934 — O primeiro mês de 1934 continuou com os nossos em Mato Verde na evangelização dos Carajás da margem esquerda. Pelo fim do mês por ordem dos Superiores, voltaram a Araguaiana para um descanso. Aos 30 de setembro decidiram descer até Mato Verde, na frente da ilha Bananal, onde num alto barranco construíram um rancho e foi inaugurada a nova Missão de S. Francisco Xavier assistindo à Missa um bom grupo de índios Carajás”. (o grifo é nosso). Noticiaram-se, naquela oportunidade que 34 dias após as mortes dos padres, outros salesianos vindos de Araguaiana oficiaram a nova Missão dando assim prosseguimento aos trabalhos dos padres sacrificados. 

 

RETROAGINDO..No tempo...

                   “Os Xavantes depois da primeira pacificação pelo exercito ainda em Goiás, desde 1775 viram-se diminuindo a tal ponto que fugiram  atravessando o rio Araguaia na barra do rio das Mortes, onde se fixaram a esquerda  do rio das Mortes desde 1840  rejeitando qualquer tentativa de aproximação. Quando os Pe.  João Fuchs e  Pedro Sacilotti, tentaram se aproximar  dos  Xavantes foram trucidados”.

Assim se passaram os fatos:

* “01 de Novembro de 1934” — Festa de todos os Santos foi o dia glorioso da morte dos nossos dois heróis. Na embarcação que descia de Sta. Teresinha no rio das Mortes eram sete pessoas: os dois Padres, o bororo Luis motorista, Militão Soares de Cocalinho, Nestor Coelho do Maranhão, o garimpeiro holandês João Schiller e o moço Serafim Marques de Araguaiana.

Bordejando rio abaixo, eis que pelas 3 horas da tarde, o moço Serafim entreviu na margem direita dois Xavantes parados, em observação. Padre Sacilotti e o bororo Luis saltaram na ubá que levavam consigo e encostaram, enquanto a lancha descia lenta no meio do rio com o motor apagado.                                O barranco da margem era íngreme e muito alto: trepando com as mãos e pés chegaram em cima; ninguém! Avançando um pouco subiram numa árvore e de lá descortinaram à distância de cem metros na orla da floresta uns 50 Índios escondidos na folhagem.

Pe. Sacilotti chamou então os demais que viessem. Avançaram os dois Padres e o bororo; chegados bem perto. Pe. Sacilotti falou aos Índios em Karajá, mas eles responderam em tom ameaçador. Então Pe. Sacilotti virando-se pediu aos companheiros que trouxessem os presentes. Militão, Nestor, e Luis voltaram à embarcação, enquanto o holandês, que não tinha entendido, continuou a avançar.

Quase no mesmo instante ecoou o grito de P. Sacilotti “Os Xavantes atacam!” O que aconteceu naqueles momentos ninguém viu, mas é certo que os dois Padres desde muitos meses previam a hora do sacrifício e serenamente o enfrentaram: sine sanguinis effusione non fit remissio!

Os camaradas fugiram desabaladamente, enquanto entre os gritos dos selvagens sibilavam os cacetes e as bordunas. Chegados à lancha, o holandês armou-se de sua “Winchester”automática e encostou outra vez no barranco chamando forte “Padre Sacilotti, Padre Fuchs!”; fora do éco, silêncio absoluto.

Não avançou por estar sozinho e porque começava a anoitecer; chamou os demais, mas estes se recusaram pela escuridão. Bem lembrado da recomendação do Padre, não atirou nem quando lhe pareceu que passassem perto duas sombras; ficaram toda a noite ancorados no meio do rio; no dia seguinte exploraram o terreno; a uns 500 metros do barranco encontraram os dois cadáveres, um junto do outro, ambos com o crânio fraturado.

Transportados na margem, foram enterrados à beira do rio a meio metro de distância e foi levantada uma cruz, sinal de nossa redenção. Terminada a cerimônia, o bororo se ajoelhou imitado pelos demais, e rezaram uma Ave Maria, para o descanso eterno dos dois Padres, imolados para a conversão dos Índios Xavantes. “Meses depois os restos mortais foram transportados a Araguaiana no cemitério que já acolhia os despojos de Pellegrino: lá foi construída uma decorosa capela para lembrar aos fiéis os heróicos missionários dos Xavantes”. Ainda hoje, no rio das Mortes, um pouco acima de São Felix do Araguaia existe a barreira chamada “Barreira dos Padres”, e, em Luciara, “Morro dos Padres”, Hoje a aldeia indígena Karaja.

José Pellegrino tinha nascido em Benevagienna (Mondoví-Itália), filho de Giovanni e de Caterina Gallo, a 20 de agosto de 1880. Quando em 1903 Malan foi à Itália o nosso Pellegrino fez parte da comitiva que veiu naquele ano a Mato Grosso; trabalhou em várias casas até que em 1916 foi destinado à nova casa de Araguaiana como cozinheiro. Lá ficou todo o restante da vida por 17 anos, amando grandemente aquela casa que para ele era tudo.

Quem conheceu Pellegrino, dificilmente refreia um sorriso pensando no seu temperamento tipicamente cômico, que espalhou alegria não só no palco dos nossos teatrinhos, mas em toda parte. Poderia estar na galeria das figuras mais expressivas dos “Fioretti di S. Francesco”. Magro e pequeno, com boca larga e queixo pontudo, de frente era ele; de perfil era outro: no palco era um cômico irresistível. Nunca teria imaginado uma obediência para o rio das Mortes, mas quando partiu Pe. Sacilotti, ele recebeu ordem de segui-lo.

De físico fraco e raquítico, ficou no momento perturbado e interdito, mas não hesitou em dar seu Fiat. Em Sta. Teresinha foi o factótum do humilde rancho: ele nas breves excursões acompanhou os Padres, apesar de que o caminhar fosse para ele um tormento pelo defeito dos pés chatos e muito longos (sesquipedes). Não tardaram a abrir-se úlceras e feridas que pela alimentação insuficiente e sempre a mesma, se alastraram, dando-lhe uma coceira contínua em todo o corpo. Queixava-se então “do prurido de reforma” que se sentia no rio das Mortes: o calor dilatou sempre mais as feridas e começaram a pulular os vermes; todavia ele continuou sereno seu trabalho caseiro, sempre fervoroso mortificado e alegre. A gangrena avançou e com ela o mau cheiro nauseante. A 19 de abril de 34 abandonou S.ta. Teresinha e foi a cavalo, mas pelos freqüentes desmaios foi transportado numa rede; de Cocalinho subiu de canoa até Araguaiana. Chuvas torrenciais de horas a fio ameaçaram sufocar a pequena comitiva. Mas a força indômita de Pe. Sacilotti fez com que, finalmente, a 4 de maio aportassem a Araguaiana. Pe. Sacilotti parecia um cadáver pelas longas e pesadas febres, mas recuperou em breve as forças; Pellegrino era uma só chaga, mas não lhe faltava a força do bom humor dizendo que “era tão simpático que o rio das Mortes o tinha repelido horrorizado”. Os vermes multiplicando-se, apesar de todos os curativos, roeram aquele corpo em decomposição, mas ele continuou sereno. Quando lhe anunciaram próximo o fim “Finalmente” exclamou, e morreu plácido, com os Santos Sacramentos, como morre o justo. Morreu a 21 de maio de 1934 em Araguaiana MT e foi enterrado e posteriormente juntou-se a ele, ao lado, o Pe. João Fuchs e Pe. Pedro Sacilotti.

BL 02 ...      * Um Frances no Brasil.         .     

                                  Padre François Jaques Jentel

.“Era apenas um homem comum dotado da sabedoria de Deus”. Conhecido pelos índios como Padre Pranxico.

 Raízes deste episódio 1910 a 1974.

Navegando nas memórias...

 *Tudo começou em... 1910...26...35...47..50..52..54..64..até..1974..

... com a penetração do rio Araguaia pelas frentes colonizadoras, em meados do século XIX, pequenas cidades ribeirinhas foram sendo criadas e povoadas por migrantes vindos do nordeste brasileiro. O rio Tapirape então passou a ser explorado e uma expedição que estava à procura de caucho (um tipo de seringa) chegou até aos Tapirapé por volta 1910 causando-lhes grandes perdas populacionais *Mas o que mais agravou a vida dos Tapirape foram os ataques dos guerreiros Kaiapos contra a aldeia Tapirapé de Tapi-itãwa e raptavam as crianças e as mulheres e lhes incendiavam as casas.

                  Em agosto de 1926 chegaram à barra do rio Tapirapé com o rio Araguaia, na divisa do Estado de Mato Grosso e Ilha do Bananal no Estado de Goiás (hoje Tocantins), o pioneiro Pio José Pinheiro e sua esposa dona Inês, com eles vieram Sebastião Pereira e outros, no inicio se instalaram junto ao morro da barra, mas a grande enchente do ano de um mil novecentos e vinte e seis fizeram com que na junção dos rios Tapirapés e Araguaia a água corresse entre os morros vazando por dentro e os obrigaram a se mudar e, então habitaram ás margens do lago Tapirapé.

Na primeira visita em 1935 de Baldus (Herbert Baldus Antropólogo teuto-brasileiro) a região os índios Tapirape somavam a 130 pessoas e, 12 anos mais tarde, em 1947 havia somente 59 Tapirape.

Depois de um destes ataques ocorridos em 1947 pelos índios Kaiapós a população Tapirapés se dispersou, uma parte dos sobreviventes foi acolhida pelo pioneiro da região Lucio Pereira Luz. E posteriormente foram recambiados pelo SPI para a aldeia “Orokotâwa” (Aldeia do Urucum) dos Índios Tapirapés.  Onde mais tarde, em 1950 se formou um grande mangueiral.

                  Anos de 1950 - Ali, no Estado de Mato Grosso, na barra do rio Tapirapé com o rio Araguaia, entre dois morros ficavam as aldeias “Itxala” dos índios Karajás na margem do Araguaia e a aldeia dos índios Tapirapé a beira do lago Tapirapé, distante uma da outra não mais do que dois quilômetros.

Em 1952 chegaram as Irmãzinhas de Jesus e encontraram apenas 47 índios Tapirapés doentes de sarampo e pneumonia.   

                   *Em 1954 chegou o Padre François Jaques Jentel que ficou conhecido como Padre Francisco, ou Chico ou ainda Pranxinko, como era chamado pelos índios Tapirapé.             

Contornando o varjão da beira do lago chegava-se um vastíssimo mangueiral onde ficava a aldeia dos índios Tapirapé e ali residia o Padre François Jaques Jentel, mais conhecido por padre Chico, o Padre Focault que permaneceu por longo tempo e as três freiras irmãzinhas de Jesus. Vez por outra, quase no final da história, aparecia uma missionária francesinha de nome Denise. 


                 
                                       As Irmãzinhas de Jesus –Barra Tapirape. MT

Entre as duas aldeias morava a já comentada pioneira e antiga moradora que ali havia chegado com sua família em 1926 a Dona Inês Pinheiro e suas filhas Luciana e Natividade, e seu marido Chico, e seus filhos João Pinheiro e Oleriano e a filha mais velha  Raimunda e o caçula da família José Célio.

                   Entre as duas aldeias morava a já comentada pioneira e antiga moradora que ali havia chegado com sua família em 1926 a Dona Inês Pinheiro.

                   O nome era o Posto Indígena Heloisa Alberto Torres e o negro Valentin Gomes e sua esposa Joaninha eram os encarregados. (eram dois paus de bater em doido)-(muito ativos) - ditado popular.

                                                        .                          *

1972 a 1974 – períodos de conturbação social

 

                  * Foi na vigília de Natal de 1954 que o Pe. Francisco Jentel chegou, pela primeira vez, ao pequeno povoado de Furo de Pedras, ás margens do rio Araguaia. Apresentou-se discretamente àquela comunidade de pobres lavradores, na hora em que estavam reunidos para celebrar a boa nova do nascimento de Jesus. Com eles rezou a missa. No dia seguinte, 25 de dezembro, Pe. Chico chegou à aldeia Tapirape. Os índios estavam muito reduzidos em numero, dizimados pelas doenças e desnutrição. Com eles já estavam às irmãzinhas de Jesus, concretizando o projeto de convivência na plena comunhão de vida e situação. O primeiro ato do Pe. Jentel foi celebrar o Natal com os índios e as irmãzinhas. E lá ficou morando e era chamado de Pranxiko e tinha 32 anos de idade e não falava nada em português, mas cedo aprendeu ambas as línguas inclusive Tapirapé.   Etc.etc.*

                   Aquele homem magro, de andar ligeiro, queimado de sol e simples como um peão do trecho era o Padre Chico e aquelas três mulheres, eram as irmãzinhas de Jesus, freiras abnegadas que dedicavam junto com os Padres suas vidas aos índios Tapirapés e Karajás, eram educadas como uma flor e humildes como só os simples sabem ser e na ajuda o pobre e bondoso Padre Focault.

As três casas, duas, eram de pau a pique e outra de madeira, todas cobertas de palha, eram a igreja e duas residências, sendo que uma servia de ambulatório e dormida das irmãzinhas e da francesinha Denise, e a outra para os dois padres, isto quando Focault ou outro aparecia. Nos fundos um galinheiro e dois canteiros de verduras, destes feitos com forquilhas e suspensos.

                   No ar, uma tranqüilidade incrível, parecia que o resto do mundo nunca existia ali tudo cheirava a amor, carinho e abnegação, ali naquele saudoso recanto até os pássaros alegres viviam a festejar aquela benção divina, nunca mais senti um torpor tão maravilhoso em minha vida como aquele ali.

Como eu havia dormido na casa de Dona Inês, ainda estava cedo para fazer uma visita a meu amigo, mas, ali estava eu.

--Padre...

--Dankmar, que surpresa agradável, vai entrando, irmãzinhas olhem quem esta aqui?

--Bom dia seu Dankmar – cumprimentaram a três de uma só vez e muito alegres.

--Como vão às coisas por aqui Padre?

--Com exceção do caso da família do Valentim que quase morrem envenenados pela própria filha, o resto esta bem, mas fiquei sabendo de algo de anormal lá por ”Saint Terezin”, mas vou lá hoje ver o que esta acontecendo.

--È, eu fiquei sabendo o caso do Valentim, mas eles já estão recuperados graças a Deus, eu vim aqui para conversar um pouco contigo sobre os acontecimentos em Santa Terezinha e se possível irei junto.

--Esta bem. Se não sairmos hoje, amanhã cedo o faremos, nos vamos por terra, e é longe.

--Melhor, assim dá tempo de conversarmos a vontade e eu queria falar com o Pranchui, sei que ele tem uma historia bonita sobre a igreja de Pedra e eu quero ouvir dele mesmo.

--Denise chame o Pranchui - pediu o Padre a uma francesinha de fazer inveja a qualquer top model – não era freira era apenas uma agente pastoral, mas que agente!

--Enquanto conversamos as irmãzinhas vão fazer um almoço bem cedo e você fica conosco.

                   Pranchui, o índio Tapirapés acabava de chegar e nos cumprimentou.

--Agora que o índio chegou padre eu tenho uma noticia para você, o Liton esteve voando lá por Santa Terezinha e me disse que tem uns aviões grandes trazendo gente e falam que são os donos daquelas terras?

--Então é isto, mas é impossível aquela terra é da Prelazia de Conceição do Araguaia, mas eu vou lá ver isto, Pranchui mostre ao Dankmar a sua pedra.

--Aqui esta seu Dequimá, veja que beleza - disse o índio tirando uma pedra de cristal de sua sacola de couro de anta junto com outros apetrechos, um pedaço de lima, uma ponta de chifre, cheia de algodão queimado e a pequena pedra de cristal, admirei a beleza da mesma, pura e sem uma rachadura, limpa mesmo.

--Aonde a encontrou – perguntei

--Lá no pé da Serra do Roncador, a serra desbarrancou e uma pedra muito grande rolou e enganchou em uma arvore, a pedra é da minha altura e muito bonita a gente pode ver a cara da gente dentro dela e eu peguei este pedaço pequeno que estava no chão, eu a uso para tirar fogo. Assim quer ver? Segurou a pedra entre os dedos da mão esquerda colocando por baixo o algodão dentro da palma da mão a ponta de chifre e com a mão direita riscou a pedra com o pedaço de lima, uma centelha de fogo caiu dentro do chumaço de algodão, soprou a seguir criando uma pequena brasa, que logo passou fogo para uma palha de milho seca.

--Muito bom mesmo, mas fica muito longe daqui?

--Quatro dias de viajem é perto a Igreja de Pedra.

--Conte como é esta igreja de pedra eu quero ouvir de sua boca, o negro Valentim já me a contou, mas por alto.

--Lá na serra, existe um paredão cheio de buraco, lá aonde o vento assobia parece janela e porta, e em cima de uma porta tem umas coisas escritas que eu não sei o que é?

--Porque chamam igreja de pedra?

--Porque o escrito de cima da portas parece escrito de padre, um dia eu levo vocês lá, agora não os Caiapós estão andando lá e tem roça deles lá perto, um dia eu levo vocês lá, agora não.

--Vamos combinar para a minha próxima viagem? Está certo?

--Eu também irei – remendou o padre.

Aproveitei fui visitar a família do negro Valentim que estava muito fraca e se recuperando da tragédia do envenenamento, João Pinheiro me emprestou uma égua arriada para a viagem e voltei bem cedo do outro dia para a Aldeia Tapirapés.

O Padre Jentel já estava de pé.

--Vamos tomar um lanche e seguir viajem Dankmar.

--Mas aonde esta o seu animal? Você vai a pé?

--Vou sim desça logo.

Desci, tomei um lanche rápido e montei e o padre Chico já estava andando no rumo da trilha e eu o segui e lá se fomos nós, o Padre ia à frente de mochila nas costas e marcando o caminho e com sua sandália de látex ponteava o trilheiro. Francamente nunca vi ninguém andar tão ligeiro, às vezes eu tinha que trotar a égua para acompanhá-lo. Quase matou a égua de cansada. Chegamos a Santa Terezinha já era tardinha, o Padre parecia que nem tinha andado e a égua quase chega empurrada, afinal eram sete léguas ou 42 quilômetros como quiserem e no meio de trilha e arbustos misturados com lagos, pantanais e areões um verdadeiro rálly.

                   Mas estavam para começar as modificações, e o Padre Chico viu isto assim que chegamos a Santa Terezinha.       

Ali em cima daqueles morros de areia os casarões construídos pelos padres da então Missão de Conceição do Araguaia impressionavam pela sua imponência realçando a grandeza do rio Araguaia. A velha missão ficava junto ao rio, e pareciam resistir às intempéries dos tempos, pois eram bem antigos. Um movimento inusitado parecia ter transformado aquele monte de areia quente em algo inexplicável. Durante a viagem fiz uma retrospectiva da vida do Padre Chico...

                 

               * “O Padre Chico, como era conhecido, morava a muitos anos junto da aldeia dos índios Tapirapé, simples, humilde, e muito pobre, ele e as irmãzinhas se dedicavam exclusivamente aos índios Tapirapé e Karajás cuja aldeia não distava mais do que dois mil metros. Era o Posto Heloísa Torres, aonde o nego Valentim e sua esposa Joaninha eram os encarregados, bem perto morava Dona Inês com sua prole, eram toda uma só feliz família Nas noites limpas de lua cheia podia se ouvir as índias Tapirapés ao redor de uma fogueira a cantarem lindas, suaves e melodiosas cantigas indígenas nunca mais eu escutei nada igual, os índios Karajas faziam suas festas Aruanã e com estes procedimentos aproximavam-se culturalmente as duas raças, porque não dizer as três raças, eu mesmo aprendi a fazer arco e flechas, Em nada parecia com as turbulentas cidades de pedra do mundo lá de fora. O padre Focault tentando levantar um canteiro colocava três forquilhas de cerne e uma de pau branco, eu e os índios o ensinamos que com uma forquilha ruim o canteiro iria cair, ele entendeu foi até o mato e trouxe uma outra nova e boa, era assim a vida, tudo harmonia”

                              Mas... Nem sempre tudo é harmonia e o destino se encarregara de mudar a vida daquele Padre e dos habitantes daquela região, assim sendo,para melhor assimilarmos o desenrolar desta história,teremos que retroagir voltando no tempo... 1957...

