quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A história de São Felix do Araguaia.



O Elo Perdido IX em...
        
     A história de um sertão...

              ...de uma cidade...

    de um homem e de uma mulher:

  São Félix do Araguaia MT.                 

 
   
Autor: Wolfgang Dankmar Gunther..66984071193.

     Obs. Este livro é constantemente atualizado.

 

.Introdução:

 

Dados geográficos e estatísticos.

 

Distrito: São Félix do Araguaia/séde.

 

População em 1995: 14.363 habitantes.

Área: 19.521,76 Km²

Distancia da Capital do Estado: 1.143,0 Klms. e  via aérea 718.0 Km.

Clima: Equatorial quente/úmido com precipitação de chuvas no período anual de 1.750mm.

Temperatura: Máxima de 22° a  43° e mínima de 09°.

Localização Mesorregião 128: Nordeste Mato-grossense. Micro região 526; Norte Araguaia.

Coordenadas:  11° 36” 00' Sul – 51" 12'  00’ Oeste.

Formação Genealógica: Coberturas dobradas do Proterozoico com granitoides associados. Cobertura não dobrada do Fanerozoico. Bacia quaternária do Araguaia.

Relevo: Depressão Araguaia, (antigo mar de Araés), e planície  Ilha do Bananal.

Dinâmica estrutural:

São Félix do Araguaia foi Fundado por Severiano de Sousa Neves em 23 de maio de 1941.

A Lei nº 163 de 25 de outubro de 1948  foi elevado a condição de Distrito desmembrado do Município de Barra Do Garças,  Após 18 anos nesta contingencia  foi finalmente elevado a categoria de Município pela Lei 3.698 de 13 de maio de 1976.

São Felix não herdou tradições culturais antigas sejam religiosas ou cultuadas.

 Histórico...

Município de São Felix do Araguaia

                                 Estado de Mato Grosso.

 

INTRODUÇÃO...

O baixo e médio Araguaia, mais precisamente o leste mato-grossense, é o principal cenário dos relatos deste autor onde ”Sine ra et Studio”, no dizer dos grandes escritores romanos “quando o autor se fazia presente”  registrando dezenas de contextos importantes, paradoxalmente se ressalva o período entre 1926 a 1984 os quais serão fielmente descritos  e comentados  neste trabalho  monográfico. Em um primeiro momento, para melhor compreensão da obra aqui apresentada, foi feita uma revisão bibliográfica, a qual relaciona literatura e história, um assunto bastante questionado pelos estudiosos, uma vez que pesquisadores não acreditam que exista um elo entre ficção e a realidade, enquanto outros estudiosos afirmam haver essa relação entre a escrita histórica e a literária. O pós-modernismo traz justamente essa proximidade, considerando por meio da literatura, acontecimentos históricos vistos sob outro prisma - a história vista de baixo – o daqueles autores não citados nos grandes fatos da história que são contados sob a visão elitista, mas que ajudam a ligar e compor a história de maneira geral.

                 Num segundo   momento, vem a relação   entre  os bons pensamentos dos estudiosos com as narrativas do autor, montando uma relação entre teoria e pratica no sentido de que os pesquisadores embasem a atual obra podendo ser considerada literária por apresentar a ligação entre historia e literatura do ponto de vista de um homem comum que vivenciou e testemunhou suas narrativas. Destas assertivas brotaram e floriram histórias de uma emergente vila com seus habituais moradores, deram-lhe o nome de São Félix do Araguaia. Ou...  

            “Severiano Neves”. (como também era conhecida)

                                              §

                   “A ORIGEM”.                                                 

                 Período tratado neste trabalho de 1926 a 1984.

ANOS DE 1926 - Barra do rio Tapirapé com o rio Araguaia.

                 Era mês de agosto de 1926 quando chegaram á Barra do rio Tapirapé com o Araguaia, na divisa do Estado de Mato Grosso com o Estado de Goiás, mas precisamente a Ilha do Bananal (hoje Estado do Tocantins), eram eles os rudes sertanejos desbravadores de sertões Pio José Pinheiro, sua esposa dona Inês, Sebastião Pereira, Ciriaco e outros, no inicio se instalaram junto ao morro da Barra, mas a grande enchente daquele ano fez com que na junção dos rios Tapirapés e Araguaia as águas corressem por entre os morros e os obrigaram a se mudarem, e, então habitaram a margem do lago Tapirapé onde se formou um grande mangueiral que mais tarde ficou sendo a aldeia dos índios Tapirapés. Os índios Karajás que moravam na Ilha do Bananal, no lado de Goiás, no verão se mudavam para a praia grande da ponta sul da Ilha. Em 1941 com a criação do Posto Heloisa Torres, no lado do Estado de Mato Grosso, bem na junção dos rios Araguaia e Tapirapés, ali se fixaram definitivamente trazidos por Antônio Wanderley Chaves. Os índios mais conhecidos eram os Tapirapes: Pranchui, Cantariô, Marco, Cantidio, Leônidas, Jose Cabelo Ruim e Penacho, os índios Karajás mais conhecidos eram Savarú, Wererremhy e Manoel Tucano.

                 “A expedição - 08 de abril de 1934”.

                  O tema do dia naquela cidade ribeirinha de Barreirinha do Pará era a nova aventura que se avizinhava necessário se organizarem no sentido de fazerem uma viagem tanto pelo rio como por terra.

                 Com destino ao já sonhado local promissor rio acima no Estado de Mato Grosso, que já tinha o apodo de Mato Verde. E muitos eram os candidatos que sonhavam com a Terra Prometida criando histórias mirabolantes e fantasticamente imaginadas e os devaneios iam de encontro a minas de ouros e pedras preciosas e assim por diante. Já falavam da partida para breve, primeiramente Lucio que se manifestou aos seus amigos impondo as condições:              

                  --Vamos atrás do José Xavier  para fazer a relação das pessoas e das famílias que vão conosco e das provisões que vamos precisar para a nossa viagem.

                  --Lucio, nós estamos no mês de abril e ainda chove muito e isto pode dificultar a nossa viagem - alertou seu cunhado Severiano Neves que era um dos lideres daqueles fabulosos pioneiros.

                     --Severiano – respondeu Lucio – Eu não carrego saco de sal em minhas costas, não tenho nada a temer, a chuva pode dificultar, mas o rio cheio nos ajudará a subir pelas vazantes e pelos baixios.

                  --Já mandei derrubar a minha roça e eu plantarei muito milho e arroz, mandioca e abobora junto com a cana, se chover desse jeito teremos muita fartura. - interrompeu Severiano.

                  --Pode sonhar meu amigo, pois assim vai ser – completou Lucio – eu também já fui lá varias vezes e deixei o Pedro Madalena me esperando, a mata lá é de primeira e a minha roça já esta derrubada e por isso que eu quero chegar logo de mudança e tudo para plantar o futuro de minha família.

      --Saiba que eu vou fundar um povoado onde eu e todos os meus poderemos viver para sempre – alardeou Severiano.  

                  --Eu fundarei a minha cidade – completou Lucio estavam decididos. Horas depois a chuva tinha passado e ambos se dirigiram para a casa do “secretário” Jose Xavier que era o tipo do rábula sertanejo estudado tinha boa caligrafia e sabia fazer as contas, especialmente para o lado dele. Lucio sabia deste detalhe e que os outros mal assinavam os nomes.

      --José... Eu quero que você organize no papel, a nossa viagem eu te dou mais ou menos o rumo das coisas e você faz a previsão, como você já sabe, eu já estive lá e sei o que vamos precisar.

      --Muito bem, quero os nomes de quem concordou em ir --Eu sei que eu vou e o Severiano também.

                    --Muito  bem Lucio Pereira Luz e família, Severiano Souza Neves e família, e quem mais? Pedro Nonato, que voltou de lá mais eu, Joaquim Rosário, Ananias Vasconcellos, Roxo, Antônio da Silva Mundim, Francisco Gomes, Barula, Altino Pereira, e você José Xavier.

      --O João da Silva o “Fogaça”, Melquiades, Raimundo Vasconcellos e o Branco são os da frente --afirmou Severiano.

                  --Nem pensar que certos elementos que não gosto vão conosco, ainda vai ficar muita gente por aqui – vaticinou Lucio.

                   De fato muita gente em Barreirinha tinha o Lucio como um líder, mas outros o invejavam e se o odiavam era bem escondido, pois temiam o homem.

                   Quando por um acidente o Cartório onde foi feito o casamento com dona Silvina pegou fogo, ele, sem ligar para o ocorrido comentava não tendo documento não tem casamento”.

                   Nos dias seguintes todos se movimentaram, uns calafetavam os batelões, outros ensebando os arreios, limpando as armas, afiando as facas e facões, e as mulheres preparando as matulas e ensacando mantimentos. Era uma atividade febril.

                  Conta-se que no dia da partida apareceram na cidade, vindos de barco a motor uns fiscais do Estado e alguns policiais do Pará que ao saberem da movimentação do gado para outro Estado queriam receber o imposto a que Lucio se opôs, não concordando:

                  --Quando eu peço verba para escola vocês não dão, e eu também não vou pagar nada e                        E aquela autoridade vendo o poder de arregimentação do procurado resolveram a bem da tranquilidade desistir da cobrança e voltaram rio abaixo. Era Lucio quem tinha falado. Prudentemente souberam ouvir.

Finalmente chegou o dia para a partida.

Era 08 de abril de 1934, - 05,30.

             Mal o dia clareara já  se escutava  o gado     berrando   e os vaqueiros com seus gritos movimentavam as rezes pondo-as a caminho por uma rota até então desconhecida. O som dos berrantes ia à frente guiando o pelotão de rezes. Aliados aos vaqueiros seguiam varias famílias com suas carroças carregando quase de tudo inclusive tralha da dormida e alimentos para toda a equipe terrestre. Tropas de burros disciplinados liderados por uma égua madrinha largaram na frente seguindo o boiadeiro do berrante que estrondeavam os ares se juntando aos mugidos das rezes que pareciam se despedir, e estrada adentra foram sumindo nas curvas invioladas e cheias de capim agreste, seria uma viagem de muitos dias e noites, mas estes e aqueles estavam afeitos a esta lida.

                    Lá no rio, os viageiros se acomodavam em suas embarcações e cada um assumia o seu posto de lida. As mulheres balançavam os barcos ao entrarem e assim foram se agasalhando e deixando o porto, aos poucos foram se enfileirando rio acima pelas forças de seus remos e impulsos de suas zingas. Estava dada a partida. Um foguetório dos infernos explodiu por cima daquela pequena vila, lá se iam seus heróis rumos ao desconhecido e Lucio em pé na proa de seu batelão Severiano, no batelão ao lado levantaram seus rifles 44 de papo amarelo de 12 tiros e se despedindo disseram um ADEUS bem longo.

                  Muitos lhe desejaram boa sorte, outros simplesmente se quedaram calados por não terem tido coragem de participar desta grande aventura.

                    Margeando o rio escutava-se o berrante e o clamor do gado, nos barcos todos tentavam se agasalhar e a ajudar empurrá-los contra a correnteza rio acima, uns com remos, outros com zingas, e outros com ganchos com os quais usavam as arvores ribeirinhas para dar impulso e as pequenas embarcações, tais gazelas. E estas seguiam na frente e foram logo sumindo da vista dos moradores de Barreirinha. Já estavam a caminho.

              --Bem, agora estamos por nossa conta, Dona Otildes e Dona Dauta e Dona Bené não se descuidem do menino. (Jose Liton tinha apenas três dias de nascido).

                   --Pode deixar Papai nos não nos descuidaremos de nada.

       Como o rio ainda   tinha   muita água aqueles tipos de embarcações, os batelões e canoas, eram largos e de pouco calados, próprio para navegarem em águas rasas, assim, tiveram que colocar travessia no rio, desviando-se das correntezas para pegar os remansos do outro lado. A viagem começou a render, almoçavam as merendas preparadas durante a noite quando dormiam amarrados em arvores nos poucos lugares seco que encontravam acendiam uma grande fogueira e se revezavam na vigília.

      Chuva fina   e mosquitos os acompanharam durante os vinte e dois (22) dias e noites que levaram para irem de Barreirinha ao local pretendido, os ganchos que prendiam os arbustos para puxar os barcos e as zingas os ajudaram muito para encurtar a viagem. Finalmente em maio de 1934 chegaram os primeiros habitantes ao lugar que então foi batizado como “Mato Verde” e ali acamparam definitivamente era ainda cedo do dia quando desembarcaram em um barranco limpo que tinha como fundo uma belíssima Mata Verde. No singelo e rude porto, um pequeno grupo de índios Carajás que ali habitavam em um torrão (pedaço de terra alto e enxuto) denominado “Torrão dos Carajás”, que ficava uns mil metros abaixo junto à barranca do rio. Oito casas e um barracão dos índios solteiros enfeitavam a pequena aldeia composta por apenas oito (08) famílias num total de trinta e nove (39) índios que eram comandados pelo cacique mais conhecido como José Caolho Antuire. No período do verão se mudavam para a praia da ilha em frente ao porto onde desembarcaram os chegantes quase todos tinham uma boa noção dos palavreados usados pelos cristãos e o porto estava em festa, índios e seus novos irmãos se confraternizavam. Já conheciam Lucio de outras viagens anteriores e tinham uma grande estima por ele, era o começo de um novo mundo cheio de amor e esperança. Anos depois, na aldeia de São Domingos o capitão era o carismático índio Manoel Joaquim Andori.

                  No dia 10 de maio de 1934. Nascia a Vila de Mato Verde.                    

                   Durante este período Severiano e seus companheiros fizeram varias entradas, margeando o rio rumo acima, partindo  de Mato verde, passaram pelo esgoto do Fontoura seguiram pela Barreira da Cotia, até o Lago de pedra e depois passaram pela lagoa de arroz e finalmente alcançaram o morro de areia e após o contornarem novamente encontraram o rio Araguaia que se abria como a recebê-los abraçando-os e todos sentiram que era ali que estavam plantados os seus futuros, passaram o dia confabulando  e finalmente o grupo se decidiu que deveriam se alojar inicialmente na Ilha do Bananal para melhor estudarem o comportamento agressivo dos índios Xavantes e Caiapós que dominavam o lado Mato-grossense e, se preciso fosse voltariam para aquele lugar. Estavam decididos e sabia que Lucio não iria gostar de vê-los partir. Assim cambaram para a Ilha do Bananal, e sendo ai se instalaram na Barreira da Guariroba onde existia um porto para travessia de gado. Mas com o evento do Decreto Lei Federal que transformou a Ilha em duas instancias, note-se: Esta ilha fica localizada bem no centro do grande vale do rio Araguaia, perfazendo uma área 1.957.312 hectares, divididos entre o Parque Nacional do Araguaia com 562.312 hectares e o parque indígena com 1.395,000 hectares, os chegante se viram obrigados a retornar ao lado Mato-grossense, e se instalaram no lugar que já havia anteriormente escolhido e ali criaram suas raízes. E assim nasceu São Felix do Araguaia.

              
                      Indias Karajas- Santa Izabel - Ilha  do Bananal

 

Aspectos Históricos


Retroagindo no tempo...

Dados gravados pelo autor em 1984.

Anos de 1940.

 

                     Em agosto de 1940, o presidente Getúlio Vargas visitou a aldeia dos índios Karajá  na Ilha do Bananal. Foi o primeiro presidente  brasileiro a visitar uma área indígena. Três anos antes ele havia dissolvido  o Congresso e abolido todos os partidos políticos proclamando um Estado Novo compromissado com o desenvolvimento e a integração nacional. Concluiu que o Brasil deveria marchar para o Oeste  respeitando os valores dos aborígenes e preservando suas culturas, por serem estes a verdadeira raiz do povo brasileiro tornando este pais   unificado socialmente e politicamente. Estiveram presentes a esta confraternização os Senhores Severiano de Sousa Neves, Lucio Pereira Luz, amigos e assessores.                                                                                                              .          

                 

Anos de 1941.

                         A povoação,  objeto deste tema,  que  teve o nome de São Felix do Araguaia foi fundada em 1941, por Severiano Sousa Neves, que era procedente de Paranaíba no Estado do Piauí, nascido a 07 de outubro de 1898 era filho de Simão Pedro Sousa e Firmina Neves Sousa, era casado com Fabriciana Pereira Luz, irmã de Lucio Pereira Luz, e tiveram uma única filha de nome Iraci, com o falecimento desta em 1937 casou-se com Edilia Arruda que o acompanhou nesta longa jornada da vida sertaneja. -(Severiano faleceu a 03 de julho de 1977 em Goiânia e Edilia faleceu a 10 de abril de 1990 também em Goiana

                        
                              Severiano de Souza Neves e esposa Edilia Arruda.

                    Mesmo a revelia, Severiano de Souza Neves e seus parceiros, Zé Martins e Liduina, Lió e Silvinha, Maria Dias, Ateneu Luz e Aracy, Lupercio, Sindô, Tertuliano, Leôncio e a esposa Joana, Firmino da Luz e Florência, Feliciano e Maria Dias, João da Luz e Manoela, Ursulino Vasconcelos e Salomé, Bento de Abreu e Felícia, Lourival e Camú, Sandoval e Silvina da Luz, Marçal e Germana, Raimundo Luizinha, Pedro Coelho e Francisca, deixaram Mato Verde, mas  não se fixaram inicialmente no local escolhido por Severiano com receio das represálias dos índios e se instalaram rio acima, primeiramente na barreira do Pequi ou Guariroba na ilha do Bananal depois se mudaram para junto de Santa Izabel do Morro, mas com o advento da criação da Reserva Indígena Carajá e do Parque Nacional tiveram que abandonar a posse e mudaram-se definitivamente para o lado de Mato Grosso onde ainda hoje se encontra instalada a cidade de São Felix do Araguaia. Isto por volta de 23 de maio de 1941.      

 

              Rio Araguaia e braço Javaé - Ilha do Bananal. 

 .

              Na sequência...

               A 20 de novembro de 1942, a povoação foi batizada com o nome de São Felix por Dom Sebastião Tomas Câmara.

                   A primeira atividade econômica do núcleo foi a criação de gado, explorada pelo seu fundador.

             Apresentando a região condições propicias, não só para a pecuária, como também para lavoura de mandioca, milho e arroz, fluxos de migrantes foram atraídos dando-se inicio assim a formação do povoado.

            Esta ocupação foi bastante dificultada, pois os xavantes que dominavam a região, principalmente nas proximidades da Serra do Roncador, aterrorizavam com suas investidas frequentes, não só os colonizadores como até mesmos os índios Carajás habitantes da ilha do Bananal.

          Varias mortes se registraram como a de João Irineu e um filho, da irmã de Pedro Tapirape e de uma criancinha de colo.

              Severiano e seus amigos Ateneu, Bento, Sindô, João Martins, Jose Martins, Jose lagoa, Amâncio de Melo e vários outros se viram varias vezes envolvidas em escaramuças tanto dos índios Xavantes como dos índios Caiapós, mas nada tão sério e sempre tudo acabava bem.

