terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

A historia de Santa Terezinha MT


O Elo Perdido XIII
                                      Em...








      A historia 
              de
 Santa Terezinha. 

Autor: Wolfgang Dankmar Gunther.

Introdução.

Dados Geograficos  e estatisticos.

Distrito de Santa Teezinha/séde.
População em 1995: 8.903 habitantes.
Àrea total 6.477,87 klms².
Distancia da Capital do Estado: 1.313,50 Km. Aerea 811 klms..
Clima:
Equatorial quente humido com precipitação anual de chuvas em 1.750mm temperatura maxima de 24º  a  42º. minima 08°.
Localisação;
Mesoregião 128 Nordeste Mato-grossense.Microregião 525: norte Araguaia.
Coordendas: 10° 28” 11’  Sul – 50° 30” 11’ oeste.
Foramação Genealógica:
Coberturas não dobradas do Fanerozóico. Coberturas dobradas do Proterozóico com granitoides associados.
Faixa movel- Transamazônica.
Depressão: Araguaia – Planice do Bananal.
Bacia do extinto mar de Araés - Amazonas – Tocantins.
Araguaia recebe pela esquerda , os rios Tapirapé, Tucunaré, Crissotemo e Antonio Rosa..
A denominação “Santa Terezinha” foi de autoria do Padre Francisco Jentel  ou  François Jaques Jentel.

A criação do distrito de Santa Terezinha deu-se em 29 de outubro de 1976 pela Lei nº 3.758 com território pertencente a Luciara. A Lei nº 4.177 criou o Município em 04 de março de 1980.

Histórico...

Um Francês no Brasil..                  