A origem destas mudanças:

Conta a história que um DC-3 da Nacional Transporte Aéreo, comandado pelo piloto Hilton Machado, fez um pouso de emergência nas praias do Rio Araguaia, no local onde nasceria o Vilarejo de Santa Terezinha. O passageiro Holck e o comandante – hoje proprietário da Votec – ficaram encantados com o local e combinaram adquirir terras a partir das margens do Araguaia e nelas implantar atividades pecuárias. Um comerciante vindo de Campo Grande (MS) Michel Nasser, se associou ao projeto e os três juntos requereram em 1957 terras do Estado e conseguiram uma gleba de 1,5 milhões de hectares [...] divisões sucessivas da gleba original terminaram sendo a Confresa de Jose Augusto Leite Medeiros e Jose Carlos Pires Carneiro e a Codeara do grupo financeiro e banqueiro BCN (BORGES, 1987:380)”

 

Deste pacote de hectares venderam 72.000 hectares para a empresa Japonesa Yanmar do Brasil onde se instalou o inicio de Porto Alegre do Norte MT sob o comando do Fiscal Plínio, mas os conflitantes posseiros se revoltaram e o Fiscal foi baleado e a sede da empresa passou a ser em Confresa. A Yanmar do Brasil cedeu ao INCRA para assentamento dos posseiros uma área com 22.308.0000hectares nomeados como Projeto Piracicaba que até hoje em 2017 se encontra em litigio Judiciário e o INCRA ainda não indenizou seu credor. A maior parte foi removida para Codeara num total de 400 mil hectares. Foram estes tumultuados episódios que vieram gerar semente que  despertou  o povoado, depois vila e hoje cidade de Santa Terezinha. Relembrando que estes títulos foram todos oriundos do Estado e averbados pelo Cartório Medeiros na Capital de São Paulo. Ver manuscrito original e conferir.  Venderam para Erico Ribeiro 51.004.0000hectares que a intitulou como Vitoria do Araguaia.

 Continuando...

                  Às quatro horas da tarde fomos á casa de Napoleão que era o encarregado daquele conjunto de casarões da Prelazia de Conceição do Araguaia para zelar a missão.

                   Batemos na porta, demoraram a atender, finalmente Verônica a esposa de Napoleão aparece bocejando, estava dormindo.

--Padre Chico!

--Estava dormindo irmã?

--Deitada, padre, cochilando.

--E Napoleão esta? Sim, já se levantou, mas entrem - e continuou.

--Seu Dankmar veio também! Á quanto tempo não lhe vejo.

--Boa tarde padre, boa tarde Dankmar – falou Napoleão aparecendo.

--Mas o que esta acontecendo Napoleão? Indagou Jentel.

--Padre... – gaguejou Napoleão – Sua benção.

--Ulala, me conte logo depois te abençoou.

--Chegaram aqui uns homens dizendo que são os donos de todas estas terras e que vieram de Conceição com uma ordem do Bispo, eles estão lá na casa grande.

--Vamos até lá agora.

--Mas o que esta acontecendo aqui?  Tornou a se impacientar o Padre-quase gritando.                    

                   O calor do meio dia a tarde explodia sobre aquelas areias quente e as poucas árvores não faziam sombra alguma. O rosto do Padre Chico se transformou como de água para o vinho, via-se claramente a indignação à raiva e a revolta em seus olhos. Já não era mais o pacifico Padre Chico, agora era o rebelde Padre François Jaques Jentel.

O encontro inesperado com a civilização vinda sobre asas de aviões, o movimento de gente estranhas em seu território acendeu-lhe na alma uma chama apagada há muito tempo.

--Vamos ver o que esta acontecendo – explodiu enquanto caminhava na areia quente rumo ao casarão.

No casarão um homem alto e simpático muito bem vestido e com um sorriso no rosto apareceu à porta cumprimentando

--Ola, - estendendo a mão ao Padre que não correspondeu --Meu nome é Humberto Machado e sou o proprietário da Linha Aérea Nacional.

--Tem uma carta para mim – cortou o padre – por favor, me entregue logo quero vê-la.

--Aqui está Padre.

Jentel procurou uma cadeira leu a carta umas quatro vezes e parecia não acreditar.

--Como é que vão chegando e se apossando da missão sem antes ter falado comigo, aqui tinha muita coisa importante guardada – zangou.

--Eu tive ordens de chegar e me arranchar com minhas coisas afinal as terras são minhas e eu não podia ficar no tempo ou embaixo de uma arvore com tanto instrumento.

--Muito bem veremos o que vai acontecer, - terminou o Padre virou as costas e saiu.          

 No outro dia cedo, dois aviões Douglas sobrevoaram e desceram na pista, com eles vieram muitos homens, e também Hilton Machado, irmão de Humberto era um dos mais fortes proprietários da empresa e trouxeram muitas ferramentas, começavam a colonizar.

                   Deste dia em diante o Padre Jentel tumultuou a vida de todos, organizou cooperativas, associações e promoveu uma pequena revolução. Lutou muito para defender os antigos pioneiros, organizou grupo de posseiros fundou sindicatos e passou a congregar centenas de trabalhadores rurais que chegavam de todos os cantos do país, estava declarada a luta aberta pela terra que não era de ninguém. 

Mas o Padre era muito habilidoso e amigavelmente ele se infiltrou entre os proprietários com a finalidade de saber quais seriam seus movimentos.

--Muito bem – dissera a Hilton Machado - Já que o Bispo recomendou que lhes desse todo apoio assim eu o farei.

--Inicialmente só precisamos desta casa, logo vamos construir dentro de nosso projeto. Discutiram por varias horas, mostraram os mapas e falaram a vontade de tudo que o padre queria saber.

--E ai padre tudo bem – perguntei.

--Nem triste nem alegre - foi á resposta lacônica

                  --Agora o bicho vai pegar, o preço do progresso é muito alto, muita gente vai sofrer e que Deus tenha piedade.                   

              --É chegada a hora! Certamente agora  começarão a   chegar   os  grileiros, pistoleiros, garimpeiros e mulheres vadias, isto aqui vai bagunçar a vida dos sertanejos, só Deus para nos livrar desta.

Pouco tempo depois as terras mudavam de dono. Mas a minha maior preocupação era com Padre Jentel ou Padre Chico como queira, foi quando fiquei sabendo que a Linha Área Nacional já não eram mais as proprietárias daquela encrenca. E que a Codeara assumira o comando, fiquei apreensivo, pois sabia muito bem que Codeara, a Companhia do Desenvolvimento do Araguaia, o BCN – Banco de Crédito Nacional e o Cartório Medeiros da Capital de São Paulo eram intimamente ligados, ainda mais tendo adquirido certo volume de terras de Michel Nasser lá de Campo Grande, embora aquele houvesse reservado uma pequeníssima área, eram 5.935 hectares, para assentamento dos antigos posseiros. Foi à pólvora do barril explosivo chamado Jentel.

                                                    &

“CODEARA”  X  “Padre Chico”

                   A Codeara assume o comando, no lugar das Linhas Áreas Nacionais. Subsidiaria do Banco Nacional de Crédito –BCN - com sede em São Paulo, era regida sob a batuta de Armando Conde, e tinha na sua direção o Dr. Luiz Gonzaga Murat um extrovertido executivo e o Doutor Seixas, maleável como as rochas. Na fazenda quem manobrava era o capataz Silveira e o Salomão, homens violentos talhados para este difícil encargo que era dominar a região, só que tinham um espinho atravessado em suas gargantas, um simples padre chamado Padre Chico que era um osso duro de roer.

Jentel organiza e cria a Cooperativa Mista do Araguaia, seu secretário particular o jovem Reis passou a Presidente da mesma, novo, lutador líder incontestável da nova geração era a medida certa para a luta que se iniciava.

A Vila crescia assustadoramente, bares, armazéns, açougues, cabarés, e farmácias se instalavam. A previsão do padre Chico se realizava.

                   Mulheres da vida fácil chegavam a toda hora em barcos carregados de peões arrebanhados nos mais longínquos recantos do nordeste era uma constante.

                   Estava satisfeito o ditado popular “Um lugar para ser bom tem que ter cinco” P “= Padre – Peão – Policia - Puta e Pinga”

Surgiram então os primeiros atritos entre Codeara e os peões / posseiros, e o Padre sempre defendiam a estes últimos.     Muitas vezes a Policia Federal teve que intervir.

Os “gatos” eram homens duros e sem regras eram os arrebanha dores de peões que contratavam e os traziam para o sertão hostil e bruto e ali se embrenhavam mata á dentro para as derrubadas, os que escapavam da maleita, não escapavam da faca ou do tiro.

Naqueles tempos assim eram qualificados os peões:

 Peão do trecho.

1.     – Peão Urutu

2.     - Peão Pára-quedista

3.     - Peão Macaco

4.     – Peão Liso

5.     - Peão Mambira

6.     - Peão Gente

 

O Peão Urutu   (cobra), normalmente bem vestido, chapéu Panamá na cabeça, botas de cano longo, costeletas, cinturão largo e usava sempre um radiosinho a pilha. Sempre era muito respeitado, gostava de andar armado com faca ou revolver, adorava frequentar cabarés e era sempre tido como valente, mas, se portava sempre bem com as ‘mulheres’. Gosta de ficar devendo muito nas pensões em que se hospedava, mas quando arrebanhado, paga as contas, depois de dar um belo tombo no patrão, no mato bom trabalhador.

 

Peão Pára-quedista, normalmente é um homem solitário, só carrega uma mochila, não tem amigos, e gosta de trabalhar sozinho, sempre ao ser arrebanhado pelos Gatos necessita de dinheiro para mandar para a mãezinha que esta longe e doente e para pagar as despesas na pensão e ainda comprar umas roupas, Sua especialidade é fugir dos patrões quando são recambiados para as fazendas. Usam dentro da mochila uma ou duas câmaras de ar de bicicleta dobradas e cheias de ar em meio às roupas. Quando o carro que o transporta esta em alta velocidade e que a estrada seja em meio a cerrado fechado ou mata, ele acrobaticamente pondo a mochila no peito pula do carro e cai no chão sobre a mochila, daí num salto espetacular põe-se a correr se embrenhando na mata. Quando o carro consegue parar ele já esta muito longe.

 

 Peão Macaco, e similar do peão pára-quedista, só usa uma mochila com poucas coisas, e nas costas, e, quando a viatura vai à alta velocidade em meio à mata ele, tal qual um Tarzan da um pulo agarra um galho de arvore que passa e malabarescamente cai de pé e foge mata adentro - Dizem que peão macaco não pode ver um galho que da vontade de pular.

 

Peão Liso, este é o mais difícil de todos, pois sempre anda em grupo de cinco ou seis, se hospedam em boas pensões, gastam muito nos bares e com o mulherio. Gostam de pegar grandes empreitadas, mas sempre querem muito dinheiro adiantado para pagarem suas despesas e quando estão prontos para partir ai é um Deus nos acuda quando aparecem quatro faltam dois, saem dois em busca dos outros e ai some os quatro, o Gato faltava ficar louco para ajuntá-los, uns estão no bar bebendo, outros enrolados com as mulheres, normalmente o Gato usa a policia para ajuntá-los quando já estão bêbados.

 

Peão Mambira, o mesmo que tamanduá, que é conhecido por sua vagarosidade, mas ao entrar em uma moita de mato sabe se esconder e fugir rapidamente. O Peão Mambira age assim mesmo, sempre com o machado ou foice na mão entra para o mato e começa a trabalhar o fiscal esta escutando o bater do machado, derrepente para, o fiscal vai até o local do serviço e só encontra o machado no chão o peão já sumiu na mata, por tal motivo são faceeis de arrebanhar e não são exigentes, os Gatos resolvem o problema fazendo-os trabalharem com outros grupos, mas no fim sempre acontece o mesmo. Tempos depois aparece em outra fazenda e diz que fugiu daquela porque estava sendo ameaçado. E torna a dar o golpe. Muitos morrem por estes motivos.

  Peão Gente, é o homem honesto e trabalhador.

Assim eram arrebanhados:

                   Caminhões cheios de homens, mulheres e crianças, cruzam as estradas rumo ao sertão mato-grossense – eram os Paus de Arara.

                   Sempre desviando o mais possível dos grandes centros, para evitar a repressão por parte das autoridades, os motoristas e os “gatos’ os conduzem de maneira mais rápida possível, ao ponto mais próximo de sua meta final”.

                   Os “Gatos” são chamados os empreiteiros, homens rudes e não raras vezes violentos, que são especialistas no tráfico interno de pessoas, ou seja, o proxenetismo.

                   Munidos de boas quantidades de dinheiro, estes homens saem por cidades nordestinas, aonde o desemprego é uma constante realidade e ali faz o arrebanhamento de trabalhadores, como o vaqueiro arrebanha o gado.

Seus escritórios são os bares, sua clientela os peões.

Entre uma pinga e a outra solta o engodo:

--Peguei uma empreitada na Fazenda Marimba do Doutor Oscar lá em Mato Grosso que só vendo, desta vez eu me aprumo mesmo, vou tirar a barriga da miséria.

--É donde hei? – pergunta um peão.

--Lá juntinho do rio Fontoura, é uma beleza, o cheimm, o rio Suia passa perto também, bem dentro da terra do patrão, e tem peixe pra da cum pau, até o pirosca passa o dia aboiando na fonte de lava roupa. E a caça nem se fala, oia o compadre Cirso mato quatorze porco junto do barraco dele, ele subiu num pau e jogou o gogó em baixo e os porcos ficarão estraçaiando o carção dele e enquanto isto ele ia matando um por um...

--Puxa sô, e a maleita? Ouvi dize que dá até em macaco?

--Mentira danada sô, oia cumo eu to forte mais que menino novo.

                    --E a cumo você pegou essa empreitada companheiro? --Peguei a quatro mil o alqueirão, mas é mole, num tem pau grosso e o patrão não deixa derrubar Jatobá.

--E o broque? (roçagem)

--Broque é serviço de menino, só vara fina o resto o fogo da derrubada queima tudo.

                   --Cumpanheiro– fala o peão entusiasmado – ocê vai da uma boquinha pra gente. Eu tenho mais três companheiros bons de serviço.

--É, pode se , eu vou pensar.

--Quanto da proce paga pra gente?

--Bom cumo ocê é um cumpanheiro bom vo paga três mil por alqueire.

--Ta feito vai o cumpadre Cirso u Doca e o Raimundo Parafuso, e vou leva a menina Rosinha pra conzinhá pra gente, tem perigo não a bichinha não é muito arisca não e é boa cozinheira.

--É isso ai, companheiro bota a turma pra trabaia que a coisa vai.

                   O Peão pensa: ”Dá pra derrubá vinte alqueirão por mês é isto  sessenta mil, dividido por quatro, a menina tem que ganhar também, da quinze mil para cada um. Vigeeee é dinheiro demais num precisa nem fazê a conta”.

--Quanto é que nois vamo saí?

--Nu fim da semana num sabe? Estou hospedado na pensão da Ritinha aquela Paraibana ajeitada, viúva nova, não dá pra saí ligeiro. E saiu cantando – Eta Paraíba masculina mué macho sim sinhô...Eta  pau pereira...meu bodoque num quebro...

--Vo precisa de um pouco de dinheiro pra deixa em casa e comprá umas traias.

                   --Num tem problema, ocê passa amanha cedo lá na pensão que eu vo bate um contratosinho atoa ocê sabe, só pra garanti, quem é vivo é mortal, ocê assina e eu te arranjo um pouco da mufunfa.

--Entoncês vamo tomá a saideira – termina alegre o peão

 Muitos deste transportes os famosos Pau de Arara vinham por roteiros diferentes, uns vinham pela Caseara no Estado do Pará outros vinha pela Br. 158 que acabara de ser concluída, isto é até São Felix do Araguaia.

                                       §          

Os Paus de Arara.

                  Os Paus de Araras eram sempre velhos caminhões de carroceria cobertos com arcos de ferro que sustentavam uma precaríssima lona, com tabuas que eram sustentadas nas tampas laterais, se que bem travadas, serviam de banco para os migrantes que mesmo aos socos e trancos nas péssimas rodovias, que apenas uns poucos quilômetros era asfalto o resto era chão batido cheio de buraco e lama. Mesmo nestas condições os malversados malabaristas se esbaldavam acreditavam na redenção dos lucros e para extravasar uns tocavam violão outros cantavam enquanto o tempo passava e o sonho prometido não tardaria a se  aproximar.                   

                   Cinco dias depois o caminhão cheio de gente, agora era o “pau de arara”, sai rumo ao sertão mato-grossense. Oito a dez dias de viajem puxados, poeira e muito balanço, cansados chegam ao ponto final a “Caseara” bem na margem do rio Araguaia, daí para frente a viajem é feita de barco. Finalmente pega outro caminhão e chega á fazenda do destino. Ali a coisa muda de figura, a mata é grossa, o broque é difícil, e a maleita da até nas arvores, a morte campeia solta com um sorriso no rosto, mas não há mais como voltar, já estão devendo muito. Rosinha passou a ser propriedade do patrão agora serve de empregada domestica e é mandada, depois de muitos dias, para a casa de Goiânia, ainda esta muito bonita, mas um pouco buchuda, a regra é esta, pai pode ser qualquer um menos o patrão. Um o pesadelo transformado em realidade dura e crua, era a vida e o destino dos mais fracos.                               

                     Lá no sertão de origem, os mais sensatos que não quiseram ir conversam:

                   --Vi falá que matarão o Cirso, que o cumpadre Raimundo ta trabaiando notra fazenda num sei quar, do cumpadre Juca nem noticia, só sei que Rosinha se perdeu lá na cidade de Goiânia, us outros devem tar pur lá, mais nem noticia, sarô tudo tomara que a Rosinha vorte pra casa.

--Cumpadre ocê teve noticia do nosso pessoal que foi para o Mato Grosso?

--Ta cuma saudade doida num ta cumpadre?

--Fiz até uns versos pra ela, qué  ouvi cumpadre?

--Quero, são estes versos cumpadre?

                  --São muito simples cumpadre, pois eu não sei versar. --Ora fale com o coração amigo véio.   

                    --É o jeito,  agora não, mais adiante.

                                                   §

“Padre Francisco + Dom Thomas x IBRA”.

                   Jentel aprendera tudo sobre a Codeara, sabia muito bem seu compromisso de compra e venda com Michel Nasser dizia na Sexta clausula: “Fica reservada uma área de cinco mil e quinhentos e noventa e dois hectares de terra para assentamento dos posseiros de Santa Terezinha” e dizia mais que se caso a área fosse insuficiente o vendedor indenizaria a compradora no excedente               

                   O Bispo Don Thomas Balduino, então prelado de Conceição do Araguaia, havia recorrido ao Presidente da República que por sua vez passara a atribuição ao Ministério da Agricultura e este encarregara o IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma Agrária) para resolver.                

                   Começou ai uma luta que durou mais de seis anos, Padre Jentel X Codeara. Um exigia que a área fosse demarcada em determinado local, o outro não aceitava e o Padre só queria o que fosse bom para os posseiros e a Codeara só queria o que fosse bom para ela. Estava difícil de decidir.

                  O tempo passava e as dissidências aumentavam.

                   Durante este período de transição Jentel viajava muito e sempre pelo seu retorno trazia grandes novidades. Recebia muito auxilio de fora e com isto os posseiros e os índios se beneficiavam. Chegou até a ganhar um avião monomotor que ficou com a Prelazia de Conceição. (Eu soube naquela época que Dom Thomas era o piloto e num certo vôo o cilindro estourou e jogou óleo no pára-brisa do avião tampando quase totalmente a visão, mas mesmo assim o habilidoso piloto voltou e pousou sem maiores danos)

                   Uma nova era viria a modificar muita coisa naquela região, Luciara ganha um novo prefeito José Liton Luz filho do Cel. Lúcio Pereira Luz.

                   Uma das metas do prefeito era resolver o problema dos posseiros do então distrito de Santa Terezinha, uma reunião foi convocada e o padre Jentel participou ativamente trazendo mapas e cartas aerofotogramétricas, documentos e fotos foram expostas abertamente e o problema discutido chegando-se finalmente a uma conclusão “convocar a Codeara para a uma reunião de cúpula”.

                     Como Secretário Geral da Prefeitura, e assessor direto do Prefeito, eu fui incumbido de representar a municipalidade e o Padre Jentel os posseiros, e, no dia marcado lá se fomos nós, eu o Chico.