                  São Felix desde seus primórdio manteve uma ligação mais estreita com o Estado de Goiás, Goiânia especificadamente, do que com Cuiabá. Supõe-se que esta ligação tenha como origem, além das vias de transportes, a primeira forma de comercio estabelecida  na região. Os gêneros alimentícios de primeira necessidade eram trazidos pelo Adventista Antônio Pereira Macedo em pequenos barcos movidos a motor de popa. Sua preferência eram as trocas por artesanatos indígenas. As mercadorias eram originárias de Goiânia que assim estabelecia um elo entre a população isolada do núcleo, com a região de Goiânia. Sua chegada sempre suavizava o total isolamento em que vivia a região e sua população. Na sequência vinha Antônio de Melo Bosaipo ou Mestre Tonico  com seu barco Caterpiler de um motor de centro de um so pistão de nome Frei Chico. Era um barco grande para varias toneladas, conhecido pelo som cavo muito acentuado emitido pelo motor que assim flutuava pelos ares percorrendo rio abaixo/rio acima por muitas léguas.  Seu trafego era entre Leopoldina e Belém do Pará.

              A caça e a pesca abundante na região constituíram-se elementos importantes  para sobrevivência dos primeiros habitantes.

                   A Escola, como as moradias eram de taipas cobertas com palhas de babaçu ou piaçava. Atualmente ainda existem varias casas deste material que é muito adequado ao clima local

                   A primeira igreja foi construída em frente ao rio próximo ao local onde hoje é o Hotel Araguaia e era coberta de palhas com paredes de couros.

                    A Prelazia foi fundada em 1970, sob a orientação do Bispo Dom Pedro Maria Casaldaliga Plá da ordem dos sacerdotes Claretianos.

          A festa popular da localidade era a do padroeiro São Felix, defensor dos pioneiros contra o ataque dos índios e comemorada em novembro. Por motivo da época das chuvas iniciarem em Setembro e se estender até abril, o mês de novembro era propicio as festa popular.

       O fato de São Felix não ser considerado Santo, na totalidade da expressão, pela igreja Católica, levou a Prelazia a adotar como padroeira da localidade a N.S. da Assunção, festejada a 15 de agosto.

       A localidade não apresentava tradições locais ou importadas, nem em costumes sociais, e nem cultos religiosos, nada era antigo ou solido.

          Em 1975 foi inaugurada a primeira Agência Bancária da localidade – Banco Bradesco.

 

ESTRUTURA POLITICO-ADMINISTRATIVA.

                 A Lei 163 de 25 de outubro de 1948 criou o Distrito de

São Felix do Araguaia desmembrado de Barra do Garças  e seu primeiro sub prefeito foi Severiano de Sousa Neves. 

              Em 13 de maio de 1976, pelo Decreto Estadual nº 3698, teve seu território desmembrado do município de Barra do Garças, assim nasceu  o Município de São Felix do Araguaia.

                   O seu primeiro Prefeito foi Severiano de Sousa Neves.

              O Município de São Felix do Araguaia possuía um distrito o da sede, e cinco patrimônios: Pontinopolis, Serra Nova, Santo Antônio, Boa Vista e Chapadinha.

             São Felix do Araguaia que pertencia a Comarca de Barra do Garças teve sua emancipação Jurídica ao se criar a Comarca de São Felix do Araguaia.

                Sua Câmara Municipal conta com nove vereadores, e dois Conselhos Educacionais.

 

ASPECTOS DEMOGRÁFICOS.

 

Evolução da população

      Por ocasião dos levantamentos realizados com objetivo de obter emancipação de São Felix do Araguaia, os órgãos oficiais estimaram a população geral, para a área que compreenderia o novo município em 5.737 habitantes.

                 Em 1977 a população excedeu a casa dos 10.000 habitantes dos quais 6.000 se localizavam na zona urbana. Estimativa não oficial em virtude dos dados demográficos tendo ou não incluído os distritos.

                 Como dado populacional, a    composição da    população do município de São Felix do Araguaia, por domicilio de origem não é possível caracterizar, tendo em vista não existirem dados de fonte oficial. No entanto, por analogia com Luciara, o maior percentual é da própria região Centro Oeste, na qual esta inserida, sendo que o Estado que dá maior contribuição é Goiás.

CAÇA E PESCA.

      . Á caça e a  pesca, abundantes   na  região, não era explorada industrialmente, apenas comerciantes isolados negociam a carne do pirarucum e a pele de jacaré, porem constituem fatores essenciais e relevantes para a subsistência, principalmente a pesca.

        No que se refere à atividade industrial não há no município nenhuma indústria que se estaque pela sua expressão econômica, uma vez que as existentes são serrarias, geralmente instaladas em fazendas, que não suprem as necessidades do proprietário. Pequenas maquinas de beneficiar arroz que apenas supriam as necessidades internas e pequenas olarias que não satisfazem as necessidade locais.

          COMERCIO.

             No que se refere à atividade comercial, existe em São Felix do Araguaia um comercio relativamente movimentado que, suprindo-se em Goiânia  e Anápolis, polariza principalmente Luciara e os patrimônios  incluindo-se Santa Izabel do Morro na Ilha do bananal.

                   O Alto preço do óleo Diesel e da gasolina são indicadores que refletem o elevado custo de vida na região, principalmente nas épocas das chuvas, quando ocorrem oscilações nos preços dos transportes, devido às péssimas condições de trafegabilidade nas estradas.

                     SETOR PÚBLICO.

      Quanto ao setor de serviços, registra-se a presença de instituições oficiais e particulares, ressaltando-se a Prefeitura, Cartório  de Registro Imobiliário,  Fórum de Justiça, Defensoria Publica,  Cartório do Crime, Cartório Eleitoral, Cartório do 2º Oficio, Delegacia de Policia,  Comando da Policia Militar, Emater, INCRA, Correios e Telégrafos, Bancos e Receita Federal.

               A unidade  do  INCRA   pertence  ao projeto  Fundiário do Vale  do Araguaia, realiza demarcações e discriminação de terras devolutas.

                 No tocante a alimentação e hospedagem, há vários hotéis de regulares condições: Hotel Araguaia, Hotel Xavante e Pensão Mato Grosso, além de bares e restaurantes.

 TRANSPORTE E COMUNICAÇÃO.

       Um dos problemas  mais  graves da região  é a dificuldade   das vias de acesso e comunicação com outros polos mais desenvolvidos muito embora, em principio, existam três tipos de transporte, rodoviário, aéreo e Aquaviário, somente o segundo esta operacional, com seis voos semanais entre Belém – Goiânia – Brasília. Esta linha regular é explorada pela VOTEC. –

                     Há um campo de pouso encascalhado que opera com aviões particulares mantendo uma bomba de abastecimento. Em Santa Izabel do Morro uma pista pavimentada oferece proteção ao voo através do núcleo da FAB da 6ª Zona Aérea/FAB. Registram-se semanalmente voos do CAN Correio Aéreo Nacional. O terceiro, o mais utilizado atualmente é o transporte via fluvial em barcos movidos a motor e outros ensejando que o primeiro caminhão a entrar em São Felix do Araguaia, foi trazido em cima de dois barcos ajoujados pela FBC.

            Eis a seguir a sua história:...

                     Rio Manso... Ou “Rio das Mortes.”    .

                         Foi no mês de novembro de 1960...

                         Rio Manso ou rio das Mortes rio tem sua barra com o rio Araguaia três léguas acima de São Félix. Já esperávamos as primeiras chuvas do ano o que viria a facilitar a nossa missão que era trazer um Caminhão GMC 1948 em cima de dois barcos ajoujados de Xavantina a São Félix do Araguaia, não havia estradas naquele tempo o rio era a única alternativa, mas para isto teríamos que enfrentar vários travessões de pedras.

                        Os escolhidos  viajem foram: Dankmar - Leonardo - Clarismundo - Juvêncio e varias mulheres que queriam uma carona até Xavantina.

                        No dia aprazado para a viagem levantei cedo e fui para o barco pronto para partir, Leonardo estava lá de mala pronta e também o Juvêncio um amigo e grande piloto fluvial.

                       --Nos vamos também – afirmamos Leonardo – Eu e o Juvêncio.

                       --Ótimo e estas mulheres? O barco não tem toldo se chover vão se molhar.

                       --Elas estão sabendo – respondeu Juvêncio olhando para Tônica que era sua esposa.

                      --Vamos sair às dez horas tenho que providenciar mais comida - determinou Leonardo – estas mulheres também vão, elas fazem as suas próprias despesas.    

                       Às dez horas eu já estava pronto, o Juvêncio não aparecia e as mulheres já tinham embarcado meia hora depois chegam os dois e demos inicio a viajem.

                        Naquele dia fomos dormir muito longe dentro do rio das Mortes em uma praia muito bonita. À noite conversando com Juvêncio perguntei o que teria acontecido

                        Uma triste historia...

                    “Faz muitos  anos,  um   batelão   dos  padres, cheio    de gente, vinha descendo o rio que estava muito cheio e correndo, o batelão se desgovernou e batendo em um tronco virou jogando os passageiros nas águas turbulentas e cheia de piranhas vermelhas. Vários padres morreram afogados. Duas mulheres e dois homens e um padre se salvaram subindo em arvores”.

                   “Uma    das mulheres  estava gravida” e nos dias de dar   a luz e seu marido que também havia se salvado resolve entrar na água e nadar até encontrar terra seca e ir à busca de socorro, mas foi infeliz porque as piranhas o devoraram bem a vista dos outros e sua mulher não suportando a tragédia abortou o menino que caiu na água e também foi devorado. Outro homem, mais cauteloso, esperou a noite e entrando bem devagar na água conseguiu sair em busca de ajuda e esta só chegou três dias depois Os que sobreviveram passaram quatro dias sem comer e dormindo nos galhos das arvores. Daí a origem do nome “Rio das Mortes” – finalizou.      

                  --É... Eu conheci esta mulher – disse uma das viajantes.     

                   --Água não tem cabelo para se agarrar – completou.

                   --Temos uma longa viajem pela frente  – disse Leonardo – eu vou dormir.

                   --Amanhã passaremos por uma vila chamada Santo Antônio.))))))))))))))0)))Parei

                    Fomos todos dormir.

                    Capivaras  passeavam pela praia e gritavam ao sentir a nossa presença, peixes pulavam a noite toda, enfim era o sertão. Só a luz do fogo que denunciava a vida.

                    Mal   clareava o dia já havíamos partido. Ainda cedo avistamos as casas da vila Santo Antônio, fizemos uma rápida parada e seguimos viajem rumo ao travessão “Capitariquara”.

                    No terceiro dia de viajem de longe escutávamos o ronco das águas no travessão que era um amontoado de pedras em meio do rio que deixava apenas um canal estreito e violento entre duas grandes rochas. Eu ia ao piloto do barco e Juvêncio ao meu lado, Clarismundo cuidava do motor de popa Arquimedes de 12 HP.

                  --Joga para o remanso e encoste-se àquela pedra, vamos ter que passar no cabo – afirmou Juvêncio.

                 As águas agora puxavam ao contrario e o barco tomou um rumo violento contra as pedras, quase me apavorei, dei uma guinada raspando outras pedras, diminui a velocidade e fui encostando o mesmo na pedra maior que ficava logo abaixo do canal, ela é quem tumultuava a águas. O barco sobe a proa na pedra e para. As mulheres rezavam e pediam por todas as virgens santíssimas.

                           Leonardo  havia descido e amarrado à corda em uma pedra.

                  --Ficou com medo Dankmar? – perguntou Leonardo.

                  --Pra falar a verdade fiquei sim, com um pouco de medo.

                  --Isto é bom, é sinal de responsabilidade, vamos passar para aquelas pedras mais acima e puxar, você funciona o motor e sobe.

                  --As mulheres que fiquem quietas – asseverei.

                   Clarismundo funcionou o motor e a estas alturas Leonardo e Juvêncio já puxavam o comprido cabo ajudando o barco a vencer a corredeira. Quando joguei o barco no canal a água entrou pela proa, o motor disparou ao ser levantada a popa, mas logo a mesma se estabilizou e ouvi o estalo, mais parecia um tiro de rifle 44, o leme se quebrou sobrando só o cabo que estava segurando e rodou rio abaixo, só restava o leme do motor, com o estrondo as mulheres gritaram apavoradas. As duas enormes pedras formavam aquele canal violento, mas as forças das águas concentrada o trazia-o de volta ao leito. O motor foi acelerado ao máximo e agora agarrado apenas no timão tentava equilibrar e manter o rumo.

                 Nunca na minha vida ouvi tanto nome de santo:

                 --Valha-me Nossa Senhora do Bom Parto.

                 --Nos acuda mãe Santíssima.

                   --Nossa Santa Luzia da Fumaça nos proteja.                  

                    Entreas lamurias e o tumulto das águas a força de vontade vencia e o barco subia polegada por polegada, mas subia.

                   Não demorou muito começávamos a sair daquele corredor da morte e o travessão Capitariquara, começava a ser vencido.

                  De súbito entramos em um remanso superior que nos impulsionou para um lado, quase em cima de outra pedra, mas a etapa pior já havia vencido. Finalmente conseguimos ultrapassar e o motor pode ser reduzido e encostamos o barco em uma praia junto da ressaca. Mal paramos as mulheres se atiraram para fora do barco e tremiam não por estarem molhadas, mas de susto.

                  Leonardo começou a rir dizendo:

                  --Esta foi boa tomara que seja a última.

                 --Ainda temos o travessão dos macacos, mas ele é bem mais fácil confirmou Clarismundo.

                  --Para mim chega – gritou Tônica a mulher de Juvêncio – o resto da viajem eu vou a pé. – seu marido a repreendeu com um olhar severo.

                  Finalmente vencemos o travessão dos macacos e chegávamos ao porto de Xavantina. Foi um alivio. As mulheres como que por encanto sumiram sem se despedir, depois desta eu acho que elas não voltariam conosco. Afinal foram quase seis dias de viagem

                  Leonardo como velho servidor da Fundação Brasil Central e era tido como um dos sertanistas mais atuante me apresentou a seus irmãos Orlando e Cláudio.

                  Tiramos aquele dia de folga e aproveitamos para apreciar o belíssimo GMC 1948 que deveríamos levar para São Félix. A maioria dos moradores daquela região nunca tinha visto antes um caminhão ou outro veiculo de roda, movido a motor. A não ser bicicleta. Ia ser um Deus nos acuda.

                 Cinco dias depois já havíamos preparado o ajoujo atrelando dois barcos, um distante do outro aproximadamente em três metros.                                         

                 Colocamos o caminhão em cima. Era uma verdadeira arapuca, mas estava feito. No outro dia cedo desceríamos o rio rumo a nossa origem, São Felix do Araguaia.

                 Paranossa sorte o rio tinha enchido bastante e os travessões se alisaram somente uma ponta de pedra ficou de fora no travessão do Capitariquara, passamos entre ela, jogamos os dois barcos na corredeira e a ponta de pedra deslizou pelo meio, foi um susto danado, pois a corredeira era violenta, mas saímos ilesos e com o caminhão firme em cima.   Com quatro dias de viajem chegávamos a São Felix por volta do meio dia.  Foi uma parada, uma loucura, o povo a beira do rio esperando tirarmos o caminhão, preparamos duas grandes pranchas e o motorista improvisado que era o Clarismundo funcionou o motor, que depois de aquecido deu dois balanços com a testar se rodava, e se arrancou de dentro do barco, quando o pessoal viu o caminhão avançar saíram de perto e o chofer pensando que as pranchas estavam caindo se arrancou com fogo no rabo jogando tudo para traz, mas saiu ileso. Finalmente a fera GMC 1948 estava roncando em terra firme e virgem, pois até então era o primeiro veiculo de pneu e motor a pisar por aquelas bandas.

                 Foi um dia de festa, muita festa com passeio de caminhão e muita pergunta.


                 Era época de eleição e eu fui a Luciara com o caminhão para ajudar no transporte de eleitores, mas o pior era que ao chegar a uma tapera naquele mundo de campos e varjões muito grande eu buzinava na frente da casa, mas os moradores saiam correndo pelo fundo até que um criasse coragem e chegasse perto do caminhão depois iam se familiarizando com o veiculo e se atreviam a subir na carroceria do mesmo o pior eram que as famílias queriam ir todas e a dificuldade era colocar os meninos na carroceria, era um Deus nos acuda, a bichada esperneava e gritava, mas acabava entrando e depois de juntar um bocado de gente eu ia para a cidade para despejá-los em frente ao grupo escolar aonde se realizavam as votações. Mas é ai que a porca torce o rabo, quem diria que eles queriam descer? Foi outro trabalhão fazê-los entender que eu teria que ir buscar outras pessoas.

Por via rodoviária São Felix do Araguaia ligava-se inicialmente a seus principais pontos pelo Pau  de Arara de Alcides Bodoque.     

                 

O caminhão pioneiro, Dankmar  e Alcides Bodoque.
        

          Na foto o primeiro Pau de Arara do Alcides Bodoque e  o autor na qualidade de Oficial de Justiça acompanhava o proprietário a serviço do Fórum de Barra do Garças quando começou a fazer a linha  entre  de Barra do Garças a São Felix do Araguaia, onde existiam exatamente 100 pontes entre pequenos mata-burros e pinguelas de madeira dupla- e travessões.

      Mas a pequena empresa foi substituída por outros dois ônibus que deram inicio a Viação Xavante sendo Proprietários Laurentino e seu filho Toninho, que após inaugurarem a linha e realizadas varias viagens  com sucesso  venderam para os atuais donos da Xavante estes  expandiram   as  ramificações para todo o território nacional e se tornaram um exemplo de Empresa Via Xavante e Barrattur atualmente Verde – Quiças as melhores em todo o território Nacional e isto nos enche de orgulho.

                  Via fluvial, ou aquaviária, é plausível entre São Felix e Luciara são, aproximadamente, 72 Klms, e entre São Felix e Leopoldina, hoje Aruanã 720 Klms, ou rio abaixo até Belém do Pará.

                                                                    §  

             A Serra do Magalhães.

