O Elo Perdido IX em...

...de uma cidade...
São Félix do Araguaia MT.
Obs. Este livro é constantemente
atualizado.
.Introdução:
Dados geográficos e estatísticos.
Distrito: São Félix do Araguaia/séde.
População em 1995: 14.363 habitantes.
Área: 19.521,76 Km²
Distancia da Capital do Estado: 1.143,0 Klms. e via aérea 718.0
Km.
Clima: Equatorial quente/úmido com precipitação de chuvas no período
anual de 1.750mm.
Temperatura: Máxima de 22° a 43° e mínima de 09°.
Localização Mesorregião 128: Nordeste Mato-grossense. Micro região 526;
Norte Araguaia.
Coordenadas: 11° 36” 00' Sul – 51" 12' 00’ Oeste.
Formação Genealógica: Coberturas dobradas do Proterozoico com
granitoides associados. Cobertura não dobrada do Fanerozoico. Bacia quaternária
do Araguaia.
Relevo: Depressão Araguaia, (antigo mar de Araés), e planície Ilha
do Bananal.
Dinâmica estrutural:
São Félix do Araguaia foi Fundado por Severiano de Sousa Neves em 23 de
maio de 1941.
A Lei nº 163 de 25 de outubro de 1948 foi elevado a condição de
Distrito desmembrado do Município de Barra Do Garças, Após 18 anos nesta
contingencia foi finalmente elevado a categoria de Município pela Lei
3.698 de 13 de maio de 1976.
São Felix não herdou tradições culturais antigas sejam religiosas ou
cultuadas.
Município de São Felix
do Araguaia.
Estado de Mato Grosso.
INTRODUÇÃO...
O baixo e médio Araguaia,
mais precisamente o leste mato-grossense, é o principal cenário dos relatos
deste autor onde ”Sine ra et Studio”, no dizer dos grandes
escritores romanos “quando o autor se fazia presente” registrando
dezenas de contextos importantes, paradoxalmente se ressalva o período entre
1926 a 1984 os quais serão fielmente descritos e comentados neste
trabalho monográfico. Em um primeiro momento, para melhor compreensão da
obra aqui apresentada, foi feita uma revisão bibliográfica, a qual relaciona
literatura e história, um assunto bastante questionado pelos estudiosos, uma
vez que pesquisadores não acreditam que exista um elo entre ficção e a realidade,
enquanto outros estudiosos afirmam haver essa relação entre a
escrita histórica e a literária. O pós-modernismo traz justamente essa
proximidade, considerando por meio da literatura, acontecimentos históricos
vistos sob outro prisma - a história vista de baixo – o
daqueles autores não citados nos grandes fatos da história que são contados sob
a visão elitista, mas que ajudam a ligar e compor a história de maneira geral.
Num segundo momento, vem a relação entre os bons pensamentos dos estudiosos com as narrativas do autor, montando uma relação entre teoria e pratica no sentido de que os pesquisadores embasem a atual obra podendo ser considerada literária por apresentar a ligação entre historia e literatura do ponto de vista de um homem comum que vivenciou e testemunhou suas narrativas. Destas assertivas brotaram e floriram histórias de uma emergente vila com seus habituais moradores, deram-lhe o nome de São Félix do Araguaia. Ou...
“Severiano Neves”.
(como também era conhecida)
§
“A ORIGEM”.
Período tratado neste trabalho de 1926 a
1984.
ANOS DE 1926 - Barra do rio Tapirapé com o rio Araguaia.
Era mês de agosto de
1926 quando chegaram á Barra do rio Tapirapé com o Araguaia, na divisa do
Estado de Mato Grosso com o Estado de Goiás, mas precisamente a Ilha do Bananal
(hoje Estado do Tocantins), eram eles os rudes sertanejos desbravadores de
sertões Pio José Pinheiro, sua esposa dona Inês, Sebastião Pereira, Ciriaco e
outros, no inicio se instalaram junto ao morro da Barra, mas a grande enchente
daquele ano fez com que na junção dos rios Tapirapés e Araguaia as águas
corressem por entre os morros e os obrigaram a se mudarem, e, então habitaram a
margem do lago Tapirapé onde se formou um grande mangueiral que mais tarde
ficou sendo a aldeia dos índios Tapirapés. Os índios Karajás que moravam na
Ilha do Bananal, no lado de Goiás, no verão se mudavam para a praia grande da
ponta sul da Ilha. Em 1941 com a criação do Posto Heloisa Torres, no lado do
Estado de Mato Grosso, bem na junção dos rios Araguaia e Tapirapés, ali se
fixaram definitivamente trazidos por Antônio Wanderley Chaves. Os índios mais
conhecidos eram os Tapirapes: Pranchui, Cantariô, Marco, Cantidio, Leônidas,
Jose Cabelo Ruim e Penacho, os índios Karajás mais conhecidos eram Savarú,
Wererremhy e Manoel Tucano.
“A
expedição - 08 de abril de 1934”.
O tema do dia naquela cidade ribeirinha de Barreirinha do Pará era a nova
aventura que se avizinhava necessário se organizarem no sentido de fazerem uma
viagem tanto pelo rio como por terra.
Com destino ao já sonhado local promissor rio acima no Estado de Mato Grosso,
que já tinha o apodo de Mato Verde. E muitos eram os
candidatos que sonhavam com a Terra Prometida criando histórias mirabolantes e
fantasticamente imaginadas e os devaneios iam de encontro a minas de ouros e
pedras preciosas e assim por diante. Já falavam da partida para breve,
primeiramente Lucio que se manifestou aos seus amigos impondo as
condições:
--Vamos atrás do José Xavier para fazer a relação das pessoas e das famílias que vão conosco e das provisões que vamos precisar para a nossa viagem.
--Lucio,
nós estamos no mês de abril e ainda chove muito e isto pode dificultar a nossa
viagem - alertou seu cunhado Severiano Neves que era um dos lideres daqueles
fabulosos pioneiros.
--Severiano
– respondeu Lucio – Eu não carrego saco de sal em minhas costas, não tenho nada
a temer, a chuva pode dificultar, mas o rio cheio nos ajudará a subir pelas
vazantes e pelos baixios.
--Já
mandei derrubar a minha roça e eu plantarei muito milho e arroz, mandioca e
abobora junto com a cana, se chover desse jeito teremos muita fartura. -
interrompeu Severiano.
--Pode
sonhar meu amigo, pois assim vai ser – completou Lucio – eu também já fui lá
varias vezes e deixei o Pedro Madalena me esperando, a mata lá é de primeira e
a minha roça já esta derrubada e por isso que eu quero chegar logo de mudança e
tudo para plantar o futuro de minha família.
--Saiba que eu vou fundar um povoado onde
eu e todos os meus poderemos viver para sempre – alardeou
Severiano.
--Eu
fundarei a minha cidade – completou Lucio estavam decididos. Horas depois a
chuva tinha passado e ambos se dirigiram para a casa do “secretário” Jose Xavier
que era o tipo do rábula sertanejo estudado tinha boa caligrafia e sabia fazer
as contas, especialmente para o lado dele. Lucio sabia deste detalhe e que os
outros mal assinavam os nomes.
--José... Eu quero que
você organize no papel, a nossa viagem eu te dou mais ou menos o rumo das
coisas e você faz a previsão, como você já sabe, eu já estive lá e sei o que
vamos precisar.
--Muito bem, quero os nomes de quem concordou em ir --Eu sei que eu vou e o Severiano também.
--Muito bem
Lucio Pereira Luz e família, Severiano Souza Neves e família, e quem mais?
Pedro Nonato, que voltou de lá mais eu, Joaquim Rosário, Ananias Vasconcellos,
Roxo, Antônio da Silva Mundim, Francisco Gomes,
Barula, Altino Pereira, e você José Xavier.
--O João da Silva o
“Fogaça”, Melquiades, Raimundo Vasconcellos e o Branco são os da frente
--afirmou Severiano.
--Nem
pensar que certos elementos que não gosto vão conosco, ainda vai ficar muita
gente por aqui – vaticinou Lucio.
De fato muita gente em Barreirinha tinha o Lucio como um líder, mas outros o
invejavam e se o odiavam era bem escondido, pois temiam o homem.
Quando por um acidente o Cartório onde foi feito o casamento com dona
Silvina pegou fogo, ele, sem ligar para o ocorrido comentava “não
tendo documento não tem casamento”.
Nos dias seguintes todos se movimentaram, uns calafetavam os batelões,
outros ensebando os arreios, limpando as armas, afiando as facas e facões, e as
mulheres preparando as matulas e ensacando mantimentos. Era uma atividade
febril.
Conta-se que no dia da partida apareceram na cidade, vindos
de barco a motor uns fiscais do Estado e alguns policiais do Pará que ao
saberem da movimentação do gado para outro Estado queriam receber o imposto a
que Lucio se opôs, não concordando:
--Quando eu peço verba para escola vocês não dão, e eu também não vou pagar nada e E aquela autoridade vendo o poder de arregimentação do procurado resolveram a bem da tranquilidade desistir da cobrança e voltaram rio abaixo. Era Lucio quem tinha falado. Prudentemente souberam ouvir.
Finalmente chegou o dia para a partida.
Era 08 de abril de 1934, - 05,30.
Mal o dia clareara já se escutava o gado berrando e os vaqueiros com seus
gritos movimentavam as rezes pondo-as a caminho por uma rota até então
desconhecida. O som dos berrantes ia à frente guiando o pelotão de rezes.
Aliados aos vaqueiros seguiam varias famílias com suas carroças carregando
quase de tudo inclusive tralha da dormida e alimentos para toda a equipe
terrestre. Tropas de burros disciplinados liderados por uma égua madrinha
largaram na frente seguindo o boiadeiro do berrante que estrondeavam os ares se
juntando aos mugidos das rezes que pareciam se despedir, e estrada adentra
foram sumindo nas curvas invioladas e cheias de capim agreste, seria uma viagem
de muitos dias e noites, mas estes e aqueles estavam afeitos a esta lida.
Lá no rio, os viageiros se acomodavam em suas embarcações e cada um
assumia o seu posto de lida. As mulheres balançavam os barcos ao entrarem e
assim foram se agasalhando e deixando o porto, aos poucos foram se enfileirando
rio acima pelas forças de seus remos e impulsos de suas zingas. Estava dada a
partida. Um foguetório dos infernos explodiu por cima daquela pequena vila, lá
se iam seus heróis rumos ao desconhecido e Lucio em pé na proa de seu batelão
Severiano, no batelão ao lado levantaram seus rifles 44 de papo amarelo de 12
tiros e se despedindo disseram um ADEUS bem longo.
Muitos
lhe desejaram boa sorte, outros simplesmente se quedaram calados por não terem
tido coragem de participar desta grande aventura.
Margeando o rio escutava-se o berrante e o clamor
do gado, nos barcos todos tentavam se agasalhar e a ajudar empurrá-los contra a
correnteza rio acima, uns com remos, outros com zingas, e outros com ganchos
com os quais usavam as arvores ribeirinhas para dar impulso e as pequenas
embarcações, tais gazelas. E estas seguiam na frente e foram logo sumindo da
vista dos moradores de Barreirinha. Já estavam a caminho.
--Bem,
agora estamos por nossa conta, Dona Otildes e Dona Dauta e Dona Bené não se
descuidem do menino. (Jose Liton tinha apenas três dias de nascido).
--Pode
deixar Papai nos não nos descuidaremos de nada.
Como o rio ainda tinha muita água
aqueles tipos de embarcações, os batelões e canoas, eram largos e de pouco
calados, próprio para navegarem em águas rasas, assim, tiveram que colocar
travessia no rio, desviando-se das correntezas para pegar os remansos do outro
lado. A viagem começou a render, almoçavam as merendas preparadas durante a
noite quando dormiam amarrados em arvores nos poucos lugares seco que
encontravam acendiam uma grande fogueira e se revezavam na vigília.
Chuva fina e mosquitos os acompanharam
durante os vinte e dois (22) dias e noites que levaram para irem de Barreirinha
ao local pretendido, os ganchos que prendiam os arbustos para puxar os barcos e
as zingas os ajudaram muito para encurtar a viagem. Finalmente em maio de 1934
chegaram os primeiros habitantes ao lugar que então foi batizado como “Mato
Verde” e ali acamparam definitivamente era ainda cedo do dia quando desembarcaram
em um barranco limpo que tinha como fundo uma belíssima Mata Verde. No singelo
e rude porto, um pequeno grupo de índios Carajás que ali habitavam em um torrão
(pedaço de terra alto e enxuto) denominado “Torrão dos Carajás”, que ficava uns
mil metros abaixo junto à barranca do rio. Oito casas e um barracão dos índios
solteiros enfeitavam a pequena aldeia composta por apenas oito (08) famílias
num total de trinta e nove (39) índios que eram comandados pelo cacique mais
conhecido como José Caolho Antuire. No período do verão se mudavam para a praia
da ilha em frente ao porto onde desembarcaram os chegantes quase todos tinham
uma boa noção dos palavreados usados pelos cristãos e o porto estava em festa,
índios e seus novos irmãos se confraternizavam. Já conheciam Lucio de outras
viagens anteriores e tinham uma grande estima por ele, era o começo de um novo
mundo cheio de amor e esperança. Anos depois, na aldeia de São Domingos o
capitão era o carismático índio Manoel Joaquim Andori.
No dia 10 de maio de 1934. Nascia a Vila de Mato Verde.
Durante este período Severiano e seus companheiros fizeram varias entradas, margeando o rio rumo acima, partindo de Mato verde, passaram pelo esgoto do Fontoura seguiram pela Barreira da Cotia, até o Lago de pedra e depois passaram pela lagoa de arroz e finalmente alcançaram o morro de areia e após o contornarem novamente encontraram o rio Araguaia que se abria como a recebê-los abraçando-os e todos sentiram que era ali que estavam plantados os seus futuros, passaram o dia confabulando e finalmente o grupo se decidiu que deveriam se alojar inicialmente na Ilha do Bananal para melhor estudarem o comportamento agressivo dos índios Xavantes e Caiapós que dominavam o lado Mato-grossense e, se preciso fosse voltariam para aquele lugar. Estavam decididos e sabia que Lucio não iria gostar de vê-los partir. Assim cambaram para a Ilha do Bananal, e sendo ai se instalaram na Barreira da Guariroba onde existia um porto para travessia de gado. Mas com o evento do Decreto Lei Federal que transformou a Ilha em duas instancias, note-se: Esta ilha fica localizada bem no centro do grande vale do rio Araguaia, perfazendo uma área 1.957.312 hectares, divididos entre o Parque Nacional do Araguaia com 562.312 hectares e o parque indígena com 1.395,000 hectares, os chegante se viram obrigados a retornar ao lado Mato-grossense, e se instalaram no lugar que já havia anteriormente escolhido e ali criaram suas raízes. E assim nasceu São Felix do Araguaia.
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Dados gravados pelo autor em 1984.
Anos de 1940.
Em agosto de 1940, o presidente Getúlio Vargas visitou a aldeia dos índios Karajá na Ilha do Bananal. Foi o primeiro presidente brasileiro a visitar uma área indígena. Três anos antes ele havia dissolvido o Congresso e abolido todos os partidos políticos proclamando um Estado Novo compromissado com o desenvolvimento e a integração nacional. Concluiu que o Brasil deveria marchar para o Oeste respeitando os valores dos aborígenes e preservando suas culturas, por serem estes a verdadeira raiz do povo brasileiro tornando este pais unificado socialmente e politicamente. Estiveram presentes a esta confraternização os Senhores Severiano de Sousa Neves, Lucio Pereira Luz, amigos e assessores. .
A povoação, objeto deste tema, que teve o nome de São Felix do Araguaia foi fundada em 1941, por Severiano Sousa Neves, que era procedente de Paranaíba no Estado do Piauí, nascido a 07 de outubro de 1898 era filho de Simão Pedro Sousa e Firmina Neves Sousa, era casado com Fabriciana Pereira Luz, irmã de Lucio Pereira Luz, e tiveram uma única filha de nome Iraci, com o falecimento desta em 1937 casou-se com Edilia Arruda que o acompanhou nesta longa jornada da vida sertaneja. -(Severiano faleceu a 03 de julho de 1977 em Goiânia e Edilia faleceu a 10 de abril de 1990 também em Goiana
Severiano de Souza Neves e esposa Edilia Arruda.
Mesmo a revelia, Severiano de Souza Neves e seus parceiros, Zé Martins e Liduina, Lió e Silvinha, Maria Dias, Ateneu Luz e Aracy, Lupercio, Sindô, Tertuliano, Leôncio e a esposa Joana, Firmino da Luz e Florência, Feliciano e Maria Dias, João da Luz e Manoela, Ursulino Vasconcelos e Salomé, Bento de Abreu e Felícia, Lourival e Camú, Sandoval e Silvina da Luz, Marçal e Germana, Raimundo Luizinha, Pedro Coelho e Francisca, deixaram Mato Verde, mas não se fixaram inicialmente no local escolhido por Severiano com receio das represálias dos índios e se instalaram rio acima, primeiramente na barreira do Pequi ou Guariroba na ilha do Bananal depois se mudaram para junto de Santa Izabel do Morro, mas com o advento da criação da Reserva Indígena Carajá e do Parque Nacional tiveram que abandonar a posse e mudaram-se definitivamente para o lado de Mato Grosso onde ainda hoje se encontra instalada a cidade de São Felix do Araguaia. Isto por volta de 23 de maio de 1941.
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Na sequência...
A 20 de novembro de 1942, a povoação foi batizada com o
nome de São Felix por Dom Sebastião Tomas Câmara.
A
primeira atividade econômica do núcleo foi a criação de gado, explorada pelo
seu fundador.
Apresentando a região condições propicias, não só
para a pecuária, como também para lavoura de mandioca, milho e arroz, fluxos de
migrantes foram atraídos dando-se inicio assim a formação do povoado.
Esta ocupação foi bastante dificultada, pois os xavantes que
dominavam a região, principalmente nas proximidades da Serra do Roncador,
aterrorizavam com suas investidas frequentes, não só os colonizadores como até
mesmos os índios Carajás habitantes da ilha do Bananal.
Varias mortes se registraram como a de
João Irineu e um filho, da irmã de Pedro Tapirape e de uma criancinha de colo.
Severiano e seus
amigos Ateneu, Bento, Sindô, João Martins, Jose Martins, Jose lagoa, Amâncio de
Melo e vários outros se viram varias vezes envolvidas em escaramuças tanto dos
índios Xavantes como dos índios Caiapós, mas nada tão sério e sempre tudo
acabava bem.