                   --Se com vocês dois juntos não der certo, ao menos vai explodir – vaticinou o prefeito - E quase explode mesmo.

 Eu o Padre Chico e a cidade de

                                             Rio de Janeiro.

                    O Padre Chico já velho viageiro para o Rio de Janeiro, tinha seu hotel preferido, o Hotel Gloria e lá nos hospedamos.

                   Na parte da tarde saímos para darmos umas voltas pelo aterro da Gloria, a beira mar, Cinelândia e praias, afinal a reunião fora marcada para nos encontramos na sede do IBRA no dia seguinte pela manhã, fizemos uma boa caminhada e conversamos muito olhando as beldades da cidade maravilhosa, era época que as mini-saias estavam no auge da moda e de vez enquanto passava uma garota e eu aproveitava para mexer com o padre.

--Olha padre que belezura.

--Bobagem, na Europa esta pior do que aqui e na França nem se fala bom mesmo é nosso interior onde moramos porque ainda ha respeito ao pudor e ao comportamento.

--Será?

--Bem, melhor do que aqui, é.

--E você só usa esta cruz na lapela, ninguém vai saber que você é padre.

--O que faz as pessoas não é a roupa, quero dizer não é o traje que faz o monge.

                   Eu costumava chamá-lo de “Padre Francisco, ou Jentel”, nunca gostei de chamá-lo de Padre Chico, fomos até o Cristo Redentor, e na volta passamos por um prédio chamado “Caritas”.

                --É aqui que conseguimos o dinheiro que precisamos e também muitas outras coisas. Temos muitos amigos na Europa que nos ajudam e a “Caritas” distribui, espere aqui fora um pouquinho - e dito isto entrou no prédio.

                 Então era ali a mina de ouro do padre, aguardei um bocado de tempo, e quando voltou, não aguentando mais a curiosidade eu perguntei:

--Como é que vem este dinheiro e as outras coisas?

--De avião, de navio, outros os trazem pessoalmente.

--Você viaja muito para o exterior?

--Já fui à Alemanha, França e até na Argélia.

                   Não entendi porque ele disse até na “Argélia”, também não perguntei, voltamos para o Hotel e após um banho fomos jantar, vi que Jentel estava apreensivo.

--O que há Francisco?

--Oh, nada, não se aborreça, mas não acredito que consigamos alguma coisa, já vim aqui tantas vezes e nunca deu nada certo - respondeu tristemente o francês.

--Não vamos desanimar agora, esperemos para ver o que acontece – e como queria mudar de assunto – continuei...

--Escuta padre você não usa batina?

--Uso, mas não estamos na missa agora, estamos num restaurante.

--Gostei da bronca, assim esta melhor, mas hoje você vai pagar a conta.

--Não tenho um centavo – respondeu – não trouxe dinheiro, deixe no hotel.

--Mas eu também não trouxe.

--Pendure.

                   Tive que pagar e voltamos ao hotel, mas o padre saiu em seguida, e pouco depois, atendi um telefonema que era para ele:

--Quero falar com o Padre Jentel.

--Denise?- perguntei ao reconhecer a voz da francesinha, louca de bonita que era a secretaria do padre em “Saint. Terezin”.

--Sim, Jentel esta ai Dankmar?- perguntou com um jeitinho bem danado.

--Não, foi visitar uns amigos, mas disse que voltava logo. (tomara que o prendam por ai, aquele padre sortudo,).

--Informe a ele que cheguei hoje e preciso lhe falar, ele sabe onde estou.

--Muito bem, mas apareça por aqui.

--Sim claro eu vou ai – desligou aquele pedaço de mau caminho.

                   Deu vontade de entregar o padre e não contar nada para ele, mas assim que chegou, com muita relutância, babujei:

--Sabe quem ligou para você?

--Não, quem foi?

--Denise.

--Esta brincando.

--É talvez eu esteja, mas ela não, e esta te esperando.

--É serio?

--Ela disse até que você sabia aonde encontrá-la.

--Ulala – disse e já estava saindo.          

                   Chegou no outro dia às sete horas da manhã quando eu já estava tomando o café.

--Passou bem à noite?

--Claro, na casa de uns amigos.

--Denise estava lá?

--Claro que estava – respondeu sem pestanejar.

Saímos direto para o IBRA.

                   Fomos recebidos pelo Dr. Mário um dos assessores do Presidente do órgão, que após nos anunciar retorna dizendo:

--O General Sérgio quer falar com o Senhor Dankmar, quanto ao Padre é favor esperar aqui e aguardar.

                      Meneei a cabeça, olhei para o padre e entrei.

                --Bom dia queira se sentar – formalizou aquele homem atrás da mesa e continuou – o Senhor deve ser o representante da Prefeitura Municipal Senhor Dankmar.

                      --Sim, respondi secamente – eu represento a Prefeitura e o padre representa os posseiros.

 --Muito bem, acredito que sua viagem se prenda ao que o Doutor Murat me comunicou pelo telefone, mas infelizmente ele não pode vir, mas o Doutor Seixas que é o Diretor Técnico da Codeara veio em seu lugar.

--Muito bem, mas a que hora será a reunião?

                   --A reunião será ás quatorze horas de hoje, aqui mesmo no IBRA, mas o Padre Jentel é considerado “persona não grata” e não poderá participar.

                   --Mas o Padre representa os posseiros e não vejo como se chegar a um final sem a participação dele – protestei.

                   --Ele que passe uma procuração para o Senhor e estará tudo certo.

--Vamos ver se ele concorda – terminei levantei, me despedi prometendo voltar no horário marcado e falei com Jentel:

                  --Jentel, eles querem que você me substabeleça a procuração para eu representar também os posseiros.

                   --Não vai ser por isso que não vai haver reunião, vamos a um Cartório agora.

 Foi feito o que o General pedira, mas que o padre gostou isto ele não gostou. No horário combinado lá se fomos os dois eu e o Chico rumo ao IBRA, pouco depois fui chamado em uma ampla sala com uma mesa muito grande no centro e lá estava o Doutor Seixas mais dois advogados, dois engenheiros do IBRA e outro que não fiquei conhecendo, mas lá de casa eu estava sozinho no meio daquelas feras, mas o padre Chico estava na sala ao lado, certamente com o olho na fechadura e o ouvido na porta, lembrei dos posseiros e resolvi enfrentá-los, lembrando um velho pensamento de Jentel: “não vire as costas aos pobres, pois estará virando as costas para Deus”.

--Boa tarde para todos – cumprimentei.

--Boas tarde – responderam alguns.

                   Após as apresentações o General Sérgio, Presidente do IBRA tomou a palavra.

--Solicito às partes que sejam coerentes e que este assunto tome uma solução definitiva - olhou para todos e prosseguiu - Já que o padre não participa, creio haver uma viabilidade de entendimentos – concluiu quase cansado.

--Sempre foi intenção de a Codeara fazer esta doação, mas não víamos uma solução viável para o problema, mas agora, com a interveniência da Prefeitura, o elo que faltava, estamos dispostos a cumprir a nossa obrigação a Codeara fará a doação e a Prefeitura se encarregara do assentamento dos posseiros – discursou o Diretor Técnico Doutor Seixas - a seguir abriu  um enorme mapa em cima da mesa, era a planta do projeto agropecuário da Codeara, e mostrando um canto em cima na planta - aqui esta o local que escolhemos para a área a ser doada, é uma ótima posição, mata de primeira, muita água e estrada fácil – concluiu.

                  Se ele conhecia pessoalmente a área eu não sei, mas que eu conhecia isto eu sabia, por ai entendi o porquê da resistência do padre, o pessoal da Codeara não era mole.

--É muito bom mesmo Doutor Seixas, ótimo, mas, a que eu estou informado o IBRA fez um belo trabalho escolhendo uma área, e eu gostaria de saber qual é esta área, talvez tenha mais condições do que esta aqui tão longe e sem via de acesso, e, eu jamais me oporia à capacidade de trabalho do IBRA, poderiam me mostrar à área?

                   --Claro eu mesmo fiz o trabalho todo – interveio um dos engenheiros ali presente abrindo uma planta enorme e mostrou o seu trabalho a área estava situada, bem aonde nos interessava.

--Muito bem, é uma ótima área, não vejo porque não concordar com um trabalho como este afinal.

 O IBRA é o órgão  indicado para fazer o levantamento, não há o que contestar a não ser que a Codeara não considere o IBRA capacitado para este trabalho – perguntei ao Doutor Seixas. (jogando ele na fogueira).

--Absolutamente, achamos o IBRA totalmente capacitado para este trabalho.

--Então, já que estamos todos de acordo será aqui sugiro que se lavre uma minuta do acordo – terminei.

      --Mas, temos um problema nesta área é a aguada – interferiu o Diretor.

      --Problema nenhum é só dividir as aguadas e os senhores nos reporão a terra na margem acima, o que dizem? Mas terão que fazer a demarcação e a mudança dos posseiros e ainda indenizá-los nas benfeitorias que deixarem na outra área.

      --Bem, por nós não há problemas – concordou a Codeara.

--Então vamos


fazer a minuta do que ficou assentado e depois assinamos.

                   Feita a minuta do acordo, lida e achada aprovada todos assinaram.

 --Amanhã o Senhor Dankmar pode passar por aqui e pegar uma cópia e vamos marcar outra reunião para a escrituração da doação em São Paulo, creio que dia cinco de março estaria ótimo se todos concordarem? – perguntou o IBRA:

Todos concordaram. Disse adeus a todos e sai, estava doido para respirar um pouco e me ver livre.

--Como foi?– perguntou Jentel.

--Tudo bem, a Codeara concordou em doar a área que o IBRA demarcou e terá que indenizar os posseiros nas benfeitorias remanescentes e abrir estradas e fazer as mudanças dos posseiros.

--Neste pau tem abelha – ironizou Jentel acho que é bom demais para ser verdade.

No outro dia cedo passamos pelo IBRA para pegar a cópia da minuta, o General Sérgio havia viajado, mas o Doutor, Mário nos atendeu:

--Eu não sei como aconteceu, se o Doutor Seixas ou o General levaram a minuta, só sei dizer que desapareceu lá de cima da mesa, mas o que foi dito será mantido e a doação será feita no dia cinco de março conforme o combinado.

O padre me olhou e sorriu e eu entendi o que ele queria dizer.

Voltamos para Mato Grosso. 

No dia anterior ao marcado para a doação nos chegamos a São Paulo, eu, João Neton irmão do Prefeito e o próprio.

                   A convite do Zezinho, dono da empresa de ônibus Reunidas nos hospedamos em belíssimos apartamentos em sua garagem.

                   Às duas horas da tarde fomos para o escritório da Codeara que ficava no Edifício Francisco Conde no BCN da Rua Boa Vista, subimos pelo elevador e logo nos anunciamos ao Dr. Luiz Gonzaga Murat então Diretor Presidente da Codeara e genro do Armando Conde, ao nos receber apresentei meus companheiros:

--Este é o nosso Prefeito José Liton Luz e seu irmão João Neton Luz.

                   --Muito prazer – cumprimentou a todos.

                   --O Senhor vai amanhã para a reunião no Rio de Janeiro para doação da área?

                  --Mas que reunião é esta? Que doação é esta? – perguntou quase colérico.

--Dr. Murat, o senhor sabe muito bem que tivemos uma reunião no Rio com o IBRA e o Doutor Seixas e ficou assentado que no dia cinco, amanhã, a Codeara faria a doação da área dos posseiros para a Prefeitura – falei me contendo para não explodir.

--Em primeiro lugar o Doutor Seixas não é a Codeara, nós temos centenas de acionistas que teremos que consultá-los, portanto não vai haver reunião nenhuma e muito menos qualquer doação – vociferou o branquelo Diretor.

--Não gostei do seu tom de voz Doutor Murat – respondi – nesta história toda dizem que o padre está embrulhando, mas o embrulhão aqui é o senhor, e de outra vez quando mandar alguém representando a Codeara para uma reunião mande um homem que tenha responsabilidade e não um elemento qualquer, e, eu não tenho mais nada para conversar contigo – sai esquecendo meus amigos lá dentro e bati a porta com bastante força.

                   Retornei para o apartamento e esperei pelo

Liton, já eram quase cinco horas da tarde quando chegou rindo:

--Sabe quem estava lá atrás da porta no escritório?

--Não.

--O Salomão, o bate-pau lá da fazenda e o Doutor Murat disse que você é muito atrevido em chamá-lo de embrulhão e ainda mais dentro do escritório dele, é, mas não tem nada não, amanhã vamos continuar a briga, voltamos todos  lá para o Rio de Janeiro  e veremos o que o General vai falar.

                   No outro dia quando chegamos ao Rio fomos direto ao Hotel Gloria sabem quem estava lá? O padre Chico.

--Cheguei – disse ele.

--É, estamos vendo – respondi. Mas fiquei alegre.

 Fomos todos para o IBRA e o General Sérgio nos recebeu a todos, inclusive Jentel.

--Lamento profundamente o desaparecimento da minuta, mas tudo que ficou combinado aqui na minha presença será cumprido, entrarei em contato com a Codeara e ela terá que manter o estabelecido, logo eu me comunicarei com os senhores a data da última reunião que faremos – terminou muito sério o Presidente do IBRA que estava visivelmente aborrecido.

                   Retornamos ao Hotel e depois bem mais tarde saímos para jantar, achamos um restaurante que era em uma adega, ficava no subsolo. Conversamos e rimos muito naquele dia, restava voltar para Mato Grosso e aguardar.            

                   Foi uma longa espera, e a resposta nunca veio e assim, decidimos voltar ao Rio de Janeiro, não poderíamos deixar a coisa esfriar e lá se fomos nós de novo, eu e o Chico.

                   O General novamente nos recebeu bem, mas olhava o padre sempre com reserva. Aconselhou-nos a ter paciência e que aguardássemos os resultados das providências que ele estava tomando. Saímos a perambular pelas dependências do IBRA e lá ficamos conhecendo o Doutor Bertoni, Chefe do Cadastro do IBRA, e também Conselheiro da SUDAM, explicamos a ele o pé em que se encontrava a situação e ele muito surpreso, comentou:

--Como é que a Codeara no último relatório que apresentou a SUDAM ela pediu a liberação das verbas atestando já terem feito a doação inclusive declararam que já abriram as estradas de acessos à área e outros benefícios.

--Mentira, muita mentira – delirou Jentel raivoso.

--Não é verdade Doutor Bertoni, nada disto aconteceu até agora – garanti.

--Mas então façam uma carta ao General Bandeira de Melo que é o Presidente da SUDAM, e expliquem a atual situação sugerindo a retenção das verbas como medida acauteladora até que se concretize a doação e eu garanto a vocês que farei a leitura na próxima reunião que é no fim desta semana - nos confidenciou aquele cidadão.

--Só me falta uma maquina de escrever, pois papel timbrado da prefeitura eu tenho.

--E nos sabemos escrever – ajudou o padre.

                    E assim fizemos, escrevi a carta, assinei e a entreguei ao Conselheiro Bertoni, do jeitinho que ele nos ensinou.

--Agora eu sei que a coisa vai ferver – vaticinou o clérigo.

                    Não havia outro meio a não ser pressionar a Codeara, e havíamos arranjado um grande aliado.

                    Começamos a mexer os pauzinhos.                                   

                    Retornamos ao Hotel.

--Vamos sair um pouco?– perguntou o padre.

--Vamos, mas, aonde quer ir? (será que a Denise esta aqui?).  Desta   vez ele não respondeu só fez um sinal com a mão como a dizer (aguarde).

                                               *

   A Bela Mansão 

          “Sem Fim”

Este era seu nome,

                   Pegamos um táxi e lá se fomos nós rumo a Petrópolis, embora fosse noite, podia-se notar o esplendor daquela mansão em que havíamos chegado com  grandes jardins cercados de grades de ferro, fonte luminosa e iluminações artísticas realçavam num jogo místico a beleza do conjunto, e no portão de entrada sob um arco florido de plantas o nome em bronze polido “Sem Fim”. E um pouco ao lado umas casinhas a guisa de guarita abrigavam dois religiosos, possivelmente padres, que fiscalizavam as entradas e ao verem Jentel o saudaram exaustivamente.

                   Entramos em um enorme corredor que nos levou ao que parecia ser um salão de refeição, dezenas de enormes mesas e muitas cadeiras, junto a uma enorme cozinha com muitas pias e bancadas de mármore, fogões embutidos, armários e varias geladeiras e freezer, dali saímos em uma sala que parecia uma grande biblioteca, escutava-se a confusão de muitas vozes conversando ao mesmo tempo, fomos nos aproximando, passando por muita gente nos corredores e portas, e finalmente entramos em um salão onde estavam reunidas pelo menos umas duzentas pessoas, ao lado uma porta ondulada em forma côncava dava entrada a um grande auditório onde estavam na maioria reunidos os ali presentes.

                   O salão estava repleto, a frente um palco e um quadro negro, aonde faziam inúmeras anotações, vários conferencistas sentados aguardavam sua vez de se pronunciarem, ao que pareciaA coisa ia longe. Dr. Bertoni era um deles que explicava a forma de distribuição das verbas arrecadadas pelo IBRA e repassadas pelo governo federal a CONTAG e outras entidades.

                   O padre Francisco me apresentou para varias pessoas, era gente que entrava e gente que saia, que resolvi sentar perto de um grupo enquanto Chico se entrosava com os outros, eram todos religiosos de todas as categorias e espécies e de todo os lugares do planeta, ali estavam alemães, italianos, espanhóis, holandeses, e muitos outros a discutirem não sei o que, foi quando um deles em um péssimo português me perguntou:

                   --Você esta aonde?

                   --Eu vim com Padre Jentel e estamos no Araguaia.

--Mas que ótimo, quero conhecer Jentel.

--Já ele aparece por aqui e você de onde veio?

--Da Itália.

--Tem visto permanente – perguntei meio desconfiado.

--Não padre, nós padres não precisamos, eu vim fazer um curso de doenças tropicais e espero ficar por aqui para sempre, ninguém pede documento para padre não é verdade?

--Sim até hoje, não ouvi ninguém nem perguntar de onde vêm os padres.

--Pois então não há perigo.

--Claro que não – seria melhor me comportar como um deles antes que desconfiassem.

--Dankmar – me chamou o padre Jentel chegando junto com outros homens -- este aqui é o nosso encarregado na “Caritas” ele foi muito perseguido pela revolução, esteve preso e foi muito torturado, mas agora esta bem.

--Espero que continue tudo bem contigo – respondi apertando a mão do homem.

                   Outros me foram apresentadas eram as natas que a revolução andara atrás, a maioria era lideres sindical do nordeste.      Fiquei preocupado afinal o que fazia aquele povo ali todo reunido? Jentel me deixou em outra saleta pequena e perto de uma geladeira cheia de cerveja, era o que me estava faltando e logo fiz companhia para outros dois ali sentados quando chegou um terceiro procurando:

 --Sabe-me dizer onde estão fazendo vales?

 --Não, não sei. - mas a idéia não era de todo má.

                   --Amigo de Jentel? – procurou um deles.

                   --Sim, estamos juntos. (afinal meu padre era famoso mesmo) e vocês são daqui do Rio?

--Não eu sou Búlgaro e este é italiano, mas já estamos no Brasil a mais de dez anos.

--E daqui vão para aonde?

--Não sabemos ainda, mas tanto faz.

--Com licença vou procurar Jentel. – me desculpei e sai achei Jentel conversando com Bertoni que nos procurava para dar uma carona de volta ao Rio.

--Dr. Bertoni vai nos levar até o Hotel, vamos?

--Porque não – respondi afinal eu estava doido para sair dali.

                   Logo seguíamos de volta ao Rio de Janeiro, íamos a um carro grande, nunca mais esquecerei aquela experiência.        

                   Voltamos para Mato Grosso, eu e o Chico.

 Os resultados não se fizeram esperar.

                    E numa tarde chuvosa um avião monomotor sobrevoou Luciara, no intimo eu sabia que era a Codeara.

                   Meia hora mais tarde entrou na Prefeitura o Dr.Olímpio Jaime, advogado de Goiânia e muito amigo de Liton e meu conhecido, não se fez de rogado foi entrando direto gabinete adentro, aonde eu conversava com o prefeito.