                        A história desta Serra que desde longe navegando no rio Araguaia abaixo se avista a imponente e solitária elevação   que exige pretensiosamente estar ligada a São Felix do Araguaia desde os idos tempos da colonização do leste mato-grossense, mas não foi encontrado nenhum registro oficial pelo autor, todavia os velhos sertanejos imolados nas rusticas lides insistiam nas veracidades dos episódios  em que um expedicionário de nome Pimentel Barbosa que pretendia abrir um posto indígena, para a nação xavante,  nas margens do rio Mortes em suas penetrações no Estado de Mato Grosso, havia se arranchado, temporariamente,  com um grupo limitado de seis homens e mais dois índios Bororos que eram os guias, naquela pequena elevação junto ao rio que a margeava  e teve a visita de índios xavantes, que às escondidas os vigiavam entre as moitas, mas a aproximação para um contato direto não evoluía. Mesmo alertado pelo intérprete o explorador entendia que a razão dos índios estarem, supostamente amedrontados, era em virtude do forte armamento dos caraíbas, e ato seguinte determinou a seus comandados que recolhessem todas as armas em caixão que depois foi cadeado. Apenas o cozinheiro ficou de posse de um facão. Os índios assim que os  viram desarmados investiram contra eles e os mataram, note-se que relata a historia que o cozinheiro era um homem valente e lutou bravamente conseguindo matar vários índios com o facão, mas foi vencido e os índios lhes cortaram um braço e uma perna para comerem, não que fossem canibais, mas acreditavam que um homem valente igual aquele quem comesse de sua carne se tornaria também um bravo valente lutador. Os corpos foram encontrados amontoados uns sobre os outros com as bordunas ao lado inclusive o de  Pimentel que teve muitas fraturas por todo o seu corpo. Os dois índios Bororos não foram vitimados por estarem ausentes.

                 Eu pessoalmente vi nos arquivos da FBC em Brasília algumas fotografias tiradas de corpos mutilados por índios, pressupondo que fossem de outras refregas, mas que confirmavam o mesmo costume.             

                  Foram-me relatadas e confirmadas uma historia de um fato acontecido por volta da mesma época que um pesquisador de origem suíça chamado Herbert Magalhães Affer, a serviço do então SPI. (Serviço de Proteção aos Índios) por volta de 1938, esteve na vila de Mato Verde, hoje Luciara, e junto com o sertanejo Cel. Lúcio Pereira Luz, fez uma penetração às margens do rio Xavantinho para manter contatos com os índios Xavantes. Não sendo bem sucedido na primeira viagem ficou de retornar em 1939, mas só chegou em 1941 e após muita insistência o Coronel Lúcio e mais uns companheiros resolveram acompanhá-lo nesta expedição. Assim fizeram. Acamparam em um limpo as margens do rio das Mortes tendo como paisagem ao fundo uma linda serra. Certo dia ficou no acampamento o suíço, o cozinheiro Sulino e Raimundo, Lúcio saiu para pescar tartarugas a certa distancia do acampamento, mas a sua vista. Foi quando inesperadamente os índios, que já os haviam cercado, escondidos atrás de doze touceiras de galhos e palhas e que esperavam a saída de Lúcio, atacaram o acampamento pegando o pesquisador de surpresa dormindo dentro da rede e coberto por um mosquiteiro, os golpes de lança e borduna o mataram tendo uma das lanças entrada boca adentra levando junto o pano do mosquiteiro, o cozinheiro Sulino ao ver o que acontecia correu rumo ao rio gritando pelo Lúcio enquanto Raimundo encostado em uma arvore recebe uma pancada no ombro e corre também rumo ao Lago do rio onde estava o Coronel, este quando deparou com a tragédia deu vários tiros por cima dos índios que debandaram largando a vitima e as armas do crime, por força de sua cultura entendem que as armas é quem eram as criminosas. Naquela época houve sérios comentários que o Coronel era quem engendrara morte do pesquisador, mas com a vinda dos peritos do Rio de Janeiro, desenterraram o corpo e este estava incrivelmente mumificado, talvez por ter sido enterrado em terra argilosa, ficou tudo apurado que teriam sido realmente os índios que o matou. Os restos mortais foram recambiados para São Paulo. Aquela serra tão pacata por duas vezes se manchou de sangue humano, muitos homens e índios morreram e hoje se chama simplesmente “Serra do Magalhães”.

                                                  §                   

 A Serra do Caracol.

            A serra do Caracol distava de São Félix do Araguaia em 14 quilômetros rumo oeste, era a fazenda de João Irineu, uma serra encaracolada e a abundância destes moluscos deram origem ao seu nome, foi também palco de uma grande tragédia como veremos adiante.

                                                 §

 O Limpo Grande.

                   Limpo grande é uma grande campina que fica ao oeste de São Felix do Araguaia e se estende até as margens do rio Xavantinho, durante o verão o capim brota verde e se torna uma área preferida pelo gado e por animais, e ali se encontrava uma “tropa” de Severiano Neves, eram cerca de dez éguas, quatro crias, dois cavalos e um burro dezessete animais ao todo.

                 Severiano me pediu que eu fosse até o limpo grande e trouxesse a tropa dele para mudar de pasto, pois tinha noticias que os índios Xavantes e os Beiços e Pau, isoladamente e as escondidas, andavam pela região e poderiam flechar seus animais como vinham fazendo com outros, não sem ante me alertar do perigo.

                   --Os animais estão por perto se você for buscá-los saia ao amanhecer do dia e estará de volta cedo da tarde, mas cuidado se ver rastros dos índios ou fogo nos varjões, volte mesmo sem os animais.

                   --Fique tranqüilo, eu já conheço bem a região, e não vou me arriscar.

             Quando  o  dia amanheceu  eu já  estava a  caminho  o meu cavalo tinha o nome de “pensamento” por que era muito ligeiro e arisco e na cinta o meu revolver calibre 38 de seis tiros marca “TA Smith Wesson” de mira especial, o único defeito dele era ser cromado e brilhava muito, eu sempre gostei de armas escuras ou pretas. Horas depois eu estava já chegando a meu destino e pude ver ao longe uma leve fumaça de queimada e isto alertou meus sentidos, resolvi me apressar, pois os índios não estavam tão longe assim. Galopando sai a procurar a tropa e a avistei bem longe no limpo do varjão e no rumo da fumaça. Quando me aproximei, depois de rodeá-los, fiquei sem destino a tomar, pois a fumaça crescia em circulo e nos estávamos no meio do fogaréu. Eu sabia que não podia sair pelo funil, isto é, os índios botam fogo em circulo deixando um funil de escape, assim todas as caças pressionadas pelo fogo tendem a querer escapar pelo funil que é a única saída sem fogo, mas é lá que os índios estão de tocaia aguardando para flechar os fugitivos ou sobreviventes, eles usam arcos grandes e flechas compridas próprias para uso em área limpas e cerrados, pois são obrigados a disparar em longas distâncias e não seria por ali que eu iria passar, tomei a resolução de enfrentar o circulo de fogo, tentaria achar um local onde o capim fosse mais baixo e o fogo menor. Assim fustiguei a tropa rumo ao retorno para casa e as incentivei a galoparem, eu teria que aproveitar esta corrida enquanto os poldros ainda não estivessem cansados. Logo chegamos à orla de fogo, por sorte achamos uma passagem onde as chamas eram mais baixas, mas os animais cavalares têm mais medo de fogo do que o gado eu gritava e os imprensava contra o muro ardente, nesta agonia o meu cavalo de um pequeno salto e passou para o outro lado, e correu com se as estivesse abandonando e deu certo, pois animais o imitando também vazaram a cortina de fogo e passaram para o outro lado, mas uma das éguas, segura pelo medo do seu potrinho não quis passar e eu tive que enfiar o cavalo de volta e quase empurrar a égua para cima das chamas que começavam a crescer por acharem pasto mais alto por sorte nesta empurra daqui e dali o filhote criou coragem e atravessou mesmo devagar, mas não se queimou muito apenas chamuscou o cabelo da barriga e a mãe sem duvida alguma deu um salto e se postou lá fora agora só restava eu, mas não tive dificuldade o "pensamento" deu um salto que quase me tirou da sela e partimos a galope rumo a nossa casa. Os animais melhor dos que os homens, conhecem melhor o caminho de volta. Demorei a chegar por que os potrinhos vinham cansados, e eu também, coloquei os animais num pasto fechado e fui a pé dar contas da minha odisseia. Nunca mais me esqueci deste episódio, afinal era um sertão bravio.

                                               §

  ENERGIA.

      A energia elétrica é fornecida através de três grupos geradores Diesel com 180 kVAs.  cada um. E o horário se estendia  das 09,00 ás 14.00 e das 18.00 ás 01.00 e era  fornecido pela CEMAT.

                                                         §

EDUCAÇÃO E CULTURA.

Ensino de 1º Grau.

O ensino de primeiro grau em São Felix do Araguaia, em 1977, beneficiou 2.127 alunos distribuídos em 26 salas  de aula das 08 unidades  escolares mantidas pela administração Estadual e Municipal, que ocuparama78 elementos envolvidos em atividades docentes   e Técnica – administrativa.

Ensino do 2º Grau.

Embora não se tenha dados oficializados o 2º Grau é uma realidade imposta pela atual administração Municipal que em muito interferiu junto a Secretaria de Educação. Projeta-se uma Escola para 1985.

Rememorando fragmentos dos bons tempos escolares fazemos as anotações seguintes: Nas décadas de 1950 a 1960 houve um grande avanço no sistema educacional. Escolas foram construídas, inclusive o Ginásio Estadual Araguaia. E muitas professoras e professores participaram deste avanço educacional, a saber: Tharcília da Rocha Braga – a esposa de Juvêncio Dona Tonica – Antônio Wanderley Chaves – Erotildes da Silva Milhomem – Luiza Abreu Luz – Elza Mendes de Freitas – Cidinha Milhomem – Saulo de Moraes – Jurandir Silva Sarmento – Alzira da Luz Setúbal. Registrando que em 1975 deve-se o evento  da Lei 2.420  que criou a Escola Estadual de Primeiro Grau Governador José Frageli.

                                                                                                                                             Rio                                           Rio Araguaia

                            

                                          Temporal se aproxima de São Felix do Araguaia.

 

                             *

   NAVEGANDO NO TEMPO.

 Sete anos depois...

 

              Anos de 1948.

 

Dia 23 de junho de 1948 - 16.00 horas.

 

                   Os dois barcos que traziam a Bandeira Piratininga, vindas da Capital de São Paulo, sob o comando do jornalista e Bandeirante Willy Aurelli manobravam para acostar nas rudes entradas do improvisado porto, em cima, na rua desalinhada viam-se as trezes casas que margeavam o rio Araguaia no lado de Mato Grosso eram de construção rude a exceção da casa de Severiano que era de adobe e coberta da telha e ficava bem em uma esquina que era a saída e a entrada da vila  para o sertão. Na proa eu e Willy esperávamos melhor aproximação com a terra firme para lançarmos as cordas para amarrarem o barco quando num sussurro profundo e triste Willy comentou:

                 --Faz quatro anos que estive aqui!

                 --Boas ou más recordações - perguntei.

                 --Meu irmão Aurélio esta enterrado aqui.

                 --Sim, eu sei.

                  Chegamos a São Felix do Araguaia. MT.

                Uma verdadeira    multidão já    nos aguardava no porto, alias, eram muitos os lugares para encostar barcos, foguetes estralavam por todos os lados e tiros eram disparados às dezenas, de todos os tipos de arma, fora uma recepção e tanto.

                Nosso  barco   bem  manobrado   aportou    bem perto de outro barco da região notei que o nome era muito interessante “Frei Chico” era um barco grande porem com um só motor de centro que era uma maquina estupendo e de um só cilindro, era um “Bolinder” a que chamavam de cabeça quente, pois para ele funcionar era preciso aquecê-la  a maçarico, a seguir um enorme tubo de ar comprimido dava inicio a movimentação era impossível acionar a sua partida a mão, só o volante devia pesar quase mil quilos, também para movimentá-lo tanto fazia por óleo Diesel, óleo de jacaré ou óleo de peixe era a mesma coisa, sei disto porque inicialmente o observei por dois dias, mas quando o Tônico Bosaipo seu proprietário o funcionava, a cidade toda parecia tremer tal um terremoto... Tuuuummm. Compassivamente, mas continuamente, fiquei apaixonado pelo barco eu teria que fazer uma viagem nele e para isto eu fui me entrosando com o Comandante Tônico.

                 Willy fora levado para a casa de Severiano Neves o piauiense que fundou aquela vila que veio a se chamar São Felix do Araguaia, pois tinham muito que conversar, afora os problemas existia o lapso de tempo de ausência, mas uma pequena multidão os acompanhou. Realmente o Chefe era muito querido por aqueles sertanejos e uma vez instalados, tomaram um cafezinho que a esposa de Severiano a Dona Edilia havia feito e iniciou-se uma longa conversação e eu sempre entrosado estava ali presente pude testemunhar o desenrolar dos históricos depoimentos notei o semblante abatido e senti que Willy internamente remoía lembrando a distancia de quatro anos que volvia sobre o mesmo roteiro e pisava novamente a terra  que tantas lagrimas soubera. Logo adiante o tumulo de seu irmão e os farrapos de recordações dolorosas.

                   Acolhida amiga. Depoimentos dos sertanejos.

**Recordações afluindo, Azafama alegre dos primeiros momentos de desembarque. Lugar apropriado para instalação de um bom acampamento. Sombra e água fresca (porto da manga).

Foi logo depois que viemos ter conhecimento das graves novidades. Os Xavantes estavam depredando tudo, vindo das brenhas, aterrorizando os moradores, muitos dos quais já tinham debandado à margem oposta do rio, pondo a largura da imensa via fluvial de permeio aos índios agressores. Os remanescentes viviam dentro da incomensurável angustia da eterna ameaça. Os retirantes da localidade de Caracol, lá estavam seminus por terem perdido tudo quanto possuíam, olhos ansiosos e interrogadores rolando as órbitas escancaradas.

Com essa delicadeza comovedora própria dos sertanejos, nada me foi dito logo ao desembarcar. Todos se desdobraram em gentilezas e auxílios. Foi ao tomar o café na residência de Severiano que a coisa me foi narrada e sem rebuços me foi dito ser eu, naquele momento, o salvador enviado por Deus, graças às preces que diariamente eram feitas!

Aos poucos, vindos de muitas direções, caboclos rijos foram penetrando na vasta dependência, acocorando-se ao longo das paredes. Rostos endurecidos pelas intempéries, sulcados pelos ventos e pela chuva, feições esculpidas toscamente, mascarando corações generosos e almas nobilíssimas, Mãos nodosas como cepos, rodando pelas abas largas,  os vastos chapéus de carnaúba ou de feltro desbotado. Pés descalços, artelhos esparramados,  trazendo ao calcanhar a espora  enorme, tilintante. Facões nas cinturas estreitas, às vezes acionados para o esfarelamento de fumo em corda. Em breve lá estavam Zé Lagoa, espécie de patriarca da vila Lagoa, que lhe herdara o cognome; João Irineu, Piaçaba,  João Vermelho, Pedro Brito,  Zé da Rocha,  João da Luz, Anicetro Oliveira, Juvenal, Raimundo, Zé Ferreira, Anselmo Alves, Homens de peso na comunidade. Pequena multidão ficara do lado de fora, espremendo as cabeças pela angusta janelinha ou metendo os corpos juntinhos e estivados em pé, na soleira da porta.

--O primeiro surto de Xavante deu-se vai para um ano – começou Severiano – Apareceram de súbito e depredaram as roças. Nada aconteceu com o pessoal a não ser um grande susto. A maioria deles estava por estas bandas e foram poucos que viram a bugrada. Solicitamos imediatamente auxilio do Posto de Aproximação do rio das Mortes, mandando um “próprio” para narrar o sucedido Mas de lá nada veio a não ser uma vaga promessa. Ficamos esperando pelos resultados. Mas nada mais houve tornamos a colocar o animo em paz. Eis que faz justamente uma semana, os índios, e desta vez em numero enorme, tornaram surgir, assaltando e carregando tudo! João Irineu aqui esta e poderá narrar os pormenores do que lhe coube.

João Irineu, caboclo de força descomunal, todo eriçado de pelos negros, valente como ele só,  mas de uma bondade infinita, cospe no chão,  enfia o todo de cigarro atrás da orelha e narra:

--Foi de manhãzinha, sol ainda piscano de sono... Abri a porta e dei de cara com uns oitenta Xavantes, metidos pra lá  da cerca. Ao meu aparecer gritaram qualquer coisa. Levei um sustão dos grandes... Gritei prus fiios que acudiram  e pra muié que tava fervendo a água prô café. “Xavante minha xente! Cuidado com eles. Nisso a bugrada pulou a cerca e veio prú meu lado, agitando flechas  em sinal de amizade. Cercaram-me. Empurraram  um arco e uma porção de flechas em minha mão e foram entrando de roldão, casa adentro. Foi um rôr de pestes! Começaram catando tudo: facões, machados,   ferramentas, bilhas de água,  panelas, redes,  roupas! Gritavam possessos. Segurei minha  carabina. Tava que nem xabia o qui fazé.  Empurrei minha muié pru quarto e tranquei a porta. Já um índio safado tinha suspendido a saia dela....Tou aqui...tou morto! Pensei! Os meninos estavam oiando sem nada dizé Os índios deram com as sementes de arroz e foram tirando tudo. Depois tentaram entrar no quarto. Ai eu falei “entra não seu cara de mamão que aqui tu não tira nada! Tú vai tira é bala disto aqui. E bati a mão no cano da bicha. Um deles meteu na boca da arma um graveto e sorriu prô meu lado cumu prá dize: “atira não cristão! Nóis num qué brigá”.

--Não demonstraram atitude agressiva?

--Sinhô não! Tavam alegre inté essa peste dos quinto! Quando foram simbora mi deixaram só com a camisa do corpo. Foi intô que larguei a roça e vim com muié e fiios prá esta banda. Lá  tão os meus porcos,  minhas galinhas, meu gado, tudo largado sem água...

--Que susto heim?

--Fartão de susto sinhô sim... Mas eu achei que o xavante tá feito  qui nem criança.   Tira  da xente aquilo que ele pensa que a xente fais com facilidade assim cumu ele fais a flecha e arco... Pois que deu em troca de um mundão de porcaria.

Há quem solte alguma risada. João Irineu retira da orelha o tôco apagado e acende-o com a binga. Entra na conversa Zé Lagoa, piscando seu único olho bom. Tipo escarrado de velho sertanejo. Linda cabeça para um pintor impressionista que desejasse fixar na tela fisionomia tão insólita.

--Tava eu mais minha xente no rancho lá da roça quando chegaram os pelados.  Um mundão de índio! A  muierada inté assusto,  dispois ficou assanhada qui nem égua no cio...Tavam os bugres tudo de côco  a mostra. Oiei  prus côco do capitão e vi que tavam longo,, .Pensei “u home tá cum medo! Tá de côco corrido!”.  E tava mesmo puis qui tava cum os ôio aqui e acolá, virando a cabeça prús lado. A muierada começou a rir baixinho e falar nas oreia delas. Eu tava cum meu ôio são nos côco do índio... Quando vi que ficava pequeno intô dixe cumigo: O cabra safado perdeu o medo. Te aguenta Zé Lagoa!”.

--E aguentou?

--Senão! Fiquei picando fumo maginando coisa,. Os índios furo oiando pás muié. Falava: “pfi-on” “pfi-on” Que qué dize Muié... muié... Um deles quix  agarrá a potranquinha la da casa e intô eu falei: “óia qui seu macaco! Te fais de bexta que te arrebento a fachada da cara!”  o índio parece que compreendeu e largou de banca  o gostosão.. Ai eu deixei que tirassem tudo. Levaram foices, levaram pás, levaram machados, levaram tudo Deixaram a xente  cum vida,   que é bastante i agora tamo sem ferramenta sem podê trabaia, cum as roças pur lá, prás banda dos bugres.