São Felix desde seus primórdio
manteve uma ligação mais estreita com o Estado de Goiás, Goiânia
especificadamente, do que com Cuiabá. Supõe-se que esta ligação tenha como
origem, além das vias de transportes, a primeira forma de comercio
estabelecida na região. Os gêneros alimentícios de primeira necessidade
eram trazidos pelo Adventista Antônio Pereira Macedo em pequenos barcos movidos
a motor de popa. Sua preferência eram as trocas por artesanatos indígenas. As
mercadorias eram originárias de Goiânia que assim estabelecia um elo entre a
população isolada do núcleo, com a região de Goiânia. Sua chegada sempre
suavizava o total isolamento em que vivia a região e sua população. Na sequência
vinha Antônio de Melo Bosaipo ou Mestre Tonico com seu barco Caterpiler de um motor de centro
de um so pistão de nome Frei Chico. Era um barco grande para varias toneladas,
conhecido pelo som cavo muito acentuado emitido pelo motor que assim flutuava
pelos ares percorrendo rio abaixo/rio acima por muitas léguas. Seu trafego era entre Leopoldina e Belém do
Pará.
A caça e a pesca abundante na região
constituíram-se elementos importantes para sobrevivência dos primeiros
habitantes.
A Escola, como as moradias eram de
taipas cobertas com palhas de babaçu ou piaçava. Atualmente ainda existem
varias casas deste material que é muito adequado ao clima local
A primeira igreja foi construída em frente ao
rio próximo ao local onde hoje é o Hotel Araguaia e era coberta de palhas com
paredes de couros.
A Prelazia foi fundada em 1970, sob a orientação do Bispo Dom Pedro Maria Casaldaliga Plá da ordem dos sacerdotes Claretianos.
A festa popular da localidade era a do
padroeiro São Felix, defensor dos pioneiros contra o ataque dos índios e
comemorada em novembro. Por motivo da época das chuvas iniciarem em Setembro e
se estender até abril, o mês de novembro era propicio as festa popular.
O fato de São Felix não ser considerado
Santo, na totalidade da expressão, pela igreja Católica, levou a Prelazia a
adotar como padroeira da localidade a N.S. da Assunção, festejada a 15 de
agosto.
A localidade não
apresentava tradições locais ou importadas, nem em costumes sociais, e nem
cultos religiosos, nada era antigo ou solido.
Em 1975 foi inaugurada a
primeira Agência Bancária da localidade – Banco Bradesco.
ESTRUTURA POLITICO-ADMINISTRATIVA.
A Lei 163 de 25 de outubro de 1948 criou o Distrito de
São Felix do Araguaia
desmembrado de Barra do Garças e seu primeiro sub prefeito foi Severiano
de Sousa Neves.
Em 13 de maio de 1976, pelo Decreto Estadual nº 3698, teve seu
território desmembrado do município de Barra do Garças, assim nasceu o
Município de São Felix do Araguaia.
O seu primeiro Prefeito foi
Severiano de Sousa Neves.
O Município de São Felix do Araguaia possuía um distrito o da sede, e cinco patrimônios: Pontinopolis, Serra Nova, Santo Antônio, Boa Vista e Chapadinha.
São Felix do Araguaia que pertencia a Comarca de Barra do Garças teve sua
emancipação Jurídica ao se criar a Comarca de São Felix do Araguaia.
Sua Câmara Municipal conta com nove vereadores, e dois Conselhos Educacionais.
ASPECTOS DEMOGRÁFICOS.
Evolução da população
Por ocasião dos
levantamentos realizados com objetivo de obter emancipação de São Felix do
Araguaia, os órgãos oficiais estimaram a população geral, para a área que
compreenderia o novo município em 5.737 habitantes.
Em 1977 a população excedeu a casa dos 10.000 habitantes dos quais 6.000 se localizavam na zona urbana. Estimativa não oficial em virtude dos dados demográficos tendo ou não incluído os distritos.
Como dado populacional, a composição da população do município de São Felix do
Araguaia, por domicilio de origem não é possível caracterizar, tendo em vista
não existirem dados de fonte oficial. No entanto, por analogia com Luciara, o
maior percentual é da própria região Centro Oeste, na qual esta inserida, sendo
que o Estado que dá maior contribuição é Goiás.
CAÇA E PESCA.
. Á caça e a pesca, abundantes na região, não era explorada industrialmente, apenas comerciantes isolados negociam a carne do pirarucum e a pele de jacaré, porem constituem fatores essenciais e relevantes para a subsistência, principalmente a pesca.
No que se refere à atividade industrial não há no município nenhuma indústria que se estaque pela sua expressão econômica, uma vez que as existentes são serrarias, geralmente instaladas em fazendas, que não suprem as necessidades do proprietário. Pequenas maquinas de beneficiar arroz que apenas supriam as necessidades internas e pequenas olarias que não satisfazem as necessidade locais.
COMERCIO.
O Alto preço do óleo Diesel e da gasolina são indicadores que refletem o
elevado custo de vida na região, principalmente nas épocas das chuvas, quando
ocorrem oscilações nos preços dos transportes, devido às péssimas condições de
trafegabilidade nas estradas.
Quanto ao setor de serviços, registra-se a presença de instituições oficiais e particulares, ressaltando-se a Prefeitura, Cartório de Registro Imobiliário, Fórum de Justiça, Defensoria Publica, Cartório do Crime, Cartório Eleitoral, Cartório do 2º Oficio, Delegacia de Policia, Comando da Policia Militar, Emater, INCRA, Correios e Telégrafos, Bancos e Receita Federal.
A unidade do INCRA pertence ao projeto Fundiário do Vale do Araguaia, realiza
demarcações e discriminação de terras devolutas.
No tocante a alimentação e hospedagem, há vários hotéis de regulares condições:
Hotel Araguaia, Hotel Xavante e Pensão Mato Grosso, além de bares e
restaurantes.
Há um
campo de pouso encascalhado que opera com aviões particulares mantendo uma
bomba de abastecimento. Em Santa Izabel do Morro uma pista pavimentada oferece
proteção ao voo através do núcleo da FAB da 6ª Zona Aérea/FAB. Registram-se
semanalmente voos do CAN Correio Aéreo Nacional. O terceiro, o mais utilizado
atualmente é o transporte via fluvial em barcos movidos a motor e outros
ensejando que o primeiro caminhão a entrar em São Felix do Araguaia, foi
trazido em cima de dois barcos ajoujados pela FBC.
Eis a seguir a sua história:...
Rio Manso... Ou “Rio das Mortes.” .
Foi no mês de novembro de
1960...
Rio Manso ou rio das Mortes rio tem sua barra com o rio Araguaia três léguas
acima de São Félix. Já esperávamos as primeiras chuvas do ano o que viria a
facilitar a nossa missão que era trazer um Caminhão GMC 1948 em cima de dois
barcos ajoujados de Xavantina a São Félix do Araguaia, não havia estradas
naquele tempo o rio era a única alternativa, mas para isto teríamos que
enfrentar vários travessões de pedras.
Os escolhidos viajem foram: Dankmar - Leonardo - Clarismundo - Juvêncio e varias mulheres que queriam uma carona até
Xavantina.
No dia aprazado para a viagem levantei cedo e fui para o barco pronto para
partir, Leonardo estava lá de mala pronta e também o Juvêncio um amigo e grande
piloto fluvial.
--Nos
vamos também – afirmamos Leonardo – Eu e o Juvêncio.
--Ótimo e
estas mulheres? O barco não tem toldo se chover vão se molhar.
--Elas
estão sabendo – respondeu Juvêncio olhando para Tônica que era sua esposa.
--Vamos
sair às dez horas tenho que providenciar mais comida - determinou Leonardo –
estas mulheres também vão, elas fazem as suas próprias
despesas.
Às dez horas eu já estava pronto, o Juvêncio não aparecia e as mulheres já
tinham embarcado meia hora depois chegam os dois e demos inicio a viajem.
Naquele dia fomos dormir muito longe dentro do rio das Mortes em uma praia muito bonita. À noite conversando com Juvêncio perguntei o que teria acontecido
Uma triste historia...
“Faz muitos anos, um batelão dos padres, cheio de gente, vinha descendo o rio
que estava muito cheio e correndo, o batelão se desgovernou e batendo em um
tronco virou jogando os passageiros nas águas turbulentas e cheia de piranhas
vermelhas. Vários padres morreram afogados. Duas mulheres e dois homens e um
padre se salvaram subindo em arvores”.
“Uma das mulheres estava gravida” e nos dias de dar a luz e seu marido que
também havia se salvado resolve entrar na água e nadar até encontrar terra seca
e ir à busca de socorro, mas foi infeliz porque as piranhas o devoraram bem a
vista dos outros e sua mulher não suportando a tragédia abortou o menino que
caiu na água e também foi devorado. Outro homem, mais cauteloso, esperou a
noite e entrando bem devagar na água conseguiu sair em busca de ajuda e esta só
chegou três dias depois Os que sobreviveram passaram quatro dias sem comer e
dormindo nos galhos das arvores. Daí a origem do nome “Rio das Mortes” –
finalizou.
--É...
Eu conheci esta mulher – disse uma das viajantes.
--Água não tem cabelo para se agarrar – completou.
--Temos uma longa viajem pela frente – disse Leonardo – eu vou dormir.
--Amanhã
passaremos por uma vila chamada Santo Antônio.))))))))))))))0)))Parei
Fomos
todos dormir.
Capivaras passeavam
pela praia e gritavam ao sentir a nossa presença, peixes pulavam a noite toda,
enfim era o sertão. Só a luz do fogo que denunciava a vida.
Mal clareava o dia já
havíamos partido. Ainda cedo avistamos as casas da vila Santo Antônio, fizemos
uma rápida parada e seguimos viajem rumo ao travessão “Capitariquara”.
No
terceiro dia de viajem de longe escutávamos o ronco das águas no travessão que
era um amontoado de pedras em meio do rio que deixava apenas um canal estreito
e violento entre duas grandes rochas. Eu ia ao piloto do barco e Juvêncio ao
meu lado, Clarismundo cuidava do motor de popa Arquimedes de 12 HP.
--Joga para o remanso e encoste-se àquela pedra, vamos ter que
passar no cabo – afirmou Juvêncio.
As águas agora puxavam ao contrario e o barco tomou um rumo violento contra as
pedras, quase me apavorei, dei uma guinada raspando outras pedras, diminui a
velocidade e fui encostando o mesmo na pedra maior que ficava logo abaixo do
canal, ela é quem tumultuava a águas. O barco sobe a proa na pedra e para. As
mulheres rezavam e pediam por todas as virgens santíssimas.
Leonardo havia
descido e amarrado à corda em uma pedra.
--Ficou
com medo Dankmar? – perguntou Leonardo.
--Pra
falar a verdade fiquei sim, com um pouco de medo.
--Isto
é bom, é sinal de responsabilidade, vamos passar para aquelas pedras mais acima
e puxar, você funciona o motor e sobe.
--As
mulheres que fiquem quietas – asseverei.
Clarismundo funcionou o motor e a estas alturas Leonardo e Juvêncio já puxavam
o comprido cabo ajudando o barco a vencer a corredeira. Quando joguei o barco
no canal a água entrou pela proa, o motor disparou ao ser levantada a popa, mas
logo a mesma se estabilizou e ouvi o estalo, mais parecia um tiro de rifle 44,
o leme se quebrou sobrando só o cabo que estava segurando e rodou rio abaixo,
só restava o leme do motor, com o estrondo as mulheres gritaram apavoradas. As
duas enormes pedras formavam aquele canal violento, mas as forças das águas
concentrada o trazia-o de volta ao leito. O motor foi acelerado ao máximo e
agora agarrado apenas no timão tentava equilibrar e manter o rumo.
Nunca na minha vida ouvi tanto nome de santo:
--Valha-me
Nossa Senhora do Bom Parto.
--Nos
acuda mãe Santíssima.
--Nossa
Santa Luzia da Fumaça nos
proteja.
Entreas
lamurias e o tumulto das águas a força de vontade vencia e o barco subia polegada
por polegada, mas subia.
Não demorou muito começávamos a sair daquele corredor da morte e o travessão
Capitariquara, começava a ser vencido.
De
súbito entramos em um remanso superior que nos impulsionou para um lado, quase
em cima de outra pedra, mas a etapa pior já havia vencido. Finalmente
conseguimos ultrapassar e o motor pode ser reduzido e encostamos o barco em uma
praia junto da ressaca. Mal paramos as mulheres se atiraram para fora do barco
e tremiam não por estarem molhadas, mas de susto.
Leonardo começou a rir dizendo:
--Esta
foi boa tomara que seja a última.
--Ainda
temos o travessão dos macacos, mas ele é bem mais fácil confirmou Clarismundo.
--Para
mim chega – gritou Tônica a mulher de Juvêncio – o resto da viajem eu vou a pé.
– seu marido a repreendeu com um olhar severo.
Finalmente
vencemos o travessão dos macacos e chegávamos ao porto de Xavantina. Foi um
alivio. As mulheres como que por encanto sumiram sem se despedir, depois desta
eu acho que elas não voltariam conosco. Afinal foram quase seis dias de viagem
Leonardo
como velho servidor da Fundação Brasil Central e era tido como um dos
sertanistas mais atuante me apresentou a seus irmãos Orlando e Cláudio.
Tiramos aquele dia de folga e aproveitamos para apreciar o belíssimo GMC 1948
que deveríamos levar para São Félix. A maioria dos moradores daquela região
nunca tinha visto antes um caminhão ou outro veiculo de roda, movido a motor. A
não ser bicicleta. Ia ser um Deus nos acuda.
Cinco
dias depois já havíamos preparado o ajoujo atrelando dois barcos, um distante
do outro aproximadamente em três
metros.
Colocamos
o caminhão em cima. Era uma verdadeira arapuca, mas estava feito. No outro dia
cedo desceríamos o rio rumo a nossa origem, São Felix do Araguaia.
Paranossa sorte o rio tinha enchido bastante e os travessões se alisaram
somente uma ponta de pedra ficou de fora no travessão do Capitariquara,
passamos entre ela, jogamos os dois barcos na corredeira e a ponta de pedra
deslizou pelo meio, foi um susto danado, pois a corredeira era violenta, mas
saímos ilesos e com o caminhão firme em cima. Com quatro dias de
viajem chegávamos a São Felix por volta do meio dia. Foi uma parada, uma
loucura, o povo a beira do rio esperando tirarmos o caminhão, preparamos duas
grandes pranchas e o motorista improvisado que era o Clarismundo funcionou o
motor, que depois de aquecido deu dois balanços com a testar se rodava, e se
arrancou de dentro do barco, quando o pessoal viu o caminhão avançar saíram de
perto e o chofer pensando que as pranchas estavam caindo se arrancou com fogo
no rabo jogando tudo para traz, mas saiu ileso. Finalmente a fera GMC 1948
estava roncando em terra firme e virgem, pois até então era o primeiro veiculo
de pneu e motor a pisar por aquelas bandas.
Foi um dia de festa, muita festa com passeio de caminhão e muita pergunta.
Por via rodoviária São
Felix do Araguaia ligava-se inicialmente a seus principais pontos pelo Pau
de Arara de Alcides Bodoque.
Na foto o primeiro Pau
de Arara do Alcides Bodoque e o autor na qualidade de Oficial de Justiça acompanhava o proprietário a
serviço do Fórum de Barra do Garças quando começou a fazer a linha entre
de Barra do Garças a São Felix do Araguaia, onde existiam exatamente 100
pontes entre pequenos mata-burros e pinguelas de madeira dupla- e travessões.
Mas a pequena empresa foi substituída por outros
dois ônibus que deram inicio a Viação Xavante sendo Proprietários Laurentino e
seu filho Toninho, que após inaugurarem a linha e realizadas varias
viagens com sucesso venderam para os atuais donos da Xavante
estes expandiram as ramificações para todo o território
nacional e se tornaram um exemplo de Empresa Via Xavante e Barrattur atualmente
Verde – Quiças as melhores em todo o território Nacional e isto nos enche de
orgulho.
Via fluvial, ou aquaviária, é plausível entre São Felix e Luciara são, aproximadamente,
72 Klms, e entre São Felix e Leopoldina, hoje Aruanã 720 Klms, ou rio abaixo
até Belém do Pará.
A Serra do Magalhães.
A história desta Serra que desde longe navegando no rio Araguaia abaixo se avista a imponente e solitária elevação que exige pretensiosamente estar ligada a São Felix do Araguaia desde os idos tempos da colonização do leste mato-grossense, mas não foi encontrado nenhum registro oficial pelo autor, todavia os velhos sertanejos imolados nas rusticas lides insistiam nas veracidades dos episódios em que um expedicionário de nome Pimentel Barbosa que pretendia abrir um posto indígena, para a nação xavante, nas margens do rio Mortes em suas penetrações no Estado de Mato Grosso, havia se arranchado, temporariamente, com um grupo limitado de seis homens e mais dois índios Bororos que eram os guias, naquela pequena elevação junto ao rio que a margeava e teve a visita de índios xavantes, que às escondidas os vigiavam entre as moitas, mas a aproximação para um contato direto não evoluía. Mesmo alertado pelo intérprete o explorador entendia que a razão dos índios estarem, supostamente amedrontados, era em virtude do forte armamento dos caraíbas, e ato seguinte determinou a seus comandados que recolhessem todas as armas em caixão que depois foi cadeado. Apenas o cozinheiro ficou de posse de um facão. Os índios assim que os viram desarmados investiram contra eles e os mataram, note-se que relata a historia que o cozinheiro era um homem valente e lutou bravamente conseguindo matar vários índios com o facão, mas foi vencido e os índios lhes cortaram um braço e uma perna para comerem, não que fossem canibais, mas acreditavam que um homem valente igual aquele quem comesse de sua carne se tornaria também um bravo valente lutador. Os corpos foram encontrados amontoados uns sobre os outros com as bordunas ao lado inclusive o de Pimentel que teve muitas fraturas por todo o seu corpo. Os dois índios Bororos não foram vitimados por estarem ausentes.
Eu pessoalmente vi nos arquivos da FBC em Brasília algumas fotografias tiradas
de corpos mutilados por índios, pressupondo que fossem de outras refregas, mas
que confirmavam o mesmo
costume.