--Boa Tarde meus amigos como vão passando?

--Muito bem doutor, que bons ventos o empurram para Luciara?

--Bons ventos nada Liton, o pessoal da Codeara estão fulo de raiva com vocês porque fizeram aquela carta para a SUDAM.

--Mas porque doutor?

--Vocês embananaram a vida deles agora estão com todas as verbas suspensas e me mandaram aqui para acertar a doação e levar um ofício seu dizendo que aquela carta foi um equivoco ou um mal entendido.

--Você tem que acertar com o Dankmar, ele quem fez a carta, só ele resolve, quem começou isto tudo foi ele e só a ele cabe a resposta.- sintetizou Liton.

--Marque o dia da doação o mais rápido possível e eu levo a carta em mão assim que receber a escritura eu a assino e entrego para eles - respondi.

                   Dr. Olímpio Jaime olhou para o Liton como a perguntar e agora? Como fica? Liton simplesmente abriu os braços como a dizer eu não sei fica do jeito que está.

--Tudo bem – interveio o advogado – de hoje a quinze dias a reunião será em São Paulo na sede da Codeara e o Doutor Murat exige que o prefeito vá pessoalmente.

--Nada feito, eu não vou ele vai – terminou Liton apontando para mim.

                   A conversa se prolongou até bem tarde da noite e ficou tudo acertado, dia e hora para doação e a entrega da carta. No outro dia cedo o advogado voou rumo a Capital de Goiás.

 

Finalmente a doação.

No dia anterior ao marcado eu já estava em São Paulo, e como não tinha boas recordações do escritório da Codeara, ligue para o IBRA e pedi a interveniência do Dr. Roberto Canot de Arruda, então supervisor do IBRA para que arrastasse a reunião para sua esfera, lá no IBRA eu estaria seguro e assim foi feito e ficou marcada para as 14.00 do dia seguinte.

                   Cheguei ao IBRA exatamente na hora aprazada, quando Dr. Roberto me procurou:

--E o prefeito não veio?

--Não, eu mesmo é que vou resolver isto.

--O Doutor Murat hoje vai perder a criança.

--Farei tudo para ajudá-lo – respondi  – vamos lá.

--Chegaram todos, já estão esperando.

                   A porta se abriu e eu entrei de pasta na mão, cumprimentando todos os presentes.

--Boa tarde senhores. – achei uma cadeira vazia bem longe do Murat e me sentei.

--Mas, e o prefeito?  Porque não veio?

--Infelizmente são muitos os afazeres e ele me delegou, desde o inicio, poderes para representá-lo como o Senhor já sabe Doutor Murat. Mas se o senhor insistir em brigar eu posso me retirar e fazer meia volta para Mato Grosso – terminei secamente.

--Nada disto, já que estamos todos reunidos vamos terminar esta história, o General esta ansioso esperando o resultado no Rio e eu tenho que ligar para ele.

--Por mim esta tudo bem peço apenas que leiam a minuta e em seguida a escritura se estiver tudo de acordo terminamos em um segundo -  enfatizei.

--Se me permitem vou ler o conteúdo da minuta e do livro de registro, não é muita coisa – falou um simpático senhor de boa idade, sentado em frente a um monte de livros.  E fez a leitura por duas vezes. Era exatamente o combinado no IBRA - Rio agora eu sabia quem estava com a minuta e terminou dizendo – é isto senhores e esta pronta para ser assinado, primeiro a Codeara assinaria, depois a Prefeitura e a seguir o representante dos posseiros e demais da diretoria do IBRA e CODEARA. – terminou e ficou olhando como a pensar “quem vai ser o primeiro?”.

                   O Doutor Murat mostrou intenção de relutância foi quando Doutor Seixas interveio:

--Se  você quiser, eu assino primeiro.

--Ora bola – resmungou o Diretor Presidente e pegando

.sua caneta assinou e empurrou o livro para o tabelião que passou para mim que assinei duas vezes, por mim e por Jentel e a seguir todos assinaram - está terminado, agora queremos o oficio insistiu Murat.

--Mas, eu quero a escritura, só vou lhe dar o oficio depois que me entregarem a escritura - respondi.

--Nós vamos mandar a escritura pelo correio – insistiu o nervoso Doutor.

--Não é preciso, Senhor Dankmar o senhor vem comigo até o Cartório eu lhe entrego a escritura ainda hoje, posso lhe garantir – amenizava o cartorário.

--Eu confio no senhor – dizendo isto tirei o envelope da pasta, abri e assinei embaixo da assinatura do prefeito e entreguei ao avexado Dr. Luiz Gonzaga Murat.

                   --Tudo bem – dizendo isto, levantou-se e saiu sem se despedir de ninguém.

Agradeci a todos, especialmente o Dr. Roberto, um grande homem e fui com o simpático senhor rumo ao cartório Medeiros e pouco depois de duas horas e meia recebia a escritura pronta. Agora era só voltar para Mato Grosso, mas desta vez eu ia só, mas com a missão cumprida.

                 Passei por Barra do Garças e registrei a escritura no Cartório de Imóveis e fui para Luciara

                 Finalmente estava tudo sacramentado, mas, comecei a pensar em Jentel “já que esta briga acabou logo ele vai arranjar outra, e arrumou mesmo”.

                 Missão cumprida o resto agora era com o prefeito.

                  Ao chegar a Luciara a noticia correu “a doação fora feita”, no mesmo dia o Padre chegou e só acreditou depois de ver a escritura e o registro o padre deu um suspiro profundo que eu nunca pude entender, seria alivio ou uma decepção por uma briga que acabava, mas ele como que adivinhando meus pensamentos disse:

--Se você pensa que a briga acabou está muito enganado ainda faltam doar a área da cidade de “Saint Terezin”. E lá em baixo no Araguaia a coisa esta esquentando, o Padre Pedro, já está lá.

--Calma padre, da uma folga, deixa esta briga lá pra longe.

--É, mas não vai ser fácil você vai ver... - e virando as costas lá se foi o padre rumo a “Saint Terezin” ou Saint Denise “sei lá”.

            A cabeça do padre já ia maquinando novas encrencas e isto fez com movimentasse a sua massa conscientizada, Santa Terezinha parecia um formigueiro humano.                          

                   Os associados se reuniam constantemente em assembleias e deliberavam muitas melhorias. A força da união os mantinha coesos. Estavam bem “conscientizados               

O processo de desapropriação da cidade de Santa Terezinha tramitava na sua fase final e a Codeara já havia elaborado um plano urbanístico da futura cidade, nos traçados velhos, pouca coisa seria respeitada. O Padre Jentel, também elaborou um projeto urbanístico da nova cidade respeitando os velhos traçados para não prejudicar os moradores antigos e este tramitava na Câmara de Vereadores de Luciara.      

                   Só que ai não se sabia mais qual prevaleceria, o que o Padre apoiava que respeitava o velho traçado ou o que a Codeara apoiava e que não respeitava quase nada.

                   Nestas alturas dos acontecimentos o padre Francisco resolve construir um ambulatório para os pobres, e escolhe um local que pertencia ao velho traçado da cidade, isto é, ficava em uma esquina na divisa dos dois traçados. Para a Codeara a construção ficava no meio de uma rua nova, para o Padre Chico não ficava e para a Prefeitura tanto fazia, estava armada a confusão.

                   Teimoso, sem escutar as advertências da Codeara que já queria mandar na cidade, pois julgavam que as terras eram suas, enquanto que o Chico achava que aquilo pertencia ao povo, e não deu ouvido e mandou começar a construção.

                   Novas advertências foram feitas e não ouvidas, o que o padre queria era fazer a obra e os alicerces subiam.

                   Um dia a Codeara mandou um monte de homens e um trator de esteiras, derrubaram tudo, abriram um buraco no chão e enterraram os escombros, cobriram de terra e alisaram o chão não ficou nem sinal do ambulatório. Nada restou.

                   Manoel Quitandeiro, um dono de venda em Santa Terezinha, havia trazido de Anápolis – GO. Um construtor para fazer os serviços, era crente, e com ele vieram vários parentes. Roberto era seu nome.

--Seu Manoel – dizia o crente – a coisa parece que vai ferver e eu sou crente e não posso me meter em confusão, acho que vou largar tudo e dar no pé.

--Que nada seu Roberto, isto ai num dá nada, vá ganhar o dinheiro do padre, homem...

--Mas pelo o que eu estou vendo vai sair chumbo voando por ai e este bichinho não tem endereço certo...

                   O Padre estava revoltado, neste mesmo dia convocou uma reunião geral. Era em 11 de fevereiro o dia da Grande Reunião.

                   O velho casarão fervilhava de posseiros, estavam em “Assembléia” era cerca de quatorze horas quando começaram:

--Estávamos construindo um ambulatório para vocês, e este dinheiro gasto era de vocês mesmo, resultados da Cooperativa, mas a toda poderosa Codeara não deixou e destruiu tudo, vocês sabem muito bem, agora eu pergunto: Fazer o que? Construir de novo?

--Sim vamos construir de novo – era a voz geral.

--Mas agora há o risco de uma agressão maior e vamos ser necessários nós reagirmos, vocês estão de acordo?

--Sim estamos todos de acordo vamos prosseguir e resistir.

--Então amanhã cedo, todos com as ferramentas que tiverem pás, enxadas, picaretas e vamos trabalhar para nos preparar para recebê-los.

                   E assim, no outro dia quase cem homens trabalhavam sob a orientação de Jentel, uns abriam as valetas que serviriam de trincheiras, outros enchiam sacos de areia e os empilhavam fazendo um muro, alguns preferiram abrir buracos nas paredes das casas vizinhas cujos proprietários se evadiram, a noticia correu ligeira e a Codeara tomou conhecimento do que o padre estava fazendo e solicitou em Barra do Garças a vinda de policiais militares. Enquanto isto os candidatos a guerrilheiros também levantavam as paredes do ambulatório, os crentes ficavam com um olho na colher e outra na entrada da rua. As mulheres preparavam a comida e levavam para os homens nas trincheiras e assim ficaram por vários dias e nada da policia aparecer. Até que numa quinta feira o vigia lá do campo deu o aviso “A Policia chegou”, mas nestas alturas muitos dos posseiros tinham saído, mas chegavam os índios Tapirapés para ajudar. O Povo de Santa Terezinha torcia pelo Padre.

--Vamos aguardar até chegarem bem perto e deixem-nos começarem.      

 Não demorou muito a apareceram duas caminhonetes cheias de soldados e trabalhadores da Codeara e vinha também um trator de pneus com uma lamina na frente, quando chegaram junto da construção pararam a comitiva e o capataz Silveira pulando de cima do trator no chão, gritou.

--Estão escondidos ali atrás vamos pegá-los.

Foi a conta para começar o tiroteio, armas de todos os calibres e marcas de fabricação caseira começaram a cuspir chumbo, o primeiro atingido foi o Silveira bem no dedo da mão, o segundo foi o tratorista, ambos desapareceram  num instante. Na caminhonete da frente vinha o Capitão Moacir comandante da Policia Militar que diante da surpresa de tanta bala teve que abandonar a viatura escorando no soldado Amaro e nos dois crentes, mas deixou dentro do carro sua bolsa e sua arma Bereta.

                   Foi uma debandada doida a Policia não pode reagir porque não via ninguém em que atirar e tentaram ir buscar a caminhonete do Comandante que ainda funcionava, mas quando um pretenso herói se aproximava uma chuva de bala o fazia voltar. O carro apagou porque acabou a gasolina e com a vinda da noite á coisa se complicou.

Resolveu esperar o dia amanhecer.

E no outro dia quando a policia voltou não encontrou mais ninguém e nem o Padre Jentel que tinha fugido para Goiânia.

O Padre Jentel foi preso e posteriormente expulso do Brasil, e quando da busca que o exercito deu na Prelazia de São Félix do Araguaia, por estar o Bispo envolvido com os guerrilheiros de Xambioa, acharam a arma do Capitão Moacyr pendurada na parede com etiqueta. “Lembranças da guerra de Santa Terezinha”

                   O Padre François Jaques Jentel, nasceu a 29 de agosto de 1932 na cidade de Meriel, na França e já estava com 32 anos quando chegou como padre na aldeia Tapirapés no encontro das águas do rio Tapirapés com Araguaia.

                    Fiquei sabendo depois que o Padre François Jaques Jentel, ou Padre Chico ou ainda Padre Francisco, ou Padre Pranxiko, foi preso acusado de subversão, e conduzido para o Quartel Militar em Campo Grande, levado a julgamento no dia 21 de maio de 1974 foi absolvido pelo Superior Tribunal Militar. Já em liberdade voltou à França para visitar sua família ao retornar para o Brasil em 19 de dezembro de 1975 foi novamente preso amarrado pelos testículos (assim me contaram) foi deportado para a França num decreto assinado pelo Presidente Geisel e o Ministro Amando Falcão isto em Janeiro de 1976. Morreu na sua terra natal de hemorragia interna no dia 01 de janeiro de 1979, três anos depois de sua expulsão no seu exílio onde sempre sonhava voltar ao Brasil.         

 Boas lembranças e muitas saudades de um matreiro rebelde e simples padre e grande amigo que viveu para os pobres e índios entre e eles como um deles, era a sua vida, ali guardava a sua alma e seu coração...

 Um dia na sua humildade ele me disse:

 ”Cristo veio ao mundo porem muito pobre, pequenino e aparentemente fraco, mas tinha em seus olhos a Luz do Céu”. Virar as costas aos pobres é... o mesmo que virar as costas para Deus”.                                    

                 Boa caminhada Pranxiko, vá com Deus...

                           Breve nos encontraremos...

                                                                    &

  

    BL 03....

           Anos de conturbações sociais 1967 a 1973. No baixo rio Araguaia.

  *A Guerrilha do Araguaia e o Padre Pedro.

                  Um processo lento de amadurecimento político-social começava a se instalar em nosso país, mas estavam apenas no inicio, muitos ainda iriam tombar para manter vivo o direito de igualdade, liberdade e democracia, tão pretendida por aqueles jovens. A igreja teve um papel fundamental na evolução destes processos.

                  Padres foram presos por participarem desta revolução como mentores dos Guerrilheiros do Araguaia: O Bispo de Marabá Don Estevão, Frei Gil, Padre Roberto, Irmã Maria, Pedro Casaldaliga e Padre Canuto, inclusive Adauta Baptista Luz, de Luciara MT, por que estava levando comida para os Padres       

                  O Padre Pedro Casaldaliga teve participação ativa em favor da população ribeirinha sofrida, foi detido e preso varias vezes pelo exercito, mas solto seguidamente continuava  sua luta incansavelmente que durou três anos da qual participaram muitos jovens, mulheres e homens experientes. Eles tinham um objetivo e se regiam pela sigla ULDP – União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo, a organização que dirigia politicamente o movimento guerrilheiro, e o regulamento das Forças Guerrilheiras do Araguaia.  Era a época da ditadura.                             

                   Eles começaram a chegar vindos pelo rio Araguaia no dia 25 de dezembro de 1967, rio cheio, o estirão do cinzeiro misturava água e céu, não se via as margens, parecia o oceano, um barco encosta-se à margem esquerda no local conhecido por Faveiro, três pessoas ali ficaram Mário, uma mulher chamada Maria, e um jovem de nome Joca. Depois vieram o Zé Carlos, Alice, Beto e Luiz. Osvaldo morava mais acima um pouco, negro sabido era oficial da reserva, mudou-se depois para perto da cachoeira de Santa Izabel, ele mais outros amigos Cid, Zeca, Glenio, Geraldo e Sueli. Paulo Rodrigues morava em Leopoldina (Aruanã) GO. Fazia viagens em barco vendendo mercadoria tendo por companheira uma mecânica chamada Doca, seu barco tinha o nome de “Carajás” e sua rota se estendia entre Leopoldina até Conceição do Araguaia, certa feita mudou-se para o Caiano. Outros foram chegando Pedro, Ari, Áurea, Diná e seu marido Antônio e também o médico João Carlos Haas Sobrinho, Elvira, Sônia, João Carlos, Chaves, Victor, Nunes, Zezinho, Landins, Piauí, Victor, Kleber, Bérgson, Tuca, Janete, Mariadina, Lia, Cristina, Rosa, Zélia, Angelina, Idalicio, Alfredo, Nelito, Gil, Maria Lúcia, Flávio, Amauri, Valquiria, Manoel - todos se transformaram em lavradores e fizeram suas roças vivendo e aprendendo com os sertanejos.

                   Na época da ditadura a repressão era violenta, e a policia militar abusava dos ribeirinhos e junto com os coletores de impostos extorquiam-nos até ultima gota, maltratavam-nos, e muitas vezes ao prendê-los os matavam. O povo sofria muito. Não bastasse isto os grileiros de terras que começaram a chegar trazendo seus pistoleiros e capangas tirando o sossego de todos e vinham dispostos a expulsarem os velhos moradores de suas posses dentro do seu pretenso latifúndio, milhares de hectares de terras eram grilados e tal um rolo compressor esmagavam todos a sua frente e ainda tinham o apoio das autoridades, estes empreendimentos eram financiados pelo incentivo fiscal.  Da mesma maneira ocorreram em outras regiões os posseiros se viram obrigados a se transformarem em rebeldes numa marginalização imposta pela própria sociedade, eram eles o “Barril de pólvora a espera da mecha ardente”. E a igreja os amparou. “Uma nova era de ajuste social teve começo, mas num país aonde o fiel da balança tendia em pender a favor dos mais afortunados em detrimento dos menos favorecidos mostrando o lado dos que tudo tem e dos que nada possuem”, e estes últimos eram a mecha ardente esperada, começaram-se então as manifestações daqueles que logo se intitulariam “Guerrilheiros do Araguaia”, e desencadeou-se uma luta desigual entre as forças armadas e os rebeldes. Foram sacrificadas muitas pessoas, civis e militares, até uma filha do Cel. Lúcio foi presa quando levava comida para os padres. Adauta foi recambiada para Campo Grande e lá ficou por vários meses.

                Natal de 1973, após três anos de vitórias e derrotas, a situação se modificava, as Forças Guerrilheiras do Araguaia espalharam-se por recônditos caminhos, para outros lugares muito além das selvas, ninguém mais poderia aniquilá-los, mas deixou escrito com sangue a busca por uma liberdade quase evangélica. As autoridades atentaram um pouco tarde para a realidade o vírus de uma nação democrática e livre já estava disseminado, não havia mais retorno e o futuro estava implantado.

                                                                     §

 Choveu Hoje...

 

Choveu hoje; lagrimas de Deus desceram!,
Caíram sobre Seu rebanho desgarrado,
Sem omitir detentos dos presídios,
Que se curvam, de joelhos, ao terminar o dia.
 
Por traz de hediondas fechaduras:
Será que Ele despreza, por serem condenados?!...
Aos presos, lá dentro, Suas flores se abrem!
Lá, dos Céus, dos  arcanos, a todos vê Deus.
 
Nos dias chuvosos, de céus bem nublados,
E a memória turbada, e a mente cansada,
Nossos olhos divisam  espinhos temíveis,
Crescendo no campo do coração triste.
 
E os sonhos confundem o ser abatido,
E, ao nos queixarmos, perdidos da sorte,
O trovão mansamente ribomba e, assim,
Ressoando, qual tambor na batalha, se ouve,
 
Transmitindo a mensagem: “ Vem, tu, também,
Distraído que estás entre muitos milhares;”
Pois, é certo, que noventa e nove  se perderão,
E lá não chegarão, lá na Terra feliz!
 Para que o rebanho se salve, e prossiga;
Para o indolente, ocioso, insolente,
Se volte ao redil, Deus chorou. Suas lagrimas
De amor. Foi por isso que hoje choveu,

 Autor B.B.B.   Prisioneiro do Presídio de San Quentin. .

                                                  §

  BL O4...                                            

                                       O Padre João Bosco P. Burnier

                                   Assassinato em Cascalheira. 11/12-10- 1976.

O padre João Bosco Penido Burnier, nasceu no dia 11 de junho de 1917, em Juiz de Fora, MG. Tinha 59 anos de idade. Na tarde de 11 de outubro de 1976, foi baleado, em Ribeirão Cascalheira, MT, Faleceu no dia 12 de outubro, em Goiânia, GO. Jesuíta, missionário entre os índios Bakairi, estava de passagem por Ribeirão Cascalheira MT.  (Ribeirão Bonito) junto com o Bispo Casaldaliga. Não sabia ele o que o destino lhe reservava.