                   Ali em cima daquele morro de areia os casarões construídos pelos padres da então Missão de Conceição do Araguaia impressionavam pela sua imponência realçando a grandeza do rio Araguaia. A velha missão ficava junto ao rio, e pareciam resistir às intempéries dos tempos, pois eram bem antigos. Napoleão e sua esposa Verônica que era o encarregado daquele conjunto de casarões da Prelazia de Conceição do Araguaia para zelar da missão.
                  A areia quente ao meio do dia fervia nos pés descalços, nada parecia ter vida naquelas horas de insolação. Nenhuma viva alma sequer perambulava por ali. Era só sol e solidão. Seu nome era Santa Terezinha do Araguaia, assim era conhecida.
                 Rio acima, no lado  do   Estado  de Mato Grosso, na barra do rio Tapirapé com o rio Araguaia, entre dois morros ficam as aldeias dos índios Carajás e dos índios Tapirapé.
As Irmanzinhas de Jesus- Aldeia Tapirapé.
                 Contornando o varjão da beira do lago chegava-se um vastíssimo mangueiral onde ficava a aldeia dos índios Tapirapé e ali residiu o Padre François Jaques Jentel, mais conhecido por padre Chico, e o Padre Foucault que permaneceu por longo tempo e as três freiras irmãzinhas de Jesus. Vez por outra, quase no final da história, aparecia uma missionária francesinha de nome Denise. 
               Entre as duas aldeias moravam a já comentada velha e antiga moradora que ali havia chegado com sua família em 1926 eram estes o Elói Pinheiro e Dona Inês Pinheiro e seus filhos e filhas.
                 O nome da aldeia dos índios Carajás  era Posto Indígena Heloisa Torres e o negro Valentin e sua esposa Joaninha eram os encarregados.
                 Aquele homem magro, de andar ligeiro, queimado de sol e simples como um peão do trecho era o Padre Chico e aquelas três mulheres, eram as irmãzinhas de Jesus, freiras abnegadas que dedicavam junto com Padre suas vidas aos índios Tapirapé e Carajás, eram educadas como uma flor e humildes como só os simples sabem ser e na ajuda o pobre e bondoso Padre Foucault.
                  As três casas, duas, eram de pau a pique e outra de madeira, todas cobertas de palha, eram a igreja e duas residências, sendo que uma servia de ambulatório e dormida das irmãzinhas e da francesinha Denise, e a outra para os dois padres, isto quando Foucault ou outro aparecia, nos fundos um galinheiro e dois canteiros de verduras, destes feitos com forquilhas e suspensos.
                 No ar, uma tranquilidade incrível, parecia que o resto do mundo nunca existira ali tudo cheirava a amor, carinho e abnegação e até os pássaros alegres pareciam festejar aquela benção divina, nunca mais senti um torpor tão maravilhoso em minha vida como aquele ali.
                   Como eu havia dormido na casa de Dona Inês, ainda estava cedo para fazer uma visita a meu amigo, mas, ali estava eu.
--Padre...
--Dankmar, que surpresa agradável, entre, irmãzinhas olhem quem esta aqui!
--Bom dia seu Dankmar – cumprimentaram a três de uma só vez e muito alegres.
--Como vão às coisas por aqui Padre?
--Com exceção do caso da família do Valentim que quase morrem envenenados pela própria filha, o resto esta bem, mas fiquei sabendo de algo de anormal lá por ”Saint Terezin”, mas vou lá hoje ver o que esta acontecendo.
--Eu fiquei sabendo o caso do Valentim, mas eles já estão recuperados graças a Deus, eu vim aqui para conversar um pouco contigo sobre os acontecimentos em Santa Terezinha e se possível irei junto.
--Esta bem. Se não sairmos hoje, amanhã cedo sairemos, nos vamos por terra e é longe.
--Enquanto conversamos as irmãzinhas vão fazer um almoço bem cedo e você fica conosco.
--Eu também irei – remendou o padre.
                Aproveitei  fui  revisitar  a  família  do  negro  Valentim  que  estava   muito fraca  e se recuperando da tragédia do envenenamento, e também fazer uma visita para Dona Inês, João Pinheiro me emprestou uma égua arriada para a viagem e voltei bem cedo, no outro dia  para a Aldeia Tapirapé.
                   O Padre Jentel já estava de pé.
--Vamos tomar um lanche e seguir viagem Dankmar.
--Mas aonde esta o seu animal? Você vai a pé?
--Vou sim desça logo.
                   Desci, tomei um lanche rápido e montei e o padre Chico já estava andando no rumo da trilha e eu o segui e lá se fomos nós, o Padre ia à frente de mochila nas costas e marcando o caminho e com sua sandália de látex ponteava o trilheiro. Francamente nunca vi ninguém andar tão ligeiro, às vezes eu tinha que trotar a égua para acompanhá-lo. Quase matou a égua de cansada. Chegamos a Santa Terezinha já era de tardinha, o Padre parecia que nem tinha andado e a égua quase chega empurrada, afinal eram sete léguas ou 42 quilômetros como quiserem e no meio de trilha e arbustos misturados com lagos, pantanais e areões um verdadeiro Rally.
                   Durante a viagem fiz uma retrospectiva da vida de Padre Chico “O Padre Chico, como era conhecido, morava a muitos anos junto da aldeia dos índios Tapirapé, simples, humilde, e muito pobre, ele e as irmãzinhas se dedicavam exclusivamente aos índios Tapirapé e Carajás cuja aldeia não distava mais do que dois mil metros. Era o Posto Heloísa Torres, aonde o nego Valentim e sua esposa Joaninha eram os encarregados, bem perto morava Dona Inês com sua família, eram toda uma só feliz família Nas noites limpas de lua cheia podia se ouvir as índias Tapirapé ao redor de uma fogueira a cantarem lindas, suaves e melodiosas cantigas indígenas. Nunca mais eu ouvi nada igual, os índios Carajás faziam suas festas Aruanã e com estes procedimentos aproximavam-se culturalmente as duas raças, porque não dizer as três raças, eu mesmo aprendi a fazer arco e flechas, Não parecia às turbulentas cidades de pedra do mundo lá de fora. O padre Foucault tentando levantar um canteiro colocava três forquilhas de cerne e uma de pau branco, eu e os índios o ensinamos que com uma forquilha ruim o canteiro iria cair, ele entendeu foi até o mato e trouxe uma boa, Mas estavam para começar as modificações, e o Padre Chico viria isto assim que chegássemos a Santa Terezinha.       
                   Chegamos as quatro horas da tarde e fomos á casa de Napoleão que era o encarregado daquele conjunto de casarões da Prelazia de Conceição do Araguaia  ali em Santa Terezinha..
                   Batemos na porta, demoraram a atender, finalmente Verônica a esposa de Napoleão aparece bocejando, estava dormindo.
--Padre Chico!
--Estava dormindo irmã?
--Deitada, padre, cochilando.
--E Napoleão esta? Sim, já se levantou, mas entrem - e continuou.
--Seu Dankmar esta aí também? Á quanto tempo não lhe vejo.
--Boa tarde padre, boa tarde Dankmar – falou Napoleão aparecendo.
--Mas o que esta acontecendo Napoleão? Indagou Jentel.
--Padre... – gaguejou Napoleão – Sua benção.
--Ulala me conte logo depois te abençoou.
--Chegaram aqui uns homens dizendo que são os donos de todas estas terras e que vieram de Conceição com uma ordem do Bispo, eles estão lá na casa grande, vamos até lá agora.
--Mas o que esta acontecendo aqui?  Tornou a se impacientar o Padre-quase gritando.                    