Foram-me relatadas e confirmadas uma historia de um fato acontecido
por volta da mesma época que um pesquisador de origem suíça chamado Herbert
Magalhães Affer, a serviço do então SPI. (Serviço de Proteção aos Índios) por
volta de 1938, esteve na vila de Mato Verde, hoje Luciara, e junto com o
sertanejo Cel. Lúcio Pereira Luz, fez uma penetração às margens do rio
Xavantinho para manter contatos com os índios Xavantes. Não sendo bem sucedido
na primeira viagem ficou de retornar em 1939, mas só chegou em 1941 e após
muita insistência o Coronel Lúcio e mais uns companheiros resolveram
acompanhá-lo nesta expedição. Assim fizeram. Acamparam em um limpo as margens
do rio das Mortes tendo como paisagem ao fundo uma linda serra. Certo dia ficou
no acampamento o suíço, o cozinheiro Sulino e Raimundo, Lúcio saiu para pescar
tartarugas a certa distancia do acampamento, mas a sua vista. Foi quando
inesperadamente os índios, que já os haviam cercado, escondidos atrás de doze
touceiras de galhos e palhas e que esperavam a saída de Lúcio, atacaram o
acampamento pegando o pesquisador de surpresa dormindo dentro da rede e coberto
por um mosquiteiro, os golpes de lança e borduna o mataram tendo uma das lanças
entrada boca adentra levando junto o pano do mosquiteiro, o cozinheiro Sulino
ao ver o que acontecia correu rumo ao rio gritando pelo Lúcio enquanto Raimundo
encostado em uma arvore recebe uma pancada no ombro e corre também rumo ao Lago
do rio onde estava o Coronel, este quando deparou com a tragédia deu vários
tiros por cima dos índios que debandaram largando a vitima e as armas do crime,
por força de sua cultura entendem que as armas é quem eram as criminosas.
Naquela época houve sérios comentários que o Coronel era quem engendrara morte
do pesquisador, mas com a vinda dos peritos do Rio de Janeiro, desenterraram o
corpo e este estava incrivelmente mumificado, talvez por ter sido enterrado em
terra argilosa, ficou tudo apurado que teriam sido realmente os índios que o
matou. Os restos mortais foram recambiados para São Paulo. Aquela serra tão
pacata por duas vezes se manchou de sangue humano, muitos homens e índios
morreram e hoje se chama simplesmente “Serra do Magalhães”.
§
A Serra do Caracol.
A serra do Caracol distava
de São Félix do Araguaia em 14 quilômetros rumo oeste, era a fazenda de João
Irineu, uma serra encaracolada e a abundância destes moluscos deram origem ao
seu nome, foi também palco de uma
grande tragédia como veremos adiante.
O Limpo Grande.
Limpo grande é uma
grande campina que fica ao oeste de São Felix do Araguaia e se estende até as
margens do rio Xavantinho, durante o verão o capim brota verde e se torna uma
área preferida pelo gado e por animais, e ali se encontrava uma “tropa” de
Severiano Neves, eram cerca de dez éguas, quatro crias, dois cavalos e um burro
dezessete animais ao todo.
Severiano
me pediu que eu fosse até o limpo grande e trouxesse a tropa dele para mudar de
pasto, pois tinha noticias que os índios Xavantes e os Beiços e Pau,
isoladamente e as escondidas, andavam pela região e poderiam flechar seus
animais como vinham fazendo com outros, não sem ante me alertar do perigo.
--Os animais estão por perto se você for buscá-los saia ao amanhecer do dia e
estará de volta cedo da tarde, mas cuidado se ver rastros dos índios ou fogo
nos varjões, volte mesmo sem os animais.
--Fique
tranqüilo, eu já conheço bem a região, e não vou me arriscar.
Quando o dia
amanheceu eu já estava a caminho o meu cavalo tinha o
nome de “pensamento” por que era muito ligeiro e arisco e na cinta o meu
revolver calibre 38 de seis tiros marca “TA Smith Wesson” de mira especial, o
único defeito dele era ser cromado e brilhava muito, eu sempre gostei de armas
escuras ou pretas. Horas depois eu estava já chegando a meu destino e pude ver
ao longe uma leve fumaça de queimada e isto alertou meus sentidos, resolvi me
apressar, pois os índios não estavam tão longe assim. Galopando sai a procurar
a tropa e a avistei bem longe no limpo do varjão e no rumo da fumaça. Quando me
aproximei, depois de rodeá-los, fiquei sem destino a tomar, pois a fumaça
crescia em circulo e nos estávamos no meio do fogaréu. Eu sabia que não podia
sair pelo funil, isto é, os índios botam fogo em circulo deixando um funil de
escape, assim todas as caças pressionadas pelo fogo tendem a querer escapar
pelo funil que é a única saída sem fogo, mas é lá que os índios estão de tocaia
aguardando para flechar os fugitivos ou sobreviventes, eles usam arcos grandes
e flechas compridas próprias para uso em área limpas e cerrados, pois são
obrigados a disparar em longas distâncias e não seria por ali que eu iria
passar, tomei a resolução de enfrentar o circulo de fogo, tentaria achar um
local onde o capim fosse mais baixo e o fogo menor. Assim fustiguei a tropa
rumo ao retorno para casa e as incentivei a galoparem, eu teria que aproveitar
esta corrida enquanto os poldros ainda não estivessem cansados. Logo chegamos à
orla de fogo, por sorte achamos uma passagem onde as chamas eram mais baixas, mas
os animais cavalares têm mais medo de fogo do que o gado eu gritava e os
imprensava contra o muro ardente, nesta agonia o meu cavalo de um pequeno salto
e passou para o outro lado, e correu com se as estivesse abandonando e deu
certo, pois animais o imitando também vazaram a cortina de fogo e passaram para
o outro lado, mas uma das éguas, segura pelo medo do seu potrinho não quis
passar e eu tive que enfiar o cavalo de volta e quase empurrar a égua para cima
das chamas que começavam a crescer por acharem pasto mais alto por sorte nesta
empurra daqui e dali o filhote criou coragem e atravessou mesmo devagar, mas
não se queimou muito apenas chamuscou o cabelo da barriga e a mãe sem duvida
alguma deu um salto e se postou lá fora agora só restava eu, mas não tive
dificuldade o "pensamento" deu um salto que quase me tirou da sela e
partimos a galope rumo a nossa casa. Os animais melhor dos que os homens,
conhecem melhor o caminho de volta. Demorei a chegar por que os potrinhos
vinham cansados, e eu também, coloquei os animais num pasto fechado e fui a pé
dar contas da minha odisseia. Nunca mais me esqueci deste episódio, afinal era
um sertão bravio.
A energia elétrica é
fornecida através de três grupos geradores Diesel com 180 kVAs. cada um.
E o horário se estendia das 09,00 ás 14.00 e das 18.00 ás 01.00 e
era fornecido pela CEMAT.
EDUCAÇÃO E CULTURA.
Ensino de 1º Grau.
O ensino de primeiro grau
em São Felix do Araguaia, em 1977, beneficiou 2.127 alunos
distribuídos em 26 salas de aula das 08 unidades escolares mantidas
pela administração Estadual e Municipal, que ocuparama78 elementos envolvidos
em atividades docentes e Técnica – administrativa.
Ensino do 2º Grau.
Embora não se tenha dados
oficializados o 2º Grau é uma realidade imposta pela atual administração
Municipal que em muito interferiu junto a Secretaria de Educação. Projeta-se
uma Escola para 1985.
Rememorando fragmentos dos
bons tempos escolares fazemos as anotações seguintes: Nas décadas de 1950 a
1960 houve um grande avanço no sistema educacional. Escolas foram construídas,
inclusive o Ginásio Estadual Araguaia. E muitas professoras e professores
participaram deste avanço educacional, a saber: Tharcília da Rocha Braga – a
esposa de Juvêncio Dona Tonica – Antônio Wanderley Chaves – Erotildes da Silva
Milhomem – Luiza Abreu Luz – Elza Mendes de Freitas – Cidinha Milhomem – Saulo
de Moraes – Jurandir Silva Sarmento – Alzira da Luz Setúbal. Registrando que em
1975 deve-se o evento da Lei 2.420 que criou a Escola Estadual de
Primeiro Grau Governador José Frageli.
Temporal se aproxima de São Felix do Araguaia. |
*
NAVEGANDO NO TEMPO.
Sete anos depois...
Anos
de 1948.
Dia 23 de junho de 1948 - 16.00 horas.
Os dois barcos que traziam a Bandeira Piratininga, vindas da Capital de São
Paulo, sob o comando do jornalista e Bandeirante Willy Aurelli manobravam para
acostar nas rudes entradas do improvisado porto, em cima, na rua desalinhada
viam-se as trezes casas que margeavam o rio Araguaia no lado de Mato Grosso
eram de construção rude a exceção da casa de Severiano que era de adobe e
coberta da telha e ficava bem em uma esquina que era a saída e a entrada da
vila para o sertão. Na proa eu e Willy esperávamos melhor aproximação com
a terra firme para lançarmos as cordas para amarrarem o barco quando num
sussurro profundo e triste Willy comentou:
--Faz
quatro anos que estive aqui!
--Boas
ou más recordações - perguntei.
--Meu
irmão Aurélio esta enterrado aqui.
--Sim, eu sei.
Chegamos
a São Felix do Araguaia. MT.
Uma verdadeira multidão já nos aguardava no porto, alias,
eram muitos os lugares para encostar barcos, foguetes estralavam por todos os
lados e tiros eram disparados às dezenas, de todos os tipos de arma, fora uma
recepção e tanto.
Nosso
barco bem manobrado aportou bem perto de outro
barco da região notei que o nome era muito interessante “Frei Chico” era um
barco grande porem com um só motor de centro que era uma maquina estupendo e de
um só cilindro, era um “Bolinder” a que chamavam de cabeça quente, pois para
ele funcionar era preciso aquecê-la a maçarico, a seguir um enorme tubo
de ar comprimido dava inicio a movimentação era impossível acionar a sua
partida a mão, só o volante devia pesar quase mil quilos, também para
movimentá-lo tanto fazia por óleo Diesel, óleo de jacaré ou óleo de peixe era a
mesma coisa, sei disto porque inicialmente o observei por dois dias, mas quando
o Tônico Bosaipo seu proprietário o funcionava, a cidade toda parecia tremer
tal um terremoto... Tuuuummm. Compassivamente, mas continuamente, fiquei
apaixonado pelo barco eu teria que fazer uma viagem nele e para isto eu fui me
entrosando com o Comandante Tônico.
Willy
fora levado para a casa de Severiano Neves o piauiense que fundou aquela vila
que veio a se chamar São Felix do Araguaia, pois tinham muito que conversar,
afora os problemas existia o lapso de tempo de ausência, mas uma pequena
multidão os acompanhou. Realmente o Chefe era muito querido por aqueles
sertanejos e uma vez instalados, tomaram um cafezinho que a esposa de Severiano
a Dona Edilia havia feito e iniciou-se uma longa conversação e eu sempre
entrosado estava ali presente pude testemunhar o desenrolar dos históricos
depoimentos notei o semblante abatido e senti que Willy internamente remoía
lembrando a distancia de quatro anos que volvia sobre o mesmo roteiro e pisava
novamente a terra que tantas lagrimas soubera. Logo adiante o tumulo de
seu irmão e os farrapos de recordações dolorosas.
Acolhida amiga. Depoimentos dos sertanejos.
**Recordações afluindo, Azafama alegre dos
primeiros momentos de desembarque. Lugar apropriado para instalação de um bom
acampamento. Sombra e água fresca (porto da manga).
Foi logo depois que viemos ter conhecimento
das graves novidades. Os Xavantes estavam depredando tudo, vindo das brenhas,
aterrorizando os moradores, muitos dos quais já tinham debandado à margem
oposta do rio, pondo a largura da imensa via fluvial de permeio aos índios
agressores. Os remanescentes viviam dentro da incomensurável angustia da eterna
ameaça. Os retirantes da localidade de Caracol, lá estavam seminus por terem
perdido tudo quanto possuíam, olhos ansiosos e interrogadores rolando as
órbitas escancaradas.
Com essa delicadeza comovedora própria dos
sertanejos, nada me foi dito logo ao desembarcar. Todos se desdobraram em
gentilezas e auxílios. Foi ao tomar o café na residência de Severiano que a
coisa me foi narrada e sem rebuços me foi dito ser eu, naquele momento, o
salvador enviado por Deus, graças às preces que diariamente eram feitas!
Aos poucos, vindos de muitas direções,
caboclos rijos foram penetrando na vasta dependência, acocorando-se ao longo
das paredes. Rostos endurecidos pelas intempéries, sulcados pelos ventos e pela
chuva, feições esculpidas toscamente, mascarando corações generosos e almas
nobilíssimas, Mãos nodosas como cepos, rodando pelas abas largas, os
vastos chapéus de carnaúba ou de feltro desbotado. Pés descalços, artelhos
esparramados, trazendo ao calcanhar a espora enorme, tilintante.
Facões nas cinturas estreitas, às vezes acionados para o esfarelamento de fumo
em corda. Em breve lá estavam Zé Lagoa, espécie de patriarca da vila Lagoa, que
lhe herdara o cognome; João Irineu, Piaçaba, João Vermelho, Pedro
Brito, Zé da Rocha, João da Luz, Anicetro Oliveira, Juvenal,
Raimundo, Zé Ferreira, Anselmo Alves, Homens de peso na comunidade. Pequena
multidão ficara do lado de fora, espremendo as cabeças pela angusta janelinha
ou metendo os corpos juntinhos e estivados em pé, na soleira da porta.
--O primeiro surto de Xavante deu-se vai para
um ano – começou Severiano – Apareceram de súbito e depredaram as roças. Nada
aconteceu com o pessoal a não ser um grande susto. A maioria deles estava por
estas bandas e foram poucos que viram a bugrada. Solicitamos imediatamente auxilio
do Posto de Aproximação do rio das Mortes, mandando um “próprio” para narrar o
sucedido Mas de lá nada veio a não ser uma vaga promessa. Ficamos esperando
pelos resultados. Mas nada mais houve tornamos a colocar o animo em paz. Eis
que faz justamente uma semana, os índios, e desta vez em numero enorme,
tornaram surgir, assaltando e carregando tudo! João Irineu aqui esta e poderá
narrar os pormenores do que lhe coube.
João Irineu, caboclo de força descomunal, todo
eriçado de pelos negros, valente como ele só, mas de uma bondade
infinita, cospe no chão, enfia o todo de cigarro atrás da orelha e narra:
--Foi de manhãzinha, sol ainda piscano de
sono... Abri a porta e dei de cara com uns oitenta Xavantes, metidos pra
lá da cerca. Ao meu aparecer gritaram qualquer coisa. Levei um sustão dos
grandes... Gritei prus fiios que acudiram e pra muié que tava fervendo a
água prô café. “Xavante minha xente! Cuidado com eles. Nisso a bugrada pulou a
cerca e veio prú meu lado, agitando flechas em sinal de amizade. Cercaram-me.
Empurraram um arco e uma porção de flechas em minha mão e foram entrando
de roldão, casa adentro. Foi um rôr de pestes! Começaram catando tudo: facões,
machados, ferramentas, bilhas de água, panelas, redes,
roupas! Gritavam possessos. Segurei minha carabina. Tava que nem xabia o
qui fazé. Empurrei minha muié pru quarto e tranquei a porta. Já um índio
safado tinha suspendido a saia dela....Tou aqui...tou morto! Pensei! Os meninos
estavam oiando sem nada dizé Os índios deram com as sementes de arroz e foram
tirando tudo. Depois tentaram entrar no quarto. Ai eu falei “entra não seu cara
de mamão que aqui tu não tira nada! Tú vai tira é bala disto aqui. E bati a mão
no cano da bicha. Um deles meteu na boca da arma um graveto e sorriu prô meu lado
cumu prá dize: “atira não cristão! Nóis num qué brigá”.
--Não demonstraram atitude agressiva?
--Sinhô não! Tavam alegre inté essa peste dos
quinto! Quando foram simbora mi deixaram só com a camisa do corpo. Foi intô que
larguei a roça e vim com muié e fiios prá esta banda. Lá tão os meus
porcos, minhas galinhas, meu gado, tudo largado sem água...
--Que susto heim?
--Fartão de susto sinhô sim... Mas eu achei
que o xavante tá feito qui nem criança. Tira da xente
aquilo que ele pensa que a xente fais com facilidade assim cumu ele fais a
flecha e arco... Pois que deu em troca de um mundão de porcaria.
Há quem solte alguma risada. João Irineu
retira da orelha o tôco apagado e acende-o com a binga. Entra na conversa Zé
Lagoa, piscando seu único olho bom. Tipo escarrado de velho sertanejo. Linda
cabeça para um pintor impressionista que desejasse fixar na tela fisionomia tão
insólita.
--Tava eu mais minha xente no rancho lá da
roça quando chegaram os pelados. Um mundão de índio! A muierada
inté assusto, dispois ficou assanhada qui nem égua no cio...Tavam os
bugres tudo de côco a mostra. Oiei prus côco do capitão e vi que
tavam longo,, .Pensei “u home tá cum medo! Tá de côco corrido!”. E tava
mesmo puis qui tava cum os ôio aqui e acolá, virando a cabeça prús lado. A
muierada começou a rir baixinho e falar nas oreia delas. Eu tava cum meu ôio
são nos côco do índio... Quando vi que ficava pequeno intô dixe cumigo: O cabra
safado perdeu o medo. Te aguenta Zé Lagoa!”.
--E aguentou?
--Senão! Fiquei picando fumo maginando coisa,.
Os índios furo oiando pás muié. Falava: “pfi-on” “pfi-on” Que qué dize Muié...
muié... Um deles quix agarrá a potranquinha la da casa e intô eu falei:
“óia qui seu macaco! Te fais de bexta que te arrebento a fachada da cara!”
o índio parece que compreendeu e largou de banca o gostosão.. Ai eu
deixei que tirassem tudo. Levaram foices, levaram pás, levaram machados,
levaram tudo Deixaram a xente cum vida, que é bastante i
agora tamo sem ferramenta sem podê trabaia, cum as roças pur lá, prás banda dos
bugres.
--Vamos da um jeito seu Zé Lagoa...
--Xeito? Pois sim... O único xeito é arrebenta
cum ele todos! Aqui tá a Romana do Raimundão. Que fale a muié e mecê me
dirá si tou ou não cum razão!
Dona Romana (valha o nome) é uma senhora já
entrada no meio do século. Grosso bócio afeia-a ainda mais. Só tem dois dentes,
enormes, pedidos na imensidão das gengivas escuras. É um pouco dura de
ouvidos e fala como se tivesse um acesso de asma. Traz os cabelos revoltosos
represados num lenço sujo e brilhá-lhes o olhar intensamente.
--Tava mexendo no panelão preparando a cumida
pro Raimundo, quando senti uma pancadinha nas costas...Uai...pensei
comigo - O Raimundo num é dado a carícia...Oiei e quaxi cai de xusto! Lá
tava um brutão de índio cum o cabelo vermeio de fogo, oiando pra eu! Logo
adispois foram entrando mais bugre, oiando e falando. Logo começaram carregando
tudo. Eu tava zonza e gritei pelo Raimundo ”me acuda marido que bugrada tá me
matando!”.