                   Assim começou esta triste história, uma tragédia que abalou o Brasil. Eram 23,30 horas do dia 10 de outubro de 1976, um jovem rapaz, filho do posseiro Jovino, morador em Ribeirão Cascalheira, se divertia a valer. Ali, na zona do baixo meretrício, ao lado do parco ribeirão dos porcos, naquele enorme barracão de madeira as sombras da noite prenunciavam algo diferente. O ar estava carregado, lá fora um cachorro uivava quebrando a tranqüilidade dos mais sensatos, sem duvida alguma era um sinal de mau agouro que inquietava a alma dos notívagos.

 Alegre, já fora de si, o jovem bebia e tanto jogava fora como dava para os outros, gritava e cantava, tinha passado dos limites, estava completamente bêbado.

--Manda uma galinha assada aqui prô bichão e desce duas cervejas e uma pinga. – exigia

A galinha demorava, mas as bebidas vinham logo. Já eram altas horas da noite, os habituais já se retiravam, o dono do cabaré pede para o jovem acertar as contas.

                    --Por hoje já chega, tenho que fechar, vai acertar a conta?

Mas acertar como? O rapaz estava mais duro que beirada de sino. O soldado Félix ali presente resolve intervir e prende o bêbado, o batuta dorme na cadeia.

                   Abraão o bate pau da policia instiga o soldado para no outro dia cedo irem cobrar do velho posseiro Jovino, pai do preso.

--Amanhã cedo vamos dar um arrocho no Jovino que ele paga a conta do filho.

 --É, mas o Jovino não é mole não, é preciso ter cuidado.

--Brabo eu sei que ele não é eu nunca vi uma bagunça dele - interfere Abraão.

--É isto ai, mas vou levar o fuzil, você vai comigo Abraão?

--Claro que vou.

                   Jovino o pai do desastrado rapaz aguarda em sua casa o retorno do filho, não quer ir a delegacia pedir por ele, mas pede a terceiros para intervirem, mas todos tinham medo da policia.

                   Na rua naquela manhã fatídica, andando juntos lá vão Felix levando seu fuzil e Abraão o bate-pau, rumo à casa do posseiro, entram na casa e começam a pressionar o velho Jovino:

--Seu filho está preso e está devendo uma nota lá no Cabaré, e viemos aqui para você pagar a conta e entregar o revolver dele – intimou o soldado.

--Mas, não tenho dinheiro e ele nunca teve nenhuma arma e eu não tenho culpa disto – respondeu calmamente Jovino.

                   --È, mas ou você paga ou vamos prendê-lo junto com seu filho, disse o soldado - e ato seguido levantando o fuzil o manobrou jogando a bala na agulha.

                  Um só estampido foi ouvido, Jovino a se ver ameaçado e sabendo que Félix ia matá-lo sacou de uma garrucha de um tiro que trazia na cinta e disparou o único projétil acertando a testa do militar que caiu com o fuzil na mão, a esta altura dos acontecimentos Abraão apavorado corre pelas ruas gritando:

   --Jovino matou o Félix.

                   Jovino foge para as matas e vai aparecer, tempos depois, muito longe dali, em Canabrava do Norte onde faleceu de morte natural.

                   Comunicado o fato para a sede da Comarca de Barra do Garças, vem um pelotão da PM comandada pelo tenente Costa Neto. O tenente Lepesrteurs vem também. Abrem-se o inquérito e buscam pelo Jovino, mas não consegue o encontrar.

                   Testemunhas foram ouvidas chegando-se à conclusão que fora Abraão quem gerara os acontecimentos.

                   Os oficiais regressam para Barra do Garças, ficando em Cascalheira o Cabo Juracy, Cabo Messias e vários soldados e estes resolveram continuar as investigações e a prenderem Jovino a qualquer custo, duas mulheres são detidas, são elas a Santana e Margarida já idosas, eram irmã e nora do foragido.

--Elas sabem onde ele esta, estão levando comida para ele lá no mato, vão ter que contar – era a ordem geral entre os PMS.

                  Retidas na cadeia as duas mulheres são barbaramente seviciadas, agulhas são enfiadas em seus seios, embaixo das unhas, braços abertos em cruz e fuzis enfiados em suas orelhas, e batem em seus rostos, estavam ajoelhadas e em baixo de seus joelhos tampinhas de cerveja viradas para cima. Uma delas havia dado a luz a uma criança a menos de um mês e menino estava no chão da cela chorando, a mãe pedia:

--Deixe meu filho mamar, pelo amor de Deus!!!

    --Então fale onde está o bandido, senão!!!

 O dia fatídico havia chegado... Era de 11 para 12 de outubro  de 1976. 

                   Cai à noite e todos têm medo de chegar perto da cadeia, tudo cheirava a álcool. Tarcísio Dairrel um agente pastoral que residia em Ribeirão foi levar água para as duas mulheres. Nesta mesma tarde prendem também um oleiro sob suspeita que tenha ajudado o criminoso a fugir. Tarcísio ao chegar junto da cadeia escutou os gritos das mulheres e não teve coragem de chegar mais perto, volta à casa paroquial e conta para o bispo Don Pedro o que estava se passando. O Bispo resolve ir até a cadeia interceder pelas mulheres, o padre João Bosco resolve:

--Pedro eu vou também.

--Deixe que eu vá só – insistiu o Bispo.

                   Mas João Bosco estava decidido a ir.

                   Na porta da cadeia naquela noite escura, estavam quatro PMs, o cachorro ainda uivava tudo era prenuncio do mal, e o calor era intenso.

                   Pedro chega e fala ao Cabo Messias que ali estava junto com o soldado Ezy Ramalho Feitosa, outros dois soldado se retiram para dentro da  delegacia e cadeia, não queriam participar.

--Soltem as mulheres, não podem judiar tanto delas assim.

--Olha bispo comuna você é um crápula saia já daqui senão...

                   João Bosco tentava argumentar, uma tapa explode em seu rosto, gritos e xingos acompanham um pavoroso estampido que espanta a noite, o cão se calara, já não uivava mais, só a voz do criminoso.

                   --Foi só pra assustar...

                   João Bosco recebeu a bala na cabeça que lhe rasga o cérebro e quis soltar a vida.

                   Pedro o ampara e reza por ele, ali não havia medo e nem ódio, só silêncio, tristeza e muito calor humano, levado para a casa se deu conta da gravidade, veio a falecer já no dia seguinte em Goiânia era 12 de  outubro de 1976.

                   Estava escrito que deveria morrer no lugar de Casaldaliga. 

                   Suas últimas palavras: ”Terminei minha Tarefa” .  

                   Aquele padre, como toda estrela que risca o céu foi mais uma a se encravar nas maravilhas do Criador, o Padre João Bosco Burnier foi riscado da terra para cair no céu, morreu como só os heróis morrem dando a própria vida por tentar ajudar quem dele precisava.

                  A cadeia foi derrubada pelo povo e em seu lugar ergueram uma igreja em louvor aos “mártires da grande caminhada” e uma placa grava o acontecido “aqui mataram o Padre João Bosco Burnier, morto pela Policia de Mato Grosso”.

                  De cinco em cinco anos grandes romarias relembram este episódio brutal, desta triste pagina da história de nosso Mato Grosso.

 Quando a coisa aperta...

                   Eu estava em casa quando recebi o chamado do Juiz Dr. Flávio José Bertin, e ainda mais naquela hora da manhã? Fiquei desconfiado, devia ser algum rabo de foguete, mas como sempre nas horas de aperto eu sempre levava chumbo, como Oficial de Justiça da Comarca de Barra do Garças eu já estava acostumado, assim fui direto ao gabinete do Juiz lá no Fórum e quando abri a porta fiquei surpreso, nunca esperei ver tanta autoridade reunida. Estava ali todo o alto comando da PM de Mato Grosso.

   --Ai esta o homem – disse o Juiz me apontando para os militares.
                   --Pois não Dr. Flávio, bom dia para todos – cumprimentei, pensando o que será que houve?
                   --O Coronel quer falar consigo.
                   --Estou as suas ordens Coronel.
                   --O Dr. Flávio nos garantiu que o Senhor é o homem exato para resolver um grave problema para nós, O Senhor sabe o que aconteceu lá no Ribeirão Cascalheira?
                  --Por alto, sei que alguém matou um padre e a situação esta preta por lá.
                  --Exatamente, pelo o que se sabe até agora, um policial matou o padre João Bosco Burnier e a situação lá esta melindrosa e não temos jeito de mandar buscar as vitimas que pelo se conta foram seviciadas por elementos da nossa corporação, que já se encontram recolhidos no quartel aqui em Barra do Garças, mas há necessidade de instalarmos urgentemente um IPM e necessário se faz ouvir as testemunhas, mas não queremos mandar um destacamento para lá no momento seria uma imprudência, pois  não queremos tumultuar mais a situação, mandar um Oficial seria contraproducente  face ao sentimento de revolta em que o povo de lá se encontram, mas uma pessoa como o Senhor familiarizado com o pessoal da Cascalheira poderia ser bem recebido e trazer as três testemunhas que queremos ouvir.

--Só isto – perguntei, é muito fácil, eles arranjam a encrenca e me põe no fogo, mas...

--Você deve trazer de lá estas pessoas, e como o avião do Estado só tem lugar para mais dois, traga primeiro as duas mulheres e depois traga o homem – falou o Juiz.

--Mas doutor se eu trouxer estas mulheres quem vai me garantir que elas serão recambiadas de volta?

--O mesmo avião que as trouxer as levará e têm mais, as mulheres ficarão sob nossa custódia o tempo que permanecerem aqui você as acompanhara durante todo tempo.

--E quem é o piloto do Estado?

--O Milton já esta te esperando no campo.

--Então até mais tarde senhores – me despedi e sai para o campo.

                   No campo Milton já estava com o avião pronto e como era cedo do dia dava tempo de ir e voltar.

--Outro abacaxi hein? Vamos descer direto ou vamos sobrevoar primeiro?

--Vamos fazer um rasante para alguém ir buscar nós lá no campo.

--Não se incomode com isto, lá vai ter gente demais.

                   Sobrevoamos o Ribeirão Cascalheira, um corre... corre  danado lá em baixo, será...

                   Descemos no campo da Betumarco, era o campo em uso, quando o Milton rolou o avião o campo estava cheio de gente junto à entrada de estacionamento. Mas quando desci do avião ouvi um Ohhhhh...bem comprido realmente eu acho que para aquele povo foi uma decepção esperavam algum graúdo e chego eu, Acho que estavam esperando pelo Governador do Estado.          Vieram todos ao meu encontro, estavam meio frustrados, mas não fazia mal eram meus amigos de longas datas.

--Só vieram vocês – perguntou o Fritz que era o dono do Posto e dono do caminhão.

--Só nós, porque estavam esperando a Vera Fischer? Brinquei com o amigo.

--Vamos descer e conversar sobre o que vim fazer aqui – Milton já havia fechado o avião, juntos fomos para a cidade. Ao passar pelo bar do Isidoro, não tinha jeito não, tinha que parar para tomar uma cerveja e dar satisfações a uma dezena de amigos, mas o Milton estava impaciente:

--Rapaz isto não é campanha política não viemos buscar as mulheres.

                   Acabei de tomar a cerveja e pedi ao Fritz para me levar até onde estavam a Santana e a Margarida. Elas estavam do outro lado do Ribeirão, paramos o caminhão bem na porta da Santana que me reconheceu:

--Seu Dequimá foi o Senhor que chegou naquele avião?

   --Foi Santana, eu vim lhe buscar.

--Vão prende a gente de novo? Seu Dequimá eu num aguento estou muito fraca.

--Ninguém vai lhe prender Santana, o Juiz da Barra quer falar contigo e com a Margarida, os soldados já estão presos e devem ser punidos.

--Depois eles se vingam da gente Dequimá, aqui num tem justiça não.

--Ué então vamos deixar estes homens soltos? Nada disto você vai comigo e a Margarida também e eu garanto trazer vocês de volta.

                   Nisto a Margarida já vem chegando com uma sacolinha em baixo do braço.

--Falaram que o Senhor veio nos buscar para dar depoimento lá no Juiz da Barra do Garças?

--Isto mesmo Margarida.

--Comadre – disse a Margarida para a Santana – nos temos que ir hoje e amanhã a gente volta, o Juiz ta chamando a gente e nos vamos, podemos confiar no Juiz e no Dequimá.

--Então vamos.

                   Depois das duas mulheres subirem no caminhão do Fritz e eu íamos subindo também quando outra mulher me agarrou pela camisa e puxando falou:

--Seu Dequimá eu preciso falar contigo, é urgente,

                    Era a Iolanda a mulher do Penalva, um aventureiro metido a tudo que havia sumido de Ribeirão de tanta encrenca que arrumara. 

                   Pedi para o Fritz me esperar um pouco enquanto ia à casa de Iolanda e lá chegando ela me mostrou duas latinhas que mais pareciam latas de cervejas, só que eram diferentes.

--O Senhor sabe o que é isto aqui – perguntou

--Sei, são duas bombas de gás lacrimogêneas não detonadas tentei explicar.

--Foi o que eu pensei - disse a mulher e continuou - no dia que a policia chegou aqui eu estava em casa sozinha com meus dois filhos, o Penalva desde há muito se foi, e acredito que contaram para a Policia que o criminoso estava aqui em casa, assim ele jogaram estas duas latinhas pela janela e correram e eu me  apavorei e sai correndo levando meus dois filhos comigo, não sei como não atiraram em nós, ai eles invadiram a minha casa e não acharam nada e me largaram de mão e eu voltei e fui tirar água do poço quando uma das latinhas saiu no balde ai eu tirei a outra e enterrei as duas que agora estou te mostrando.

--Me de estas duas latas, eu vou levá-las e entregá-las para o Juiz.

--Seu Dequimá não dá para o Senhor me tirar daqui? -          

 --Esta bem Iolanda, manhã eu venho trazer estas mulheres e levar outra testemunha, na ida acho que da para você ir.

                   Sai direto e fui para o campo o Milton e as duas mulheres já estavam esperando.

--Pronto, podemos voltar.

--Espere ai que isto ai?

--Só duas latinhas que estou ajuntando

                   --Desde quando?

                   --Ora piloteiro - respondi as agasalhando em baixo do banco - vamos embora.

                   Depois que decolamos fiquei apreensivo e se estas latas estourarem com a pressão?  Mas já não havia o que fazer agora era só rezar para que nada acontecesse. Quando chegamos a Barra do Garças foi um alivio, desci do avião e tirei as latinhas foi quando o Milton se deu conta do que eram:

                   --Você é doido, trazendo duas bombas dentro do avião?

--É, mas não aconteceu nada.

   --Mas podia ter acontecido e nos iríamos morrer.

                   Como já era de tardinha, passei pelo Fórum deixei as duas bombas entregando-as para o Juiz comentei:

--As duas mulheres estão lá fora no carro.

                --Leve-as para uma pensão bem isolada, não diga a ninguém onde estão e fique de plantão o tempo todo e amanhã bem cedo as traga aqui para serem ouvidas.

--Tudo bem.

                   Deixei as duas mulheres na pensão da Ingrace, uma amiga minha e as recomendei ao máximo, no outro dia bem cedo as levei para o Fórum e as introduzi no Gabinete do Juiz que ainda não havia chegado.

 Logo depois chegavam os militares e ficaram na ante sala quando me apresentei o Coronel perguntou
                    --Trouxe as vitimas?
                    --Sim estão no Gabinete conversando com o Juiz.
                    --Avise o doutor que os réus já estão aqui.
                    O Dr. Flavio mandou chamar a escrivã e mandou o Comando Militar entrar na sala.

--Vamos ouvir as duas mulheres, primeiro a Santana, depois a outra. Vamos fazer uma acareação para que elas reconheçam e indiquem seus agressores.

--Façam uma fila aqui e só respondam o que lhes for perguntado – ordenou o comando para os soldados.

--Santana qual destes homens a agrediu?

--Aquele ali – mostrou Santana – me bateu e ameaçou matar o neném e espetou agulha no meu seio e aquele outro também. As duas identificaram oito soldados junto com os cabos, e contaram tudo os que lhes fizeram, alguns soldados a despeito de estarem presentes seus superiores ainda ameaçaram as vitimas precisando o Juiz corrigi-los.As mulheres foram liberadas e eu voltei com elas para o Ribeirão no outro dia trouxe a ultima vitima, que depois de ouvido foi liberado, arranjamos uma passagem de volta e dinheiro para as despesas. O soldado foram todos expulsos e Ezy foi preso para ser processado civilmente, mas transferiram sua prisão para a cadeia de Aragarças - GO, sob o pretexto de que a cadeia da Barra seria reformada e colocaram o soldado Milhomem de plantão à noite Ezy abriu um buraco na parede e fugiu para nunca mais ser encontrado.   Também ninguém foi atrás dele.

                  Deste rolo danado quem levou a pior foi o Padre João Bosco Burnier que morreu inocentemente no lugar do Bispo “como Ezy dissera ao atirar - Cala a boca Bispo comuna”.

                   O Sargento Abdias e soldado Carlinhos não estavam lá, mas foram punidos e expulsos também, pouco tempos depois, quando a poeira abaixou todos foram readmitidos na policia e ainda estão por ai.

                   O Dr. Flavio mandou chamar o Tenente Costa Neto e mostrou-lhes as duas bombas que eles haviam jogado em uma casa que só tinha mulher e crianças e repreendeu severamente esta medida.                

                   Dei carona para a Iolanda que se mudou para sempre de Ribeirão Cascalheira.

                   À época era ditado comum em Cascalheira MT:

“Criminoso é quem morre porque já está preso para sempre”– “Aqui se mata um hoje e se amarra outro para matar amanhã. 

                                                 *

BL 05...

O Bispo Dom Pedro.

A Raposa do Araguaia lidera reunião...

*Porto Alegre do Norte MT – 18 de dezembro de 1979

Assassinato em Porto Alegre do Norte MT

                       “No dia 17 de dezembro de 1979, sob a orientação do Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porto Alegre do Norte MT, se reuniram quinze homens, entre eles o agente pastoral Rudolfo Alexandre Inattio, mais conhecido por “Cascão”“. Combinavam irem ao dia seguinte até onde a Fazenda Piraguassú estava construindo uma cerca e paralisarem os serviços da mesma. E assim o fizeram, e, na hora aprazada, 10 horas da manhã de 18 de dezembro, ali chegaram todos de arma em punho e determinaram que o empreiteiro Lauderino Evangelista paralisasse os serviços, no que foram atendidos, em face de coação exercida. Mas, não satisfeitos, coagiram também o fiscal “capixaba” a embarcar no carro que os conduzira afim de que o mesmo se entendesse com “muriçoca”, que era o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. O fiscal se negou a acompanhá-los foi quando um dos “posseiros” gritou peguem o “homem” e num ato continuo “capixaba” recuou instintivamente em atitude de defesa, mas Joacyr o “posseiro” estronda sua cartucheira calibre vinte e o balote criminoso rasga a carne do empregado da fazenda e quer lhe soltar a vida. “Capixaba” tomba ferido, e querem enfeitar a tragédia, para tanto vão até o corpo agonizante do capataz e tiram de sua cintura o revolver que não puxara, e, com ele atiram dentro da boca do moribundo dizendo:

--Não gosto de ver ninguém estrebuchando.

                   Outro empregado da fazenda, o menino Raimundo chora amparado pelo velho posseiro Izidio, mas  o matador não se contenta e quer matar mais:

--Você também seu moleque vai morrer – e enfia o revolver no menino. 

--Deixa-o em paz, é só um menino – interfere o velho posseiro.