Santa  Terezinha em evolução

                 O calor do meio dia explodia sobre aquelas areias quentes e as poucas árvores não faziam sombra alguma. O rosto do Padre Chico se transformou como de água para o vinho, via-se claramente a indignação à raiva e a revolta em seus olhos. Já não era mais o pacifico Padre Chico, agora era o rebelde Padre François Jaques Jentel.
                   Um movimento inusitado parecia ter transformado aquele monte de areia quente em algo inexplicável.
                   O encontro inesperado com a civilização vinda sobre asas de aviões, o movimento de gente estranhas em seu território ascendeu-lhe na alma uma chama apagada há muito tempo.
--Vamos ver o que esta acontecendo – explodiu   enquanto caminhava na areia quente rumo ao casarão.
                   No casarão um homem alto e simpático muito bem vestido e com um sorriso no rosto apareceu à porta cumprimentando:
--Olá, - estendendo a mão ao Padre que não correspondeu --Meu nome é Humberto Machado e sou o proprietário da Linha Aérea Nacional.
--Tem uma carta para mim – cortou o padre – por favor, me entregue logo quero vê-la.
--Aqui está Padre.
                   Jentel procurou uma cadeira leu a carta umas quatro vezes e parecia não acreditar.
--Como é que vão chegando e se apossando da missão sem antes ter falado comigo, aqui tinha muita coisa importante guardada – zangou.
--Eu tive ordens de chegar e me arranchar com minhas coisas afinal as terras são minhas e eu não podia ficar no tempo ou embaixo de uma arvore com tanto instrumento.
--Muito bem veremos o que vai acontecer, - terminou o Padre virou as costas e saiu.          
                  No outro dia ainda cedo, dois aviões Douglas sobrevoaram e desceram na pista, com eles vieram muitos homens, e também Hilton Machado, irmão de Humberto era um dos mais fortes proprietários da empresa e trouxeram muitas ferramentas, começavam a colonizar.
                  Deste dia em diante o Padre Jentel tumultuou a vida de todos, organizou cooperativas, associações e promoveu uma pequena revolução. Lutou muito para defender os antigos pioneiros, organizou grupo de posseiros fundou sindicatos e passou a congregar centenas de trabalhadores rurais que chegavam de todos os cantos do país, estava declarada a luta aberta pela terra que não era de ninguém. 
                   Mas o Padre era muito habilidoso, e amigavelmente se misturou aos proprietários com a finalidade de saber quais seriam seus movimentos.
--Muito bem – dissera a Hilton Machado - Já que o Bispo recomendou que lhes desse todo apoio é o que farei.
--Inicialmente só precisamos desta casa, logo vamos construir dentro de nosso projeto. Discutiram por varias horas, mostraram os mapas e falaram a vontade de tudo que o padre queria saber.
--E ai padre tudo bem – perguntei.
--Nem triste nem alegre - foi á resposta lacônica
                   Mas seus olhos continuavam brilhando com uma nova chama, sua voz se tornou firme quando me segurando pelo braço disse:
                  --É chegada a hora! Certamente agora começarão a chegar os grileiros, pistoleiros, garimpeiros e mulheres vadias, isto aqui vai bagunçar a vida dos sertanejos, só Deus para nos livrar desta.
                   Mas a minha maior preocupação era com Padre Jentel ou Padre Chico como queira, foi quando fiquei sabendo que a Linha Área Nacional já não eram mais as proprietárias daquela encrenca. E que a em breve a Codeara assumira o comando, fiquei apreensivo, pois sabia muito bem que Codeara, a Companhia do Desenvolvimento do Araguaia, o BCN – Banco de Crédito Nacional e o Cartório Medeiros da Capital de São Paulo eram intimamente ligados, ainda mais tendo adquirido certo volume de terras de Michel Nasser lá de Campo Grande, embora aquele houvesse reservado uma pequeníssima área de 5.935 hectares para assentamento dos antigos posseiros.
                   Foi à pólvora do barril explosivo chamado Jentel.
             Mas necessário se torna retroagir ao passado para unirmos partículas de ficção da história para assim construir e consolidar a “historia de baixo” onde o mito e a realidade muitas vezes se confundem, mas deixam aflorar conteúdos dinâmicos de fatos surrealistas que realmente aconteceram.
“Mais uma vez isso não nega que o passado “real” tenha existido, apenas condiciona nossa forma de conhecer esse passado, só podemos conhecê-lo por meios de seus vestígios, e de suas relíquias. (HUTCHEON.1991 152)” (Gunther 2005).
                   E assim persiste ainda, a amarração da história na obra, por meio de documentos como o trecho do livro “Rio Araguaia de Corpo e Alma” citado a seguir:
  