--Tava não sinhá Romana- intervém um dos ouvintes.
--Quaxe! Tava lá tava no papo de xavante!
--Xavante num qué muié veia...
--Gracidinho... Deixa cunta aqui ao capitão ou
num deixa?
--Deixamos.
--Pois... Adispois de carrega tudo, o tar de
índio de cabelo de fogo agarra meu panelão “Não sinhô” fui logo gritando “Deixa
meu panelão seu bandido”. Garrei na alça e puxei do meu lado. Ele agarrou e
puxou. Intô meti os dentes na mão do bruto.
--Cade dente siá Romana – interrompe outro.
--Dente? Cá tão os dois, que valem pur trinta!
Ferrei o dente n mão do pelado. Ele me deu um safanão e arrancou o panelão.
Levantei e vuei em riba dele! “Larga a panela seu marvado! Peste do inferno,
larga meu panelão qui num tenho outro! Cumu vou fazé comida pru Raimundo?
Larga? Mas o home num largou e vieram outros e mais outros e levaram o panelão!
Dispois me mostraram a estrada e falaram “motô”... motô”.
vaisimbora...vaisimbora! e eu fuisimbora
--Mercê perdeu o panelão, mas sarvou as
virtudes “siá’ Romana!
Uma gargalhada explode. A mulher arfa de
indignação. Olha para os presentes e cospe com raiva.
--Ocêis sum pió que xavante!
Cessa i riso e a Romana aproveita para
embarafustar rumo à cozinha onde mulheres apinham-se junto ao fogão. Agora é o
Aniceto quem fala:
--To aleijado da mão esquerda, cumu vosmicê tá
veno... Tou cum oito fiio e a muié pejada. Axim mesmo tava trabaiando na roça
que é linda. Vieram os xavantes. Me carregaram tudo de marvadez. Inté a roupa
do corpo de nois tudo. Ficamo pelado cumo quando nascemo! Ficamos tudo com a
vergonha de fora! Dispois carregaram com o fiio mais veio e eu falei
comigo: ”Lá vai o meu filho! Minha Nossa Senhora me acuda!”. Metemo o pé
na estrada e aqui o Severiano arranjou roupa pra nois.
--E o filho?
--Vortou graças a Deus. Lá tá ele e pode fala!
Olho em direção a um rapagão espigado e forte.
Sorri e desnuda linda dentadura.
--Passou um mau bocado então?
--Ora
sí passei. Os xavantes me levaram prás bandas de lá, maginei que tava
frito!Andei muito e dispois me fizeram sentá. Um deles arrancou as
pestanas e a sobrancelha. Doe muito, mas aguentei firme! Num vo sorta nem um
pio, falei comigo! Os xavantes gostaram. Falaram muito e dispois me
mostraram o caminho de vorta e disseram: “motô... motô” e eu...meti o moto na
estrada.
Lá, então, esses homens que vivem a vida
minuto a minuto, na luta eterna contra todos os elementos adversos, abanando as
mãos em férias, pela perda das ferramentas. Com as quais fecundavam a terra que
lhes davam o sustento.
--I agora mercê é capais de dizé o que vamos
fazé sem os ferros?
--Assim de momento nada posso dizer.
Pretendo porem, apelar as altas autoridades. De mais a mais enviarei despachos
ao Serviço de Proteção aos Índios para que sejam tomadas as necessárias
providencias.
--Confiamos no senhor – disse-me Severiano.
Com isso atirou a pesada carga de uma incumbência
jamais sonhada, sobre as minhas costas.
(AURELI/GUNTHER-1948)
****
Saímos juntos daquela parafernália de problemas, e agora o que fazer? Eu, então, ia monologando quando Willy se voltando me disse:
--Leve
os barcos para acamparem no Porto da Manga e peça ao Darcy para vir até mim.
Já estávamos na cidade há quatro
dias e o comandante Willy já havia nos apresentado a quase todos os moradores,
passei a conhecê-los, na primeira casa o Zé Martins, depois seu irmão Leócadio,
Lupercio, Maria Dias, Severiano Souza Neves que era o chefe fundador da vila,
seu genro Ateneu, Sindô, Bento de Abreu Luz, Tertuliano, Piaçaba, João
Vermelho, João da Luz, Anicetro Oliveira, Juvenal, Pedro Brito, Raimundo, Zé
Rocha, Zé Ferreira, Anselmo Alves e muitos outros eram mais ou menos treze
casas a beira rio e umas seis casas na beira da lagoa. Onde residiam o Zé
Lagoa, José Martins, Amâncio de Melo e outros.
Resolveu o comandante nos dar uma folga, por equipe de 10 dias cada, e
aproveitei para ser o primeiro e me engajar na aventura daquele barco que mais
parecia uma arca de Noé. O Chefe autorizou desde que no dia marcado eu me
apresentasse, ou seja, 02 de julho.
*
Tonico Bosaipo... E seu barco “Frei Chico”.
A
Arca do comandante.
Ela
carregava de tudo, passageiros, bode, cabra, porco, galinha, gente doente,
mercadorias comestíveis, peles de jacarés, pele de onça, sal, açúcar, café em
coco, tábuas de mogno, só dava confusão até funcionar o motor depois todos os
bichos se calavam com medo e ficava quietinho cada um em seu lugar, o Tônico,
lá da proa, tal qual um comandante, e era assim que ele era chamado:
“Comandante Tônico Bosaipo”, sim senhor, e aí de quem não o respeitasse, ele
era a imagem viva dos grandes lideres, depois de ter hasteado a bandeira
brasileira bem no mastro final da popa, ordenava a um ou dois porcos d’água
(marinheiros) para recolher a prancha e empurrar a proa do barco para fora, o
Bolinder, de marcha à ré e depois ao comando a frente levantou um belíssimo
bigode de água na proa, riscando rio abaixo, rumo a Marabá, sua rota original
era até Belém, lá se fomos debaixo de uma foguetada danada, era foguete para
chegar e era foguete para sair. Era assim em todo lugar que aquele homem
chegava com seu barco, me disseram que faziam mais festa para ele por onde
andava do que para Barata (Governador do Pará) Tinha um maravilhoso poder de
arregimentação. Dizia o povo ribeirinho que o Araguaia foi colonizado pelo
mestre Tonico e seu barco que já era uma lenda.
A previsão da viajem era de um mês e eu não poderia ir com ele até o fim, voltaria em outro barco, apenas uns oito dias de passeio. Impossível esquecer uma viagem assim.
Eu começava a ver um novo mundo, cheio de esperança não cabia em mim tanta
alegria e uma paz agradabilíssima tomou conta de meu coração me fazendo
entorpecer ante aquela maravilhosa paisagem. Levantei a cabeça e olhando para
traz, lá da proa do barco eu via São Felix se afastando rapidamente, quando a
campainha foi acionada pelo piloto Juvêncio soando três vezes foi a toda força
a frente e um apito surdo e longo repetido avisava que já estávamos de viajem.
O mestre Tônico veio para a proa e sentou-se ao meu lado e começou:
--Afinal de onde você veio? Parece que entende de tudo um pouco, já sabe quase
tudo a respeito do motor.
--Eu sou do Estado de São Paulo, São José do Rio Pardo e fui criado pelos meus
avôs que eram alemães trabalhando dentro de uma oficina.
--Isto
explica tudo, o que pretende fazer por aqui?
--Viver
e aprender de tudo que puder.
--Então
comece aprendendo a pilotar, vá lá para a popa ajudar o Juvêncio.
Era
por volta das cinco horas da tarde e umas nuvens negras e carregadas
vinda do norte pareciam subir pelo rio acima, Juvêncio estava preocupado e eu
também.
--Comandante
é bom aportarmos naquela praia alta em frente à barreira da Cotia o tempo esta
fechando e o vento vem muito forte.
--Atenção... Preparar para aportar.
O barco virou o rumo para a praia alta e logo aportavam, os marujos pularam em
terra de corda e zingas nas mãos para amarrarem o barco, desceram a prancha e
os passageiros que eram ao todo doze com os dois doentes, vieram para a praia,
os doentes ficaram dentro do barco em suas redes.
--Amarrem
bem e não acendam fogo, apagar motor.
--Motor apagado e cilindro fechado – gritou o ajudante de maquinista.
--Vamos aguardar o que vai acontecer.
E aconteceu mesmo, o vento virava para o sul, depois para oeste, relâmpago
iluminavam tudo em meia hora o céu estava escuro e fechado e um enorme temporal
com muito vento veio para cima de nós.
--Todos segurando o barco – gritou Tônico.
O
grande barco balançava igual uma canoa de papel na fúria do vento, de repente
um enorme estalo tal um tiro de carabina, umas das zingas que seguravam o barco
na proa se partiu em duas e o barco abriu a proa forçando a popa a arrancar a
outra zinga.
--Vamos,pulem
para dentro do barco, temos que funcionar o motor - gritava Tônico em meio aos
estampidos dos relâmpagos. Os raios que caiam mostravam como estávamos nos
afastando rapidamente da praia rumo à barreira se fosse de encontro a ela
estaríamos perdidos, mas ainda estávamos longe, e, eu e o Tonico dentro do
barco, no piloto Juvêncio tentava controlar, na casa de maquinas.
--Não
dá para acender o maçarico para esquentar a cabeça, o vento não deixa, vamos
tentar dar partida a frio, você Dankmar pegue sua camisa molhe ali na gasolina
e de um cheiro na entrada de ar, vai dar certo o motor ainda esta quente você
Juvêncio fica no piloto.
--Em meio minuto eu estou pronto – gritei - Pronto, pode experimentar.
--Lá
vai – o mestre soltou a alavanca do ar comprimido, descomprimiu e abriu o
pistão e quando o motor embalou soltou de uma vez foi uma pancada lá no fundo
como quem não queria nada, mas prosseguiu se movimentando.
--Tire
o cheiro.
--Pronto – gritei quando vi o tão perto que estávamos da barreira, e eu todo
molhado da água que as ondas jogavam dentro do barco, mas o velho motor deu uma
segunda batida, uma terceira e firmou a aceleração foi quando a campainha deu
três batidas pedindo toda força e o mestre Tônico levou o acelerador ao fim bem
devagar o barco parecia ter criado vida foi quando ouvimos as vozes dos dois
doentes: Graças a Deus, Graças a Deus --foi ai que me lembrei deles, mas agora
com a força do motor o barco enfrentava as ondas de frente cortando-as ao meio
e já rumava de volta para a praia e todo orgulhoso enfiou a cara na areia até
encalhar, estávamos salvos, mas eu estava tremendo, e não era só de frio.
--Muito
bem alemão, assim é que se faz - comentou o Comandante Bosaipo me dando uma
tapa nas costas que parece doer até hoje, mas eu gostei e me senti orgulhoso,
muito orgulhoso mesmo.
Acendemos uma bela fogueira, com lenha molhada, deu trabalho, mas pegou e os
velhinhos doentes se esquentaram e trocaram de roupas, enxugaram as redes e só
de madrugada estavam dormindo calmamente, partimos assim que o dia amanheceu e
logo passamos pela Aldeia do Fontoura, depois em Mato Verde que era ainda uma
pequena vila fizemos também uma pequena parada e seguimos para a Barra do
Tapirapé, Fomos pernoitar em Santa Terezinha, o porto não era muito agradável,
mas fomos bem atendidos pelo Napoleão e pela sua mulher Verônica. Soubemos que
o Padre Pedro estava lá no casarão no morro de areia.
Combinei passar uns dias em Furo de Pedra uma pequena vila mais abaixo um
pouco, eram umas poucas casas, mas era também parada obrigatória dos barcos,
para mim estava bom. O barco Frei Chico seguiu sua viajem e eu fiquei.
Quando
ouvi partir e escutei seu apito meu coração encheu-se de tristeza. Foi uma visão
inesquecível, até parecia que o rio Araguaia estava com ciúmes daquele barco e
o protegia mesmo a distancia, e que queria guardá-lo só para ele.
*
Os índios Xavantes e a...
A
Bandeira Piratininga em ação.
Após as incansáveis anotações
eu estava pensando em voltar para São Félix, meu prazo de dez dias estava se
esgotando. Segui viagem com o adventista Antônio Pereira e no nono dia eu
chegava à cidade de Severiano Neves, fui correndo me apresentar ao Comandante
Willy.
Nestes dias que estive viajando pouca coisa
mudou, o pessoal da Bandeira estavam instalados uns mil metros rio acima no
“porto da manga”, tinham descarregado os dois barcos e armados varias barracas
inclusive a estação de rádio já estava funcionando, o nosso operador Clóvis já
estava bem “alto” eu encontrei varias garrafas secas jogadas no mato e era da
famosa aguardente “Chora Rita”. Clóvis tentava colocar a estação em contato com
São Paulo, mas era uma chiadeira absurda, e logo começou a sair uma fumaça do
transmissor e ele
desligou.
Pusemos o nome de “Radio Fumaça”. Mas ele conseguiu mais tarde se comunicar com
alguém. Não sei com quem, pois era quase sempre no código Morse, raramente
conseguia falar. Willy só apareceu no acampamento depois do almoço. Finalmente
me qualificaram como armeiro de um monte de fuzis velhos e descalibrados doados
pela policia militar de São Paulo, cada tiro que se dava numa coisa se acertava
em outra e às vezes muito perto do pé, mas estava bom assim mesmo, não
estávamos ali para matar ninguém, era só não mexer nas armas. Willy veio
acompanhado de um índio Carajás que se chamava Rorrori e trazia um tamanduá
mirim amarrado em uma corrente e o bichinho manso vinha andado atrás (puxado).
--Escutem
todos, este tamanduá vai ser a mascote de nossa Bandeira e o Clóvis como não
tem quase nada para fazer vai ficar sendo o responsável por ele.
--Eu? Mas chefe eu não sei cuidar destas coisas.
--Agora vai aprender, e entregou a corrente com o meleta e tudo
mais.
Clóvis sem saber o que fazer saiu arrastando o tamanduá.
Mas
o bichinho não queria ir para onde o outro queria levá-lo e foi só risada
dentro do acampamento. Finalmente o amigo o amarrou em uma raiz junto de sua
barraca, eu pensei (pelo menos pinga ele vai aprender a beber e do jeito que
tamanduá gosta vai virar um pau d’água).
Vários
dias se passaram sem que nada de anormal acontecesse, a não serem os anormais
dos meus companheiros que trocavam tudo por uma garrafa da pura cachaça, fosse
Chora Rita, Tatuzinho, Ipioca, Praianinha, Chora na rampa, qualquer coisa que
quase fosse 100% álcool. Uma noite, ali pelas oito horas, Willy vinha vindo da
vila para o acampamento em companhia do Darci quando em meio à trilha um
tamanduá de pé os encarava foi uma gritaria doida.
--Clóvis seu irresponsável venha aqui agora, como deixou o tamanduá fugir?
--Mas como? Agora pouco ele estava deitado ali Chefe!
O
pessoal resolveu dar uma mão para o amigo e todos começaram a cercar o bichinho
até que Clóvis o agarrou pelo meio, mas a fera estava brava e arranhou o radio
operador todinho, outros os ajudaram, um pegava na mão outro na perna e lá se
foram de volta à corrente foi quando novos berros estrondearam:
--Chefe venha cá agora - gritava Clóvis
--Mas? O que é isto, dois tamanduás?
--O tamanduá éeste aqui amarrado na corrente, e vocês me obrigaram a pegar um
tamanduá bravo na marra, e agora?
--Não sei - respondeu Willy -visivelmente abalado.
--Ora seu Clóvis solte este animal, um já é demais – disse eu em tom bem de
brincadeira.
--É
isto mesmo, o que esta esperando? Solte-o, concordaram todos.
--Vai bichinho e nunca mais apareça por aqui senão vai virar espetinho –
vaticinou o Clóvis soltando-o
O chefe e Darci voltaram para a vila sem falar mais nada.
O tamanduá da Bandeira devia estar bem troado nem sequer viu seu companheiro ou
sua companheira. Os bichos têm uma grande tendência para beberem álcool, as
raposas e só colocar uma vasilha com pinga perto do galinheiro que as que
vierem amanhecem todas deitadas por perto de porre absoluto, os elefantes
gostam de cerveja, as antas de álcool, enfim o que eu não sei é de algum que
não gosta.
Fomos dormir.
Meus
companheiros, como já disse, gostavam muito de beber, mas só a cachaça pura, eu
os adverti muitas vezes. A exceção do Lito o uruguaio e de Garmenia o
argentino, estes não bebiam, mas fumavam muito, certa noite estes dois me
chamando para um lado comentaram:
--Nos vamos embora hoje de noite, já compramos uma canoa e vamos descer o rio.
--Vocês estão doidos – comentei - o Willy vai mandar atrás de vocês.
--Nos não vamos levar nada da Bandeira, só nossas coisas particulares, pois não
toleramos ver este homem vendendo todo material que nos foram doados e com
muito sacrifício nos os conseguimos lá em São Paulo, agora vende como se fosse
mercadoria de comercio - Zangou o argentino.
--É verdade confirmou - o uruguaio –
eu também não aceito por isto vou-me embora.
--Mas às vezes o dinheiro é para cobrir as
despesas –
tentei remediar.
--Pode até ser, mas já decidimos, partiremos agora.
--Boa viajem e se cuidem - recomendei.
Na calada da noite os dois embarcaram em uma pequena “ubá” (canoa indígena) com
seus pertences e sumiram na escuridão do rio, era muita coragem. Fui dormir
sabendo que no outro dia cedo o frege ia ser grande.
Acordei com o grito do Willy e o barulho da corneta que mais parecia o céu que
vinha caindo.
--Darci vá atrás destes dois desertores, pegue um barco e leve uns homens
contigo e me os tragam amarrados.
Não gostei nada daquilo vendo uns companheiros irem atrás de
outros.
Ali pelas onze horas eu escutei o barulho do barco a motor que voltava, e assim
que surgiram na curva do barranco vi os dois companheiros amarrados no mastro
da proa do barco, aportaram e trouxeram os dois homens para fora do barco e em
terra os apresentaram ao chefe.
--Aqui
está os dois, meu comandante o que faço agora?- Perguntou Darci.
--Deixe-os
amarrados até eu decidir o que fazer com estes covardes.
--Então
o senhor vai ter que decidir agora. - falei – porque não vamos tolerar ver
nossos companheiros humilhados deste jeito.
--São
desertores, merecem serem punidos.