--Vamos da um jeito  seu Zé Lagoa...

--Xeito? Pois sim... O único xeito é arrebenta cum ele todos! Aqui tá a Romana do Raimundão.  Que fale a muié e mecê me dirá si tou ou não cum razão!

Dona Romana (valha o nome) é uma senhora já entrada no meio do século. Grosso bócio afeia-a ainda mais. Só tem dois dentes, enormes, pedidos na imensidão das gengivas escuras.  É um pouco dura de ouvidos e fala como se tivesse um acesso de asma. Traz os cabelos revoltosos represados num lenço sujo e brilhá-lhes o olhar intensamente.

--Tava mexendo no panelão preparando a cumida pro Raimundo, quando senti uma pancadinha nas costas...Uai...pensei comigo  - O Raimundo num é dado a carícia...Oiei e quaxi cai de xusto! Lá tava um brutão de índio cum o cabelo vermeio de fogo, oiando pra eu! Logo adispois foram entrando mais bugre, oiando e falando. Logo começaram carregando tudo. Eu tava zonza e gritei pelo Raimundo ”me acuda marido que bugrada tá me matando!”.

--Tava não sinhá Romana- intervém um dos ouvintes.

--Quaxe! Tava lá tava no papo de xavante!

--Xavante num qué muié veia...

--Gracidinho... Deixa cunta aqui ao capitão ou num deixa?

--Deixamos.

--Pois... Adispois de carrega tudo, o tar de índio de cabelo de fogo agarra meu panelão “Não sinhô” fui logo gritando “Deixa meu panelão seu bandido”. Garrei na alça e puxei do meu lado. Ele agarrou e puxou. Intô meti os dentes na mão do bruto.

--Cade dente siá Romana – interrompe outro.

--Dente? Cá tão os dois, que valem pur trinta! Ferrei o dente n mão do pelado. Ele me deu um safanão e arrancou o panelão. Levantei e vuei em riba dele! “Larga a panela seu marvado! Peste do inferno, larga meu panelão qui num tenho outro! Cumu vou fazé comida pru Raimundo? Larga? Mas o home num largou e vieram outros e mais outros e levaram o panelão! Dispois me mostraram a estrada e falaram “motô”... motô”. vaisimbora...vaisimbora! e eu fuisimbora

--Mercê perdeu o panelão, mas sarvou as virtudes “siá’ Romana!

Uma gargalhada explode. A mulher arfa de indignação. Olha para os presentes e cospe com raiva.

--Ocêis sum pió que xavante!

Cessa i riso e a Romana aproveita para embarafustar rumo à cozinha onde mulheres apinham-se junto ao fogão. Agora é o Aniceto quem fala:

--To aleijado da mão esquerda, cumu vosmicê tá veno... Tou cum oito fiio e a muié pejada. Axim mesmo tava trabaiando na roça que é linda. Vieram os xavantes. Me carregaram tudo de marvadez. Inté a roupa do corpo de nois tudo. Ficamo pelado cumo quando nascemo! Ficamos tudo com a vergonha de fora! Dispois carregaram com o fiio mais veio  e eu falei comigo: ”Lá vai o meu filho! Minha Nossa Senhora me acuda!”.  Metemo o pé na estrada e aqui o Severiano arranjou roupa pra nois.

--E o filho?

--Vortou graças a Deus. Lá tá ele e pode fala!

Olho em direção a um rapagão espigado e forte. Sorri e desnuda linda dentadura.

--Passou um mau bocado então?

--Ora sí passei. Os xavantes me levaram prás bandas de lá, maginei que tava frito!Andei muito e dispois me fizeram sentá.  Um deles arrancou as pestanas e a sobrancelha. Doe muito, mas aguentei firme! Num vo sorta nem um pio, falei comigo!  Os xavantes gostaram. Falaram muito e dispois me mostraram o caminho de vorta e disseram: “motô... motô” e eu...meti o moto na estrada.

Lá, então, esses homens que vivem a vida minuto a minuto, na luta eterna contra todos os elementos adversos, abanando as mãos em férias, pela perda das ferramentas. Com as quais fecundavam a terra que lhes davam o sustento.

--I agora mercê é capais de dizé o que vamos fazé sem os ferros?

--Assim de momento nada posso dizer.  Pretendo porem, apelar as altas autoridades. De mais a mais enviarei despachos ao Serviço de Proteção aos Índios para que sejam tomadas as necessárias providencias.

--Confiamos no senhor – disse-me Severiano.

Com isso atirou a pesada carga de uma incumbência jamais sonhada, sobre as minhas costas.

(AURELI/GUNTHER-1948)

                 ****

                  Saímos juntos  daquela  parafernália   de  problemas, e agora o que fazer? Eu, então, ia monologando quando Willy se voltando me disse:

                     --Leve os barcos para acamparem no Porto da Manga e peça ao Darcy para vir até mim.

                  Já estávamos na cidade há quatro dias e o comandante Willy já havia nos apresentado a quase todos os moradores, passei a conhecê-los, na primeira casa o Zé Martins, depois seu irmão Leócadio, Lupercio, Maria Dias, Severiano Souza Neves que era o chefe fundador da vila, seu genro Ateneu, Sindô, Bento de Abreu Luz, Tertuliano, Piaçaba, João Vermelho, João da Luz, Anicetro Oliveira, Juvenal, Pedro Brito, Raimundo, Zé Rocha, Zé Ferreira, Anselmo Alves e muitos outros eram mais ou menos treze casas a beira rio e umas seis casas na beira da lagoa. Onde residiam o Zé Lagoa, José Martins, Amâncio de Melo e outros.

                   Resolveu o comandante nos dar uma folga, por equipe de 10 dias cada, e aproveitei para ser o primeiro e me engajar na aventura daquele barco que mais parecia uma arca de Noé. O Chefe autorizou desde que no dia marcado eu me apresentasse, ou seja, 02 de julho.

                               

                                                                *

                Tonico Bosaipo... E seu barco “Frei Chico”.

              A Arca do comandante.

 

                      Ela carregava de tudo, passageiros, bode, cabra, porco, galinha, gente doente, mercadorias comestíveis, peles de jacarés, pele de onça, sal, açúcar, café em coco, tábuas de mogno, só dava confusão até funcionar o motor depois todos os bichos se calavam com medo e ficava quietinho cada um em seu lugar, o Tônico, lá da proa, tal qual um comandante, e era assim que ele era chamado: “Comandante Tônico Bosaipo”, sim senhor, e aí de quem não o respeitasse, ele era a imagem viva dos grandes lideres, depois de ter hasteado a bandeira brasileira bem no mastro final da popa, ordenava a um ou dois porcos d’água (marinheiros) para recolher a prancha e empurrar a proa do barco para fora, o Bolinder, de marcha à ré e depois ao comando a frente levantou um belíssimo bigode de água na proa, riscando rio abaixo, rumo a Marabá, sua rota original era até Belém, lá se fomos debaixo de uma foguetada danada, era foguete para chegar e era foguete para sair. Era assim em todo lugar que aquele homem chegava com seu barco, me disseram que faziam mais festa para ele por onde andava do que para Barata (Governador do Pará) Tinha um maravilhoso poder de arregimentação. Dizia o povo ribeirinho que o Araguaia foi colonizado pelo mestre Tonico e seu barco que já era uma lenda.

                     A previsão da viajem era de   um  mês e  eu   não poderia ir com ele até o fim, voltaria em outro barco, apenas uns oito dias de passeio. Impossível esquecer uma viagem assim. 

                   Eu começava a ver um novo mundo, cheio de esperança não cabia em mim tanta alegria e uma paz agradabilíssima tomou conta de meu coração me fazendo entorpecer ante aquela maravilhosa paisagem. Levantei a cabeça e olhando para traz, lá da proa do barco eu via São Felix se afastando rapidamente, quando a campainha foi acionada pelo piloto Juvêncio soando três vezes foi a toda força a frente e um apito surdo e longo repetido avisava que já estávamos de viajem.

                     O mestre Tônico veio para a proa e sentou-se ao meu lado e começou:

             --Afinal de onde você veio? Parece que entende de tudo um pouco, já sabe quase tudo a respeito do motor.

               --Eu sou do Estado de São Paulo, São José do Rio Pardo e fui criado pelos meus avôs que eram alemães trabalhando dentro de uma oficina.

                 --Isto explica tudo, o que pretende fazer por aqui?

                 --Viver e aprender de tudo que puder.

                 --Então comece aprendendo a pilotar, vá lá para a popa ajudar o Juvêncio.

                Era por  volta das cinco horas da tarde e umas nuvens negras e carregadas vinda do norte pareciam subir pelo rio acima, Juvêncio estava preocupado e eu também.

                 --Comandante é bom aportarmos  naquela praia alta em frente à barreira da Cotia o tempo esta fechando e o vento vem muito forte.

                     --Atenção... Preparar para aportar.                          

                   O barco virou o rumo para a praia alta e logo aportavam, os marujos pularam em terra de corda e zingas nas mãos para amarrarem o barco, desceram a prancha e os passageiros que eram ao todo doze com os dois doentes, vieram para a praia, os doentes ficaram dentro do barco em suas redes.

                    --Amarrem bem e não acendam fogo, apagar motor.

                      --Motor apagado e cilindro fechado – gritou o ajudante de maquinista.

                       --Vamos aguardar o que vai acontecer.

                      E aconteceu mesmo, o vento virava para o sul, depois para oeste, relâmpago iluminavam tudo em meia hora o céu estava escuro e fechado e um enorme temporal com muito vento veio para cima de nós.

                      --Todos segurando o barco – gritou Tônico.

                  O grande barco balançava igual uma canoa de papel na fúria do vento, de repente um enorme estalo tal um tiro de carabina, umas das zingas que seguravam o barco na proa se partiu em duas e o barco abriu a proa forçando a popa a arrancar a outra zinga.

                 --Vamos,pulem para dentro do barco, temos que funcionar o motor - gritava Tônico em meio aos estampidos dos relâmpagos. Os raios que caiam mostravam como estávamos nos afastando rapidamente da praia rumo à barreira se fosse de encontro a ela estaríamos perdidos, mas ainda estávamos longe, e, eu e o Tonico dentro do barco, no piloto Juvêncio tentava controlar, na casa de maquinas.

                    --Não dá para acender o maçarico para esquentar a cabeça, o vento não deixa, vamos tentar dar partida a frio, você Dankmar pegue sua camisa molhe ali na gasolina e de um cheiro na entrada de ar, vai dar certo o motor ainda esta quente você Juvêncio fica no piloto.

                     --Em meio minuto eu estou pronto – gritei - Pronto, pode experimentar.

                  --Lá vai – o mestre soltou a alavanca do ar comprimido, descomprimiu e abriu o pistão e quando o motor embalou soltou de uma vez foi uma pancada lá no fundo como quem não queria nada, mas prosseguiu se movimentando.

                      --Tire o cheiro.

                   --Pronto – gritei quando vi o tão perto que estávamos da barreira, e eu todo molhado da água que as ondas jogavam dentro do barco, mas o velho motor deu uma segunda batida, uma terceira e firmou a aceleração foi quando a campainha deu três batidas pedindo toda força e o mestre Tônico levou o acelerador ao fim bem devagar o barco parecia ter criado vida foi quando ouvimos as vozes dos dois doentes: Graças a Deus, Graças a Deus --foi ai que me lembrei deles, mas agora com a força do motor o barco enfrentava as ondas de frente cortando-as ao meio e já rumava de volta para a praia e todo orgulhoso enfiou a cara na areia até encalhar, estávamos salvos, mas eu estava tremendo, e não era só de frio.

                 --Muito bem alemão, assim é que se faz - comentou o Comandante Bosaipo me dando uma tapa nas costas que parece doer até hoje, mas eu gostei e me senti orgulhoso, muito orgulhoso mesmo.

                   Acendemos uma bela fogueira, com lenha molhada, deu trabalho, mas pegou e os velhinhos doentes se esquentaram e trocaram de roupas, enxugaram as redes e só de madrugada estavam dormindo calmamente, partimos assim que o dia amanheceu e logo passamos pela Aldeia do Fontoura, depois em Mato Verde que era ainda uma pequena vila fizemos também uma pequena parada e seguimos para a Barra do Tapirapé, Fomos pernoitar em Santa Terezinha, o porto não era muito agradável, mas fomos bem atendidos pelo Napoleão e pela sua mulher Verônica. Soubemos que o Padre Pedro estava lá no casarão no morro de areia.

                     Combinei passar   uns  dias em Furo de Pedra uma pequena vila mais abaixo um pouco, eram umas poucas casas, mas era também parada obrigatória dos barcos, para mim estava bom. O barco Frei Chico seguiu sua viajem e eu fiquei.

                 Quando ouvi partir e escutei seu apito meu coração encheu-se de tristeza. Foi uma visão inesquecível, até parecia que o rio Araguaia estava com ciúmes daquele barco e o protegia mesmo a distancia, e que queria guardá-lo só para ele.

                       *

      Os índios Xavantes e a...

       A Bandeira Piratininga em ação.

 

                           Após as incansáveis anotações eu estava pensando em voltar para São Félix, meu prazo de dez dias estava se esgotando. Segui viagem com o adventista Antônio Pereira e no nono dia eu chegava à cidade de Severiano Neves, fui correndo me apresentar ao Comandante Willy. 

                 Nestes dias que estive viajando pouca coisa mudou, o pessoal da Bandeira estavam instalados uns mil metros rio acima no “porto da manga”, tinham descarregado os dois barcos e armados varias barracas inclusive a estação de rádio já estava funcionando, o nosso operador Clóvis já estava bem “alto” eu encontrei varias garrafas secas jogadas no mato e era da famosa aguardente “Chora Rita”. Clóvis tentava colocar a estação em contato com São Paulo, mas era uma chiadeira absurda, e logo começou a sair uma fumaça do transmissor e ele desligou.                 

                   Pusemos o nome de “Radio Fumaça”. Mas ele conseguiu mais tarde se comunicar com alguém. Não sei com quem, pois era quase sempre no código Morse, raramente conseguia falar. Willy só apareceu no acampamento depois do almoço. Finalmente me qualificaram como armeiro de um monte de fuzis velhos e descalibrados doados pela policia militar de São Paulo, cada tiro que se dava numa coisa se acertava em outra e às vezes muito perto do pé, mas estava bom assim mesmo, não estávamos ali para matar ninguém, era só não mexer nas armas. Willy veio acompanhado de um índio Carajás que se chamava Rorrori e trazia um tamanduá mirim amarrado em uma corrente e o bichinho manso vinha andado atrás (puxado).

                  --Escutem todos, este tamanduá vai ser a mascote de nossa Bandeira e o Clóvis como não tem quase nada para fazer vai ficar sendo o responsável por ele.

                      --Eu? Mas chefe eu não sei cuidar destas coisas.

      --Agora vai aprender, e entregou  a corrente   com o meleta e tudo mais.                                                                                            

                       Clóvis sem saber o que fazer saiu arrastando o tamanduá.

                 Mas o bichinho não queria ir para onde o outro queria levá-lo e foi só risada dentro do acampamento. Finalmente o amigo o amarrou em uma raiz junto de sua barraca, eu pensei (pelo menos pinga ele vai aprender a beber e do jeito que tamanduá gosta vai virar um pau d’água).

                         Vários dias se passaram sem que nada de anormal acontecesse, a não serem os anormais dos meus companheiros que trocavam tudo por uma garrafa da pura cachaça, fosse Chora Rita, Tatuzinho, Ipioca, Praianinha, Chora na rampa, qualquer coisa que quase fosse 100% álcool. Uma noite, ali pelas oito horas, Willy vinha vindo da vila para o acampamento em companhia do Darci quando em meio à trilha um tamanduá de pé os encarava foi uma gritaria doida.

                   --Clóvis seu irresponsável venha aqui agora, como deixou o tamanduá fugir?

                   --Mas como? Agora pouco ele estava deitado ali Chefe!

                  O pessoal resolveu dar uma mão para o amigo e todos começaram a cercar o bichinho até que Clóvis o agarrou pelo meio, mas a fera estava brava e arranhou o radio operador todinho, outros os ajudaram, um pegava na mão outro na perna e lá se foram de volta à corrente foi quando novos berros estrondearam:

                 --Chefe venha cá agora - gritava Clóvis

                 --Mas? O que é isto, dois tamanduás?

                  --O tamanduá éeste aqui amarrado na corrente, e vocês me obrigaram a pegar um tamanduá bravo na marra, e agora?

                   --Não sei - respondeu Willy -visivelmente abalado.

                    --Ora seu Clóvis solte este animal, um já é demais – disse eu em tom bem de brincadeira.

                    --É isto mesmo, o que esta esperando? Solte-o, concordaram todos.

                 --Vai bichinho e nunca mais apareça por aqui senão vai virar espetinho – vaticinou o Clóvis soltando-o

                     O chefe e Darci voltaram para a vila sem falar mais nada.

                O tamanduá da Bandeira devia estar bem troado nem sequer viu seu companheiro ou sua companheira. Os bichos têm uma grande tendência para beberem álcool, as raposas e só colocar uma vasilha com pinga perto do galinheiro que as que vierem amanhecem todas deitadas por perto de porre absoluto, os elefantes gostam de cerveja, as antas de álcool, enfim o que eu não sei é de algum que não gosta.

                    Fomos dormir.

                 Meus companheiros, como já disse, gostavam muito de beber, mas só a cachaça pura, eu os adverti muitas vezes. A exceção do Lito o uruguaio e de Garmenia o argentino, estes não bebiam, mas fumavam muito, certa noite estes dois me chamando para um lado comentaram:

                   --Nos vamos  embora hoje de noite, já compramos uma canoa e vamos descer o rio.

                    --Vocês estão doidos – comentei - o Willy vai mandar atrás de vocês.

                 --Nos não vamos levar nada da Bandeira, só nossas coisas particulares, pois não toleramos ver este homem vendendo todo material que nos foram doados e com muito sacrifício nos os conseguimos lá em São Paulo, agora vende como se fosse mercadoria de comercio - Zangou o argentino.

                 --É verdade confirmou - o uruguaio – eu também não aceito por isto vou-me embora.

                 --Mas às vezes o dinheiro é para cobrir as despesas –

tentei remediar.

                 --Pode até ser, mas já decidimos, partiremos agora.

                 --Boa viajem e se cuidem - recomendei.

               Na calada da noite os dois embarcaram em uma pequena “ubá” (canoa indígena) com seus pertences e sumiram na escuridão do rio, era muita coragem. Fui dormir sabendo que no outro dia cedo o frege ia ser grande.

                  Acordei   com o  grito do Willy e    o barulho da corneta que mais parecia o céu que vinha caindo.