               “Conta a história que um DC-3 da Nacional Transporte Aéreo, comandado pelo piloto Hilton Machado, fez um pouso de emergência nas praias do Rio Araguaia, no local onde nasceria o Vilarejo de Santa Terezinha. O passageiro Holck e o comandante – hoje proprietário da Votec – ficaram encantados com o local e combinaram adquirir terras a partir das margens do Araguaia e nelas implantar atividades pecuárias. Um comerciante vindo de Campo Grande (MS) Michel Nasser, se associou ao projeto e os três juntos requereram em 1957 terras do Estado e conseguiram uma gleba de 1,5 milhões de hectares [...] divisões sucessivas da gleba original terminaram sendo a Confresa de Jose Augusto Leite Medeiros e Jose Carlos Pires Carneiro e a Codeara do grupo financeiro e banqueiro BCN (BORGES, 1987:380)” 


                  É perceptível ainda, a ligação da história na obra, por meio de documentos como a ata abaixo que gerou a origem nascitura de uma nova era não só econômica, como político-social que veio a se chocar com os costumes dos nativos regionais quebrando o elo de sua cultura secular:
  
Eis a integra:
“Assembléia Geral Extraordinária - Primeira convocação. São convidados os Srs. Acionistas a se reunirem em AssemblÀs 10 horas do próximo dia 16 (dezesseis) do corrente mês, na sede social, a Avenida Franklin Roosevelt n." 137, 12.° andar, nesta Capital, a fim de tornarem conhecimento e deliberarem sobre: a) Proposta da Diretoria para a criação de uni organismo destinado a implantação de um núcleo de colonização e desenvolvimento do Vale do Araguaia; 
                   b) Outros assuntos de interesse social, relacionados com ou                 decorrentes do item anterior. Os titulares de ações ao portador deverão depositá-las na sede social, com a antecedência de três dias, de conformidade com os Estatutos. Rio de Janeiro, 6 de novembro de 1957. A Diretoria: Hilton HMachado, Diretor Presidente: Cari Heinrich Holck, Diretor-Superintendente; Humberto Machado era responsável pelo desenvolvimento das atividades sociais prefixação do elemento humano rente a ao solo, o aproveitamento econômico da região, assim como a elevação do nível de vida, saúde e instrução, bem como o preparo técnico dos habitantes da zona do Vale do Araguaia, cumprindo-se, assim, os dispositivos estatutários contidos no artigo segundo e seu parágrafo primeiro. Concretizando, pois, o assunto, vem esta Diretoria submeter à deliberação da Assembléia Geral a presente Proposta, que será acompanhada do respectivo Parecer do Conselho Fiscal, ao qual, previamente se a encaminhara. Por esta Proposta, e recomendada a criação de um organismo destinado a implantação de um núcleo de colonização e desenvolvimento do Vale do Araguaia, o qual terá por finalidade estabelecer condições próprias a fixação, naquela zona, do elemento humano, facilitando aos colonos e imigrantes o arrendamento e aquisição de áreas de terra, de que se tornarão, futuramente, proprietários, assim como proporcionando-lhes os meios indispensáveis a sua educação. saúde e bem estar. Para tal fim, torna-se necessário modificar os atuais Estatutos da Sociedade, de modo a permitir ampla flexibilidade na atuação do novo órgão a ser criado e que a Diretoria propõe seja denominado de Colonização e Desenvolvimento do Vale do Araguaia por bem caracterizar seu objetivo.