--Chefe...Todos que estão nesta Bandeira são voluntários, e não
pode obrigá-los a continuar se não quiserem nos vamos soltá-los - e voltando-me
para Kleber determinei – desamarre-os já.
--Chefe
nem pense em fazer uma besteira vai ficar ruim para todo mundo – ameacei como
querendo adivinhar seus pensamentos.
--Então
porque tiveram que fugir? Porque simplesmente não pediram para irem embora?
Pois bem - continuou Willy – O barco Frei Chico esta saindo amanhã para
Conceição do Araguaia, eu vou arrumar passagem para vocês com o proprietário
Tônico Bosaipo, mas até lá, amanhã cedo, vocês estarão detidos e confinados no
acampamento não poderão nem ir á vila – determinou o líder da expedição e
virando as costas voltou para a vila.
Todos ficaram muito surpresos com a nova atitude do chefe, só eu que não
confiava nela.
Passamos o resto do dia pescando eu fui à vila e falei pessoalmente com o
meu amigo Tônico:
--Você
voltou depressa.
--Não
pude ir até Conceição peguei um frete de volta.
--Vai
descer amanhã?
--Destavez
eu vou até Conceição, me parece que o Willy quer que eu leve
dois rapazes que deixaram a bandeira, ele me disse que os dois eram meio
comunistas e criadores de caso, não me decidi ainda se vou levá-los.
--Os dois rapazes são duas pessoas finas e muito
boas e ai contei toda a história para o Tônico. Leve-os e ajude os meus
amigos.
--Assim sendo eu vou levá-los.
--Por favor, não comente com o Willy que conversamos sobre isto, certo?
–
pedi
--Fique
tranquilo.
Naquela mesma tarde, eu estava quieto dentro de minha barraca quando ouvi o
Willy conversando com o radio operador.
--Passe um telegrama paraSão Paulo e peça para
avisarem as autoridades de Conceição do Araguaia para prenderem dois comunistas
que vão fugindo no barco Frei Chico um uruguaio de nome Lito e um argentino de
nome Garmenia e diga que estão armados e são perigosos.
--Mas, assim eles vão prender os dois, chefe – interveio Clóvis.
--É para prender mesmo, vamos comece a passar agora a mensagem vamos, estou
esperando.
--São Paulo esta me ouvindo em código Morse, vou informá-los.
Eu sei que o telegrafou funcionou um bocado, mas só que ninguém entendia nada.
--Chefe...
Já enviei a mensagem.
--E a resposta? Perguntou Willy.
--Vamos ter que aguardar o tempo esta ruim de mais.
--Que
ruim nada, o céu está limpo sem uma nuvem – berrou Willy.
--Aqui
pode estar, mas lá em São Paulo não sei não.
--Vouvoltar mais tarde, trate de
saber o resultado - disse o mandão e se mandou para a vila.
--Clovis?
– perguntei - você mandou a mensagem?
--Enviei só que ninguém recebeu não tem ninguém no ar.
--Puxa,
estou aliviado.
--Você acha mesmo que eu faria uma coisa desta?
--Creio que não. - começamos a rir.
Willy tinha um ódio maluco de bebidas, em sua primeira
expedição seu irmão Aurélio Aurelli morreu de malária complicada pelo uso, não
excessivo, mas indevido de álcool. Lá no cemitério de São Félix do
Araguaia, junto ao morro, bem em baixo de um pé de pequi, existe a sua
sepultura e meu nome está gravado em cima.
Severiano e sua família, dona Edilia, a dona Nega a minha amiga era cega, a
Suely e a Amojacy, se tornaram a minha família.
Programava-se uma viajem pelos sertões para entrar em contato com os arredios
índios Xavantes, era esta a verdadeira missão da Bandeira Piratininga, já não
se podia haver mais delongas, pois apenas passaram-se dois dias nos afazeres do
acampamento quando chegaram noticias sombrias; os xavantes estavam depredando
todas as roças, queimando os ranchos, flechando os porcos e as reses. Realmente
dura verdade se fez presente quando a noite, por sobre a orla da floresta uma
luz intensa e da cor de sangue iluminava uma grande extensão. Os caboclos
agrupados, olhavam, em silencio para essa luz que denunciava os estragos
que estavam sendo feitos em suas roças e cabanas, sabedores que tudo estaria
destruído e sem alimentos, com a chegada das chuvas, a coisa pioraria, nada
teriam para comer.
Severiano à noite me disse:
--Dankmar o meu povo já estão pensando em abandonar São Felix, dizem que não
será mais possível continuar vivento assim. Tudo o que eu fiz está indo de agua
abaixo. Havia muita tristeza e profundo amargor nestas palavras que as levei
imediatamente para nosso comandante.
Willy
procurou Severiano e o Amacio de Melo e lhes impôs?
--Arranjem a cavalhada que eu irei me avistar com os xavantes.
--O
Senhor vai fazer isso?
--Vou! Arrume a cavalhada e deixe o resto
por minha conta. Escolha uns homens de confiança que eu farei a mesma coisa,
depois traçaremos o itinerário. Já enviei ao Rio de Janeiro uns despachos.
Quiçá surja algum beneficio. Alvitrei ao Diretor do SPI a necessidade de ser
montado um posto de atração nesta zona.
--As providencia foram tomadas de imediato.
Os sertanejos, Severiano, Amâncio de Melo, José Lagoa, e João Irineu se
incumbiram de arrumar os animais para a viagem e também o interprete.
Apenas dez homens da Bandeira incluindo o Comandante e o Sub Chefe Darcy,
somados a outros dez voluntários, incluindo Severiano, Amâncio, Zé Lagoa, João
Irineu e o interprete formavam aquele grupo contingente.
Eles mesmos seriam os guias. No dia seguinte, á tardinha, os animais dormiram
fechados em um piquete.
Reunimo-nos no acampamento para traçarmos o roteiro de nossa viagem, era ainda
cedo da tarde, mas estávamos todos apreensivos.
--Partiremos amanhã, o mais cedo possível, todos devem levar estritamente o
necessário, não esqueçam os cantis, vinte tiros para cada um, e a tralha de
acampamento nas cargas das duas mulas, corneteiro toque alvorada às cinco
horas. Plantões na escala. Boa noite.
Tínhamos um corneteiro, e por incrível que seja ele tinha uma corneta velha e
barulhenta e como tocava mal, mas o caso dele não era ser um artista, fazia
barulho porque gostava.
*
Dia
31 de julho de 1948.
A Bandeira parte para o sertão em busca de contato com os índios Xavantes até
então considerados arredios e agressivos.
Parece
que nem cheguei a dormir logo a dita corneta estava no ar, nos reunimos todos
de cabresto na mão fomos para o pequeno pasto pegar os animais. Foi uma
confusão dos diabos, ninguém conseguia pegar ninguém, Severiano teve que
intervir senão a revolução começaria ali mesmo. Meu amigo João trouxe-me um
cavalo castanho, bem desarnado e manso.
--Este
cavalo tem um andar muito bom é marchador.
--Obrigado João Irineu.
--Vamos arriá-lo.
Levei o animal até onde estavam os arreios, escolhi um bom, arriei o cavalo e
depois fui ajudar os outros. Já eram quase oito horas da manhã quando estávamos
prontos para partir. Saímos em fila indiana, na frente iam o Severiano e o
Chefe, emparelhados e logo atrás o interprete, e o resto do pessoal, éramos
vinte pessoas ao todo. Eu fiquei quase no fundo da fila, era melhor para se
observar os acontecimentos, junto comigo estava o Ateneu, João Irineu vinha por
último tocando as duas mulas com as cargas.
Pelo caminho fomos encontrando ranchos abandonados, chochas calcinadas, arvores
frutíferas arrancadas, cerca carbonizada roça totalmente destruída, carcaças de
animais flechados, porcos a solta fugindo de tudo, animais mortos até uma vaca
degolada foi encontrada.
Criado
no sertão de São Paulo em cidade pequena e em fazendas eu tinha bom costume de
andar a cavalo, mas a maioria de meus companheiros não o estava, e, eu já os
via atravessados em cima de suas celas poupando os fundilhos. Ao meio dia
paramos para comer. Foi um alivio, afrouxamos as selas e fomos dar de beber aos
animais, estávamos bem na beira do rio Xavantinho, comemos alguma coisa a
sombra das arvores, enchemos os cantis e prosseguimos a nossa cavalgada. Foi
mais dois dias ziguezagueando pelo sertão, sempre com a mata do rio a vista. Ao
longe se avistava a fumaça negra das queimadas, certamente os índios não estariam
longe.
Eram
umas duas horas da tarde quando um dos guias mandou parar e foram observar as
touceiras de piaçabas que estavam com as folhas cortadas e havia muitos rastros
pelo chão.
--Estamos perto da aldeia olhem onde tiraram as palhas para cobrir as casas e
os rastros estão frescos no chão, daqui para diante vamos calados e a pé
puxando nossos animais.
--Tudo
bem, agora vamos todos apear dos animais,
fiquem calados e siga-me,
ninguém faça coisa alguma sem minha ordem – comandou Willy.
Bem a nossa frente ainda junto ao rio Xavantinho, dentro de uma clareira limpa
do cerrado, estava à aldeia Xavante. Eram umas oitenta casas feitas de varas e
cobertas de palha. Mas a aldeia estava vazia os índios haviam se mudado para
outro local. Durante a noite podia se observar a imensidão do fogaréu tinha a
impressão que estávamos sendo vigiados, que os silvícolas estavam bem ali junto
de nós. Ao amanhecer tivemos mais um dia de caminhada, desta feita
em rumo à queimada, quando o nosso rastreador Juvenal se deu conta que
estávamos para nos encontrar com os índios, pois os vestígios se multiplicavam,
fomos tomando chegada por entre os arbustos, mas Willy não queria
surpreende-los para evitar um confronto e assim ele foi entrando na aldeia ao
lado de João Irineu e um pretenso interprete e nos determinou que ficássemos
onde estávamos. Até então não haviam notado nossa aproximação. No interior da
aldeia só estavam às mulheres, meninos e os velhos, uns quatro cachorros muito
magros e umas araras gritalhonas, uns papagaios escandalosos que logo
denunciaram a nossa presença. O nosso pretenso interprete mais um homem junto
com Willy quando entraram na aldeia causaram grande tumulto foi uma confusão
danada e eles tentavam acalmá-los falando em Xavante, acho que ninguém
entendeu, pois pouco adiantou, foi uma debandada maluca, mulheres arrastavam as
crianças pelos braços gritando as velhas e os velhos gesticulavam, mas corriam,
e, em pouco tempo estávamos sozinhos dentro da aldeia. Um menino foi esquecido
dentro de uma chocha e o nosso pessoal já havia adentrado se engraçaram com o
pequenino e este pareceu se acomodar e em poucos minutos se familiarizou com o
nosso pessoal que ficaram encantados com a docilidade do garotinho e passaram a
vistoriar as casas abandonadas e logo se deram conta de que ali estavam seus
fações, suas enxadas, machado, panelas e tudo que os índios haviam carregado do
Caracol e outras roças. a que Willy ordenou;
--Ninguém
toque em nada!
Os guerreiros estavam fora, mas não por muito tempo, em menos de meia hora
estávamos praticamente cercados dentro do limpo da aldeia. Os guerreiros
começaram a chegar todos pintados de vermelho e arco e flechas outros com borduna
na mão e batiam o pé ameaçando nos atacar, eram muitos, não sei se todos eles
estavam ali ou se ainda tinha mais por chegar, mas já eram aproximadamente uns
duzentos, nos estávamos preparados para resistir se fosse preciso, bem, eu acho
que estávamos, bastava atirar em qualquer rumo certamente acertaríamos alguém
que não fosse a nos mesmos. Um índio acompanhado de outro se adiantou e veio ao
nosso encontro, presumíamos que seria o famoso e tão decantado cacique Terezaçu
índio ampla e notoriamente conhecido pela sua bravura, ele batia no peito e
dizia seu nome:
--Ima
mana heto Terezaçu – repetia seguidamente.
--Willy
se adiantou e fez o mesmo batia no peito e dizia seguidamente;
--Ia-mamã
heto Wirri... Wirri... E repetia quase cuspindo na cara do índio
O índio deu demonstração que estava entendendo e que os dois eram os lideres de
seu povo e que queria que entregassem o menino que brincava com os nossos
homens a que o chefe mandou um dos bandeirantes trazê-lo e entregar ao índio e
este ao recebê-lo passou para o outro índio que disparou para a orla da mata
adentro. Na sequência das tentativas de entendimentos o tal interprete tirou do
bolso um papel com muitas palavras escritas em xavante, mas de nada adiantou e
continuaram a usar o sistema de mímicas e foram se entendendo. Mas o interprete
e Willy desatando as bruacas das mulas tiraram lá de dentro, panelas luminosas,
facões, machados, rapaduras, enfim um monte de coisa e colocaram no chão ao
alcance dos índios e se afastaram o interprete explicou para o chefe deles que
estávamos ali em missão de paz e que éramos amigos e havíamos trazido presentes
para dar e trocar. Logo foram se aproximando dos presentes no chão, os pegavam
e os examinavam e pediam mais. O nosso interprete se aproximara e junto com
Willy e Severiano, já começavam a se entender. Pouco depois estávamos todos
descontraídos e trocávamos canivetes por flechas, ou outros enfeites que
começaram a aparecer e os índios davam a impressão que estavam entendendo tudo
e em pouco tempo já queriam até nossas roupas, mas não os deixamos tocar em
nossas armas, ficamos lá dentro por mais de duas horas quando a corneta tocou
nos assombramos e os índios também e Willy gritou para o corneteiro.
--Tocar retirada imbecil - Pare com isto.
--O Senhor mandou tocar retirada. (o imbecil havia dado o toque de atacar só
que ninguém conhecia tanto fazia tocar qualquer coisa o que queríamos era sair
dali)
--Mas
já chega, todos montados e em retirada cautelosa saiam em duplas e se juntem lá
fora no varjão.
Com esta confusão nos retiramos e os índios nos acompanharam um bom pedaço,
nossa viajem havia deixado um saldo positivo, o contato fora pacifico e os
índios prometeram ir ao nosso acampamento.
Após seis dias e meio de viajem chegávamos de volta a São Félix do Araguaia,
parecíamos remanescentes de uma guerra civil, todos mutilados, mais por baixo
do que por cima, mas valeu à pena.
Aguardamos
por muitos dias a visita prometida pelos índios Xavantes, o prazo da Bandeira
se expirara, teria que regressar a São Paulo, assim o chefe me mandou ir até a
fazenda Caracol onde morava João Irineu e chamá-lo trazendo os pertences da
Bandeira que estavam guardados em sua casa. Eu fui até lá, eram apenas algumas
horas de viagem. A ida até que foi boa, mas à volta. Já havíamos
andado quase uma légua na viagem de volta para São Félix, vínhamos eu e o João
Irineu tocando duas mulas cargueiras carregadas com os pertences da expedição,
quando, surgindo não sei de onde, apareceram em nossa frente uns trinta índios
Xavantes, que acenando as mãos tentavam dialogar, mas o que eles queriam era as
burras e eu desconfiado enfiei o laço na popa das duas que dispararam estrada
afora rumo a cidades, na hora de voltar para casa até estes animais entendem
bem do rumo a fim de largarem suas cargas e não teve quem as atalhassem e eu
atrás gritando as burras deixei João junto com os índios.
Agosto de 1948.
“Os
índios Xavantes entram pela primeira vez pacificamente em São Felix do
Araguaia”.
Logoque
cheguei a São Félix as burras entraram no curral aberto do Severiano,
seguidamente despejamos a carga no chão, em seguida avisei ao Chefe que junto
com Weber já haviam notado a minha preocupação.
--Os
índios estão chegando, são uns trinta ou mais não tivemos tempo de contar.
--Muito
bem Dankmar soltem os animais e vamos nos preparar para recebê-lo – disse o
Willy bem contente, afinal tudo dera certo até agora, estava apreensivo, pois
João Irineu ficará para
traz.
Os moradores da Lagoa chegavam apressadamente trazendo verdadeiras mudanças em
suas costas, pois tinham medo dos índios Xavantes, mas o Chefe os acalmou.
Não
demorou muito tempo os índios apareceram na estrada e nosso amigo vinha com
eles trazendo um índio na garupa. Chegavam ao nosso acampamento e o pessoal da
vila ao saber da noticia vieram todos ao encontro sabendo que não haveria risco
algum a correr e o contato se generalizou, parecia até que se conheciam há
muitos anos. Foi um grande começo. “Noticias, pelo menos assim os sertanejos
nos contaram, que os índios Xavantes eram originalmente do Estado de Goiás e
viviam bem entre os produtores rurais, mas há muitos anos atrás alguns
fazendeiros, por motivos que são ignorados, envenenaram as águas dos poços das
aldeias matando muitos índios, muitos jovens e crianças foram vitimas da
catapora, mal orientados ao sentirem a febre banhavam nas águas do rio, não
resistiam e morriam. Em 1875, os remanescentes fugiram atravessando a Ilha do
Bananal para se instalarem em Mato Grosso, mas a travessia do rio Araguaia
também foi uma grande tragédia, pois muitos que não sabiam nadar morreram
afogados, era uma nação muito sofrida e que quase se extinguiu”.
Enquanto todos os índios e toris perambulavam pelo acampamento eu resolvi ir
pescar bem ali no nosso porto onde a pacu era uma fartura, pegava uma atrás da
outra e cada uma mais bonita chegavam a pesar quase um quilo cada, já havia
fisgado umas cinco quando alguém me chamou do alto barranco, era um índio
Xavante que mostrando os pacus pedia que eu lhes jogasse um peixe e assim o fiz
e ele a agarrou e passou para outro índio atrás, seguidamente fui jogando e
pescando mais, já havia passado para ele uns dez ou onze peixes quando ele
sumiu.
Houve muita festinha e agrados até que eles resolveram irem embora.
O
ponto brilhantedesta aventura foi quando Willy resolveu intermediar a paz entre
os índios Xavantes e os índios Carajás que eram rivais eternos e ambos
concordaram no encontro e assim estava dado o primeiro passo, o segundo foi à
ida dos Xavantes até a aldeia Carajás na ilha do Bananal não mais do que uma
légua rio abaixo e o Willy foi patrocinador desta apoteose. A recepção foi
calorosa, o Cacique Malua e Uatau os receberam jubilosamente, com festa e
presentes eram uns vinte Xavantes novos que causaram algum ciúmes nos jovens
Carajás em razão como as suas moças encaravam os Xavantes. No retorno a
São Felix Arutana, Malua e Uatau ficaram face a face com seu arquiinimigo bem a
sua frente o grande e famoso cacique Xavante Terezaçu, eles se cumprimentaram
com um grunhido ininteligível, apertaram as mãos e se afastaram a uma prudente
distancia, mas sorriram.