                  --Darci vá atrás destes dois desertores, pegue um barco e leve uns homens contigo e me os tragam amarrados.

                     Não gostei nada daquilo vendo uns companheiros irem atrás de outros.  

                    Ali   pelas  onze  horas   eu   escutei o     barulho do barco a motor que voltava, e assim que surgiram na curva do barranco vi os dois companheiros amarrados no mastro da proa do barco, aportaram e trouxeram os dois homens para fora do barco e em terra os apresentaram ao chefe.

                   --Aqui está os dois, meu comandante o que faço agora?- Perguntou Darci.

                    --Deixe-os amarrados até eu decidir o que fazer com estes covardes.

                --Então o senhor vai ter que decidir agora. - falei – porque não vamos tolerar ver nossos companheiros humilhados deste jeito.

                     --São desertores, merecem serem punidos.

                    --Chefe...Todos que estão nesta Bandeira são voluntários, e não pode obrigá-los a continuar se não quiserem nos vamos soltá-los - e voltando-me para Kleber determinei – desamarre-os já.

                   --Chefe nem pense em fazer uma besteira vai ficar ruim para todo mundo – ameacei como querendo adivinhar seus pensamentos.

                   --Então porque tiveram que fugir? Porque simplesmente não pediram para irem embora? Pois bem - continuou Willy – O barco Frei Chico esta saindo amanhã para Conceição do Araguaia, eu vou arrumar passagem para vocês com o proprietário Tônico Bosaipo, mas até lá, amanhã cedo, vocês estarão detidos e confinados no acampamento não poderão nem ir á vila – determinou o líder da expedição e virando as costas voltou para a vila.

            Todos ficaram muito surpresos com a nova atitude do chefe, só eu que não confiava nela.                 

                 Passamos o resto do dia pescando eu fui à vila e falei pessoalmente com o meu amigo Tônico:

                       --Você voltou depressa.

                       --Não pude ir até Conceição peguei um frete de volta.

                       --Vai descer amanhã?

                     --Destavez   eu vou   até Conceição, me parece que o Willy quer que eu leve dois rapazes que deixaram a bandeira, ele me disse que os dois eram meio comunistas e criadores de caso, não me decidi ainda se vou levá-los.

                 --Os dois rapazes são duas pessoas finas e muito boas e ai contei toda a história para o Tônico.  Leve-os e ajude os meus amigos.

                       --Assim sendo eu vou levá-los.

                       --Por favor, não comente com o Willy que conversamos sobre isto, certo? – pedi               

                       --Fique tranquilo.

                 Naquela mesma tarde, eu estava quieto dentro de minha barraca quando ouvi o Willy conversando com o radio operador.

                --Passe um telegrama paraSão Paulo e peça para avisarem as autoridades de Conceição do Araguaia para prenderem dois comunistas que vão fugindo no barco Frei Chico um uruguaio de nome Lito e um argentino de nome Garmenia e diga que estão armados e são perigosos.

                   --Mas, assim eles vão prender os dois, chefe – interveio Clóvis.

                  --É  para     prender     mesmo, vamos     comece   a passar agora a mensagem vamos, estou esperando.

                   --São Paulo esta me ouvindo em código Morse, vou informá-los.

                   Eu sei que o telegrafou funcionou um bocado, mas só que ninguém entendia nada.

                 --Chefe... Já enviei a mensagem.

                 --E a resposta? Perguntou Willy.

                 --Vamos ter que aguardar o tempo esta ruim de mais.

                 --Que ruim nada, o céu está limpo sem uma nuvem – berrou Willy.

                 --Aqui pode estar, mas lá em São Paulo não sei não.

                 --Vouvoltar   mais tarde, trate de saber   o resultado - disse o mandão e se mandou para a vila.

                 --Clovis? – perguntei - você mandou a mensagem?

                   --Enviei só que ninguém recebeu não tem ninguém no ar.

                 --Puxa, estou aliviado.

                 --Você acha mesmo que eu faria uma coisa desta?

                 --Creio que não. - começamos a rir.

                 Willy    tinha   um    ódio    maluco de bebidas, em sua primeira expedição seu irmão Aurélio Aurelli morreu de malária complicada pelo uso, não excessivo, mas  indevido de álcool. Lá no cemitério de São Félix do Araguaia, junto ao morro, bem em baixo de um pé de pequi, existe a sua sepultura e meu nome está gravado em cima.   

                 Severiano e sua família, dona Edilia, a dona Nega a minha amiga era cega, a Suely e a Amojacy, se tornaram a minha família.

                 Programava-se uma viajem pelos sertões para entrar em contato com os arredios índios Xavantes, era esta a verdadeira missão da Bandeira Piratininga, já não se podia haver mais delongas, pois apenas passaram-se dois dias nos afazeres do acampamento quando chegaram noticias sombrias; os xavantes estavam depredando todas as roças, queimando os ranchos, flechando os porcos e as reses. Realmente dura verdade se fez presente quando a noite, por sobre a orla da floresta uma luz intensa e da cor de sangue  iluminava uma grande extensão. Os caboclos agrupados, olhavam, em silencio  para essa luz que denunciava os estragos que estavam sendo feitos em suas roças e cabanas, sabedores que tudo estaria destruído e sem alimentos, com a chegada das chuvas, a coisa pioraria, nada teriam para comer.

                           Severiano à noite me disse:

                     --Dankmar o meu povo já estão pensando em abandonar São Felix, dizem que não será mais possível continuar vivento assim. Tudo o que eu fiz está indo de agua abaixo. Havia muita tristeza e profundo amargor nestas palavras que as levei imediatamente para nosso comandante.

                       Willy procurou Severiano e o Amacio de Melo e lhes impôs?

                     --Arranjem a cavalhada que eu irei me avistar com os xavantes.

                      --O Senhor vai fazer isso?

              --Vou! Arrume a cavalhada  e deixe o   resto por minha conta. Escolha uns homens de confiança que eu farei a mesma coisa, depois traçaremos o itinerário. Já enviei ao Rio de Janeiro uns despachos. Quiçá surja algum beneficio. Alvitrei ao Diretor do SPI a necessidade de ser montado um posto de atração nesta zona.

                      --As providencia foram tomadas de imediato.

                   Os sertanejos, Severiano, Amâncio de Melo, José Lagoa, e João Irineu se incumbiram de arrumar os animais para a viagem e também o interprete.  Apenas dez homens da Bandeira incluindo o Comandante e o Sub Chefe Darcy, somados a outros dez voluntários, incluindo Severiano, Amâncio, Zé Lagoa, João Irineu e o interprete formavam aquele grupo contingente.

                     Eles mesmos seriam os guias. No dia seguinte, á tardinha, os animais dormiram fechados em um piquete.

                     Reunimo-nos no acampamento para traçarmos o roteiro de nossa viagem, era ainda cedo da tarde, mas estávamos todos apreensivos.

                   --Partiremos amanhã, o mais cedo possível, todos devem levar estritamente o necessário, não esqueçam os cantis, vinte tiros para cada um, e a tralha de acampamento nas cargas das duas mulas, corneteiro toque alvorada às cinco horas. Plantões na escala. Boa noite.

                        Tínhamos um corneteiro, e por incrível que seja ele tinha uma corneta velha e barulhenta e como tocava mal, mas o caso dele não era ser um artista, fazia barulho porque gostava. 

             

                          *

                    Dia 31 de julho de 1948.

               A Bandeira parte para o sertão em busca de contato com os índios Xavantes até então considerados arredios e agressivos.

                   Parece que nem cheguei a dormir logo a dita corneta estava no ar, nos reunimos todos de cabresto na mão fomos para o pequeno pasto pegar os animais. Foi uma confusão dos diabos, ninguém conseguia pegar ninguém, Severiano teve que intervir senão a revolução começaria ali mesmo. Meu amigo João trouxe-me um cavalo castanho, bem desarnado e manso.

                   --Este cavalo tem um andar muito bom é marchador.

                   --Obrigado João Irineu.

                    --Vamos arriá-lo.

                Levei o animal até onde estavam os arreios, escolhi um bom, arriei o cavalo e depois fui ajudar os outros. Já eram quase oito horas da manhã quando estávamos prontos para partir. Saímos em fila indiana, na frente iam o Severiano e o Chefe, emparelhados e logo atrás o interprete, e o resto do pessoal, éramos vinte pessoas ao todo. Eu fiquei quase no fundo da fila, era melhor para se observar os acontecimentos, junto comigo estava o Ateneu, João Irineu vinha por último tocando as duas mulas com as cargas. 

                 Pelo caminho   fomos   encontrando   ranchos    abandonados, chochas calcinadas, arvores frutíferas arrancadas, cerca carbonizada roça totalmente destruída, carcaças de animais flechados, porcos a solta fugindo de tudo, animais mortos até uma vaca degolada foi encontrada.

                 Criado no sertão de São Paulo em cidade pequena e em fazendas eu tinha bom costume de andar a cavalo, mas a maioria de meus companheiros não o estava, e, eu já os via atravessados em cima de suas celas poupando os fundilhos. Ao meio dia paramos para comer. Foi um alivio, afrouxamos as selas e fomos dar de beber aos animais, estávamos bem na beira do rio Xavantinho, comemos alguma coisa a sombra das arvores, enchemos os cantis e prosseguimos a nossa cavalgada. Foi mais dois dias ziguezagueando pelo sertão, sempre com a mata do rio a vista. Ao longe se avistava a fumaça negra das queimadas, certamente os índios não estariam longe. 

                 Eram umas duas horas da tarde quando um dos guias mandou parar e foram observar as touceiras de piaçabas que estavam com as folhas cortadas e havia muitos rastros pelo chão.

                  --Estamos perto da   aldeia   olhem onde tiraram as palhas para cobrir as casas e os rastros estão frescos no chão, daqui para diante vamos calados e a pé puxando nossos animais.

                    --Tudo bem, agora vamos todos apear dos animais,

fiquem calados e siga-me, ninguém faça coisa alguma sem minha ordem – comandou Willy.

                    Bem a nossa frente ainda junto ao rio Xavantinho, dentro de uma clareira limpa do cerrado, estava à aldeia Xavante. Eram umas oitenta casas feitas de varas e cobertas de palha. Mas a aldeia estava vazia os índios haviam se mudado para outro local. Durante a noite podia se observar a imensidão do fogaréu tinha a impressão que estávamos sendo vigiados, que os silvícolas estavam bem ali junto de nós.  Ao amanhecer tivemos mais  um dia de caminhada, desta feita em rumo à queimada, quando o nosso rastreador Juvenal se deu conta que estávamos para nos encontrar com os índios, pois os vestígios se multiplicavam, fomos tomando chegada por entre os arbustos, mas Willy não queria surpreende-los para evitar um confronto e assim ele foi entrando na aldeia ao lado de João Irineu e um pretenso interprete e nos determinou que ficássemos onde estávamos. Até então não haviam notado nossa aproximação. No interior da aldeia só estavam às mulheres, meninos e os velhos, uns quatro cachorros muito magros e umas araras gritalhonas, uns papagaios escandalosos que logo denunciaram a nossa presença. O nosso pretenso interprete mais um homem junto com Willy quando entraram na aldeia causaram grande tumulto foi uma confusão danada e eles tentavam acalmá-los falando em Xavante, acho que ninguém entendeu, pois pouco adiantou, foi uma debandada maluca, mulheres arrastavam as crianças pelos braços gritando as velhas e os velhos gesticulavam, mas corriam, e, em pouco tempo estávamos sozinhos dentro da aldeia. Um menino foi esquecido dentro de uma chocha e o nosso pessoal já havia adentrado se engraçaram com o pequenino e este pareceu se acomodar e em poucos minutos se familiarizou com o nosso pessoal que ficaram encantados com a docilidade do garotinho e passaram a vistoriar as casas abandonadas e logo se deram conta de que ali estavam seus fações, suas enxadas, machado, panelas e tudo que os índios haviam carregado do Caracol e outras roças. a que Willy ordenou;

                     --Ninguém toque em nada!

                   Os guerreiros estavam fora, mas não por muito tempo, em menos de meia hora estávamos praticamente cercados dentro do limpo da aldeia. Os guerreiros começaram a chegar todos pintados de vermelho e arco e flechas outros com borduna na mão e batiam o pé ameaçando nos atacar, eram muitos, não sei se todos eles estavam ali ou se ainda tinha mais por chegar, mas já eram aproximadamente uns duzentos, nos estávamos preparados para resistir se fosse preciso, bem, eu acho que estávamos, bastava atirar em qualquer rumo certamente acertaríamos alguém que não fosse a nos mesmos. Um índio acompanhado de outro se adiantou e veio ao nosso encontro, presumíamos que seria o famoso e tão decantado cacique Terezaçu índio ampla e notoriamente conhecido pela sua bravura, ele batia no peito e dizia seu nome:

                  --Ima mana heto Terezaçu – repetia seguidamente.

                   --Willy se adiantou e fez o mesmo batia no peito e dizia seguidamente;

                   --Ia-mamã heto Wirri... Wirri... E repetia quase cuspindo na cara do índio

                   O índio deu demonstração que estava entendendo e que os dois eram os lideres de seu povo e que queria que entregassem o menino que brincava com os nossos homens a que o chefe mandou um dos bandeirantes trazê-lo e entregar ao índio e este ao recebê-lo passou para o outro índio que disparou para a orla da mata adentro. Na sequência das tentativas de entendimentos o tal interprete tirou do bolso um papel com muitas palavras escritas em xavante, mas de nada adiantou e continuaram a usar o sistema de mímicas e foram se entendendo. Mas o interprete e Willy desatando as bruacas das mulas tiraram lá de dentro, panelas luminosas, facões, machados, rapaduras, enfim um monte de coisa e colocaram no chão ao alcance dos índios e se afastaram o interprete explicou para o chefe deles que estávamos ali em missão de paz e que éramos amigos e havíamos trazido presentes para dar e trocar. Logo foram se aproximando dos presentes no chão, os pegavam e os examinavam e pediam mais. O nosso interprete se aproximara e junto com Willy e Severiano, já começavam a se entender. Pouco depois estávamos todos descontraídos e trocávamos canivetes por flechas, ou outros enfeites que começaram a aparecer e os índios davam a impressão que estavam entendendo tudo e em pouco tempo já queriam até nossas roupas, mas não os deixamos tocar em nossas armas, ficamos lá dentro por mais de duas horas quando a corneta tocou nos assombramos e os índios também e Willy gritou para o corneteiro.

                   --Tocar retirada imbecil - Pare com isto.

                 --O Senhor mandou tocar retirada. (o imbecil havia dado o toque de atacar só que ninguém conhecia tanto fazia tocar qualquer coisa o que queríamos era sair dali)

                 --Mas já chega, todos montados e em retirada cautelosa saiam em duplas e se juntem lá fora no varjão.

               Com esta confusão    nos  retiramos e os índios nos acompanharam um bom pedaço, nossa viajem havia deixado um saldo positivo, o contato fora pacifico e os índios prometeram ir ao nosso acampamento.

                 Após seis dias e meio de viajem chegávamos de volta a São Félix do Araguaia, parecíamos remanescentes de uma guerra civil, todos mutilados, mais por baixo do que por cima, mas valeu à pena.

                 Aguardamos  por muitos dias a visita prometida pelos índios Xavantes, o prazo da Bandeira se expirara, teria que regressar a São Paulo, assim o chefe me mandou ir até a fazenda Caracol onde morava João Irineu e chamá-lo trazendo os pertences da Bandeira que estavam guardados em sua casa. Eu fui até lá, eram apenas algumas horas de viagem.   A ida até que foi boa, mas à volta. Já havíamos andado quase uma légua na viagem de volta para São Félix, vínhamos eu e o João Irineu tocando duas mulas cargueiras carregadas com os pertences da expedição, quando, surgindo não sei de onde, apareceram em nossa frente uns trinta índios Xavantes, que acenando as mãos tentavam dialogar, mas o que eles queriam era as burras e eu desconfiado enfiei o laço na popa das duas que dispararam estrada afora rumo a cidades, na hora de voltar para casa até estes animais entendem bem do rumo a fim de largarem suas cargas e não teve quem as atalhassem e eu atrás gritando as burras deixei João junto com os índios.

 

Agosto de 1948.

                “Os índios Xavantes entram pela primeira vez pacificamente em São Felix do Araguaia”.

                Logoque cheguei a São Félix as burras entraram no curral aberto do Severiano, seguidamente despejamos a carga no chão, em seguida avisei ao Chefe que junto com Weber já haviam notado a minha preocupação.

                 --Os índios estão chegando, são uns trinta ou mais não tivemos tempo de contar.

                 --Muito bem Dankmar soltem os animais e vamos nos preparar para recebê-lo – disse o Willy bem contente, afinal tudo dera certo até agora, estava apreensivo, pois João Irineu ficará para traz.                 

                Os moradores da Lagoa chegavam apressadamente trazendo verdadeiras mudanças em suas costas, pois tinham medo dos índios Xavantes, mas o Chefe os acalmou.

                 Não demorou muito tempo os índios apareceram na estrada e nosso amigo vinha com eles trazendo um índio na garupa. Chegavam ao nosso acampamento e o pessoal da vila ao saber da noticia vieram todos ao encontro sabendo que não haveria risco algum a correr e o contato se generalizou, parecia até que se conheciam há muitos anos. Foi um grande começo. “Noticias, pelo menos assim os sertanejos nos contaram, que os índios Xavantes eram originalmente do Estado de Goiás e viviam bem entre os produtores rurais, mas há muitos anos atrás alguns fazendeiros, por motivos que são ignorados, envenenaram as águas dos poços das aldeias matando muitos índios, muitos jovens e crianças foram vitimas da catapora, mal orientados ao sentirem a febre banhavam nas águas do rio, não resistiam e morriam. Em 1875, os remanescentes fugiram atravessando a Ilha do Bananal para se instalarem em Mato Grosso, mas a travessia do rio Araguaia também foi uma grande tragédia, pois muitos que não sabiam nadar morreram afogados, era uma nação muito sofrida e que quase se extinguiu”.

                 Enquanto todos os índios e toris perambulavam pelo acampamento eu resolvi ir pescar bem ali no nosso porto onde a pacu era uma fartura, pegava uma atrás da outra e cada uma mais bonita chegavam a pesar quase um quilo cada, já havia fisgado umas cinco quando alguém me chamou do alto barranco, era um índio Xavante que mostrando os pacus pedia que eu lhes jogasse um peixe e assim o fiz e ele a agarrou e passou para outro índio atrás, seguidamente fui jogando e pescando mais, já havia passado para ele uns dez ou onze peixes quando ele sumiu.

                   Houve muita festinha e agrados até que eles resolveram irem embora.                     