                   Todos embarcaram na caminhonete e rumam para o povoado a fim de festejar o crime, mas no caminho, combinaram irem direto para o Sindicato bater uma declaração:

--Precisamos todos testemunhar que agimos em legitima defesa que o “Capixaba” quis nos atirar e nós nos defendemos – ensinava o mestre “Cascão”. E de fato, ao chegarem ao povoado, foram até o Sindicato e lá redigiram a tal declaração:

“SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE PORTO ALEGRE”. 18/12/1979.  DECLARAÇÃO A QUEM DE DIREITO

“Uma turma de trabalhadores do Porto Alegre do Norte foram hoje pedir para parar o serviço da cerca que a Fazenda Piraguassú estava fazendo na posse do Sr. Alberto Gomes de Abreu, apesar do pedido que houvesse sido feito no dia 17 de dezembro no salão de aula com a presença do Senhor Nito, administrador da referida Fazenda, o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, o Delegado Sindical de Porto Alegre Romualdo Oliveira Guimarães e cerca de trinta trabalhadores”. Nessa reunião foi pedido para serem suspensos os serviços da cerca e o Senhor Nito não atendeu dizendo que a fazenda mandava e os empregados obedeciam. Hoje dia 18, os trabalhadores resolveram ir ao pé do serviço para suspendê-lo. Lá encontramos os seguintes funcionários: Lauderino Evangelista, Raimundo Rodrigues da Silva, Pedro de Tal, residentes em Porto Alegre. Chegando lá conversaram com o empreiteiro e o empreiteiro atendeu ao pedido para parar os serviços. E disse para os trabalhadores irem se entender com o fiscal conhecido na região como jagunço “capixaba” O. “Capixaba” disse que não parava o serviço e nem viria a P. Alegre para atender ao pedido dos trabalhadores. Ele não atendeu e tirou o revolver para atirar nos posseiros, que estavam presentes. “Ai em nossa legitima defesa os posseiros tiveram que se defender, testemunharam o fato os empregados da fazenda citada anteriormente e o seguinte posseiro abaixo relacionado”. A seguir, na apócrifa declaração vem á assinatura dos participantes e dos empregados que foram coagidos a assinarem. Esta declaração faz parte dos autos e do inquérito policial instaurado a respeito e tem como indiciados Rudolfo Alexandre Inattio, Joacyr Ferreira da Silva e outros – vitima João Milton Benedito, vulgo “Capixaba”. Autuado a 18 dias do mês de dezembro de 1979 pela Delegacia de Policia de Luciara MT.
                   Após terem assinados sob coação os funcionários da fazenda foram liberados. A  Policia de Luciara fora avisada.
                  Chega a Porto Alegre   o   Delegado   de    Policia acompanhado de dois policiais militares. Cascão um dos indiciados é preso e também Moacyr irmão de Joacyr, o resto dos posseiros envolvidos se encontram foragidos, fogem para a mata.
                   O Bispo Don Pedro Casaldaliga Plá da Prelazia de São Félix do Araguaia MT. É avisado e não tarda a chegar ao povoado, já vem acompanhado do Bispo de Porto Nacional, do Deputado Estadual Dante de Oliveira e ainda do advogado da Comissão de Justiça e Paz da Prelazia de São Paulo Dr. José Roberto Leal.
                   E ali estavam eles mais de duzentos homens, todos camponeses, reunidos à espera da palavra do clérigo. Ali estava a sua “Massa conscientizada” e Porto Alegre do Norte, no fim do Estado de Mato Grosso, quase na Divisa com o Estado do Pará, bem às margens do lendário rio Tapirapés, estavam em “festa” uns sorriam, outros choravam, um homem fora morto, seu nome era apenas “Capixaba”.

                   O vilarejo se remoça com inusitado movimento de aviões, caminhões, carros pequenos, a cavalo, a pé de todas as formas começam a chegar sua massa conscientizada por ele Bispo, convocada, cozinhas foram organizadas, muitas vacas mortas, sacos de arroz e feijão empilhados, uma organização quase perfeita.

                   A versão apresentada por Cascão corre de boca em boca, mentira para seu líder o Bispo, e agora o martelar constante a transformava em realidade.

             Em frente da cadeia,  mai  s de  duzentos homens armados de foice, facão, machados, espingardas exigiam a libertação dos dois prisioneiros. O Delegado estava coagido ante a massa convulsionada e não teve alternativa a não ser soltar os indiciados que estavam presos. Para depois abandonar a cidade e ir à busca de reforços e assim o fez.          

Chega outro grupo de policiais militares vindos da sede da comarca, o inquérito foi instaurado e a testemunhas e vários indiciados são ouvidos.

                 Centenas de posseiro   acompanharam   o   desenrolar  dos depoimentos. Os indiciados na maioria continuavam foragidos.

                   Acalmada a situação todos regressam a suas origens e o cadáver foi sepultado.

              Ali estava à famosa e astuta Raposa do Araguaia, carregando um peso incomensurável de amor e de dignidade, o lendário Bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, Don Pedro Maria Casaldaliga Plá, como que a evocar a sua própria alocução:

...“Morrerei de pé como as arvores (me matarão de pé) de golpe, com minha morte, minha vida se fará verdade”. 

Retrocedendo a sua infância:...”Quando ainda menino, aos doze anos de idade, Pedro já anunciava aos quatro ventos o desejo de ser missionário, estudou no seminário La Gleva, na cidade de Vic, na Catalunha. Em 1952, aos 24 anos, em Barcelona, Casaldaliga foi ordenado Padre. Perambulou pelo mundo através do continente Africano para vir cair finalmente no Brasil, tinha então 40 anos quando desembarcou no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1968. Depois de sete dias de caminhão, cruzando, pontes e estradas precárias, e atoleiros, Casaldaliga chegou a São Felix do Araguaia e se deparou com os conflitos fundiários e a absoluta ausência do Estado”). (Wdgh- 2005- Terras Bravias).

 

                                      Dom Pedro Maria Casaldaliga Plá.


BL 06...

                   A Raposa do Araguaia, o Latifúndio e

                 "O Posto da Mata".

Introdução ao problema Posto da Mata...

Histórico...

Fundação Brasil Central na Ilha do Bananal em 1960/FBC

O autor deste trabalho, Wolfgang Dankmar Gunther foi designado em 09/10/1960 como encarregado do Posto da barreira Bem Vinda na Operação Bananal e a 19/09/1961 designado para exercer a função de chefe do Posto da Ilha do Bananal. E pela Portaria 143/ 66 foi designado para exercer a função de chefe do Centro de Atividade da Ilha do Bananal.

                                                       *

                   No inicio de 1960 a FBC – Ilha do Bananal, recebeu um telegrama da Presidência da FBC em Brasília a qual informava a vinda, pelo avião DC3 Douglas da FBC, - de um cidadão cujo nome era Ariosto da Riva, proprietário de uma extensa área de terras no lado mato-grossense e que deveríamos apoiá-lo nos seus trabalhos de pesquisas, levantamento, transporte etc.

                   A finalidade da FBC era o desbravamento dos sertões e para isto contava com equipes especializadas como os sertanistas Claudio, Orlando, Leonardo, Enzo, o autor, e mais uma dezenas de auxiliares e de tiracolo tínhamos um pequeno avião monomotor Cesna 170 cujo piloto era o Adolfo Rolim Amaro e tínhamos ainda amigos agrimensores como Francisco Telles que residia em São Felix do Araguaia que a nosso pedido, logo passou a pertencer à equipe de Ariosto

                   Com a chegada de Ariosto ele foi devidamente hospedado e, seu objetivo já estava em franco desenvolvimento.

                   .

                   O Dr. Luiz Carlos Lima Militão Advogado, residente em Goiânia, já falecido, assim me contou: certa feita:    “As terras que Ariosto estava sendo proprietário, então já denominada Suia Missú, e isto como referencia ao rio que corta a região, haviam sido adquiridos do governo do Estado de Mato Grosso no governo de Ponce de Arruda, pelo seu pai conhecido como Militão (Francisco do Amaral Militão) advogado, economista, funcionário publico, cronista e escritor, em aproximadamente 695 mil hectares”.  (695.000 HECTARES).

                    Assim foi dividida esta enorme área...

                    Uma equipe de homens liderados pelo agrimensor Telles fizeram o serviço e assim Ariosto pode dispor parte da área para diversos grupos. E assim ficou a divisão: o INCRA utilizou aproximadamente 217.774 mil hectares para reforma agrária com os assentamentos “Mãe Maria” “Pedro Casaldaliga”, “Bandeirantes”, “Roncador” e “Serra Nova”; A Liquifarm Agropecuária Suia Missu, (empresa da AGIP   subsidiara Italiana) 165,241 hectares; Romão Flores da Fazenda Rio Preto adquiriu 171.985 mil hectares; Fazenda Vale do Boi de  Mario Quirino adquiriu por compra  90 mil hectares; Fazenda Morumbi  do Grupo Olivetti ficou com 50 mil hectares; Perfazendo o total de 695.000 hectares de terras então pertencente a Ariosto da Riva.

                   O resultado final após das vendas particulares incluindo as destinadas pelo INCRA para assentamento foram 357.773 hectares.

                   Restavam da área de 695.000 hectares um total 337.226 hectares, que foram remanejados

Faz. Rio Preto...51% capital nacional.. 337.226 x 51% = 171.985  hectares.

Liquifarm..49% Capital estrangeiro.......337.226 x 49% = 165.241 hectares.

                 O que não ficou esclarecido foi uma compra, muito ventilada naquela época, do Grupo Garavelo de Goiânia estimada em 250.000 hectares. Neste caso a área de Ariosto não seria apenas 695.000 hectares e sim 945.000 hectares.            

                                                                &

                   Naquela oportunidade o Estado, no Governo de Ponce de Arruda, vendia as terras em lotes de 10.000 hectares, bastava arranjar os interessados e o titulo saia, depois era só fazer a transferência e registrar em Cartório. 

                   Para localizar e levantar o perímetro desta enorme área teve que se deslocar para o oeste rumo a Porto Alegre do Norte e de lá iniciaram o levantamento via satélites da área em questão (Lembro-me que se comentava naquela época que um dos trabalhadores do agrimensor garimpando no rio Tapirapé encontrou um diamante bem grande naquelas paragens.). Fato este que ficamos sabendo da equipe de medição naquela localidade e assim também me segredou Telles.

                   Os Salesianos iriam instalar uma Missão na Suia, mas não levaram adiante a idéia. Todavia comentava-se em altos investimentos do Banco do Vaticano e da SUDAM nas terras da Liquigás com projetos mirabolantes entre estes figurava a implantação de uma enorme agropecuária e até que iniciou muito bem, casas para funcionários, escritórios, ambulatório, um aparente hospital, deposito, sistema de abastecimento de combustível, pista de pouso com hangar para aviões pequenos, derrubadas para plantio de grãos e forrageiras e pastos, etc.. e muito movimento, mas paulatinamente foi diminuindo...

                   Os índios Xavantes, um grupo isolado passou a frequentar as redondezas das terras da Suia Missú, sempre pelos varjões, campos e cerrados, vinham de uma modesta aldeia provisória situada no campo limpo bem na margem do rio Xavantinho a cerca de 20 quilômetros da sede da fazenda, mais ao menos ao rumo de povoado de Pontinopolis. Devo esclarecer que eram índios remanescentes da antiga *Aldeia de Marãiwatséde da região do Couto Magalhães, junto ao rio das Mortes, que em 24 de fevereiro de 1957 se evadiram da região para buscar abrigo  junto aos missionários  de Sangradouro pedindo acolhida e ali perto fixaram  a sua aldeia que ainda hoje leva o nome de “São José”, o segundo grupo destes remanescentes também se evadiram da região e chegaram ao Meirure em 02 de agosto de 1958 pedindo acolhimento, para traz ficaram apenas estes últimos remanescentes eram aproximadamente cinqüenta índios  ou  um pouco mais. Acredito que, hoje existem aproximadamente 31 aldeias Xavantes em Mato Grosso.

                   O índio Xavante é nômade por natureza, suas praças mudam constantemente de lugar assim que as caças se tornam escassas eles partem sempre a procura de novos campos. Por habito tribal não gostam de frequentar lugares fechados, seus arcos grandes e flechas compridas são um grande empecilho e embaraço nas matas, e ainda temem os “espíritos da mata”. O Xavante é um índio do Cerrado e do Campo, e assim demonstram nas suas pinturas corporais que matizam o vermelho com o marrom se identificando com a cor ambiente do cerrado e desta forma estão a cultuar seus modos vivendis.

                   Voltando ao Posto da Mata...

              Em 13 e 15 de agosto de 1966, por solicitação dos que se diziam donos das terras e autores dos projetos com a anuência do SPI ou FUNAI resolveram transferir  “O último grupo de Xavantes remanescentes da aldeia Marãiwatséde em virtude o dos índios terem sidos  acometidos de doenças havendo já morrido  10 a 12 deles em um ano, os administradores e fazendeiros  motivados por essas mortes e pelas doenças  e pelo  péssimo estado de vivencia em que se encontravam, entabularam um acordo com o cacique Tiburcio que aceitou remove-los para São Marcos”  um Posto para    índios Xavante inserido dentro da Missão Salesiana onde já se achavam, há vários anos, instalados  os parentes dos mesmos vindos da aldeia mãe Marãiwatséde junto à região de Couto Magalhães, nas margens do rio das Morte, nos vastos campos de São Felix do Araguaia;

                    Em 1966 a ordem veio de Brasília, era época do Regime Militar, a FBC era um órgão subordinado diretamente ao Gabinete do Presidente da Republica e passou a ser vinculada ao Ministério do Interior.

                   Um avião Douglas da FBC, pilotado por oficiais da FAB veio de Brasília para Santa Izabel na Ilha do Bananal e depois pousou em Suia Missú e fez estas transferências. Eu, pessoalmente,  assisti uma destas e não foram mais do que três ou quatro vôos e em dias bem alternados. O Douglas DC-3 ou C-47 levava no Maximo vinte passageiros. Ou 1400 quilos de carga útil.

                   Lembro que o pessoal comentava a guisa de admiração que quando da ultima viagem um índio que teria ido ao primeiro voo  já tinha voltado a pé.             

                  Os projetos mirabolantes  desmanchavam por traz das cortinas dos desentendimentos internos próprio dos grandes latifúndios e isto fez gerar o descontentamento e um incomodo de caráter internacional entre Vaticano e Itamarati e SUDAM e a AGIP-Petroli a tiracolo – sanado com a intromissão do ECO 92 – e a saída seria devolver o domínio da  terra ao Brasil. O Presidente da ENI (Órgão controlador da AGIP)     anunciou que iria doar as terras aos Xavantes, a que a AGIP do Brasil não concordou e concluiu“Se o Governo Brasileiro quer as terras às comprem ou então as desapropriem”.

                                                                 &

          Enquanto isto  acontecia varios políticos   daquela   época,   falando-se em crias regionais,  amasiados aos interesses do grupo remanescente ficou com os 51%% da terra e que certamente não queriam ter os índios como vizinhos proclamaram aos quatros ventos “Podem invadir que o João garante” Quando da invasão o Clero na sua cumplicidade se quedou calado: (Afinal a área em questão era do Vaticano)   Nem que sim – nem que não, mas o que poderia ter sido feito para impedir?

                    Trinta anos se passaram o povo continuava chegando ansiosos por um pedaço de terra e o Posto da Mata se transformara em uma pequena e prospera cidade com mais de 2.500 famílias com núcleos residências urbanos e periféricos,  mais de 1.550 eram produtores rurais,   Luz elétrica na sede e rural,, varias Igrejas, Armazéns, Supermercados, Padarias Escolas, oficinas, Restaurantes, hospedagem,  Postos de abastecimentos de combustível,  três maquinas de beneficiar arroz, linha de ônibus intermunicipal executiva, transporte escolar com atendimento municipal, etc.  

                   Enquanto todos dormiam na desatenção dos desenrolar dos acontecimentos que se avolumavam por baixo do pano, os mais espertos tramando se valendo do potencial das ONGS estrangeiras, em surdina impuseram que a FUNAI interviesse e destinasse a terra aos índios retornando os migrados e agregando a estes dezenas de outros, dai nasceu a verdadeira contenda.

                   A FUNAI se assenhoreou das terras numa abocanhada de 165 mil hectares de mata e as destinou, com a batuta do clero, para apenas um punhado de índios que nada tinha a ver com elas.

                  Finalmente os Clubes Internacionais, ONGs nac.     ONGs ext., o Clero e uma leva de interessados no Proagro e outras oferendas se posicionaram a favor dos índios e pela expulsão dos vilarejos, na maioria família de roceiros pobres, pequenos criadores e lavradores e sem outras moradias, mas para dar sustentação a seus pretensos direitos adquiridos os índios assessorados por malfazejos que se intitularam de assessores beneméritos elaboraram uma carta a Presidência da Republica com dizeres um tanto perniciosos assinada pelo cacique Xavante Damião que a protocolou na sede do Ministério Público Federal, em Cuiabá e ali ele derrama seu linguajar num verdadeiro verborrágico acusando:

                   Analisemos os textos em que acusam...

“*Os fazendeiros de assassinos por terem mortos a tiro cinco de seus parentes e que não iriam trair os espíritos deles e que...

“São Felix do Araguaia em 1960 só tinha duas casas”.

                   *Vejamos a seguir o que diz o livro “Terras Bravias” (de Wdgh) publicado na internet em 2005 ao que parece vem esclarecer estas duas declarações:

 Pagina seguinte...     

               “Willy Aurelli fora levado para a casa de Severiano Neves o piauiense que fundou aquela vila que veio a se chamar São Felix do Araguaia, pois tinham muito que conversar, afora os problemas existia o lapso de tempo de ausência, mas uma pequena multidão os acompanhou. Realmente o Chefe da Bandeira Piratininga era muito querido por aqueles sertanejos e uma vez instalados, tomaram um cafezinho que a esposa de Severiano a Dona Edilia havia feito e iniciou-se uma longa conversação e eu sempre entrosado estava ali presente notei o semblante abatido e senti que Willy internamente remoía lembrando a distancia de quatro anos que volvia sobre o mesmo roteiro e pisava novamente a terra que tantas lagrimas soubera. Logo adiante o tumulo de seu irmão e os farrapos de recordações dolorosas.

                  Acolhida amiga.

                *Recordações afluindo, Azafama alegre dos primeiros momentos de desembarque. Lugar apropriado para instalação de um bom acampamento. Sombra e água fresca (porto da manga).

                    Foi logo depois que veio ter conhecimento das graves novidades. Os Xavantes estavam depredando tudo, vindo das brenhas, aterrorizando os moradores, muitos dos quais já tinham debandado à margem oposta do rio, pondo a largura da imensa via fluvial de permeio aos índios agressores. Os remanescentes viviam dentro da incomensurável angustia da eterna ameaça. Os retirantes da localidade de Caracol, lá estavam seminus por terem perdido tudo quanto possuíam, olhos ansiosos e interrogadores rolando as órbitas escancaradas.

                 Com essa delicadeza comovedora própria dos sertanejos, nada me foi dito logo ao desembarcar. Todos se desdobraram em gentilezas e auxílios. Foi ao tomar o café na residência de Severiano que a coisa me foi narrada e sem rebuços me foi dito ser eu, naquele momento, o salvador enviado por Deus, graças às preces que diariamente eram feitas!

                 Saímos juntos daquela parafernália de problemas, e agora o que fazer? Eu ia monologando quando Willy se voltando me disse:

                --Leve os barcos para acamparem no Porto da Manga e peça ao Darcy para vir até mim.

                  A primeira etapa fora bastante dura e complicada, mas certamente nosso comandante acharia uma solução plausível, agora era ter paciência e aguardar os acontecimentos.

                  Já estávamos na cidade há quatro dias e o comandante Willy já havia nos apresentado a quase todos os moradores, passei a conhecê-los, na primeira casa o Zé Martins, depois seu irmão Leócadio, Lupercio, Maria Dias, Severiano Souza Neves que era o chefe fundador da vila, seu genro Ateneu, Sindô, Bento de Abreu Luz, Tertuliano, Piaçaba, João Vermelho, João da Luz, Anicetro Oliveira, Juvenal, Pedro Brito, Raimundo, Zé Rocha, Zé Ferreira, Anselmo Alves, Tertuliano e muitos outros eram mais ou menos treze casas a beira rio e umas seis casas na beira da lagoa. “Ali residiam o Zé Lagoa, José Martins da Lagoa, Amâncio de Melo e outros”.

                 *Nos anos de 1948, São Felix do Araguaia já tinha 20 moradias construídas as margens do rio, (13 eram casas solidas e 07 eram ranchos anexados) e mais 06 casas no Recanto da Lagoa, que ficava retirado da vila em apenas uns dois quilômetros. E uma população estimada em 202 habitantes.