Daquele dia em diante viveram em paz, cada um na sua aldeia e território, mas
se respeitavam mutuamente e trocavam presentes chegando até e se proporem e
cederem em casamento algumas de suas mulheres solteiras, mas dai gerou uma
piada, um Carajá disse graciosamente:
--Nois troca as véia por nova.
Depois de seis dias em São Félix do Araguaia os índios voltaram para a aldeia
levando muitos presentes e a certeza de que os toris e Carajás eram amigos.
Mascomo
em toda a família sempre tem uma ovelha negra assim os tinham os Xavantes, ela
se chamava “Camilo” e seus quatro seguidores, tinham sido expulsos de seus
convívios passando a vagarem sozinhos, eram cinco rebeldes, como veremos a
seguir.
Um dia antes da partida já estava tudo agasalhado para a manhã seguinte eis que
um novo fato veio tumultuar a situação. Dona Tarsila uma senhora que é
professora em São Felix chegou ao acampamento assombrada dizendo que o índio
Kuriala havia lhe dito que.
--OsXavantes atacaram duas índias na
praia atrás
do morro de areia e meu
filho estavam com elas, por favor, acudam meu filho terminou angustiada.
Eis que chega o índio Kuriala que era cego e estava mais branco do que um
defunto e contou que ouvira o grito das duas índias quando subia o rio em sua
canoa e elas diziam que os Xavantes as estavam matando. Logo o Chefe
muito preocupado mandou uma equipe para dar buscas na praia e eu fui um destes
e lá se fomos passamos pelo cemitério, contornamos o morro de areia junto à
passagem do rio e embrenhamos na capoeira rumo à praia, o Willy e outros foram
de canoa e vieram pelo lado norte da praia que era limpa e nos
entramos pelo sul rumo rio abaixo até entrarmos na praia e para minha surpresa
encontramos ao dobramos uma duna as duas índias e o menino estavam brincando e
correndo na água rasa de uma pequena enseada.
--O
que esta acontecendo, cadê os índios Xavantes?– perguntei.
--Nada
não Dequimá nois duas estava brincando com Kuriala, botando medo nele.
Peguei
o menino pela mão para levá-lo e o entregar a desesperada mãe, mais abaixo na
praia vinha Willy e sua turma e o avisei de longe que estava tudo bem que fora
uma brincadeira e mandei que levassem o menino que correu até eles e voltaram.
Fora
apenas uma brincadeira de mau gosto, mas terminou tudo bem. Antes assim.
em Santos - São Paulo - Falecido em 29 de agosto de 1968.
pseudônimo: Willy Aureli. (jovem).
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O regresso da Bandeira
Piratininga...
Cumprida com muito sucesso a missão a que viera a Bandeira
Piratininga se despediu dos sertões e regressou a São Paulo para não mais
voltar. Esta foi a sua ultima expedição. Iniciada em julho de 1948 e terminada
em fins setembro de 1948. Aurélio Aurelli irmão de Willy morreu em São Felix do
Araguaia de malária e foi sepultado no cemitério local daquela cidade, bem em
baixo de um pé de Pequi. Em sua sepultura eu gravei meu nome Dankmar...
Eu fiquei...
Todos os componentes da Bandeira Piratininga já faleceram, inclusive Willy Aurelli e esposa, o ultimo que eu tive noticias era o Aristides que veio da primeira entrada e residia em São Felix, mas já se foi também assim eu Wolfgang Dankmar Gunther com 92 anos de idade e ainda residente na região, em Porto Alegre do Norte MT, me tornei o último Bandeirante ainda vivo.
Hotel JK |
Dankmar preparando seu Café da manhã. Hotel JK. |

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Dom Pedro Casaldaliga...
A Raposa do Araguaia,
o Latifúndio e
O Posto da Mata.
Histórico...
Fundação Brasil Central na Ilha do Bananal em 1960/FBC.
O autor deste trabalho, Wolfgang Dankmar Gunther foi designado em
09/10/1960 como encarregado do Posto da barreira Bem Vinda na Operação Bananal
e a 19/09/1961 designado para exercer a função de chefe do Posto da Ilha do
Bananal. E pela Portaria 143/ 66 foi designado para exercer a função de chefe
do Centro de Atividade da Ilha do Bananal.
*
No inicio de 1960 a FBC – Ilha do Bananal, recebeu um telegrama da Presidência
da FBC em Brasília a qual informava a vinda, pelo avião DC3 Douglas da FBC, -
de um cidadão cujo nome era Ariosto da Riva, proprietário de uma extensa área
de terras no lado mato-grossense e que deveríamos apoiá-lo nos seus trabalhos
de pesquisas, levantamento, transporte etc.
A
finalidade da FBC era o desbravamento dos sertões e para isto contava com
equipes especializadas como os sertanistas Claudio, Orlando, Leonardo, Enzo, o
autor, e mais uma dezenas de auxiliares e de tiracolo tínhamos um pequeno avião
monomotor Cesna 170 cujo piloto era o Adolfo Rolim Amaro e tínhamos ainda
amigos agrimensores como Francisco Telles que residia em São Felix do Araguaia
que a nosso pedido, logo passou a pertencer à equipe de Ariosto.
Com
a chegada de Ariosto ele foi devidamente hospedado e, seu objetivo já estava em
franco desenvolvimento.
O
Dr. Luiz Carlos Lima Militão Advogado, residente em Goiânia, já falecido, assim
me contou: certa feita: “As terras que Ariosto estava sendo proprietário, então
já denominada Suia Missu, e isto como referencia ao rio que corta a região,
haviam sido adquiridos do governo do Estado de Mato Grosso no governo de Ponce
de Arruda, pelo seu pai conhecido como Militão (Francisco do Amaral Militão)
advogado, economista, funcionário publico, cronista e escritor, em
aproximadamente 695 mil hectares”. (695.000 hectares).
Assim foi dividida esta enorme área...
Uma
equipe de homens liderados pelo agrimensor Telles fizeram o serviço e
Ariosto pode dispor parte da área para diversos grupos. E assim ficou a
divisão: o INCRA utilizou aproximadamente 217.774 mil hectares para
reforma agrária com os assentamentos “Mãe Maria” “Pedro Casaldaliga”,
“Bandeirantes”, “Roncador” e “Serra Nova”; A Liquifarm Agropecuária Suia Missu,
(empresa da AGIP subsidiara Italiana) 165,241 hectares; Romão
Flores da Fazenda Rio Preto adquiriu 171.985 mil hectares;
Fazenda Vale do Boi de Mario Quirino adquiriu por compra 90
mil hectares; Fazenda Morumbi do Grupo Olivetti ficou com 50
mil hectares; Perfazendo o total de 695.000 hectares de
terras então pertencente a Ariosto da Riva.
O resultado final após das vendas
particulares incluindo as destinadas pelo INCRA para assentamento foram 357.773
hectares.
Restavam
da área de 695.000 hectares um total 337.226 hectares,
que foram remanejados:
Faz. Rio Preto...51% capital nacional.. 337.226 x 51% = 171.985
hectares.
Liquifarm..49% Capital estrangeiro.......337.226 x 49% = 165.241
hectares.
O que não ficou esclarecido foi uma compra, muito ventilada naquela época, do
Grupo Garavelo de Goiânia estimada em 250.000 hectares. Neste caso a área
de Ariosto não seria apenas 695.000 hectares e sim 945.000
hectares.
§
Naquela oportunidade o Estado, no Governo de Ponce de Arruda, vendia
as terras em lotes de 10.000 hectares, bastava arranjar os interessados e o
titulo saia, depois era só fazer a transferência e registrar em Cartório.
Para localizar e levantar o perímetro desta enorme área teve que se
deslocar para o oeste rumo da hoje Porto Alegre do Norte e de lá iniciaram o
levantamento via satélites da área em questão (Lembro-me que se comentava
naquela época que um dos trabalhadores do agrimensor garimpando no rio Tapirapé
encontrou um diamante bem grande naquelas paragens.). Fato este que ficamos
sabendo pela equipe de medição naquela localidade e assim também me
segredou Telles.
Os Salesianos iriam instalar uma Missão na
Suia, mas não levaram adiante a ideia. Todavia comentava-se em altos
investimentos do Banco do Vaticano e da SUDAM nas terras da Liquigás com
projetos mirabolantes entre estes figurava a implantação de uma enorme
agropecuária e até que iniciou muito bem, casas para funcionários, escritórios,
ambulatório, um aparente hospital, deposito, sistema de abastecimento de
combustível, pista de pouso com hangar para aviões pequenos, derrubadas para
plantio de grãos e forrageiras e pastos, etc.. e muito movimento, mas
paulatinamente foi diminuindo...
Os índios Xavantes, um grupo isolado passou a frequentar as redondezas das
terras da Suia Missu, sempre pelos varjões, campos e cerrados, vinham de uma
modesta aldeia provisória situada no campo limpo bem na margem do rio
Xavantinho a cerca de 20 quilômetros da sede da fazenda, mais ao menos ao rumo
de povoado de Pontinopolis. Devo esclarecer que eram índios remanescentes da
antiga *Aldeia de Marãiwatséde da região do Couto Magalhães, junto ao rio das
Mortes, que em 24 de fevereiro de 1957 se evadiram da região para buscar
abrigo junto aos missionários de Sangradouro pedindo acolhida e ali
perto fixaram a sua aldeia que ainda hoje leva o nome de “São José”, o
segundo grupo destes remanescentes também se evadiram da região e chegaram ao
Meirure em 02 de agosto de 1958 pedindo acolhimento, para traz ficaram apenas
estes últimos remanescentes eram aproximadamente cinquenta índios
ou um pouco mais. Acredito que, hoje
existem aproximadamente 31 aldeias Xavantes em Mato Grosso.
O índio Xavante é nômade por natureza, suas praças mudam constantemente de
lugar assim que as caças se tornam escassas eles partem sempre a procura de
novos campos. Por habito tribal não gostam de frequentar lugares fechados, seus
arcos grandes e flechas compridas são um grande empecilho e embaraço nas matas,
e ainda temem os “espíritos da mata”. O Xavante é um índio do Cerrado e do
Campo, e assim demonstram nas suas pinturas corporais que matizam o vermelho
com o marrom se identificando com a cor ambiente do cerrado e desta forma estão
a cultuar seus modos vivendis.
Voltando ao
Posto da Mata...
Em 13 e 15 de agosto de 1966, por solicitação
dos que se diziam donos das terras e autores dos projetos com a anuência do SPI
ou FUNAI resolveram transferir “O último grupo de Xavantes remanescentes
da aldeia Marãiwatséde em virtude o dos índios terem sidos acometidos de
doenças havendo já morrido 10 a 12 deles em um ano, os administradores e
fazendeiros motivados por essas mortes e pelas doenças e pelo
péssimo estado de vivencia em que se encontravam, entabularam um acordo com o
cacique Tibúrcio que aceitou remove-los para São Marcos” um Posto
para índios Xavante inserido dentro da Missão Salesiana onde
já se achavam, há vários anos, instalados os parentes dos mesmos vindos
da aldeia mãe Marãiwatséde junto à região de Couto Magalhães, nas margens do
rio das Morte, nos vastos campos de São Felix do Araguaia;
Em 1966 a ordem veio de Brasília, era época do Regime Militar, a FBC era um
órgão subordinado diretamente ao Gabinete do Presidente da Republica e passou a
ser vinculada ao Ministério do Interior.
Um avião Douglas da FBC, pilotado por oficiais da FAB veio de Brasília para
Santa Izabel na Ilha do Bananal e depois pousou em Suia Missu e fez estas
transferências. Eu, pessoalmente, assisti uma destas e não foram mais do
que três ou quatro voos e em dias bem alternados. O Douglas DC-3 ou C-47 levava
no Máximo vinte passageiros. Ou 1400 quilos de carga útil.
Lembro que o pessoal comentava a guisa de admiração que
quando da ultima viagem um índio que teria ido no primeiro voo já tinha
voltado a pé.
Os projetos mirabolantes se desmanchavam por traz das cortinas dos
desentendimentos internos próprio dos grandes latifúndios e isto fez gerar o descontentamento
e um incomodo de caráter internacional entre Vaticano e Itamarati e SUDAM e a
AGIP-Petroli a tiracolo – sanado com a intromissão do ECO 92 – e a saída seria
devolver o domínio da terra ao Brasil. O Presidente da ENI (Órgão controlador
da AGIP) anunciou que iria doar as terras aos Xavantes,
a que a AGIP do Brasil não concordou e concluiu “Se o
Governo Brasileiro quer as terras às comprem ou então as desapropriem”.
Enquanto isto acontecia os políticos daquela época, as crias regionais, amasiados aos interesses do grupo remanescente que ficou com os 51%% da terra e que certamente não queriam ter os índios como vizinhos proclamaram aos quatros ventos “Podem invadir que o João garante” Quando da invasão o Clero na sua cumplicidade se quedou calado: (Afinal a área em questão era do Vaticano) Nem que sim – nem que não, mas o que poderia ter sido feito para impedir?
Trinta
anos se passaram o povo continuava chegando ansiosos por um pedaço de terra e o
Posto da Mata se transformara em uma pequena e prospera cidade com mais de 2.500
famílias com núcleos residências urbanos e periféricos, mais de 1.550 eram
produtores rurais, Luz elétrica na sede e rural, varias Igrejas, Armazéns,
Supermercados, Padarias Escolas, oficinas, Restaurantes, hospedagem,
Postos de abastecimentos de combustível, três maquinas de beneficiar
arroz, linha de ônibus intermunicipal executiva, transporte escolar com
atendimento municipal, etc.
Enquanto todos dormiam na desatenção dos
desenrolar dos acontecimentos que se avolumavam por baixo do pano, os mais
espertos tramando se valendo do potencial das ONGS estrangeiras, em surdina
impuseram que a FUNAI interviesse e destinasse a terra aos índios retornando os
migrados e agregando a estes dezenas de outros, dai nasceu a verdadeira
contenda.
A
FUNAI se assenhoreou das terras numa abocanhada de 165 mil
hectares de mata e as destinou, com a batuta do clero, para apenas um punhado
de índios que nada tinha a ver com elas.
Finalmente os Clubes Internacionais, ONGs nac. ONGs ext., o Clero e uma leva de interessados no Proagro e outras oferendas se posicionaram a favor dos índios e pela expulsão dos vilarejos, na maioria família de roceiros pobres, pequenos criadores e lavradores e sem outras moradias. Mas para dar sustentação a seus pretensos direitos adquiridos os índios assessorados por malfazejos que se intitularam de assessores beneméritos elaboraram uma carta a Presidência da Republica com dizeres um tanto perniciosos assinada pelo cacique Xavante Damião que a protocolou na sede do Ministério Público Federal, em Cuiabá e ali ele derrama seu linguajar num verdadeiro verborrágico acusando:
Analisemos os textos em que acusam...
“*Os fazendeiros de assassinos por terem mortos a tiro cinco de seus
parentes e que não iriam trair os espíritos deles e que"...
“São Felix do Araguaia em 1960 só tinha duas casas”.
*Vejamos a seguir o que diz o livro “Terras Bravias” Cap. 03 e fls. 62 a 66.
(de Wdgh) publicado na internet em 2005 ao que parece vem esclarecer estas duas
declarações:
Este contato da Bandeira com os índios Xavantes não foi de todo
proveitoso ao menos para algumas pessoas. Como em todas as famílias, os índios
também tinham suas ovelhas negras e o líder destas tinha o nome cristão de
Camilo.
Camilo era um índio novo, mas muito irrequieto, gostava de aparecer de supetão
vindo sempre por de trás das pessoas e assobiando entre os dentes o que fazia
todos sentirem um friozinho na nuca. Sempre aparecia em um lugar qualquer
e quando menos se esperava, e com ele, outros quatro índios.
Ali pelo mês de
outubro Camilo apareceu na fazenda Caracol do
João Irineu e ele, Camilo, estava doente, os quatro outros índios estavam com
ele.
--Camilo você esta doente?
--Doe muito o peito e as costas e tem febre.
--Pode ser pneumonia, eu vou tratar de você, mas vai ter que ficar quieto deitado um bocado de dia.
--João
homem bom Camilo fica.
João Irineu foi a São Félix comprou penicilina e aplicou em
Camilo por vários dias até ele ficar bom e isto demorou um mês, durante este
período João estava moendo cana e fazendo rapadura. O tacho estava cheio de
melado quente que ao apurar soltam bolhas que explode jogando caldo quente
longe, Camilo já bom ficava rodeando o tacho e João sempre avisando para não
encostar muito, foi quando o melado explodiu e apenas chamuscou a barriga de
Camilo que gritou e se afastou, chamando os companheiros foi-se embora com
muita raiva, João ainda tentou amenizar, mas não adiantou. O que João não sabia
era que Camilo voltaria mais breve do que ele jamais poderia imaginar. Pouco
tempo depois se tinham noticias dele e seus companheiros, e eram más noticias.
Mal
havia passado o mês de setembro, ainda inicio de outubro, o tempo se encontrava
quente e nubloso, ameaçava chover, quando eu tive a noticia senti um grande
arrepio, os índios tinham atacado o retiro do Pedro Tapirapé e matado sua irmã
e as duas crianças.
Poucas horas depois um grupo de homens armados chegava ao local do morticínio,
era uma fazendinha de um humilde posseiro que só tinha duas taperas, uma para
moradia, e uma oficina de fazer farinha, e ali em cima do monte de mandioca que
descascava a mulher Maria Tapirapé estava morta com a cabeça arrebentada a
bordunadas, o sangue rubro manchava a alvura das raízes, mais ao lado, embaixo
de uma cocha de colocar massa, estava o corpo ensanguentado de uma menina. No
terreiro os porcos disputavam o que sobrara do corpo de uma criancinha de colo,
na travessa de madeira da casa o testemunho da brutalidade, a mancha de sangue
indicava onde tinham quebrado a cabeça do neném antes jogá-lo aos porcos. Mas a
menina que estava embaixo da cocha estava viva e dois dias depois quando abriu
os olhos foi para dizer:
--Titio...
Foi o Camilo.
Na cena do crime, uma borduna de índio caiapó, Camilo tentava enganar.
Impossível esquecer uma chacina como esta.
Vinte dias depois,
ainda no mês de outubro, eles
atacaram de novo, desta feita foi na fazenda Caracol do meu amigo
João Irineu, o homem que havia tratado deles.