                O ponto brilhantedesta aventura foi quando Willy resolveu intermediar a paz entre os índios Xavantes e os índios Carajás que eram rivais eternos e ambos concordaram no encontro e assim estava dado o primeiro passo, o segundo foi à ida dos Xavantes até a aldeia Carajás na ilha do Bananal não mais do que uma légua rio abaixo e o Willy foi patrocinador desta apoteose. A recepção foi calorosa, o Cacique Malua e Uatau os receberam jubilosamente, com festa e presentes eram uns vinte Xavantes novos que causaram algum ciúmes nos jovens Carajás em razão como as suas moças encaravam os Xavantes.  No retorno a São Felix Arutana, Malua e Uatau ficaram face a face com seu arquiinimigo bem a sua frente o grande e famoso cacique Xavante Terezaçu, eles se cumprimentaram com um grunhido ininteligível, apertaram as mãos e se afastaram a uma prudente distancia, mas sorriram.

                 Daquele dia em diante viveram em paz, cada um na sua aldeia e território, mas se respeitavam mutuamente e trocavam presentes chegando até e se proporem e cederem em casamento algumas de suas mulheres solteiras, mas dai gerou uma piada, um Carajá disse graciosamente:

                 --Nois troca as véia por nova.    

                 Depois de seis dias em São Félix do Araguaia os índios voltaram para a aldeia levando muitos presentes e a certeza de que os toris e Carajás eram amigos.

                 Mascomo em toda a família sempre tem uma ovelha negra assim os tinham os Xavantes, ela se chamava “Camilo” e seus quatro seguidores, tinham sido expulsos de seus convívios passando a vagarem sozinhos, eram cinco rebeldes, como veremos a seguir.

                         Um dia   antes   da  partida   já estava tudo agasalhado para a manhã seguinte eis que um novo fato veio tumultuar a situação. Dona Tarsila uma senhora que é professora em São Felix chegou ao acampamento assombrada dizendo que o índio Kuriala havia lhe dito que.

                        --OsXavantes atacaram duas índias na praia atrás

do morro de areia e meu filho estavam com elas, por favor, acudam meu filho terminou angustiada.

                   Eis que chega o índio Kuriala que era cego e estava mais branco do que um defunto e contou que ouvira o grito das duas índias quando subia o rio em sua canoa e elas diziam que os Xavantes as estavam matando.  Logo o Chefe muito preocupado mandou uma equipe para dar buscas na praia e eu fui um destes e lá se fomos passamos pelo cemitério, contornamos o morro de areia junto à passagem do rio e embrenhamos na capoeira rumo à praia, o Willy e outros foram de canoa  e vieram pelo lado norte  da praia que era limpa e nos entramos pelo sul rumo rio abaixo até entrarmos na praia e para minha surpresa encontramos ao dobramos uma duna as duas índias e o menino estavam brincando e correndo na água rasa de uma pequena enseada.

                 --O que esta acontecendo, cadê os índios Xavantes?– perguntei.

                 --Nada não Dequimá nois duas estava brincando com Kuriala, botando medo nele.

                 Peguei o menino pela mão para levá-lo e o entregar a desesperada mãe, mais abaixo na praia vinha Willy e sua turma e o avisei de longe que estava tudo bem que fora uma brincadeira e mandei que levassem o menino que correu até eles e voltaram.

                   Fora apenas uma brincadeira de mau gosto, mas terminou tudo bem. Antes assim.

 


*Nome de nascimento: WilIiam Aureli  - nascido  aos 18 de junho 1898
em Santos - São Paulo - Falecido em 29 de agosto de 1968.
pseudônimo: Willy Aureli. (jovem).

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O regresso da Bandeira Piratininga...

             Cumprida com muito sucesso a missão a que viera a Bandeira Piratininga se despediu dos sertões e regressou a São Paulo para não mais voltar. Esta foi a sua ultima expedição. Iniciada em julho de 1948 e terminada em fins setembro de 1948. Aurélio Aurelli irmão de Willy morreu em São Felix do Araguaia de malária e foi sepultado no cemitério local daquela cidade, bem em baixo de um pé de Pequi.  Em sua sepultura eu gravei meu nome Dankmar... Eu fiquei...

Todos os componentes da Bandeira Piratininga já faleceram, inclusive  Willy Aurelli e esposa, o ultimo que eu tive noticias era o Aristides que veio da primeira   entrada e residia em São Felix, mas já se foi também assim eu Wolfgang Dankmar Gunther com 92 anos de idade e ainda residente na região, em Porto Alegre do Norte MT, me tornei o último Bandeirante ainda vivo.


                                                                            
                       O Último Bandeirante ainda Vivo. Bandeira Piratininga 1948
   

                    Hotel JK

I

 


                                         Dankmar preparando seu Café da manhã. Hotel JK.

            João Goulart e Dankmar . Ilha do B.anana

l

 

Dom Pedro Casaldaliga...

A Raposa do Araguaia, 

o Latifúndio e

               O Posto da Mata.

 Introdução ao problema Posto da Mata...

Histórico...

Fundação Brasil Central na Ilha do Bananal em 1960/FBC.

O autor deste trabalho, Wolfgang Dankmar Gunther foi designado em 09/10/1960 como encarregado do Posto da barreira Bem Vinda na Operação Bananal e a 19/09/1961 designado para exercer a função de chefe do Posto da Ilha do Bananal. E pela Portaria 143/ 66 foi designado para exercer a função de chefe do Centro de Atividade da Ilha do Bananal.

                                             *

                   No inicio de 1960 a FBC – Ilha do Bananal, recebeu um telegrama da Presidência da FBC em Brasília a qual informava a vinda, pelo avião DC3 Douglas da FBC, - de um cidadão cujo nome era Ariosto da Riva, proprietário de uma extensa área de terras no lado mato-grossense e que deveríamos apoiá-lo nos seus trabalhos de pesquisas, levantamento, transporte etc.

              A finalidade da FBC era o desbravamento dos sertões e para isto contava com equipes especializadas como os sertanistas Claudio, Orlando, Leonardo, Enzo, o autor, e mais uma dezenas de auxiliares e de tiracolo tínhamos um pequeno avião monomotor Cesna 170 cujo piloto era o Adolfo Rolim Amaro e tínhamos ainda amigos agrimensores como Francisco Telles que residia em São Felix do Araguaia que a nosso pedido, logo passou a pertencer à equipe de Ariosto.

                  Com a chegada de Ariosto ele foi devidamente hospedado e, seu objetivo já estava em franco desenvolvimento.

                   O Dr. Luiz Carlos Lima Militão Advogado, residente em Goiânia, já falecido, assim me contou: certa feita: “As terras que Ariosto estava sendo proprietário, então já denominada Suia Missu, e isto como referencia ao rio que corta a região, haviam sido adquiridos do governo do Estado de Mato Grosso no governo de Ponce de Arruda, pelo seu pai conhecido como Militão (Francisco do Amaral Militão) advogado, economista, funcionário publico, cronista e escritor, em aproximadamente 695 mil hectares”.  (695.000 hectares).

                     Assim foi dividida esta enorme área...

                   Uma equipe de homens  liderados pelo agrimensor Telles fizeram o serviço e Ariosto pode dispor parte da área para diversos grupos. E assim ficou a divisão: o INCRA utilizou aproximadamente 217.774 mil hectares para reforma agrária com os assentamentos “Mãe Maria” “Pedro Casaldaliga”, “Bandeirantes”, “Roncador” e “Serra Nova”; A Liquifarm Agropecuária Suia Missu, (empresa da AGIP subsidiara Italiana) 165,241 hectares; Romão Flores da Fazenda Rio Preto adquiriu 171.985 mil hectares; Fazenda Vale do Boi de  Mario Quirino adquiriu por compra  90 mil hectares; Fazenda Morumbi  do Grupo Olivetti ficou com 50 mil hectares; Perfazendo o total de 695.000 hectares de terras então pertencente a Ariosto da Riva.

               O resultado final após das vendas particulares incluindo as destinadas pelo INCRA para assentamento foram 357.773 hectares.

                    Restavam da área de 695.000 hectares um total 337.226 hectares, que foram remanejados:

Faz. Rio Preto...51% capital nacional.. 337.226 x 51% = 171.985  hectares.

Liquifarm..49% Capital estrangeiro.......337.226 x 49% = 165.241 hectares.

             O que não  ficou esclarecido foi uma compra, muito ventilada naquela época, do Grupo Garavelo  de Goiânia estimada em 250.000 hectares. Neste caso a área de Ariosto não seria apenas 695.000 hectares e sim 945.000 hectares.            

                                          §

                   Naquela     oportunidade   o Estado, no    Governo  de Ponce de Arruda, vendia as terras em lotes de 10.000 hectares, bastava arranjar os interessados e o titulo saia, depois era só fazer a transferência e registrar em Cartório. 

                   Para localizar  e levantar  o perímetro desta enorme área teve que se deslocar para o oeste rumo da hoje Porto Alegre do Norte e de lá iniciaram o levantamento via satélites da área em questão (Lembro-me que se comentava naquela época que um dos trabalhadores do agrimensor garimpando no rio Tapirapé encontrou um diamante bem grande naquelas paragens.). Fato este que ficamos sabendo pela  equipe de medição naquela localidade e assim também me segredou Telles.

                 Os Salesianos iriam instalar uma Missão na Suia, mas não levaram adiante a ideia. Todavia comentava-se em altos investimentos do Banco do Vaticano e da SUDAM nas terras da Liquigás com projetos mirabolantes entre estes figurava a implantação de uma enorme agropecuária e até que iniciou muito bem, casas para funcionários, escritórios, ambulatório, um aparente hospital, deposito, sistema de abastecimento de combustível, pista de pouso com hangar para aviões pequenos, derrubadas para plantio de grãos e forrageiras e pastos, etc.. e muito movimento, mas paulatinamente foi diminuindo...

                  Os índios Xavantes, um grupo isolado passou a frequentar as redondezas das terras da Suia Missu, sempre pelos varjões, campos e cerrados, vinham de uma modesta aldeia provisória situada no campo limpo bem na margem do rio Xavantinho a cerca de 20 quilômetros da sede da fazenda, mais ao menos ao rumo de povoado de Pontinopolis. Devo esclarecer que eram índios remanescentes da antiga *Aldeia de Marãiwatséde da região do Couto Magalhães, junto ao rio das Mortes, que em 24 de fevereiro de 1957 se evadiram da região para buscar abrigo  junto aos missionários  de Sangradouro pedindo acolhida e ali perto fixaram  a sua aldeia que ainda hoje leva o nome de “São José”, o segundo grupo destes remanescentes também se evadiram da região e chegaram ao Meirure em 02 de agosto de 1958 pedindo acolhimento, para traz ficaram apenas estes últimos remanescentes eram aproximadamente cinquenta índios  ou  um pouco mais.      Acredito que, hoje existem aproximadamente 31 aldeias Xavantes em Mato Grosso.

                O índio Xavante é nômade por natureza, suas praças mudam constantemente de lugar assim que as caças se tornam escassas eles partem sempre a procura de novos campos. Por habito tribal não gostam de frequentar lugares fechados, seus arcos grandes e flechas compridas são um grande empecilho e embaraço nas matas, e ainda temem os “espíritos da mata”. O Xavante é um índio do Cerrado e do Campo, e assim demonstram nas suas pinturas corporais que matizam o vermelho com o marrom se identificando com a cor ambiente do cerrado e desta forma estão a cultuar seus modos vivendis.

                 Voltando ao Posto da Mata...

                   Em  13 e 15  de  agosto  de  1966, por solicitação dos que se diziam donos das terras e autores dos projetos com a anuência do SPI ou FUNAI resolveram transferir  “O último grupo de Xavantes remanescentes da aldeia Marãiwatséde em virtude o dos índios terem sidos  acometidos de doenças havendo já morrido  10 a 12 deles em um ano, os administradores e fazendeiros  motivados por essas mortes e pelas doenças  e pelo  péssimo estado de vivencia em que se encontravam, entabularam um acordo com o cacique Tibúrcio que aceitou remove-los para São Marcos”  um Posto para    índios Xavante inserido dentro da Missão Salesiana onde já se achavam, há vários anos, instalados  os parentes dos mesmos vindos da aldeia mãe Marãiwatséde junto à região de Couto Magalhães, nas margens do rio das Morte, nos vastos campos de São Felix do Araguaia;

 

                   Em 1966 a ordem veio de Brasília, era época do Regime Militar, a FBC era um órgão subordinado diretamente ao Gabinete do Presidente da Republica e passou a ser vinculada ao Ministério do Interior.

                   Um avião Douglas da FBC, pilotado por oficiais da FAB veio de Brasília para Santa Izabel na Ilha do Bananal e depois pousou em Suia Missu e fez estas transferências. Eu, pessoalmente,  assisti uma destas e não foram mais do que três ou quatro voos e em dias bem alternados. O Douglas DC-3 ou C-47 levava no Máximo vinte passageiros. Ou 1400 quilos de carga útil.

                      Lembro  que  o pessoal comentava a guisa de admiração que quando da ultima viagem um índio que teria ido no primeiro voo  já tinha voltado a pé.     

               Os projetos mirabolantes se desmanchavam por traz das cortinas dos desentendimentos internos próprio dos grandes latifúndios e isto fez gerar o descontentamento e um incomodo de caráter internacional entre Vaticano e Itamarati e SUDAM e a AGIP-Petroli a tiracolo – sanado com a intromissão do ECO 92 – e a saída seria devolver o domínio da terra ao Brasil. O Presidente da ENI (Órgão controlador da AGIP)     anunciou que iria doar as terras aos Xavantes, a que a AGIP do Brasil não concordou e concluiu “Se o Governo Brasileiro quer as terras às comprem ou então as desapropriem”. 

               Enquanto isto acontecia  os políticos  daquela  época,   as crias regionais,  amasiados aos interesses do grupo remanescente que ficou com os 51%% da terra e que certamente não queriam ter os índios como vizinhos proclamaram aos quatros ventos “Podem invadir que o João garante” Quando da invasão o Clero na sua cumplicidade se quedou calado: (Afinal a área em questão era do Vaticano)   Nem que sim – nem que não, mas o que poderia ter sido feito para impedir?

                Trinta anos se passaram o povo continuava chegando ansiosos por um pedaço de terra e o Posto da Mata se transformara em uma pequena e prospera cidade com mais de 2.500 famílias com núcleos residências urbanos e periféricos, mais de 1.550 eram produtores rurais, Luz elétrica na sede e rural, varias Igrejas, Armazéns, Supermercados, Padarias Escolas, oficinas, Restaurantes, hospedagem,  Postos de abastecimentos de combustível,  três maquinas de beneficiar arroz, linha de ônibus intermunicipal executiva, transporte escolar com atendimento municipal, etc.  

           Enquanto todos dormiam  na  desatenção  dos desenrolar dos acontecimentos que se avolumavam por baixo do pano, os mais espertos tramando se valendo do potencial das ONGS estrangeiras, em surdina impuseram que a FUNAI interviesse e destinasse a terra aos índios retornando os migrados e agregando a estes dezenas de outros, dai nasceu a verdadeira contenda.

                  A FUNAI  se assenhoreou   das terras numa abocanhada de 165 mil hectares de mata e as destinou, com a batuta do clero, para apenas um punhado de índios que nada tinha a ver com elas.

                Finalmente os  Clubes Internacionais,  ONGs nac.    ONGs ext., o Clero e uma leva de interessados no Proagro e outras oferendas se posicionaram a favor dos índios e pela expulsão dos vilarejos, na maioria família de roceiros pobres, pequenos criadores e lavradores e sem outras moradias. Mas para dar sustentação a seus pretensos direitos adquiridos os índios assessorados por malfazejos que se intitularam de assessores beneméritos elaboraram uma carta a Presidência da Republica com dizeres um tanto perniciosos assinada pelo cacique Xavante Damião que a protocolou na sede do Ministério Público Federal, em Cuiabá e ali ele derrama seu linguajar num verdadeiro verborrágico acusando:

                    Analisemos os textos em que acusam...

“*Os fazendeiros de assassinos por terem mortos a tiro cinco de seus parentes e que não iriam trair os espíritos deles e que"...

“São Felix do Araguaia em 1960 só tinha duas casas”.

                  *Vejamos a seguir o que diz o livro “Terras Bravias” Cap. 03 e fls. 62 a 66. (de Wdgh) publicado na internet em 2005 ao que parece vem esclarecer estas duas declarações:

                     Este contato da Bandeira com os índios Xavantes não foi de todo proveitoso ao menos para algumas pessoas. Como em todas as famílias, os índios também tinham suas ovelhas negras e o líder destas tinha o nome cristão de Camilo.

                   Camilo era um índio novo, mas muito irrequieto, gostava de aparecer de supetão vindo sempre por de trás das pessoas e assobiando entre os dentes o que fazia todos sentirem um friozinho na nuca.  Sempre aparecia em um lugar qualquer e quando menos se esperava, e com ele, outros quatro índios.

                  Ali pelo  mês  de  outubro  Camilo  apareceu na  fazenda Caracol  do  João Irineu e ele, Camilo, estava doente, os quatro outros índios estavam com ele.

                 --Camilo você esta doente?

                 --Doe muito o peito e as costas e tem febre.

                --Pode ser pneumonia, eu vou tratar de você, mas vai ter que ficar quieto  deitado um bocado de dia.

                 --João homem bom Camilo fica.

                  João  Irineu  foi a São Félix  comprou penicilina e aplicou em Camilo por vários dias até ele ficar bom e isto demorou um mês, durante este período João estava moendo cana e fazendo rapadura. O tacho estava cheio de melado quente que ao apurar soltam bolhas que explode jogando caldo quente longe, Camilo já bom ficava rodeando o tacho e João sempre avisando para não encostar muito, foi quando o melado explodiu e apenas chamuscou a barriga de Camilo que gritou e se afastou, chamando os companheiros foi-se embora com muita raiva, João ainda tentou amenizar, mas não adiantou. O que João não sabia era que Camilo voltaria mais breve do que ele jamais poderia imaginar. Pouco tempo depois se tinham noticias dele e seus companheiros, e eram más noticias.

                 Mal havia passado o mês de setembro, ainda inicio de outubro, o tempo se encontrava quente e nubloso, ameaçava chover, quando eu tive a noticia senti um grande arrepio, os índios tinham atacado o retiro do Pedro Tapirapé e matado sua irmã e as duas crianças.

                Poucas horas depois um grupo de homens armados chegava ao local do morticínio, era uma fazendinha de um humilde posseiro que só tinha duas taperas, uma para moradia, e uma oficina de fazer farinha, e ali em cima do monte de mandioca que descascava a mulher Maria Tapirapé estava morta com a cabeça arrebentada a bordunadas, o sangue rubro manchava a alvura das raízes, mais ao lado, embaixo de uma cocha de colocar massa, estava o corpo ensanguentado de uma menina. No terreiro os porcos disputavam o que sobrara do corpo de uma criancinha de colo, na travessa de madeira da casa o testemunho da brutalidade, a mancha de sangue indicava onde tinham quebrado a cabeça do neném antes jogá-lo aos porcos. Mas a menina que estava embaixo da cocha estava viva e dois dias depois quando abriu os olhos foi para dizer:

                 --Titio... Foi o Camilo.