                  Passei a morar em São Felix do Araguaia a partir do retorno da Bandeira Piratininga em fins de 1948. 

                   Em 03 de Março de 1953, eu o autor me casei com Maria Paciente Gunther, foi o primeiro casamento oficial registrado em Cartório em São Felix e o escrivão era Guilherme Luz.

                   Em 1960 quando ingressei na FBC, na Ilha do Bananal em Santa Izabel do Morro, São Felix era a nossa base de suprimentos, a cidade já tinha mais de 80 casas, e no recanto da lagoa cerca de 20 casas solidas e uns 02 ranchos e varias chácaras e uma boa centena de gente morando nas posses esparramadas pelo sertão afora e muito movimento beira rio por embarcações e o progresso caminhava franco e aberto com vários mercados e lojas, pista de pouso para aviões, escolas, pensões, botequins, bares, Cartórios, Delegacia de Policia, Destacamento Policial etc. 

                 Começava a se movimentar a famosa Operação JK.

                “Também já afloravam os problemas que naquelas épocas já vinham acavalados ao progresso Ditado Popular uma cidade para ser boa tinha que ter cinco: “P” Padre- Peão- Pinga- Policia e Puta”.

                   Como pode o Cacique Damião categoricamente afirmar que São Felix em 1960 só tinha duas casas? Isto é  uma aberração inacreditável.

 Voltemos a Agosto de 1948/1949/1950.

                   1948...

                  “Os índios Xavantes entram pela primeira vez pacificamente em São Felix do Araguaia”.

                   Logo que cheguei a São Félix as mulas de carga entraram no curral aberto do Severiano, seguidamente despejamos a carga no chão, em seguida avisei ao Chefe que junto com Weber já haviam notado a minha preocupação.

                   --Os índios estão chegando, são uns trinta ou mais não tivemos tempo de contar.

                   --Muito bem Dankmar soltem os animais e vamos nos preparar para recebê-lo – disse o Willy bem contente, afinal tudo dera certo até agora, estava apreensivo, pois João Irineu ficará para traz.                 

                   Os moradores da Lagoa chegavam apressadamente trazendo verdadeiras mudanças em suas costas, pois tinham medo dos índios Xavantes, mas o Chefe os acalmou.

                  Depois de seis dias em São Félix do Araguaia os índios voltaram para a aldeia levando muitos presentes e a certeza de que os toris e Carajás eram amigos.

                  Mas como em toda a família sempre tem uma ovelha negra assim os tinham os Xavantes, ela se chamava “Camilo” e seus quatro seguidores, tinham sido expulsos de seus convívios passando a vagarem sozinhos, eram cinco rebeldes, como veremos a seguir.

                  Naquela oportunidade eu não regressei a São Paulo...

                  Este contato com os índios Xavantes não foi de todo proveitoso ao menos para algumas pessoas. Como em todas as famílias, os índios também tinham suas ovelhas negras e o líder destas tinha o nome cristão de Camilo. Soubemos que o grande chefe Terezaçu os havia expulsado de sua comunidade.

                   Camilo era um índio novo, mas muito irrequieto, gostava de aparecer de supetão vindo sempre por de trás das pessoas e assobiando entre os dentes o que fazia todos sentirem um friozinho na nuca.  Sempre aparecia em um lugar qualquer e quando menos se esperava, e com ele, outros quatro índios.

                  Ali pelo mês de outubro de 1949, Camilo apareceu na fazenda Caracol do João Irineu e ele, Camilo, estava doente, os quatro outros índios estavam com ele.

                   --Camilo você esta doente?

                   --Doe muito o peito e as costas e tem febre.

                   --Pode ser pneumonia, eu vou tratar de você, mas vai ter que ficar quieto e deitado um bocado de dia.

                   --João homem bom Camilo fica.

                   João Irineu foi a São Félix comprou penicilina e aplicou em Camilo por vários dias até ele ficar bom e isto demorou quase um mês, durante este período João estava moendo cana e fazendo rapadura. O tacho estava cheio de melado quente que ao apurar soltam bolhas que explode jogando caldo quente longe, Camilo já bom ficava rodeando o tacho e João sempre avisando para não encostar muito, foi quando o melado explodiu e apenas chamuscou a barriga de Camilo que gritou e se afastou, chamando os companheiros foi-se embora com muita raiva, João ainda tentou amenizar, mas não adiantou. O que João não sabia era que Camilo voltaria mais breve do que ele jamais poderia imaginar. Pouco tempo depois se tinham noticias dele e seus companheiros, e eram más noticias.

                   Mal havia passado o mês de agosto, ainda inicio de setembro, o tempo se encontrava quente e nubloso, ameaçava chover, quando eu tive a noticia senti um grande arrepio, os índios tinham atacado a fazenda do Pedro Tapirapé e matado sua irmã e as duas crianças.

                   Poucas horas depois um grupo de homens armados chegava ao local do morticínio, era uma fazendinha de um humilde posseiro que só tinha duas taperas, uma para moradia, e uma oficina de fazer farinha, e ali em cima do monte de mandioca que descascava a mulher Maria Tapirapé estava morta com a cabeça arrebentada a bordunadas, o sangue rubro manchava a alvura das raízes, mais ao lado, embaixo de uma cocha de colocar massa, estava o corpo ensanguentado de uma menina. No terreiro os porcos disputavam o que sobrara do corpo de uma criancinha de colo, na travessa de madeira da casa o testemunho da brutalidade, a mancha de sangue indicava onde tinham quebrado a cabeça do neném antes jogá-lo aos porcos. Mas a menina que estava embaixo da cocha estava viva e dois dias depois quando abriu os olhos foi para dizer:

                   --Titio... Foi o Camilo.

                  Na cena do crime, uma borduna de índio caiapó,                                               Camilo tentava enganar.

Impossível esquecer uma chacina como esta.

                   Vinte dias depois, ainda no mês de setembro, eles atacaram de novo, desta feita foi na fazenda Caracol do meu amigo João Irineu, o homem que havia tratado deles por quase um mês com alimentos e remédios.

                   Dona Rita, mulher de João chegou a São Felix a pé já noite, havia corrido quase mais de quatro léguas, estava exausta e quase em estado de choque. Com muito custo quando conseguimos reanimá-la, o dia já vinha amanhecendo.

                   --Vão até a minha casa gente, os índios mataram o João e os meninos - e entrava em crise de choro Eu estava fazendo almoço quando ouvi um grito longe, parecia vir lá da roça onde o João estava trabalhando, eu fiquei preocupada e fui até a janela para ver se via alguma coisa, pois sabia por noticia o que o Camilo andava aprontando eu sempre tive cisma dele, foi quando vi os índios virem correndo no rumo de minha casa, e vinham com as borduna na mão, fiquei com medo e corri para o fundo quintal e me escondi na moita de banana, ai eles entraram na casa e me procuraram, saíram até o quintal, mas não me viram, voltaram para dentro da casa e começaram a quebrar tudo e carregaram um bocado das coisas, quando eles foram embora eu corri para cá. Sei que meus filhos estão mortos e João também vão lá pelo amor de Deus.

                   Logo, formaram um grupo de homens revoltados e se puseram a caminho. A tragédia se repetira. Na casa, em uma rede atada na sala rústica estava um corpo ensangüentado. Era Luciano um dos filhos do velho guia, mesmo com a cabeça quebrada ainda vivia, Na roça, tombados sobre a terra que trabalhava estavam os dois corpos pai e do filho Augusto, suas cabeças quebradas e no pescoço os enfeites Xavantes. O sobrevivente foi transportado para São Félix em uma rede e assim que se tornou lúcido contou o ocorrido:

                   --Eu e o papai estávamos trabalhando na roça carpindo, era ainda cedo quando vimos os índios chegarem, não vimos nenhuma arma com eles, eram cinco e o Camilo, ele chegou perto do papai e o cumprimentou:

                   --Ta bom João?

                   --Olá seu sumido, por onde andava?

                   --Eu estava na aldeia, olhe o que eu trouxe para você - disse Camilo mostrando um colar destes de cordão com umas penas de gavião e foi colocando no pescoço do papai, e aquele outro índio baixo também me deu um, e como é costumes deles porem no pescoço da gente ninguém desconfiou. Ai aconteceu que Camilo deu um grito e eles começaram enforcar a gente com o cordão, eu lutei muito para tirar o revolver, mas ele estava embrulhado em um lenço e eu não dei conta, só sei que eles bateram em nós com o olho de nossas enxadas. Ai então eu não vi mais nada, me lembro de estar doido andando no rumo da casa e depois eu não sei o que aconteceu.

                   O mesmo aconteceu com o filho mais moço que trabalhava meio afastado quando ouviu os gritos foi ver o que estava acontecendo e já encontrou os índios pelo caminho que o mataram do mesmo jeito.

                  João Irineu e seu filho mais moço morreram em cima da terra que amavam e trabalhavam pelas mãos de quem ajudara. 

                  Mas a revide não demorou a chegar.

                  Para Camilo não houve sobreviventes nos massacres, achavam que todos tinham morrido e que pensariam terem sido os índios Caiapós os autores, estavam tranquilos.

                   Pouco tempo depois (assim me contaram) um grupo de cinco vaqueiros ia para o campo quando avistaram os cinco índios na tapera do João Velho, bem junto da estrada que levava ao limpo grande, um dos vaqueiros chama a atenção dos outros:

                   --Olha quem estão ali - disse - mostrando a velha tapera.

                   --São os índios Xavantes, é o Camilo e seus companheiros, vamos até lá agora chegou a nossa vez.

                   Calmamente os vaqueiros foram rumo à tapera e os índios nem se moveram, faziam de conta que não queriam nada, chegaram rindo e desceram dos seus cavalos e cercaram rapidamente a tapera entraram na casa e antes de começarem a atirar um deles disse:

                   --Muito bem Camilo você que é o matador de crianças, agora é a sua vez de morrer.

                   Camilo o mais desconfiado pulou a janela correu para dentro de um capão de mato que beirava a casa, os outros quatro índios morreram dentro da tapera, os vaqueiros a cavalo cercaram o pequeno capão e quando conseguiram encontrar Camilo o mataram e ajuntando os corpos os enterraram ali mesmo.

                   Tudo parecia ter voltado á normalidade, mas não por muito tempo.      

                   *Os cinco índios tão decantados pelo Cacique Damião como seus parentes, se forem estes os narrados, eram cinco renegados que foram expulsos de sua própria comunidade tribal eis que haviam matado quatro pessoas inocentes em São Felix do Araguaia e certamente matariam muito mais.

                   Agora tentam justificar a tomada das terras com declarações pretensamente parcimoniosas, mas inverídicas e sem base estrutural para dar ênfase a uma decisão tão importante como à de espoliar centenas de famílias jogando-as ao desabrigo. Há que se rever esta lacuna que mancha o pudor democrático de uma nação que se diz livre e justiceira. A mancha desta impudica atitude não se apagará tão facilmente alguns de nossos dirigentes, os aliciadores da malversada Lei a carregarão para sempre, não será a lei dos homens que ao final cumprir-se-á, mas sim a Lei que rege o Universo de Deus.

                  Neste país a lugar para todos, não é justos sacrificar os menos afortunados baseando-se em Leis absoletas e serviçais.  (2005-Wdgh)

                  (Foi o episódio acima o único registro encontrado nas vozes populares sobre mortes de índios na região de São Felix do Araguaia e foram narradas no livro “Terras Bravias” -  Publicado Internet em 2005 Wdgh).                   

                                                                &

                    Mapas, dados e texto transcritos na integra anexados coletados na palestra proferida pelo Dr. Afonso Dalberto – Presidente do Instituto de Terras de Mato Grosso  INTERMAT– 19 de agosto de 2009. Cuiabá.

DESAFIOS DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM MATO GROSSO. (ver a seguir}...

                   “A atual situação fundiária do Estado de Mato Grosso advém de uma história repleta de choques de competências, com diversas regiões regularizadas por diversos órgãos, autarquias e colonizadoras, resultando numa miscelânea de títulos, sesmarias, glebas, e áreas indígenas. 

                   Vejamos a historia:

                   O problema fundiário de Mato Grosso remonta ao ano de 1530, com a criação das capitanias hereditárias e do sistema de SESMARIAS, que consistiam em grandes glebas distribuídas pela Coroa portuguesa. A sesmaria era uma subdivisão da capitania hereditária com objetivo de que essa terra fosse aproveitada

                   Outro problema é a sobreposição por encadeamento de títulos, como por exemplo, a região norte do Vale do Araguaia, em que numa época foram emitidos títulos encadeados partindo do rio Xingu para o leste e em outra partindo do Rio Araguaia para o oeste criando uma faixa de ruptura em que dentro desta faixa há uma sobreposição de títulos-.··.

                   O outro problema é a questão dos pontos de amarração, ou seja, o mesmo titulo dependendo do ponto de amarração e do encadeamento de títulos pode ser deslocado.

Na sequência..

 

                   “Vejamos o mapa ilustrativo onde, há casos comprovados de deslocamento do mesmo titulo de aproximadamente 30 km conforme ponto de amarração”.

                    Analisemos os ilustrativos:

Demonstrativo área 01.


Demonstrativo área 02

São as mesmas áreas em diferentes posicionamento. 

 Recordo-me vagamente que naqueles tempos se falavam em ações na justiça de proprietários defendendo seus territórios sobrepostos e que haviam chegado à última instância, mas ao que parece tudo se quedou calado e no esquecimento.                 Finalmente o velho adágio.

 “O tempo continua ser ainda o melhor amigo do homem”.

                                     Boa sorte amigos.

                                                 §

 Carta Poema dedicada ao Bispo da Terra.

 
Disse: ELE eu não sou deste mundo,
Mas vim para este mundo.
Disse Pedro Maria:
Morrerei em pé como as arvores,
Com a minha morte,
Minha vida se fará verdade.
Não Pedro Maria...
Sua vida sempre foi amor e verdade,
Mas, ainda há muito que fazer,
È glorioso descobrir que há luz em nosso caminho,
Eu também não sou deste mundo,
Sou seu irmão, foi o nosso PAI quem me criou.
 
Viemos para aprender e ensinar,
Olhe para o céu, vejas as estrelas,
A beleza das Plêiades e sua família,
Acompanhe o andarilho fujão Arcturus, 
A ciumenta postura de Beteljeuse,
E a inveja de Rigel  que expele treze mil vezes,
tanta  luz e calor como o  nosso Sol,
O conglomerado de Hercules,
e seus milhões de diamantes a faiscar,
A grandiosidade de Orion e Roseta,
Os distantes Alfa-Centauro, Vega e Capela,
Os planetas, os satélites e suas vinte Luas,
Terra, Marte, Júpiter, Urano Saturno, Netuno,
Vênus, Plutão e Mercúrio.
São miríades de hostes e galáxias,
Obras incomensuráveis de um Só PAI e CRIADOR.
 
 
Acreditas Pedro Maria, que só há seres inteligentes,
Aqui neste pequeno e empoeirado mundinho nosso?
Não Pedro Maria, há muito mais vida, mais alem,
São milhões de mundo que não conhecem o pecado,
Portanto, aventuremo-nos pelas avenidas estelares,
Buscando o descanso tão decantado por ti!  Pedro Maria...
A paz da instrução espiritual está inserida no
Trono de Deus, junto à poderosa fonte,
Que supre o poder e Luz que opera este,
Magnífico mecanismo que é o Universo!
O montante de energia é incalculável.
Para o nosso pequeno recanto empoeirado,
O nosso carente sol só fornece um fluxo regular
de energia, igual a quatro centilhões de H.P.
È apenas um entre dez bilhões de sois.
 
Pedro Maria,
Calcule então, qual é a prodigiosa energia
Que deve ser usada, para conservar e manter,
O mecanismo do Universo em movimento.
Como deve ser o poder daquela Mão!
Que dá corda à tremenda fonte! Num Universo todo,
Que nunca teve começo e nem fim!
È um paraíso vivo, em que tudo nele tem vida.
Não se podem afrouxar os laços de Orion.
E nem manter unidas as três estrelas,
As irmãs Mintaka, Alnilan e Alnitak,
As duas, das três primeiras andam juntas,
Mas  pode se vir a olho nu a rebelde Alnitak,
Distanciar-se para o leste a ponto de deformar
o triangulo perfeito, mas ela se autogoverna,

Vai para aonde quer e do jeito que quiser,
Vede Pedro Maria... Até as estrelas tem vida própria.
Deus escreveu a historia da criação e da onipotência,
Nas maravilhosas obras naturais com que nos rodeou,
Vá Pedro Maria,
Vá ardilosa Raposa do Araguaia,
Vá para uma praia do teu rio, numa noite escura,
Poderás ver a grandiosa obra do Pai,
Olhe para o azul do céu e veja a beleza irradiante,                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          
Ao vislumbrar as maravilhosas hostes celestiais,                                                                                        e frio é  coração que não se extasiar,
E obscuros  serão os olhos que não as verem,
Que miríades enfeitam  o suntuoso azul,
E encontraras em ti o teu verdadeiro valor,
Medita Pedro Maria, escutas teu coração,
Pedro Maria... Um filho do Criador.
Tens muito a fazer na luta a que viestes,
Para se conseguir paz, justiça, amor e liberdade,
É preciso haver lugar para todos, sem privilégios de uns,
Afinal, somos todos irmãos filhos de um só Criador,
Levante sua voz, clame aos quatro ventos,
Não se quede calado e impotente, pois amigo...
Pedro Maria... Lembre-se que...
O espaço e o tempo assim como a onipotência,
 e a onisciência são inescrutáveis”.
Portanto, levanta-te Pedro Maria, e vá à luta,
Há muita gente precisando de ti...
Jesus está contigo...  E... Eu também..

 Carta Poema oferecido a Dom Pedro Maria Casaldaliga Plá.
O Bispo da Terra ou a Raposa do Araguaia.
Wdgh. 2014.
 
BL 07...                                   



                                                Padre Rodolfo Lunkenbein

                    

Assassinado em Meirure MT.

Nasceu no dia 1° de abril de 1939, em Doringstardt, perto de Bamberga, na Alemanha. Seus pais João e  Maria Lunkenbein, eram pequenos agricultores. Um dia – Rodolfo estava na 5ª série primária – caíram  em suas mãos  alguns números dos Boletins Salesianos: foi a descoberta de um mundo novo. O vigário  deu-lhe de presente uma vida de Dom Bosco. A figura do santo impressionou-o de tal forma que o pequeno  Rodolfo decidiu ser padre salesiano.

                   Em 1958 chegava a Mato Grosso o novo inspetor salesiano, Pe. João Greiner, alemão, trazendo de sua terra uma levada de jovens  missionários , seminaristas  e irmãos leigos. Com ele vinha também o jovem Rodolfo Lunkenbein. Nem salesiano era ainda: vinha fazer o noviciado no Brasil. A ótima saúde, a grande força física, a inteligência prática, a humanidade, a alegria e a disposição para o serviço, eram as ferramentas  que trazia para o seu primeiro e definitivo campo de trabalho missionário: Meirure, era uma missão complexa onde, além de reduzido grupo indígenas Bororo, havia um internato para meninos  brancos das fazendas  e cidades que estava surgindo na região .            

                   “Necessário se torna retroagir para que a “historia de baixo venha a contribuir na complementação da veracidade dos fatos da historia da elite”

                  Assim sendo naveguemos na memória...

*Missão Salesiana.

 A Missão Salesiana em Mato Grosso foi fundada em 18 de janeiro de 1902, inicialmente, na região dos Tachos, e depois em 1920 transferida para Meirure. Durante o Governo de Dom Aquino o Estado de Mato Grosso dou aos Salesianos dois lotes de terras com 25.000 hectares cada um com o pressuposto que cuidassem dos índios, mas Governos posteriores, no entanto, permitiram a venda dessas terras, quando de um conflito violento com arrendatários o Diretor Pe.  Cesar Albisetti desgostoso vendeu uma boa parte das terras. Os índios até então não tinham direito a terras. Em 1975 o governo federal criou a reserva indígena do Meirure o que veio a causar grande impacto entre os já proprietários das terras também adquiridas por compra do estado e outras de terceiros, posses e por compra também aos próprios Salesianos, via cadeia dominial, que as venderam em lotes menores. Esta inusitada situação gerou o conflito que custou a vida do Padre Rodolfo e do Índio Simão e de outros feridos gravemente.