Dona
Rita,mulher de João chegou a São Felix a pé já noite, havia corrido quase mais
de quatro léguas, estava exausta e quase em estado de choque. Com muito custo
quando conseguimos reanimá-la, o dia já vinha amanhecendo.
--Vão até a minha casa gente, os índios mataram o João e os meninos - e entrava
em crise de choro Eu estava fazendo almoço quando ouvi um grito longe, parecia
vir lá da roça onde o João estava trabalhando, eu fiquei preocupada e fui até a
janela para ver se via alguma coisa, pois sabia por noticia o que o Camilo
andava aprontando eu sempre tive cisma dele, foi quando vi os índios virem
correndo no rumo de minha casa, e vinham com as borduna na mão, fiquei com medo
e corri para o fundo quintal e me escondi na moita de banana, ai eles entraram
na casa e me procuraram, saíram até o quintal, mas não me viram, voltaram para
dentro da casa e começaram a quebrar tudo e carregaram um bocado das coisas,
quando eles foram embora eu corri para cá. Sei que meus filhos estão mortos e
João também vão lá pelo amor de Deus.
Logo,
formaram um grupo de homens revoltados e se puseram a caminho. A tragédia se
repetira. Na casa, em uma rede atada na sala rústica estava um corpo
ensanguentado. Era Luciano um dos filhos do velho guia, mesmo com a cabeça
quebrada ainda vivia, Na roça, tombados sobre a terra que trabalhava estavam os
dois corpos pai e do filho Augusto, suas cabeças quebradas e no pescoço os
enfeites Xavantes. O sobrevivente foi transportado para São Félix em uma rede e
assim que se tornou lúcido contou o ocorrido:
--Eue o papai estávamos trabalhando na roça carpindo, era ainda
cedo quando vimos os índios chegarem, não vimos nenhuma arma com eles, eram
cinco e o Camilo, ele chegou perto do papai e o cumprimentou:
--Ta
bom João?
--Olá
seu sumido, por onde andava?
--Eu
estava na aldeia, olhe o que eu trouxe para você - disse Camilo mostrando um
colar destes de cordão com umas penas de gavião e foi colocando no pescoço do
papai, e aquele outro índio baixo também me deu um, e como é costumes deles
porem no pescoço da gente ninguém desconfiou. Ai aconteceu que Camilo deu um
grito e eles começaram enforcar a gente com o cordão, eu lutei muito para tirar
o revolver, mas ele estava embrulhado em um lenço e eu não dei conta, só sei
que eles bateram em nós com o olho de nossas enxadas. Ai então eu não vi mais
nada, me lembro de estar doido andando no rumo da casa e depois eu não sei o
que aconteceu.
O mesmo aconteceu com o filho mais moço que trabalhava meio afastado quando
ouviu os gritos foi ver o que estava acontecendo e já encontrou os índios pelo
caminho que o mataram do mesmo jeito.
João Irineu e seu filho mais moço morreram em cima da terra que amavam e
trabalhavam pelas mãos de quem ajudara.
Mas
a revide não demorou a chegar.
Para Camilo não houve sobreviventes nos massacres, achavam que todos tinham
morrido e que pensariam terem sido os índios Caiapós os autores, estavam
tranquilos.
Pouco
tempo depois (assim me contaram) um grupo de cinco vaqueiros ia para o campo
quando avistaram os cinco índios na tapera do João Velho, bem junto da estrada
que levava ao limpo grande, um dos vaqueiros chama a atenção dos outros:
--Olha
quem estão ali - disse - mostrando a velha tapera.
--São
índios Xavantes, é o Camilo e seus companheiros, vamos até lá agora chegou a
nossa vez.
Calmamente os vaqueiros foram rumo à tapera faziam
de conta que não queriam nada, chegaram rindo e desceram dos seus cavalos e os
cinco índios adentraram na velha choupana, e assim também o fizeram os quatros
vaqueiros e antes de começaram a atirar um deles comentou:
--Muito bem Camilo você que é o matador de crianças, agora é a
sua vez de morrer.
Camilo o mais desconfiado pulou a janela correu para dentro
de um capão de mato que beirava a casa, os outros quatro índios morreram dentro
da tapera, os vaqueiros a cavalo cercaram o pequeno capão e quando conseguiram
encontrar Camilo o mataram e ajuntando os corpos os enterraram ali mesmo.
Tudo parecia ter
voltado á normalidade, mas não por muito tempo.
Se os cinco índios que foram mortos a tiro foram estes seus parentes, que porventura tinham sido expulsos de sua comunidade tribal e andavam pelos sertões assassinando mulheres, criança e homens, acredito ter sido um ato de justiça poética, e quanto a sua afirmação que em São Felix em 1960 só tinha duas casas. Ledo engano, falsos dizeres.
Livro “Terras
Bravias”. Fls. 111 - Eu me casei em São Felix do Araguaia em 1953 já existia o
cartório de Registro Civil, Escolas, posto de Saúde, Armazéns, Dentista,
Delegacia de Policia Civil, destacamento de Policia Militar, campo de pouso
para aviões etc. etc. afinal ..São Felix já era uma boa cidade em
evolução. E isto tudo consta de registros. Esta resposta foi satisfatória
cacique Damião?.
Voltando ao affaire da localização da Gleba Suia Missu. .
Outro problema é
a sobreposição por encadeamento de títulos, como por exemplo,
a região norte do Vale do Araguaia, em que numa época foram emitidos títulos
encadeados partindo do rio Xingu para o leste e em outra partindo do Rio
Araguaia para o oeste criando uma faixa de ruptura em que dentro desta faixa há
uma sobreposição de títulos-.··.
O problema é a questão dos pontos
de amarração, ou seja, o mesmo titulo dependendo do ponto de
amarração e do encadeamento de títulos pode ser deslocado.
Na sequência: “Vejamos
o mapa ilustrativo onde, há casos comprovados de
deslocamento do mesmo titulo de aproximadamente 30 km conforme ponto de
amarração”.
Colorida.....
Analisemos "A Fazendinha”.
Um Matreiro as suas ordens.
Odilo Garciatinha de tudo para ser
o homem
mais brejeiro, ou
trambiqueiro em cima da terra, e oportunidade era coisa que não lhe faltava,
mas no intimo era um bom homem e sua esposa uma finíssima dama. Seu hobby
preferido eram “rolos com terras”, a grilagem estava em seu sangue,
gostava de mexer com “papeis” e conhecia uma escritura falsa antes mesmo
de toca-la. Era impossível lhe passar a perna, muitos tentaram, mas nada
conseguiram.
Agropasa foi sua última investida, uma belíssima
fazenda lá pelas bandas de São Felix do Araguaia, era a Agro-pecuaria Araguaia
S/A, com muito gado, muita casa e até avião.
Entre os anos d e 1954 e 1965, foram as épocas de ouro
que fez muita gente ficar rica em Mato Grosso, foi precisamente nesse
período, que mais movimentou o Departamento de Terra e Colonização
de Mato Grosso.
Como só era permitido a cada pessoa requerer
abaixo de 10.000 hectares, os mais sabidos e de melhores recursos políticos e
financeiros “Lavaram a égua”, requerimentos foram feitos as centenas, um no
nome da mulher, outro no nome do cumpadre, e assim por diante, depois era
só passar uma procuração em cartório, e tudo bem. Desta forma os mais
vivos adquiriram verdadeiros territórios, restava apenas aguardar a
valorização.
Agropasa não fugiu desta regra, como
também os dois lotes a ela anexados, o Bandeirante e o Caiua, cada
um com oito mil e oitocentos alqueires paulistas. Eram oitenta quilômetros de
terra a beira da estrada São Felix a Suia Missu, um verdadeiro território
cujo “Cacique” era o Odilo Garcia.
Quando Odilo comprou os lotes de Geraldo Paulo Nardelli, Orlando Melloni veio
junto e Odilo sabia as dificuldades que teria pela frente, pois já sabia
das centenas de posseiros que teria que enfrentar, mas como Odilo
não metia a mão em cumbuca contratou com o seu vendedor oconcurso do
famoso Melloni para promover o êxodo dos migrantes que ali haviam se
fixado.
Melloni
até que começou bem, mas não era intenção de Odilo que a coisa saísse tão
rápido, quanto mais demorasse, melhor, pois assim também custaria a pagar o
Nardelli, e demorou tanto que até hoje (acho) não liquidou tudo.
Eram
tantas as terras que sobravam à sanha dos devoradores que os lotes
pequenos ninguém se incomodava com eles, e foi assim que surgiu a “
Fazendinha”, uma área de 1.000 hectares, bem ao lado da sede da Agropasa.
Mais rápido do que nunca o velho matreiro mandou-o cercar de Arame farpado e,
pois um paulista para tomar conta. E a coisa rendeu.
Odilo só dormia sossegado se tivesse um Oficial
de Justiça andando atrás dele com uma execução, todos diziam
que ele tinha uma cascavel em cada bolso, e não metia a mão neles por nada
neste mundo.
Orlando Melloni visto a falta de recurso,
parou de comprar os direitos dos posseiros, e assim todos voltaram as
suas posses, era uma confusão enorme, foi ai que apareceu a figura mais rara da
raça humana, Marinho Gomes Figueiredo, o único homem que conseguiu passar a
perna no Odilo.
Odilo fez um contrato com Marinho para lhe tirar todos os posseiros de suas
áreas e, em pagamento lhe dava a “Fazendinha”.
Marinho começou o seu trabalho, mas mesmo antes de tirar um
posseiro sequer já havia vendido aposse para o “Bau”. Lentamente o manhoso
careca se movimentava entre os posseiros, conversando um e outro, mas, a
conversa parecia não surtir efeito. Foi quando em um desastre de carro morreu
Odilo Garcia.
Marinho efetuou a transação com “Bau”
recebeu o dinheiro, e deu no pé. De fato ele passou Odilo para traz. Mas só
depois de morto.
Nardelli que por sua Vez havia adquirido suas terras do grande
concessionário Paulo Soares de Campos, e as empurra para cima do Odilo agora, o
abacaxi foi parar nas mãos da viúva, Dona Maria Conceição, após muitos
anos de luta, parece estar prestes ou já descascou o abacaxi, pois vendeu uma
boa parte de suas terras ao fazendeiro Aylon, e este junto com o
Dr. Luiz Carlos Lima tentam a solução do problema, só que não sabem o que fazer
com os quase quatrocentos posseiros que estão assessorados por Dom Pedro
Casaldaliga Plá.
Para completar o quadro, veio o Usucapião
Especial, e agora Dr. Luiz?
Comprarbriga com o Bispo, é o mesmo que
comprar sarna para se coçar. Afinal quem se saiu melhor foi o Bau que ficou com
uma belíssima propriedade. E a viúva? Bem ela é uma mulher inteligente, pois já
foi até Conselheira da Sudam, deve ter resolvido tudo. Boa sorte.
§
A família Gunther - Anos de 1953.
O primeiro casamento civil
de São Felix do Araguaia MT.
Aos 14 de março de 1953, eu o autor, casei-me
com a jovem Maria Paciente da Silva na cidade
de São Felix do Araguaia tendo sido o “primeiro” ato oficial de um casamento
civil registrado no cartório do Registro Civil tendo sido escrivão Guilherme
Pereira Luz que lavrou registro no livro numero 01 ás folhas 09 sob o n 08,
tudo de seu próprio punho numa caligrafia invejável. A maioria dos moradores se
fez presente e todos assinaram como testemunha no livro. Lembro-me de: Cesária,
Edilia, Nega, Aracy, Severiano, Zé Martins, Sindô, Ateneu, Bento, Maria Dias,
Lupercio, Leocádio, Tertuliano e Zé Lagoa e vários outros. A 23 de
dezembro de 1953 nasceu na Fazenda São Pedro na ilha do Bananal o nosso
primeiro filho Aleixo; A 21 de abril de 1955 nasceu a primeira filha mulher de
nome Ruth em Luciara; A 06 de agosto de 1956 nasceu meu filho Paulo em Luciara;
A 20 de julho de 1958 nasceu minha filha Miriam em São Felix do Araguaia; a 27
de setembro de 1959 nasceu em Luciara a minha filha Enilda; A 06 de novembro de
1961 nasceu em Brasília o sexto filho Daniel; meu
sétimo filho Joel nasceu a 22 de fevereiro de 1965, em Santa Izabel na ilha do
Bananal, e a 23 de julho de 1968 nasceu Maria Aracy em Brasília. Do outro lado
do rio Araguaia a beleza inenarrável da Ilha do Bananal e foi ali
que... ...Rememorando o passado sai em cima de uma foto minha que
relata o tipo de vida que eu vivia entre São Felix e Luciara nos anos
1953 a 1956. Recém-casado, Pai de duas crianças esperando as outras seis,
“emprego nunca ouvi falar que existisse”, então para enfrentar a vida virei
“mariscador”, nome dado aos caçadores regionais. E escolhi a Ilha do Bananal
para minhas caçadas jacarés e onça. Arranjei um parceiro á
altura do difícil trabalho e desempenho, meu cunhado Mariano e lá se fomos nós.
Lago do Mamão, Lago dos 47, Lago do Coqueiro Só e vários outros. À
noite eu iluminava o lago com uma lanterna e podia contar cerca de trinta
ou mais jacaré-açu, acima de três metros e meio até cinco metros, mas a cauda
não se aproveitava para nada. Nem gosto de me lembrar das eternas
companheiras as piranhas que ficavam roendo em baixo da canoa que parecia nada
mais do que um caixão de defunto de tão parecidos e sofisticados, mas
aguentavam. Hoje penso nestas loucuras na qual eu ficava quatro a cinco meses
nessa labuta, raramente vinha a minha casa. Tudo isto para não deixar nada
faltar para minha família. Mas, me sai bem e ao final me sentia orgulhoso
o bastante para ser feliz com minha prole. Já relatei estas histórias nos meus
livros, hoje junto uma foto que estava perdida há muitos anos e
resolvi publica-la como testemunha de minha luta. Eu era magro cheguei a pesar
55 quilos. Mas sobrevivi. eis a foto...
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Em 27 de agosto de 1971 foi
nomeado bispo prelado e em 23 de outubro recebeu a ordenação episcopal passando
a ser Don Pedro Maria Casaldaliga Plá o Bispo da Prelazia de São Felix do
Araguaia, o nome Maria em homenagem a Virgem Maria, mas ninguém seria melhor do
que a gentil e astuta raposa para explorar a delicada situação social da
emergente pastoral de sua Igreja Particular que vivamente delineava a
atualidade do tema “Viver entre
os pobres, com eles e sendo um deles, reivindicar uma repartição mais justa e
igualitária dos bens particulares e das riquezas, pretendendo que todos os
homens nasçam iguais e conclamá-los a luta pela classe na defesa de suas posses
era a sua tríplice missão: Evangelizar a palavra de Deus, administrar os
sacramentos, e servir de pastor e pai dos marginalizados”. E. em
2.000 recebeu o titulo de Doutor Honoris Causa pela UFMT. Permaneceu na função
até 02 de fevereiro de 2005.
Uma cruzada apocalíptica teve início e uma
guerra violenta foi
declarada. Era o poder econômico latifundiário apadrinhado pateticamente a leis
obsoletas e do outro lado os posseiros regidos pela batuta de Casaldaliga e
seus agentes pastorais. Muita gente foi massacrada nesta luta desigual e sem
quartel. Padres e posseiros foram sacrificados, grileiros e fazendeiros
tombaram. Erravam-se dos dois lados, mas eram os ossos do oficio. Antes os
posseiros temiam os fazendeiros, hoje estes os temem. Antes aqueles lhes
ofereciam guerra, hoje pedem a paz.
Leis foram sendo renovadas inteligentemente protegendo os pioneiros, mas a
confusão se generalizou quando começaram a chegar levas de nordestinos,
mineiros e de outras bandas do Estado de Mato Grosso, gentes na maioria, sem
tradição de agricultura, mas que buscavam ansiosamente um pedaço de terra para
se estabelecer e se misturaram aos pioneiros nativos da região. Habilidosamente
o Bispo passou a organizar seus marginalizados e orientá-los a não receberem
títulos de terras definitivos fossem de particulares ou do Estado sob a
alegação de que eram falsos e instigava-os através de seus agentes pastorais, a
luta aberta contra seus “pretensos” benfeitores. Com o apoio do Bispo os
marginalizados De simples homem do campo o sertanejo passou a condição de
rebelde e revolucionário e eram treinados para isto numa situação que a própria
sociedade impôs ao Marginalizá-los. Para estas centenas de renegados pela
sociedade latifundiária o Bispo era a única esperança, sem ele estariam
perdidos. Eles o tinham como um enviado de Deus. Hoje são uma força crescente
em busca de uma liberdade quase evangélica e sabem muitos bem que são a pólvora
do barril reacionário a espera da mecha ardente.
Casos
fortuitos dignos de registros.
Bento e o marujo.
Bento de Abreu Luz era um
cidadão muito conceituado em todo vale do Araguaia, exercendo por
longos anos o cargo de Juiz de Paz numa certa manhã de
1950 ali pelo mês junho, aportou em São Felix um barco grande se não me esqueço
era do Antônio Butelo residente no Estado do Para, e vinha no comando do mesmo
o negro Assai, foi recebido com salvas de tiros, e foguetes para todos os
lados, São Felix era assim quando chegava um barco era muita alegria para todos
porque trazia muitas mercadorias inclusive taboas de mogno para vender. Assim
que aportou, Dankmar, Severiano, Bento e Ateneu foram recebê-lo. Muito avexado
Assai ao nos ver se encaminhou até nos e apertando a mão de Severiano que já
era seu conhecido, cumprimentou a todos, e seguidamente um dos seus marujos
entrou no meio abrindo a boca para dizer:
--Patrão o homem lá do
boteco quer um saco de açúcar..... e se retirou.
--Me deem um tempo preciso entregar este saco de açúcar ali no bar do
Quiriba, a que olhando para Bento, homem novo e robusto e que não o conhecia
pediu:
--Companheiro da para você levar este saco ali para o Quiriba enquanto eu
converso com estes meus amigos?
--Perfeitamente meu amigo.
Seguidamente os dois agarraram o saco
de açúcar de 50 quilos, balançaram e foi parar nas costas do Bento que subiu a
ladeira rumos ao boteco e o negro Assai voltando-se para Severiano lhe
falou.
--Meu amigo, a
finalidade desta viagem não foi v trazer estas
mercadorias, mas sim uma urgência que tenho para falar com o dotor Juiz
de Paz e eu queria que vocês me apresentassem a ele, pois eu não
conheço.
--Conhece sim, você acabou de jogar um saco de açúcar nas costas dele.
--Ta
brincando Severiano?
--Não, é
ele mesmo o Juiz de Paz.