                   Na cena do crime, uma borduna de índio caiapó, Camilo tentava enganar.

                  Impossível esquecer uma chacina como esta.

                 Vinte dias  depois, ainda  no  mês de  outubro,  eles 

atacaram  de novo, desta feita foi na fazenda Caracol do meu amigo João Irineu, o homem que havia tratado deles.

                 Dona Rita,mulher de João chegou a São Felix a pé já noite, havia corrido quase mais de quatro léguas, estava exausta e quase em estado de choque. Com muito custo quando conseguimos reanimá-la, o dia já vinha amanhecendo.

                   --Vão até a minha casa gente, os índios mataram o João e os meninos - e entrava em crise de choro Eu estava fazendo almoço quando ouvi um grito longe, parecia vir lá da roça onde o João estava trabalhando, eu fiquei preocupada e fui até a janela para ver se via alguma coisa, pois sabia por noticia o que o Camilo andava aprontando eu sempre tive cisma dele, foi quando vi os índios virem correndo no rumo de minha casa, e vinham com as borduna na mão, fiquei com medo e corri para o fundo quintal e me escondi na moita de banana, ai eles entraram na casa e me procuraram, saíram até o quintal, mas não me viram, voltaram para dentro da casa e começaram a quebrar tudo e carregaram um bocado das coisas, quando eles foram embora eu corri para cá. Sei que meus filhos estão mortos e João também vão lá pelo amor de Deus.

                 Logo, formaram um grupo de homens revoltados e se puseram a caminho. A tragédia se repetira. Na casa, em uma rede atada na sala rústica estava um corpo ensanguentado. Era Luciano um dos filhos do velho guia, mesmo com a cabeça quebrada ainda vivia, Na roça, tombados sobre a terra que trabalhava estavam os dois corpos pai e do filho Augusto, suas cabeças quebradas e no pescoço os enfeites Xavantes. O sobrevivente foi transportado para São Félix em uma rede e assim que se tornou lúcido contou o ocorrido:

                  --Eue o papai estávamos trabalhando na roça carpindo, era ainda cedo quando vimos os índios chegarem, não vimos nenhuma arma com eles, eram cinco e o Camilo, ele chegou perto do papai e o cumprimentou:

                      --Ta bom João?

                      --Olá seu sumido, por onde andava?

                 --Eu estava na aldeia, olhe o que eu trouxe para você - disse Camilo mostrando um colar destes de cordão com umas penas de gavião e foi colocando no pescoço do papai, e aquele outro índio baixo também me deu um, e como é costumes deles porem no pescoço da gente ninguém desconfiou. Ai aconteceu que Camilo deu um grito e eles começaram enforcar a gente com o cordão, eu lutei muito para tirar o revolver, mas ele estava embrulhado em um lenço e eu não dei conta, só sei que eles bateram em nós com o olho de nossas enxadas. Ai então eu não vi mais nada, me lembro de estar doido andando no rumo da casa e depois eu não sei o que aconteceu.

                 O mesmo aconteceu com o filho mais moço que trabalhava meio afastado quando ouviu os gritos foi ver o que estava acontecendo e já encontrou os índios pelo caminho que o mataram do mesmo jeito.

                 João Irineu e seu filho mais moço morreram em cima da terra que amavam e trabalhavam pelas mãos de quem ajudara. 

                     Mas a revide não demorou a chegar.

                   Para Camilo não houve sobreviventes nos massacres, achavam que todos tinham morrido e que pensariam terem sido os índios Caiapós os autores, estavam tranquilos.

                 Pouco tempo depois (assim me contaram) um grupo de cinco vaqueiros ia para o campo quando avistaram os cinco índios na tapera do João Velho, bem junto da estrada que levava ao limpo grande, um dos vaqueiros chama a atenção dos outros:

                   --Olha quem estão ali - disse - mostrando a velha tapera.

                 --São índios Xavantes, é o Camilo e seus companheiros, vamos até lá agora chegou a nossa vez.

            Calmamente os vaqueiros foram rumo à tapera faziam de conta que não queriam nada, chegaram rindo e desceram dos seus cavalos e os cinco índios adentraram na velha choupana, e assim também o fizeram os quatros vaqueiros e  antes de  começaram a atirar   um deles comentou:

                 --Muito bem Camilo você que é o matador de crianças, agora é a sua vez de morrer.

               Camilo    o   mais  desconfiado   pulou a janela correu para dentro de um capão de mato que beirava a casa, os outros quatro índios morreram dentro da tapera, os vaqueiros a cavalo cercaram o pequeno capão e quando conseguiram encontrar Camilo o mataram e ajuntando os corpos os enterraram ali mesmo.

                 Tudo parecia ter voltado á normalidade, mas não por muito tempo.

            Se os  cinco índios  que foram mortos a tiro foram estes  seus parentes, que porventura tinham sido expulsos de sua comunidade tribal e andavam pelos sertões assassinando mulheres, criança e homens, acredito ter sido um ato de justiça poética, e quanto a sua afirmação que em São Felix em 1960 só tinha duas casas. Ledo engano, falsos dizeres.

Livro “Terras Bravias”. Fls. 111 - Eu me casei em São Felix do Araguaia em 1953 já existia o cartório de Registro Civil, Escolas, posto de Saúde, Armazéns, Dentista, Delegacia de Policia Civil, destacamento de Policia Militar, campo de pouso para aviões  etc. etc. afinal ..São Felix já era uma boa cidade em evolução.  E isto tudo consta de registros. Esta resposta foi satisfatória cacique Damião?.

                Voltando ao affaire da localização da Gleba Suia Missu.                  .

              Outro problema é a  sobreposição   por encadeamento de títulos, como por exemplo, a região norte do Vale do Araguaia, em que numa época foram emitidos títulos encadeados partindo do rio Xingu para o leste e em outra partindo do Rio Araguaia para o oeste criando uma faixa de ruptura em que dentro desta faixa há uma sobreposição de títulos-.··.

              O  problema é a questão  dos pontos  de   amarração, ou seja, o mesmo titulo dependendo do ponto de amarração e do encadeamento de títulos pode ser deslocado.

Na sequência: “Vejamos  o mapa  ilustrativo onde,  há casos  comprovados  de deslocamento do mesmo titulo de aproximadamente 30 km conforme ponto de amarração”.

 Analisar deslocamento.......

  Colorida.....


           

Comparar  imagens  1º e 2º

§ 

Analisemos "A Fazendinha”.

         Um Matreiro as suas ordens.

 

                 Odilo Garciatinha de tudo para ser o homem

mais brejeiro, ou trambiqueiro em cima da terra, e oportunidade era coisa que não lhe faltava, mas no intimo era um bom homem e sua esposa uma finíssima dama. Seu hobby preferido eram “rolos com terras”,  a grilagem estava em seu sangue, gostava de mexer com “papeis”  e conhecia uma escritura falsa antes mesmo de toca-la. Era impossível lhe passar a perna, muitos tentaram, mas nada conseguiram.

                 Agropasa foi sua última investida, uma belíssima fazenda lá pelas bandas de São Felix do Araguaia, era a Agro-pecuaria Araguaia S/A, com muito gado, muita casa e até avião.

                 Entre os anos d e 1954 e 1965, foram as épocas de ouro que fez muita gente ficar rica  em Mato Grosso, foi precisamente nesse período, que mais movimentou  o Departamento de Terra  e Colonização de Mato Grosso.

                 Como só era permitido a cada pessoa requerer abaixo de 10.000 hectares, os mais sabidos e de melhores recursos políticos e financeiros “Lavaram a égua”, requerimentos foram feitos as centenas, um no nome  da mulher, outro no nome do cumpadre, e assim por diante, depois era só  passar uma procuração em cartório, e tudo bem.  Desta forma os mais vivos adquiriram verdadeiros territórios, restava apenas aguardar a valorização.

                  Agropasa não fugiu desta regra,  como também os dois lotes  a ela anexados, o Bandeirante  e o Caiua, cada um com oito mil e oitocentos alqueires paulistas. Eram oitenta quilômetros de terra a beira da estrada São Felix a Suia Missu, um verdadeiro território  cujo “Cacique” era o Odilo Garcia.

                   Quando Odilo comprou os lotes de Geraldo Paulo Nardelli, Orlando Melloni veio junto e Odilo sabia as dificuldades que teria  pela frente, pois já sabia das centenas  de posseiros  que teria que enfrentar, mas como Odilo não metia a mão em cumbuca contratou  com o seu vendedor oconcurso do famoso Melloni para promover o êxodo  dos migrantes que ali haviam se fixado.

Melloni até que começou bem, mas não era intenção de Odilo que a coisa saísse tão rápido, quanto mais demorasse, melhor, pois assim também custaria a pagar o Nardelli, e demorou tanto que até hoje (acho) não liquidou tudo.

                    Eram tantas as terras que sobravam  à sanha  dos devoradores que os lotes pequenos  ninguém se incomodava com eles, e foi assim que surgiu a “ Fazendinha”, uma área de 1.000 hectares, bem ao lado  da sede da Agropasa. Mais rápido do que nunca o velho matreiro mandou-o cercar de Arame farpado e, pois um paulista para tomar conta. E a coisa rendeu.

                  Odilo só dormia sossegado se tivesse um Oficial de Justiça  andando atrás dele  com uma execução, todos diziam  que ele tinha uma cascavel em cada bolso, e não metia a mão neles por nada neste mundo.

                   Orlando Melloni visto a falta de recurso, parou  de comprar os direitos dos posseiros, e assim todos voltaram as suas posses, era uma confusão enorme, foi ai que apareceu a figura mais rara da raça humana, Marinho Gomes Figueiredo, o único homem que conseguiu passar a perna no Odilo.

                  Odilo fez um contrato com Marinho para lhe tirar todos os posseiros de suas áreas e, em pagamento lhe dava a “Fazendinha”.

      Marinho começou o seu trabalho, mas mesmo antes de tirar um posseiro sequer já havia vendido aposse para o “Bau”. Lentamente o manhoso careca se movimentava entre os posseiros, conversando um e outro, mas, a conversa parecia não surtir efeito. Foi quando em um desastre de carro morreu Odilo Garcia.

                   Marinho efetuou a transação com “Bau” recebeu o dinheiro, e deu no pé. De fato ele passou Odilo para traz. Mas só depois de morto.

                  Nardelli que por sua Vez havia adquirido suas terras do grande concessionário Paulo Soares de Campos, e as empurra para cima do Odilo agora, o abacaxi foi parar nas mãos  da viúva, Dona Maria Conceição, após muitos anos de luta, parece estar prestes ou já descascou o abacaxi, pois vendeu uma boa  parte  de suas terras ao fazendeiro Aylon, e este junto com o Dr. Luiz Carlos Lima tentam a solução do problema, só que não sabem o que fazer com os quase  quatrocentos posseiros que estão assessorados por Dom Pedro Casaldaliga Plá.

                     Para completar o quadro, veio o Usucapião Especial, e agora Dr. Luiz?

                Comprarbriga com o Bispo, é o mesmo que comprar sarna para se coçar. Afinal quem se saiu melhor foi o Bau que ficou com uma belíssima propriedade. E a viúva? Bem ela é uma mulher inteligente, pois já foi até Conselheira da Sudam, deve ter resolvido tudo. Boa sorte.

                                                          §

A família Gunther - Anos de 1953.

              O primeiro casamento civil de São Felix do Araguaia MT.

                Aos 14 de março de 1953, eu o autor,  casei-me

 com a jovem Maria Paciente da Silva na cidade de São Felix do Araguaia tendo sido o “primeiro” ato oficial de um casamento civil registrado no cartório do Registro Civil tendo sido escrivão Guilherme Pereira Luz que lavrou registro no livro numero 01 ás folhas 09 sob o n 08, tudo de seu próprio punho numa caligrafia invejável. A maioria dos moradores se fez presente e todos assinaram como testemunha no livro. Lembro-me de: Cesária, Edilia, Nega, Aracy, Severiano, Zé Martins, Sindô, Ateneu, Bento, Maria Dias, Lupercio, Leocádio, Tertuliano e Zé Lagoa e vários outros. A 23 de dezembro de 1953 nasceu na Fazenda São Pedro na ilha do Bananal o nosso primeiro filho Aleixo; A 21 de abril de 1955 nasceu a primeira filha mulher de nome Ruth em Luciara; A 06 de agosto de 1956 nasceu meu filho Paulo em Luciara; A 20 de julho de 1958 nasceu minha filha Miriam em São Felix do Araguaia; a 27 de setembro de 1959 nasceu em Luciara a minha filha Enilda; A 06 de novembro de 1961 nasceu em Brasília o sexto filho Daniel; meu sétimo filho Joel nasceu a 22 de fevereiro de 1965, em Santa Izabel na ilha do Bananal, e a 23 de julho de 1968 nasceu Maria Aracy em Brasília. Do outro lado do rio Araguaia a beleza inenarrável da Ilha do Bananal e foi ali que... ...Rememorando o passado sai em cima de uma foto minha que relata o tipo de vida que eu vivia entre São Felix e  Luciara nos anos 1953 a 1956. Recém-casado, Pai de duas crianças esperando as outras seis, “emprego nunca ouvi falar que existisse”, então para enfrentar a vida virei “mariscador”, nome dado aos caçadores regionais. E escolhi a Ilha do Bananal para  minhas caçadas   jacarés e onça. Arranjei um parceiro á altura do difícil trabalho e desempenho, meu cunhado Mariano e lá se fomos nós. Lago do Mamão, Lago dos 47, Lago do Coqueiro Só  e vários outros.  À noite eu iluminava o lago com uma lanterna  e podia contar cerca de trinta ou mais jacaré-açu, acima de três metros e meio até cinco metros, mas a cauda não se aproveitava para nada.  Nem gosto de me lembrar das eternas companheiras as piranhas que ficavam roendo em baixo da canoa que parecia nada mais do  que um caixão de defunto de tão parecidos e sofisticados, mas aguentavam. Hoje penso nestas loucuras na qual eu ficava quatro a cinco meses nessa labuta, raramente vinha a minha casa. Tudo isto para não deixar nada faltar  para minha família. Mas, me sai bem e ao final me sentia orgulhoso o bastante para ser feliz com minha prole. Já relatei estas histórias nos meus livros,  hoje junto uma foto que estava perdida há muitos anos e  resolvi publica-la como testemunha de minha luta. Eu era magro cheguei a pesar 55 quilos. Mas sobrevivi. eis a foto...

                                                         §§

                      

    Dankmar  e os 3 jacaré Lago do mamão. Ilha do Bananal. 1954.

 

A Prelazia de São Felix do Araguaia MT...


              
Em 27 de agosto de 1971 foi nomeado bispo prelado e em 23 de outubro recebeu a ordenação episcopal passando a ser Don Pedro Maria Casaldaliga Plá o Bispo da Prelazia de São Felix do Araguaia, o nome Maria em homenagem a Virgem Maria, mas ninguém seria melhor do que a gentil e astuta raposa para explorar a delicada situação social da emergente pastoral de sua Igreja Particular que vivamente delineava a atualidade do tema “Viver entre os pobres, com eles e sendo um deles, reivindicar uma repartição mais justa e igualitária dos bens particulares e das riquezas, pretendendo que todos os homens nasçam iguais e conclamá-los a luta pela classe na defesa de suas posses era a sua tríplice missão: Evangelizar a palavra de Deus, administrar os sacramentos, e servir de pastor e pai dos marginalizados”. E. em 2.000 recebeu o titulo de Doutor Honoris Causa pela UFMT. Permaneceu na função até 02 de fevereiro de 2005.

                 Uma cruzada apocalíptica teve início e uma

guerra violenta foi declarada. Era o poder econômico latifundiário apadrinhado pateticamente a leis obsoletas e do outro lado os posseiros regidos pela batuta de Casaldaliga e seus agentes pastorais. Muita gente foi massacrada nesta luta desigual e sem quartel. Padres e posseiros foram sacrificados, grileiros e fazendeiros tombaram. Erravam-se dos dois lados, mas eram os ossos do oficio. Antes os posseiros temiam os fazendeiros, hoje estes os temem. Antes aqueles lhes ofereciam guerra, hoje pedem a paz.

                   Leis foram sendo renovadas inteligentemente protegendo os pioneiros, mas a confusão se generalizou quando começaram a chegar levas de nordestinos, mineiros e de outras bandas do Estado de Mato Grosso, gentes na maioria, sem tradição de agricultura, mas que buscavam ansiosamente um pedaço de terra para se estabelecer e se misturaram aos pioneiros nativos da região. Habilidosamente o Bispo passou a organizar seus marginalizados e orientá-los a não receberem títulos de terras definitivos fossem de particulares ou do Estado sob a alegação de que eram falsos e instigava-os através de seus agentes pastorais, a luta aberta contra seus “pretensos” benfeitores. Com o apoio do Bispo os marginalizados De simples homem do campo o sertanejo passou a condição de rebelde e revolucionário e eram treinados para isto numa situação que a própria sociedade impôs ao Marginalizá-los. Para estas centenas de renegados pela sociedade latifundiária o Bispo era a única esperança, sem ele estariam perdidos. Eles o tinham como um enviado de Deus. Hoje são uma força crescente em busca de uma liberdade quase evangélica e sabem muitos bem que são a pólvora do barril reacionário a espera da mecha ardente.

                       Dom Pedro Maria Casal Dáliga Plá.
                                 A Raposa do Araguaia.
    
   Os Irmãos Vilas Boas.Orlando,  Leonardo  e Claudio.
    

                                                      §


   Casos fortuitos dignos de registros.

Bento  e o marujo.

      Bento de Abreu Luz era um cidadão muito conceituado em todo vale do Araguaiaexercendo por longos anos o cargo de Juiz de Paz numa certa  manhã de 1950 ali pelo mês junho, aportou em São Felix um barco grande se não me esqueço era do Antônio Butelo residente no Estado do Para, e vinha no comando do mesmo o negro Assai, foi recebido com salvas de tiros, e foguetes para todos os lados, São Felix era assim quando chegava um barco era muita alegria para todos porque trazia muitas mercadorias inclusive taboas de mogno para vender. Assim que aportou, Dankmar, Severiano, Bento e Ateneu foram recebê-lo. Muito avexado Assai ao nos ver se encaminhou até nos e apertando a mão de Severiano que já era seu conhecido, cumprimentou a todos, e seguidamente um dos seus marujos entrou no meio  abrindo a boca para dizer:

               --Patrão o homem lá do boteco quer um saco de açúcar..... e se retirou.

            --Me deem um tempo preciso entregar este saco de açúcar ali no bar do Quiriba, a que olhando para Bento, homem novo e robusto e que não o conhecia pediu:

                        --Companheiro da para você levar este saco ali para o Quiriba enquanto eu converso com estes meus amigos?

                         --Perfeitamente meu amigo.

                       Seguidamente  os  dois agarraram o saco de açúcar de 50 quilos, balançaram e foi parar nas costas do Bento que subiu a ladeira rumos ao boteco  e o negro Assai voltando-se para Severiano lhe falou.