 Desafios da Regularização Fundiária em Mato Grosso.

  O problema Fundiário em Mato Grosso remonta ao ano de 1530, com a criação das capitanias hereditárias e do sistema de SESMARIAS, que consistiam em grandes glebas distribuídas pela Coroa Portuguesa. As sesmarias era uma subdivisão da capitania hereditária com objetivo de que essa terra fosse aproveitada.

                  “A atual situação fundiária do Estado de Mato Grosso advém de uma história repleta de choques de competências, por diversos órgãos, autarquias e colonizadoras, resultando numa miscelânea de títulos, doações, sesmaria, glebas, e áreas indígenas.”

A colônia e Missão Salesiana indígena do Meirure não era uma exceção desta regra.

No dizer dos índios: “O abacaxi já estava plantado quando o Padre chegou.

Na região leste Mato-grossense as sesmarias mais conhecidas maiores eram a da região do Dumbasinho, no médio Araguaia na região de Cocalinho e região de Meirure e em torno, presumia-se que eram de origem e domínio da Igreja e os clérigos, dentro deste pressuposto, assim agiam reivindicando os quinhões, pois o registro era feito nas Paróquias das Capitanias, mas apenas 50.000 hectares divididos em dois lotes, doados pelo então governador do Estado de Mato Grosso realmente pertenciam aos Salesianos que aos pouco, por motivos já atrás mencionados, foram por ordem do Diretor Salesiano vendidos. Restaram para a Missão em 1960 alguns pequenos lotes onde ainda hoje estão instalados, graças ao peso e freio da mão e o pulso forte do Pe. Bruno Mariano, que os segurou, “aos quatro ventos”.

Como acontecia em todas as regiões interioranas do país os pequenos colonos se instalavam aleatoriamente sem ter conhecimento de quem eram as terras, se do governo, se sesmaria, se particular ou do Estado e ali plantaram seu suor e suas lagrimas e viveram por muitos anos.

No caso do Meirure ali se achavam instalados uma dezena de pequenos fazendeiros ou colonos e porque não os chamar de simplesmente Retireiros?  Alguns destes eram o Alaor da Barbearia, o Migueis, o João Mineiro, e outros.  Havia espaço para todos, mas o Governo, em 1975, resolveu criar uma reserva para os índios Bororo do Meirure e com isto implantou-se a semente da discórdia e o Pe. Rodolfo arcou com a culpa deste dissídio. Os índios invadiram a chácara do Alaor e carregaram tudo, porco, galinha, utensílios, roupas, mantimentos nada deixando e assim foram agindo nas outras posses  causando temor e pânico entre os sertanejos mais modestos que tiveram que fugir abandonando tudo como no caso do dono da barbearia o Alaor.

            O Pe. Rodolfo mandou alguns homens fazer a demarcação da divisa e os colonos não gostaram de ver suas terras invadidas sem um mandado oficial, enquanto isto acontecia fui chamado pelo Juiz de Direito em seu Gabinete para uma conversa:

--A situação no Meirure esta tensa, eu quero que você vá lá e fale com o Pe. Rodolfo para devolver a junta de Bois Carreiros que os índios tomaram do Migueis e se ele se negar diga-lhe que eu autorizarei a sua de prisão. Aja com cautela. A Policia Federal já deve estar por lá, vá e  aguarde minhas instruções.

Uma vez lá em Meirure fui direto a casa do Pe. Rodolfo e isto poucos dias antes dos acontecimentos se precipitarem a situação, já estavam tensos e um tanto nervosos em virtude que os índios estavam invadindo as casas dos posseiros,  mas a minha finalidade ali naquela aldeia  era para intimar o Padre  para que devolvesse os bois carreiros do Migueis, ou ele seria  preso.  Fui bem recebido por ele e uma orla de índios que ficaram na porta da casa do Padre pelo lado de fora esperando para ver o que poderia acontecer.

Após cumprimentá-lo me identifiquei como Oficial de Justiça (embora ele já me conhecesse) abri a pasta, tirei o revolver (que sempre carregava dentro da mesma) e o coloquei sob a mesa para dar busca aos papeis para intimar o Padre e ele os assinar, o alemão não se fez de rogado a guisa de busca duma caneta dentro da pasta dele tirou uma Bereta tipo Luger 9mm e também a colocou em cima da mesa, mas virada para a parede e meio longe do alcance da mão, notei que ele não tinha más intenções e assim também o fiz afastei o meu para um lado e começamos a conversar amigavelmente, estávamos empatados,  e  ele simplesmente, após ler, anuiu em atender a  ordem judicial  e deu ciente na papelada. – Menos mal – porque se não cumprisse o mandado judicial eu deveria levá-lo preso. E certamente a guerrinha começaria ali mesmo, mas tudo terminou bem com um largo sorriso.  Até que eu gostei do jeito do alemão. Ao menos era muito sincero e gentil. Conversamos amigavelmente outros assuntos até a trazida dos bois e a entrega dos mesmos ao caseiro do Migueis que os levou para sua propriedade, agradeci e sai da Missão Salesiana do Meirure, mas dentro de mim uma péssima impressão gravada em minha alma o ambiente cheirava tragédia. 

Deu tudo certo e eu voltei para casa, mas no dia 15 de julho de 1976 eu recebi a triste noticia do desfecho desta história:

“Mataram o Padre Rodolfo Lunkenbein”.

Vejamos o que se passou:

 “No dia 15 de julho de 1976, ás dez horas e trinta minutos, no pátio da Missão Salesiana de Meirure, Estado de Mato Grosso, o Padre Rodolfo Lunkenbein foi assassinado a tiros por defender a comunidade indígena Bororo no processo de demarcação do seu território”.

João Mineiro e mais companheiros haviam tomado o pátio da Missão Salesiana do Meirure e traziam, junto com eles, um integrante do grupo que estava fazendo a demarcação da área.

O Pe. Rodolfo chamado as pressas chega à Missão e vê diante dele aqueles que o havia jurado de morte, já não tinha mais volta, e procurou acalmar os ânimos, mas o problema explodiu em violência, João Mineiro o líder dos malversores, estava disposto a tudo, e sem mais opções sacando sua arma atira varias vezes, mas ante a interferência do capitão Bororo que queria livrar o Pe., recebe uma bala nas costa e  cai, Rodolfo já atingido no estomago pede calma  mas é novamente baleado no braço e depois no coração. O índio Bororo Simão teve suas entranhas rasgadas à faca e a sua mãe que o socorria recebeu um tiro no Peito. O Pe. Rodolfo faleceu em seguida e também o índio Simão.

Os Atacantes se evadiram, mas foram presos poucos dias depois.Na seqüência dos acontecimentos eu voltei ao Meirure para junto com Policia Federal darmos cobertura aos colonos para retirada de seus pertences e assim evitar novas tragédias.

                   A Reserva indígena do Meirure foi implantada, e a casa mudou de dono, antes os índios eram hospedes dos Salesianos, hoje os Salesianos são hospedes dos índios.O internato passou a ser só para a índia em face de tumultuada desinteligência gerada pelos decretos expropriatórios.

Quebrava assim o magnífico e precioso elo tão pretendido e decantado pelos Salesianos num sonho que sempre avençaram: Um Internato para os dois, índios e não índios, e, este sonho se esvaiu como uma fumaça.

               Mas, o tempo é nosso melhor amigo, aguardemos! 
      “Índios e não índios podem coexistir juntos como irmãos.”
       A grande verdade é que somos todos filhos do mesmo Pai.
.              Quem pagou com a vida foram dois seres humanos.
                                    Que Deus os tenha.                 


BL 08...

“Im memorem”.

Quarenta Mártires do Brasil. Nome por que ficaram conhecidos na História do Brasil os quarenta missionários jesuítas que sob a direção do Padre Inacio de Azevedo embarcaram para o Brasil a bordo da nau Santiago, não chegaram a desembarcar, tendo sido mortos pelos-++corsários franceses do capitão huguenote Jaques Sourie (1570). Compõe  um grupo  de 40 jovens da Companhia de Jesus (entre 20 e 30 anos), 32 portugueses e 8 espanhóis, destinados ás missões no Brasil em 1570.Durante a viagem, sua nau foi interceptada nas ilhas Canárias por navios de huguenotes calvinistas franceses.  Ao saberem que os tripulantes eram missionários católicos, atiraram-no ao mar a 15 de julho de 1570. Foram beatificados a 11 de maio de 1854 pelo Papa Pio IX. A festa litúrgica destes mártires católicos é celebrada no dia 17 de julho.

O momento do Martírio 

Antes da sua partida em missão para o Brasil, os sacerdotes, irmãos e estudantes reuniram-se na Quinta de Vale do Rosal, situada na Charneca de Caparica, Portugal, e foi aí que se preparam espiritualmente, durante cinco meses, para a missão de evangelização desses tão grandes território que era o território brasileiro, todos quantos tinham aderido ao projeto do padre Dom Inácio de Azevedo. Nessa propriedade os jovens jesuítas subiam freqüentemente para rezar junto a um cruzeiro de madeira onde cerca de 1659 foi levantado por iniciativa do Padre Procurador-Geral do Brasil um cruzeiro de pedra numa brenha da Quinta de Vale de Rosal em memória dos "40 Mártires do Brasil". No dia da sua partida, seguiu na expedição um total de 86 pessoas: 70 eram religiosos jesuítas, os restantes assalariados. Depois de aportarem na Ilha da Madeira, a 12 de Junho de 1570, para consertar a embarcação, descansar e recolher mantimentos prosseguiu viagem, na nau Santiago, apenas Inácio de Azevedo com 39 companheiros. A pouca distância de Tazacorte (em La Palma, Ilhas Canárias), a 15 de Julho de 1570, foram surpreendidos por um navio francês comandado pelo calvinista Jacques Sourie. Os calvinistas abordaram a nau com enorme alarido, praguejando e ameaçando de morte os missionários. O Padre Inácio de Azevedo apressou-se, então, a reunir todos os missionários no convés do navio e dirigiu-lhes as palavras de encorajamento: “Irmãos, preparemo-nos todos, porque hoje vamos povoar o Céu. Ponhamo-nos todos em oração e façamos de conta que esta é a última hora que temos de vida”. Dos lábios de cada um acabaram por irromper, em alta voz, entregas pessoais à vontade de Deus, enquanto os hereges os cobriam de injúrias. Inácio de Azevedo desaconselhou os seus companheiros a combaterem os inimigos com armas como o capitão português lhes pediu, mas apenas por meio de um quadro com um ícone da Santíssima Virgem Maria, o qual trouxe agarrado em exposição solene junto ao seu peito, e a todos gritou: “Irmãos, defendei a fé de Cristo! Pela fé católica e pela Igreja Romana!”. Mesmo depois de ferido na cabeça, o líder da expedição missionária exclamou: “Filhos, não temais, esforçai-vos! Ó meus filhos: que grande mercê é esta de Deus! Ninguém tenha medo, nem fraqueza”. Os missionários foram todos mortos e feridos, excepto o irmão João Sanches a quem os calvinistas guardaram para seu cozinheiro. No entanto, apareceu João Adaucto, sobrinho do capitão da nau, que decidiu vestir o hábito de religioso jesuíta para o tomarem por tal (uma vez que tanto desejava pertencer à Companhia de Jesus) e acabou por ser morto pela fé junto aos restantes mártires. Todos foram lançados ao mar, uns já mortos, outros em agonia e outros ainda vivos..

Textos originais...

 Os Mártires...na seqüência...os nomes...

Dom Inácio de Azevedo, padre português e líder da missão (n. Porto, Portugal) 
Diogo de Andrade, padre (n. Pedrógão) Grande, Portugal
Bento de Castro, irmão, estudante (n. Chacim, Macedo de Cavaleiros, Portugal)
António Soares, irmão, estudante (n. Trancoso da Beira, Portugal)
Manuel Álvares, irmão, coadjutor (n. Estremoz, Portual
Francisco Álvares, irmão, coadjutor (n. Covilhã, Portugal
Domingos Fernandes, irmão, estudante (n. Borba, Portu
António Correia, irmão, estudante (n. Porto, Portugal)
Francisco de Magalhães, irmão, estudante (n. Alcácer do Sal, Portugal
Marcos Caldeira, irmão (n. Vila da Feira, Portugal)
Amaro Vaz, irmão, coadjutor (n. Benviver, Marco de Canavezes, Portugal)
Juan de Mayorga, irmão, coadjutor (n. Saint-Jean-Pied-de-Port, Navarra, hoje França)
Alonso de Baena, irmão, coadjutor (n. Villatobas, Toledo, Espanha)
Esteban de Zuraire, irmão, coadjutor (n. Amescoa, Biscaia, Espanha)
Juan de San Martín, irmão, estudante (n. Yuncos, Toledo, Espanha)
Juan de Zafra, irmão, coadjutor (n. Jerez de Badajoz, Espanha)
Francisco Pérez Godói, irmão, estudante (n. Torrijos, Toledo, Espanha)
Escribano, irmão, coadjutor (n. Viguera, Logroño, Espanha) 
Fernán Sanchez, irmão, estudante (n. Castela-a-Velha, Espanha)
Gonçalo Henriques, irmão, estudante (n. Porto, Portugal)
Álvaro Mendes Borralho, irmão, estudante (N. Elvas, Portugal)
Pero Nunes, irmão, estudante (n. Fronteira, Portugal)
Manuel Rodrigues, irmão, estudante (n. Alcochete, Portugal) 
Nicolau Diniz, irmão, estudante (n. Bragança, Portugal)
Luís Correia, irmão, estudante (n. Évora, Portugal)
Diogo Pires Mimoso, irmão, estudante (n. Nisa, Portugal)
Aleixo Delgado, irmão, estudante (n. Elvas, Portugal)
Brás Ribeiro, irmão, coadjutor (n. Braga, Portugal)
Luís Rodrigues, irmão, estudante (n. Évora, Portugal)
André Gonçalves, irmão, estudante (n. Viana do Alentejo, Portugal)
Gaspar Álvares, irmão, estudante (n. Porto, Portugal)
Manuel Fernandes, irmão, estudante (n. Celorico da Beira, Portugal)
Manuel Pacheco, irmão, estudante (n. Ceuta, Portugal, hoje Espanha)
Pedro Fontoura, irmão, coadjutor (n. Chaves, Portugal)
António Fernandes, irmão, coadjutor (n. Montemor-o-Novo, Portugal)
Simão da Costa, irmão, coadjutor (n. Porto, Portugal)
Simão Lopes, irmão, estudante (n. Ourém, Portugal)
João Adaucto, acompanhante (n. Entre Douro e Minho, Portugal)      ...fim....
 
 
 
Agradecimento...
       Presença de DEUS.

 

Eu canto ao Todo poderoso Deus,
Que fez com que aparecessem montes,
Que espalhou oceanos amplamente,
Construiu de vez os altos Céus;
 
Eu canto a sabedoria que ordenou
Que o sol ao dia presidisse;
Que a Lua mandou também brilhar;
E as estrelas, que obedeçam a Sua voz;
 
Eu canto a bondade do Senhor,
Que encheu a Terra de alimento,
E formou as criaturas, como quis.
E achou que estava tudo bom!
 
Senhor, como expostas estão as Tuas obras!
Por onde quer que dirija os olhos meus,
Quer contemple o chão que piso,
Ou olhe para s céus, no espaço em cima,...
 
Não há planta, ou flor, aqui em baixo,
Que não a revele as tuas Glorias, Deus!
E as nuvens se elevam; as tempestades surgem,
Por ordem do Teu trono, ò poderoso Pai!
 
As criaturas todas, por Ti  vivem, Senhor,
O  objeto são do Teu cuidado eterno.
Não há lugar algum, de esconderijo,
Onde Deus não esteja: Ele em toda parte está!
                                              Isaac Watts


BL 09...

Deus em “OS Mártires do Araguaia”

                       A Missão Salesiana atendia índios e não índios para tanto tinham um orfanato para meninos e meninas, fossem negros, brancos ou índios, e era considerado o melhor Educandário da região. Mas a interferência abrupta do governo federal ao decretarem aleatoriamente Reservas indígenas sem ver a quem estaria ferindo ou prejudicando, e, assim sem medir as conseqüências de seus atos acabou de vez com este sonho dos Missionários, pois em vez de união promoveram e implantaram nas mentes de uns e de outros, de brancos e índios, a discórdia, o ódio e o separativismo que pouco a pouco foram se avolumando, mas os grandes culpados são os nosso representantes do Senado e Câmara Federal que não  atentaram para a gravidade do problema, pois dia a dia estão a virar as costas e deixar que mentes perturbadas aboletadas de improbidades manuseie a vontade de alienígenas e distorçam as verdades para no final se locupletarem com os resultados de suas manobras, pois os índios nada mais são para eles do que “cabide de emprego e lucro” Então porque não considerar os índios aculturados e os em fase de aculturação como cidadãos comuns? Seus filhos teriam os mesmos direitos e prerrogativas iguais a todos os filhos desta terra? As famílias se entrosariam na sociedade no mesmo grau de igualdade? Pois se existem negros, branco e índios todos são iguais perante a lei e nem por isto vão deixar de serem negros ou índios. Façam uma proposta as nações indígenas se aceitam serem enquadrados na lei como todo ou qualquer outro cidadão brasileiro desde o nascimento e arcando com todos os direitos, obrigações e deveres, e aguardem.  Outra injustiça cometida pela Ditadura foi à expulsão do Padre François Jaques Jentel, ele nada fez de errado a não ser defender os posseiros contra as esmagadoras ganâncias de latifundiários, a que se rever esta triste e vergonhosa lacuna da história brasileira lançando-o nos anais da nossa história contemporânea.  Quanto ao Bispo Casaldaliga, que Deus o tenha, seu espírito valoroso continua sendo o expoente protetor dos índios, dos posseiros e dos humildes. O povo o respeita e o ama. Não importa se Bispo ou Padre importa sim que sua memória não se  apague e vibre sempre  como  e famosa, ardilosa e amorosa: “Raposa do Araguaia, um fiel servo de Deus”.

                        ...sempre pronta para defender suas crias.

Bibliografia...

 

*Ocomeço de tudo de 1910 a 2016 –Livro Terras Bravias.pg 14

*Chacina no rio das Mortes – Boletim Missão Salesiana e vida de Pe. João Fuchs,  Pe. Pedro  Sacilotti e Coad. José Pellegrino  e Histórico dos índios Xavantes - folhas 06 a 10  -Texto de boletim da Missão Salesiana  13.01.14  .

*Histórico de Jentel.. Folhas de 11 a 52.. livro Raízes do mesmo autor.

.*Guerrilha Araguaiapg. folhas 53 a 55. -  Livro “Terras Bravias”, do mesmo autor. 

*Assassinato em Cascalheira folhas  56 a 67– Livro “Terras Bravias” do mesmo autor

* Assassinato em Porto Alegre do Norte- e *Posto da Mata ..do livro “Terras Bravias” do mesmo autor folhas 68 a 90.

.*Pe Rodolfo Lunkenbein seu histórico ás folhas 91 a 96.... Foram extraída do Texto original do Livro do Pe Gonçalo Ochoa: Rodolfo : uma vida pelos índios de Mato Grosso, publicado na Internet “ PARABOLICA  p/Marcelodb.

*Mapas da área Suia Missu- folhas 89 e 90 -  Internet - Palestra Proferida pelo Presidente do Intermat em 19 de agosto de 2009

*Os Quarenta Mártires. Biografias e curiosidades. “Histórias do Brasil”  Internet

 

 

 

 

Autor: Wolfgang Dankmar Gunther Hornschuch.

Avenida Piraguassú 1415 – Porto Alegre do Norte MT.

CEP 78655000 – Cel. - 66 984071193

      F I M

 

 

 

 

 

 

 

                                 *

 

“Todos os livros da serie “Os Pioneiros” são baseados em fatos históricos reais, contos e ou lendas os quais são frutos da natureza humana que se deleita em amalgamá-los e os moldar intrinsecamente transformando o nosso folclore em uma relíquia literária ao alcance de todos, é a historia vista de “baixo”, mormente quando o autor, no dizer dos historiadores romanos, ao tempo e ao fato estava presente: “sine ra et studio” o que justifica, constrói e consolida a história da Elite”.

(WDGH-ADLINE-2005)

 

 

 

 


                 


 

 


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