--Virge Santa Maria - exclamou e saiu correndo ladeira acima rumo
ao boteco.
Quando os dois se encontraram o Bento já tinha entregado a encomenda e vinha
voltando ao que o marujo chegando-se a ele atarantado tentou esclarecer:
--Me
desculpe meu irmão eu não tinha ideia de quem era o senhor!
--Esta tudo bem meu amigo, foi um prazer servi-lo, mas oque posso fazer por
você?
Saíram os dois a rua abaixo conversando e deve ter dado tudo certo por que
Assai dois dias depois viajou de volta não sem antes apertar o apito do barco
até sumirem rio abaixo.
O caso do guri rebelde.
--Certa feita eu estava caminhando
na rua beira rio, ali pelas oito horas da manhã me encontrei com
o Seu Bento e conversávamos sobre uma pescaria por que era voz corrente que os
cardumes estavam subindo e eram Pacus e Piabanha quando outro amigo, da porta
da casa dele, nos chamou, fomos, os dois, até lá e ele nos convidou para
entrarmos, na pequena sala uma rede que logo a ocupei, duas cadeiras e uma mesa
e as tralhas de vaqueiros pendurados em ganchos de madeira junto ao telhado de
palha e assim Tertuliano e Bento entabularam uma conversa sobre pescaria, eis
que neste momento entrou sala adentro um guri de uns 10 anos e foi direto
ao Tertuliano e foi falando:
--Pai
eu posso ir pescar?
--Primeiro tome a benção de seu padrinho Bento.
--Pai
depois eu tomo, posso ir?
--Não, não pode enquanto no tomar a benção.
--Então eu num tomo a benção.
--Espera moleque segurando o guri pelo
braço levantou-se e foi ate o arreio pendurado e de lá tirou um pedaço do
cabresto de couro trançado e deu uma lapada nas costas do guri que gritou, mas
se soltou correndo para cima do Bento numa gritaria:
--Padrinho, padrinho, o pai quer me bater num deixa não padrinho.
--Joãozinho
você tem que falar é com seu pai, não é comigo, não sou
eu que estou te batendo. Tertuliano agarrou o menino e lhe deu mais uma
chicotada leve --Vai tomar a benção.
--Num vou não.
Ai
o Bento entrou na jogada:
--Ainda tá pouco cumpadre chega mais um
pouco.
Tertuliano
levantou o chicote, mas o menino escapuliu e correndo se ajoelho em frente ao Bento de mão juntas e
olho chorado quase gritou:
--A benção meu padrinho.
--Deus te
abençoe meu filho, agora fique um pouquinho
O guri se enrolou no joelho do Padrinho
Bento escondeu o rosto entre as mãos e ficou quietinho... Mas não demorou muito
ele mansamente falou:
--Posso ir agora padrinho.
--Pode
meu filho pode ir.
E o moleque despencou de porta a fora rumo
ao rio com uma vara de caniço e uma lata de minhoca... Não sei se pegou peixe,
mas aprendeu muita coisa.
Resumo Histórico. |
Quem eram Severiano Souza Neves e seus parceiros?
Apenas homens simples, rígidos como a temperança dos aços, possuidores de uma
fibra inquebrantável igual às durezas de um diamante, homens que preferiam a
morte a se humilharem ou a serem envergonhados, eram os soldados da terra,
podiam dobrar os joelhos, mas nunca caiam se levantavam e iam à luta por um
mundo melhor, produzindo milhares de frutos e criando centenas de
animais, pois acreditavam em Deus porque sabiam que Ele existia. |
A oração de Severiano...
Pelos caminhos da Vida...
Obrigado Senhor... Pelas coisas que conheci,
Por ter me emprestado este
mundo para viver,
Pelas suas maravilhosas
matas com seus grotões,
Carregando águas límpidas e
cristalinas,
Tão puras como a própria
natureza.
Pela exuberância de suas
arvores centenárias,
Que pareciam alcançar os
céus abraçando as nuvens,
Que pairavam sobre suas
copas,
Pelos frutos de
inimagináveis sabores nunca dantes conhecidos,
Pelas aves perambulantes
saltitando pelos galhos,
Com seus cantos maviosos se
mesclavam a ruídos inebriantes,
Pelas flores e orquidáceas
com suas multicores
Enfeitavam com ternura o
ambiente circundante,
Obrigado Senhor. Pelos campos onde a gazela arisca,
Envolve-se em trejeitos de
flor da campina.
Pelos cerrados que tal
criança em evolução zela suas raízes.
Pelos arbustos e seus
frutos dormitando junto às nascentes,
E pelas palmeiras e
coqueiros que enfeitam o eterno verde,
Junto aos olhos d'água onde
brotavam a seiva da vida,
Transparente imácula vão á
busca dos riachos,
Junto aos ribeirões
finalmente enlaçados com o rio,
Num abraço fraternal
retornam ás suas origens,
Obrigado Senhor... Pelas
belíssimas e saudosas praias,
Onde nas noites calmas e
sem a luz das cidades,
Pode-se olhar às miríades
de estrelas brilhando no céu,
Acompanhadas por um
inebriante e apaixonado luar,
Trazendo a caricia da brisa
num toque leve e suave,
Revelando um suntuoso mundo
de paz e harmonia.
Os peixes alegres brincam
saltitando nas águas,
Encantados com os
magníficos reflexos estelares.
Pelo sol prestimoso que nos
aquece e ilumina.
Pelo vento que sopra e nos
trás a brisa,
Não se sabendo de onde vem,
e nem para aonde vai,
Até então tudo era
harmonia, tudo era paz.
Perdoe Senhor. A raça
humana pecou ao não saber,
Agradecer a Tua oblação e, passaram a conspurcar as Sua Obras,
Os ares estão infestados de
gases poluentes e as chuvas,
Já não são mais de água
pura e sim levemente acidas,
Oriundos das chaminés das
fabricas e da volatilização das lavouras,
Saturadas de venenos
químicos que penetram no solo afetando,
Impiedosamente os
microrganismos, que recuperam a terra,
Na sequencia estes mesmos
beligerantes químicos estão extinguindo,
Os veículos da polinização
como as abelhas e outros insetos,
E a flora se queda em
declínio, na continuidade estes venenos,
Ao se infiltrarem, nos
lagos e nas águas ribeirinhas as contaminam,
Exterminando os alevinos
não permitindo a reprodução das espécies.
Triste herança... Que
deixaremos para nossos filhos e netos.
Meu Senhor... Como tudo
mudou, já não há mais a paz no campo,
As nossas águas cristalinas
se envenenaram,
As nossas matas e cerrados
estão virando planícies nuas,
Onde só brotam abrolhos e
ervas daninha,
Não mais existem os
suntuosos sertões,
Onde todos tinham ao seu
habitat e a uma vida livre.
Já não existe mais os
campos floridos,
Nem beleza do planalto da
serra do roncador,
O nosso cerrado, que tinha
apenas experiência de criança,
Zelava seus organismos
impiedosamente massacrados,
Pelas maquinas dos senhores
feudais que na sequencia,
Expulsaram a fauna
silvestre e queimaram pelo fogo,
As esperanças dos pequenos
animais que desapareceram nas cinzas.
Agora restam poucos a
vaguear por terrenos devastados.
Senhor... Os sobreviventes
usam da piedade do sertanejo,
E vão matar a fome junto
com as galinhas nos terreiros,
Das pequenas propriedades,
assim também um lobo Guara,
Solitário procurava
sobreviver entre as intrusões e seu recanto.
Sentia o cheiro da comida
na cozinha do alienígena.
Mas o casarão de alumínio e
o asfalto limitavam a sua ousadia.
Ficava do outro lado da
estrada apenas olhando os galpões,
Mas se quedava assustado e
não se atrevia chegar perto,
Apenas servia de agradável
surpresa aos transeuntes passantes,
Mas um dia, algum perverso
o matou, bem ali junto do asfalto.
Bem ali junto da cidade
irmã Porto Alegre do Norte.
Perdoe Senhor a estes
beligerantes enclausurados,
Em senhores feudais donos
do mundo milionário,
Habilidosamente, arrendam a
terra de terceiros menos avisados,
As usam dilapidando e
sugando toda vigor fertilizante,
Para depois as devolverem
enfraquecidas terras em agonia,
Sufocadas pela acides que
aflora e as abandonam,
Dilapidadas e inservíveis,
na solidão nua ao sol.
Os buritizais a beira dos
brejos foram sacrificados,
As dezenas tombaram ante a
arrogância impiedosa,
Dos alienígenas ainda com
os cachos cheio de frutos.
Terra dantes verdes se
transformaram em deserto,
Os nossos cerrados breve
serão mares de areia sem vida.
A lei do mais poderoso
ainda prevalece,
Tumultuando a vida dos
sertanejos e a dos índios,O pobre só tem ao Senhor e
a eternidadeTalvez um dia na sombra de um tamboril ou pequizeiro,neste nosso sertão devastado, antes do final dos tempos,Eu ainda possa escrever mais alguma coisa,
Certamente
o Senhor ainda mora aqui no rio Araguaia, "Senhor abençoe estes povoados
irmãos, agora cidades “Luciara, São Felix do Araguaia, Porto
Alegre do Norte, Alto Boa Vista,Confresa e Canabrava do Norte Frutos da aventura, dos mesmos homens que buscavam a tão sonhada Terra Prometida e as encontraram,Onde hoje vivemos irmanados, repletos de paz
e amor,Porque acreditamos em TI e sabemos que
Existes. Nos perdoe Pai e nos abençoe. Amem.
A lei do mais poderoso ainda prevalece,
Tumultuando a vida dos sertanejos e a dos índios,
FIM
“Dedicado a Wilson Leite”.
Hino
do rio
Araguaia.
Meu
Araguaia, oh! Quanta beleza,
Em tuas
praias de brancas areias,
Tuas
noites lindas de luar banhadas,
Aruanã,
dos Karajás na aldeia.
Oh!
Rio cheio de encantos,
Que banhas a minha terra,
Todo o
orgulho de minha’ alma,
Teu rolar garboso encerra.
Quero
que no teu banzeiro,
Vá meu sofrer minha dor,
Meu
Araguaia querido,
Por ti eu morro de amor.
O canto alegre de tuas
gaivotas,
Nas manhas lindas sempre
lindas,
Na alma da gente deixa mil
saudades,
No coração mil doçura
infinda,
Já não posso mais aturar,
O coração cheio de magoas,
Meu Araguaia querido,
Me leve nas tuas águas,
Quero que no teu banzeiro,
Vá meu sofrer minha dor,
Meu Araguaia querido,
Por ti eu morro de amor.
§
Carta
Poema dedicada ao Bispo da Terra.
(A raposa do
Araguaia)
Disse: Ele eu não sou deste mundo,
Mas vim para este mundo.
Disse Pedro Maria:
Morrerei em pé como as
arvores,
Com a minha morte,
Minha vida se fará verdade.
Não Pedro Maria...
Sua vida sempre foi amor e
verdade,
Mas, ainda há muito que
fazer,
É glorioso descobrir que há
luz em nosso caminho,
Nos também não somos deste
mundo,
Sou seu irmão, foi o nosso
PAI quem nos criou.
Viemos para aprender e
ensinar,
A beleza das Plêiades e sua
família,
Acompanhe o andarilho fujão
Arcturus,
A ciumenta postura de
Beteljeuse,
E a inveja de Rigel
que expele treze mil vezes,
tanta luz e calor
como o nosso Sol,
O conglomerado de Hercules,
E seus milhões de diamantes
a faiscar,
A grandiosidade de Orion e
Roseta,
As distantes Alfa-Centauro,
Vega e Capela,
Os planetas, os satélites e
suas vinte Luas,
Terra, Marte, Júpiter,
Urano, Saturno, Netuno,
Vênus, Plutão e Mercúrio.
São miríades de hostes e
galáxias,
Obras incomensuráveis de um
Só PAI e CRIADOR.
Acreditas Pedro Maria, que
só há seres inteligentes,
Aqui neste pequeno e
empoeirado mundinho nosso?
Não Pedro Maria, há muito
mais vida, mais além,
São milhões de mundo que
não conhecem o pecado,
Portanto, aventuremo-nos
pelas avenidas estelares,
Buscando o descanso tão
decantado por ti! Pedro Maria...
A paz da instrução
espiritual está inserida no
Trono de Deus, junto à
poderosa fonte,
Que supre o poder e Luz que
opera este,
Magnífico mecanismo que é o
Universo!
O montante de energia é
incalculável.
Para o nosso pequeno
recanto empoeirado,
O nosso carente sol só fornece
um fluxo regular
De energia, igual a quatro
centilhões de H.P.
É apenas um entre dez
bilhões de sois.
Pedro Maria,
Calcule então, qual é a
prodigiosa energia,
Que deve ser usada, para
conservar e manter,
O mecanismo do Universo em
movimento.
Como deve ser o poder
daquela Mão!
Que dá corda à tremenda
fonte! Num Universo todo,
Que nunca teve começo e nem
fim!
É um paraíso vivo, em que
tudo nele tem vida.
Não se podem afrouxar os
laços de Orion.
E nem manter unidas as três
estrelas,
As irmãs Mintaka, Alnilan e
Alnitak,
As duas, das três primeiras
andam juntas,
Mas pode se vir a olho nu a
rebelde Alnitak,
Distanciar-se para o leste
a ponto de deformar
O triangulo perfeito, mas
ela se autogoverna,
Vai para onde quer e do
jeito que quiser,
Vede Pedro Maria... Até as
estrelas tem vida própria.
Deus escreveu a historia da
criação e da onipotência,
Nas maravilhosas obras
naturais com que nos rodeou,
Vá Pedro Maria,
Vá ardilosa Raposa do
Araguaia,
Vá para uma praia do teu
rio, numa noite escura,
Poderás ver a grandiosa
obra do Pai,
Olhe para o azul
do céu e veja a beleza irradiante, Obscuros serão os olhos que
não as verem,
E frio o coração que não se
extasiar,
Ao vislumbrar as
maravilhosas hostes celestiais,
Que miríades enfeitam o
suntuoso azul,
Medita Pedro Maria, escutas
teu coração,
E encontraras em ti o teu
verdadeiro valor,
Pedro Maria... Um filho do
Criador.
Tens muito a fazer na luta
a que viestes,
Para se conseguir paz,
justiça, amor e liberdade,
É preciso haver lugar para
todos, sem privilégios de uns,
Afinal, somos todos irmãos
filhos de um só Criador,
Levante sua voz, clame aos
quatro ventos,
Não se quede calado e
impotente, pois amigo...
Pedro Maria... Lembre-se
que...
“O espaço e o tempo assim
como a onipotência,
e a onisciência são
inescrutáveis”.
Portanto, levanta-te Pedro
Maria, e vá à luta,
Há muita gente precisando
de ti...
Jesus está contigo...
E... Eu também...
Vá para uma praia do teu rio, numa noite escura,
Poderás ver a grandiosa obra do Pai,
Olhe para o azul do céu e veja a beleza irradiante, Obscuros serão os olhos que não as verem,
E frio o coração que não se extasiar,
Ao vislumbrar as maravilhosas hostes celestiais,
Que miríades enfeitam o suntuoso azul,
Medita Pedro Maria, escutas teu coração,
E encontraras em ti o teu verdadeiro valor,
Pedro Maria... Um filho do Criador.
Tens muito a fazer na luta a que viestes,
Para se conseguir paz, justiça, amor e liberdade,
É preciso haver lugar para todos, sem privilégios de uns,
Afinal, somos todos irmãos filhos de um só Criador,
Levante sua voz, clame aos quatro ventos,
Não se quede calado e impotente, pois amigo...
Pedro Maria... Lembre-se
que...
“O espaço e o tempo assim
como a onipotência,
e a onisciência são
inescrutáveis”.
Portanto, levanta-te Pedro
Maria, e vá à luta,
Há muita gente precisando
de ti...
Jesus está contigo...
E... Eu também...
Wdgh.
Doces recordações: De
Severiano, Dona Edilia, Nega, Suely, Amojacy, Newton Burjak, Hélio,
Dagia, Alexandre Karwajaski (Barco Ouro Branco), Aderson e Losinha, Clarismundo
e Elsa, Juracy e Milburges, Leonardo, José Dedinho, Aldenor, Miranda e esposa Maria e seus filhos, Maria Vilas Boas, Terezinha, Eunice, Nilton, Juvêncio e Tonica, Vitor Queiros, Alvino, Bonfim, Pisca, Tabagira, Barbosa, Emenergildo, Enzo, Aristides, Savarú e Kutiri e de muitos outros amigos e amigas
que trataremos, a seguir, na continuidade deste livro, a estes e a outros
os quais eu dedicarei o meu trabalho... Boa sorte que Deus os tenha.
O Autor, Wolfgang Dankmar Gunther, chegou a esta cidade, ainda
distrito, na Bandeira Piratininga em 1948 e São Felix só tinha treze casas
beira rio. e ai ficou em 1953 casou-se em São Felix, foi o primeiro casamento
civil registrado no Cartório, foi chefe na Ilha do Bananal na FBC por nove anos
deixando centenas de amigos, foi transferido para a policia Federal em Brasília
onde cursou na Academia (cursos intensivos) finalmente foi cambiado para
Cuiabá, mas não residiu ali sendo colocado a disposição do Fórum de Justiça de
Barra do Garças e ali permaneceu por mais nove anos até se aposentar. Passou a
residir desde então em Porto Alegre do Norte, não deixando de visitar São Felix
e Luciara. e se dedicou a por em papel as suas memorias e finalmente
terminou os 14 livro todos lançados na Internet com a sigla "..eloperdido.gunther-blogspot.com..".. ou "Gunther
- A Historia de São Felix do Araguaia" e de outros municípios, agradece a
Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso que lhe concedeu o Titulo
de "Cidadão Mato-grossense" em maio de 2002 e
seguidamente o titulo "Moção de Louvores" em 15 de dezembro de 2005 e
a Câmara Municipal de Porto Alegre do Norte lhe concedeu o titulo de
"Cidadão Porto Alegrense" em 29 de junho de 2005. mas, a melhor coisa
que conseguiu nestes quase 90 anos foi o presente da grata presença e carinho
de seus amigos e de seus familiares sob a tutela de um Deus Único - e sempre
usando o slogan:
"PORQUE BUSCAIS A TANTOS QUANDO
HÁ SÓ "UM" A SER ENCONTRADO?.
Abraços a todos.
autor: Wolfgang Dankmar
Gunther.
Avenida Piraguassú 1415. Cel 66984071193
Porto Alegre do Norte MT.
CEP 78.655.000.
A beleza das índias brasileiras.
FIM
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