                        --Meu amigo,  a finalidade  desta viagem não  foi v trazer  estas  mercadorias, mas sim uma urgência que tenho para falar com o dotor Juiz de Paz e eu queria que vocês me apresentassem a ele, pois eu não conheço.

                           --Conhece sim, você acabou de jogar um saco de açúcar nas costas dele.

                           --Ta brincando Severiano?

                           --Não, é ele mesmo o Juiz de Paz.

                          --Virge Santa Maria - exclamou e saiu correndo ladeira acima rumo ao boteco.

                           Quando os dois se encontraram o Bento já tinha entregado a encomenda e vinha 

voltando ao que o marujo chegando-se a ele atarantado tentou esclarecer:

                          --Me desculpe meu irmão eu não tinha ideia de quem era o senhor!

                          --Esta tudo bem meu amigo, foi um prazer servi-lo, mas oque posso fazer por você?

                      Saíram os dois a rua abaixo conversando e deve ter dado tudo certo por que Assai dois dias depois viajou de volta não sem antes apertar o apito do barco até sumirem rio abaixo.

                        O caso do guri rebelde.

             --Certa feita eu estava caminhando na rua beira rio, ali pelas oito horas da manhã me encontrei com o Seu Bento e conversávamos sobre uma pescaria por que era voz corrente que os cardumes estavam subindo e eram Pacus e Piabanha quando outro amigo, da porta da casa dele, nos chamou, fomos, os dois,  até lá e ele nos convidou para entrarmos, na pequena sala uma rede que logo a ocupei, duas cadeiras e uma mesa e as tralhas de vaqueiros pendurados em ganchos de madeira junto ao telhado de palha e assim Tertuliano e Bento entabularam uma conversa sobre pescaria, eis que neste momento entrou  sala adentro um guri de uns 10 anos e foi direto ao Tertuliano e foi falando:

                       --Pai eu posso ir pescar?

                       --Primeiro tome a benção de seu padrinho Bento.

                       --Pai depois eu tomo, posso ir?

                       --Não, não pode enquanto no tomar a benção.

                       --Então eu num tomo a benção.

                      --Espera moleque  segurando o guri pelo braço levantou-se e foi ate o arreio pendurado e de lá tirou um pedaço do cabresto de couro trançado e deu uma lapada nas costas do guri que gritou, mas se soltou correndo para cima do Bento numa gritaria:

                        --Padrinho, padrinho, o pai quer me bater num deixa não padrinho.

                      --Joãozinho   você   tem   que falar é com seu pai, não é comigo, não sou eu que estou te batendo. Tertuliano agarrou o menino e lhe deu mais uma chicotada leve --Vai tomar a benção.

                        --Num vou não.

                         Ai o Bento entrou na jogada:

                        --Ainda tá pouco cumpadre chega mais um pouco.

                      Tertuliano levantou o chicote, mas o menino escapuliu e correndo se   ajoelho em frente ao Bento de mão juntas e olho chorado quase gritou:

                        --A benção meu padrinho.

                        --Deus   te abençoe meu filho, agora fique um pouquinho

                    O guri se enrolou no joelho do Padrinho Bento escondeu o rosto entre as mãos e ficou quietinho... Mas não demorou muito ele mansamente falou:

                         --Posso ir agora padrinho.

                         --Pode meu filho pode ir.

                       E o moleque despencou de porta a fora rumo ao rio com uma vara de caniço e uma lata de minhoca... Não sei se pegou peixe, mas aprendeu muita coisa.  

                                    

                                                                      §


                                           Lula  e Matusalem.. Destino São Félix do Araguaia. 



Resumo Histórico.

                           Era publico e notório que Lucio não concordava com as ideias de Severiano eis que sempre o aconselhou a viverem mais irmanados e unidos em virtudes às investidas indígenas, mas Severiano sempre teve um ideal a de construir sua própria cidade, e não aceitava a imposição de seu cunhado, mesmo assim ainda conviveram juntos por vários anos, mas cada vez mais crescia o animo de se separarem e isto acabou acontecendo. Severiano uniu-se a alguns amigos dissidentes como Bento de Abreu Luz, João Irineu, Maria Dias e seus filhos Supercilio, (Lupercio) e Novato, Raimundo Martins, José Lagoa, Roxo, João Martins, José Martins, Ines Abreu, Ateneu Luz, Amâncio de Melo, João da Luz,  Pedro Coelho, Hermenegildo,  Máximo e sua mulher  Marcolina,   o sanfoneiro Raimundinho,  Alfeu,  Tertuliano e vários outros sertanejos aderiram a aquela fabulosa aventura que hoje resultou em uma grande e belíssima cidade com 11.290 habitantes e muito progresso.  Apenas um elo triste ainda amarga este FINAL


              Quem eram Severiano Souza Neves   e seus parceiros? Apenas homens simples, rígidos como a temperança dos aços, possuidores de uma fibra inquebrantável igual às durezas de um diamante, homens que preferiam a morte a se humilharem ou a serem envergonhados, eram os soldados da terra, podiam dobrar os joelhos, mas nunca caiam se levantavam e iam à luta por um mundo melhor, produzindo milhares de frutos e criando centenas de animais, pois acreditavam em Deus porque sabiam que Ele existia.

 

 A oração de Severiano...

 Pelos caminhos da Vida...

 Obrigado Senhor... Pelas coisas que conheci,

Por ter me emprestado este mundo para viver,
Pelas suas maravilhosas matas com seus grotões,
Carregando águas límpidas e cristalinas,
Tão puras como a própria natureza.
Pela exuberância de suas arvores centenárias,
Que pareciam alcançar os céus abraçando as nuvens,
Que pairavam sobre suas copas,
Pelos frutos de inimagináveis sabores nunca dantes conhecidos,
Pelas aves perambulantes saltitando pelos galhos,
Com seus cantos maviosos se mesclavam a ruídos inebriantes,
Pelas flores e orquidáceas com suas multicores
Enfeitavam com ternura o ambiente circundante,
 
Obrigado Senhor. Pelos campos onde a gazela arisca,
Envolve-se em trejeitos de flor da campina.
Pelos cerrados que tal criança em evolução zela suas raízes.
Pelos arbustos e seus frutos dormitando junto às nascentes,
E pelas palmeiras e coqueiros que enfeitam o eterno verde,
Junto aos olhos d'água onde brotavam a seiva da vida,
Transparente imácula vão á busca dos riachos,
Junto aos ribeirões finalmente enlaçados com o rio,
Num abraço fraternal retornam ás suas origens, 
 
Obrigado Senhor... Pelas belíssimas e saudosas praias,
Onde nas noites calmas e sem a luz das cidades,
Pode-se olhar às miríades de estrelas brilhando no céu,
Acompanhadas por um inebriante e apaixonado luar,
Trazendo a caricia da brisa num toque leve e suave,
Revelando um suntuoso mundo de paz e harmonia.
Os peixes alegres brincam saltitando nas águas,
Encantados com os magníficos reflexos estelares.
Pelo sol prestimoso que nos aquece e ilumina.
Pelo vento que sopra e nos trás a brisa,
Não se sabendo de onde vem, e nem para aonde vai,
Até então tudo era harmonia, tudo era paz.
 
Perdoe Senhor. A raça humana pecou ao não saber,
Agradecer a Tua oblação e, passaram a conspurcar as Sua Obras,
Os ares estão infestados de gases poluentes e as chuvas,
Já não são mais de água pura e sim levemente acidas,
Oriundos das chaminés das fabricas e da volatilização das lavouras,
Saturadas de venenos químicos que penetram no solo afetando,
Impiedosamente os microrganismos, que recuperam a terra,
Na sequencia estes mesmos beligerantes químicos estão extinguindo,
Os veículos da polinização como as abelhas e outros insetos,
E a flora se queda em declínio, na continuidade estes venenos,
Ao se infiltrarem, nos lagos e nas águas ribeirinhas as contaminam,
Exterminando os alevinos não permitindo a reprodução das espécies.
Triste herança... Que deixaremos para nossos filhos e netos.
 
Meu Senhor... Como tudo mudou, já não há mais a paz no campo,
As nossas águas cristalinas se envenenaram,
As nossas matas e cerrados estão virando planícies nuas,
Onde só brotam abrolhos e ervas daninha,
Não mais existem os suntuosos sertões,
Onde todos tinham ao seu habitat e a uma vida livre.
Já não existe mais os campos floridos,
Nem beleza do planalto da serra do roncador,
O nosso cerrado, que tinha apenas experiência de criança,
Zelava seus organismos impiedosamente massacrados,
Pelas maquinas dos senhores feudais que na sequencia,
Expulsaram a fauna silvestre e queimaram pelo fogo,
As esperanças dos pequenos animais que desapareceram nas cinzas.
Agora restam poucos a vaguear por terrenos devastados.
 
Senhor... Os sobreviventes usam da piedade do sertanejo,
E vão matar a fome junto com as galinhas nos terreiros,
Das pequenas propriedades, assim também um lobo Guara,
Solitário procurava sobreviver entre as intrusões e seu recanto.
Sentia o cheiro da comida na cozinha do alienígena.
Mas o casarão de alumínio e o asfalto limitavam a sua ousadia.
Ficava do outro lado da estrada apenas olhando os galpões,
Mas se quedava assustado e não se atrevia chegar perto,
Apenas servia de agradável surpresa aos transeuntes passantes,
Mas um dia, algum perverso o matou, bem ali junto do asfalto.
Bem ali junto da cidade irmã Porto Alegre do Norte.
 
Perdoe Senhor a estes beligerantes enclausurados,
Em senhores feudais donos do mundo milionário,
Habilidosamente, arrendam a terra de terceiros menos avisados,
As usam dilapidando e sugando toda vigor fertilizante,
Para depois as devolverem enfraquecidas terras em agonia,
Sufocadas pela acides que aflora e as abandonam,
Dilapidadas e inservíveis, na solidão nua ao sol.
Os buritizais a beira dos brejos foram sacrificados,
As dezenas tombaram ante a arrogância impiedosa,
Dos alienígenas ainda com os cachos cheio de frutos.
Terra dantes verdes se transformaram em deserto,
Os nossos cerrados breve serão mares de areia sem vida.
A lei do mais poderoso ainda prevalece,
Tumultuando a vida dos sertanejos e a dos índios,
O pobre só tem ao Senhor e a eternidade
Talvez um dia na sombra  de um tamboril ou pequizeiro,
neste nosso sertão devastado, antes do final dos tempos,
Eu ainda possa escrever mais alguma coisa,

Certamente o Senhor ainda mora aqui  no rio Araguaia, 
"Senhor abençoe estes povoados irmãos, agora cidades 
“Luciara, São Felix do Araguaia, Porto Alegre do Norte, Alto Boa Vista,
Confresa e Canabrava do Norte Frutos da aventura, 
dos mesmos homens que buscavam 
tão sonhada Terra Prometida e as encontraram,
Onde hoje vivemos irmanados, repletos de  paz e amor,
Porque acreditamos em TI e sabemos que  Existes. 
Nos perdoe Pai e nos abençoe. Amem.


                        FIM

                                     §    

“Dedicado a Wilson Leite”.
 Hino do rio Araguaia.               
 
Meu Araguaia, oh! Quanta beleza,
Em tuas praias de brancas areias,
Tuas noites lindas de luar banhadas,
Aruanã, dos Karajás na aldeia.
Oh! Rio cheio de encantos,
Que banhas a minha terra,
Todo o orgulho de minha’ alma,
Teu rolar garboso encerra.
Quero que no teu banzeiro,
Vá meu sofrer minha dor,
Meu Araguaia querido,
Por ti eu morro de amor.
O canto alegre de tuas gaivotas,
Nas manhas lindas sempre lindas,
Na alma da gente deixa mil saudades,
No coração mil doçura infinda,
Já não posso mais aturar,
O coração cheio de magoas,
Meu Araguaia querido,
Me leve nas tuas águas,
Quero que no teu banzeiro,
Vá meu sofrer minha dor,
Meu Araguaia querido,
Por ti eu morro de amor.
                                                      §
 

 

 Carta Poema dedicada ao Bispo da Terra.

 (A raposa do Araguaia)

 Disse: Ele eu não sou deste mundo,

Mas vim para este mundo.
Disse Pedro Maria:
Morrerei em pé como as arvores,
Com a minha morte,
Minha vida se fará verdade.
Não Pedro Maria...
Sua vida sempre foi amor e verdade,
Mas, ainda há muito que fazer,
É glorioso descobrir que há luz em nosso caminho,
Nos também não somos deste mundo,
Sou seu irmão, foi o nosso PAI quem nos criou.
 
Viemos para aprender e ensinar,
A beleza das Plêiades e sua família,
Acompanhe o andarilho fujão Arcturus,  
A ciumenta postura de Beteljeuse,
E a inveja de Rigel  que expele treze mil vezes,
tanta  luz e calor como o  nosso Sol,
O conglomerado de Hercules,
E seus milhões de diamantes a faiscar,
A grandiosidade de Orion e Roseta,
As distantes Alfa-Centauro, Vega e Capela,
Os planetas, os satélites e suas vinte Luas,
Terra, Marte, Júpiter, Urano, Saturno, Netuno,
Vênus, Plutão e Mercúrio.
São miríades de hostes e galáxias,
Obras incomensuráveis de um Só PAI e CRIADOR.
 
Acreditas Pedro Maria, que só há seres inteligentes,
Aqui neste pequeno e empoeirado mundinho nosso?
Não Pedro Maria, há muito mais vida, mais além,
São milhões de mundo que não conhecem o pecado,
Portanto, aventuremo-nos pelas avenidas estelares,
Buscando o descanso tão decantado por ti!  Pedro Maria...
A paz da instrução espiritual está inserida no
Trono de Deus, junto à poderosa fonte,
Que supre o poder e Luz que opera este,
Magnífico mecanismo que é o Universo!
O montante de energia é incalculável.
Para o nosso pequeno recanto empoeirado,
O nosso carente sol só fornece um fluxo regular
De energia, igual a quatro centilhões de H.P.
É apenas um entre dez bilhões de sois.
 
Pedro Maria,
Calcule então, qual é a prodigiosa energia,
Que deve ser usada, para conservar e manter,
O mecanismo do Universo em movimento.
Como deve ser o poder daquela Mão!
Que dá corda à tremenda fonte! Num Universo todo,
Que nunca teve começo e nem fim!
É um paraíso vivo, em que tudo nele tem vida.
Não se podem afrouxar os laços de Orion.
E nem manter unidas as três estrelas,
As irmãs Mintaka, Alnilan e Alnitak,
As duas, das três primeiras andam juntas,
Mas pode se vir a olho nu a rebelde Alnitak,
Distanciar-se para o leste a ponto de deformar
O triangulo perfeito, mas ela se autogoverna,
Vai para onde quer e do jeito que quiser,
Vede Pedro Maria... Até as estrelas tem vida própria.
 
Deus escreveu a historia da criação e da onipotência,
Nas maravilhosas obras naturais com que nos rodeou,
Vá Pedro Maria,
Vá ardilosa Raposa do Araguaia,
Vá para uma praia do teu rio, numa noite escura,
Poderás ver a grandiosa obra do Pai,
Olhe para o azul do céu e veja a beleza irradiante,                                                                                                                                                                                                              Obscuros serão os olhos que não as verem,
E frio o coração que não se extasiar,
Ao vislumbrar as maravilhosas hostes celestiais,
Que miríades enfeitam o suntuoso azul,
Medita Pedro Maria, escutas teu coração,
E encontraras em ti o teu verdadeiro valor,
Pedro Maria... Um filho do Criador.
 
Tens muito a fazer na luta a que viestes,
Para se conseguir paz, justiça, amor e liberdade,
É preciso haver lugar para todos, sem privilégios de uns,
Afinal, somos todos irmãos filhos de um só Criador,
Levante sua voz, clame aos quatro ventos,
Não se quede calado e impotente, pois amigo...

Pedro Maria... Lembre-se que...
“O espaço e o tempo assim como a onipotência,
 e a onisciência são inescrutáveis”.
Portanto, levanta-te Pedro Maria, e vá à luta,
Há muita gente precisando de ti...
Jesus está contigo...  E... Eu também...

 Wdgh.                                      
 
 
Doces recordações: De Severiano, Dona Edilia, Nega, Suely,  Amojacy, Newton Burjak, Hélio, Dagia, Alexandre Karwajaski (Barco Ouro Branco), Aderson e Losinha, Clarismundo e Elsa, Juracy e Milburges, Leonardo, José Dedinho, Aldenor, Miranda e  esposa  Maria e seus filhos, Maria Vilas Boas, Terezinha, Eunice, Nilton, Juvêncio e Tonica, Vitor Queiros, Alvino, Bonfim, Pisca, Tabagira, Barbosa, Emenergildo, Enzo, Aristides, Savarú e Kutiri e de muitos outros amigos e amigas que trataremos, a seguir,  na continuidade deste livro, a estes e a outros os quais eu dedicarei o meu trabalho... Boa sorte que Deus os tenha.

 

           O Autor, Wolfgang Dankmar Gunther, chegou a esta cidade, ainda distrito, na Bandeira Piratininga em 1948 e São Felix só tinha treze casas beira rio. e ai ficou em 1953 casou-se em São Felix, foi o primeiro casamento civil registrado no Cartório, foi chefe na Ilha do Bananal na FBC por nove anos deixando centenas de amigos, foi transferido para a policia Federal em Brasília onde cursou na Academia (cursos intensivos) finalmente foi cambiado para Cuiabá, mas não residiu ali sendo colocado a disposição do Fórum de Justiça de Barra do Garças e ali permaneceu por mais nove anos até se aposentar. Passou a residir desde então em Porto Alegre do Norte, não deixando de visitar São Felix e Luciara. e se dedicou a por em papel as suas memorias e finalmente terminou  os 14 livro todos lançados na Internet com a sigla "..eloperdido.gunther-blogspot.com..".. ou  "Gunther - A Historia de São Felix do Araguaia" e de outros municípios, agradece a Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso que lhe concedeu o Titulo de  "Cidadão Mato-grossense" em maio de 2002 e  seguidamente o titulo "Moção de Louvores" em 15 de dezembro de 2005 e a Câmara Municipal de Porto Alegre do Norte lhe concedeu o titulo de "Cidadão Porto Alegrense" em 29 de junho de 2005. mas, a melhor coisa que conseguiu nestes quase 90 anos foi o presente da grata presença e carinho de seus amigos e de seus familiares sob a tutela de um Deus Único - e sempre usando o slogan:

"PORQUE  BUSCAIS A TANTOS QUANDO

HÁ SÓ "UM" A SER ENCONTRADO?.

 

Abraços a todos.
 autor: Wolfgang Dankmar Gunther.
Avenida Piraguassú 1415. Cel 66984071193
Porto Alegre do Norte MT.
CEP 78.655.000.          

                                 A beleza das índias brasileiras.                                                   

                        













                                     FIM

 

 



































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