                              
A Codeara assume o comando, no lugar das Linhas Aéreas Nacionais Subsidiárias do Banco Nacional de Credito – BCN com sede em São Paulo.

“Assim, toda região ocupada por índios e sertanejos passou, oficialmente, a pertencer a grandes empresas. O governo desconsiderou absolutamente a presença dos moradores que, embora sem título de propriedade, há décadas viviam naquela região. Pe. Francisco Jentel, que desde os inícios da década de 1950 trabalhou com os Tapirapé ao lado das Irmãzinhas de Jesus e, por fim, como vigário de Santa Terezinha, sentiu concretamente as imposições dessas companhias. Depois de presenciar o fracasso da CIVA, depara-se de frente com a CODEARA. Em 1965, fundou com camponeses de Santa Terezinha, a CAMIAR, fortalecendo os trabalhadores para enfrentarem a CODEARA e reivindicar seus títulos de propriedades junto ao IBRA. Defendendo os trabalhadores, com a CODEARA Jentel travaria uma luta que resultaria na sua expulsão do país (Dutertre, Casaldaliga e Balduino, 2004 :18)”.

                      Barra do Tapirapé era um local bonito, o nome rio Tapirapé quer dizer “caminho de anta”, logo na entrada era o “Posto Indígena Heloísa Torres”, dos Índios Carajás, e quem o gerenciava era o negro Valentim e sua mulher Joaninha. Ao contornar a curva entrava-se em um lago e ali moravam a Dona Inês e seus filhos, João Pinheiro, José Célio, Luciana, Natividade, Oleriano, Raimunda e o Francisco, gente boa e amável passamos três dias com eles e bem perto ficava a aldeia dos Índios Tapirapé, lá as freiras irmãzinhas de Jesus e o padre (Chico) François Jaques Jentel e Foucault eram os missionários que zelavam dos índios Tapirapé, todos franceses.
                    No retorno de Santa Terezinha fui para a casa de Dona Inês, devolvi a égua já descarnada ao João Pinheiro, agradeci, dormi sofregamente sonhando com a revolução que se aproximava e cedo do outro dia fui visitar o negro Valentin na casa principal que era a sede do Posto onde morava com sua família, ainda me lembro daquele sorriso eterno que o negro tinha no rosto, e da magia humilde de pura bondade de sua esposa, eles não sabiam o que fazer para nos agradar, eu fui logo intervindo:
                   --Calma meus amigos nos ainda vamos ter muito tempo para conversarmos e falarmos de outros mundos lá de fora.         
               --Eu mesma estou com uma saudade louca de passear em Leopoldina, Goiás Velho, Goiânia, faz tanto tempo que não vamos lá fora - murmurou tristemente a esposa Joaninha.
                  Tomamos café com um bolo chamado “Mané pelado” feito de mandioca, o Antônio Pereira, também estava terminando seu café e logo após vendeu um bocado de coisas para o Chefe do Posto, os índios também compraram algumas miçangas e na maioria trocavam por enfeites, boneco de barro, cocares, arcos e flechas, enfim tudo que fosse arte indígena o Antônio Pereira as comprava a troco de mercadoria, era este o seu negocio, ele vinha de Goiânia com suprimentos e os trocava por enfeites que levava para Goiânia e os revendia, era, ao que parecia, um negocio rendoso. Da casa de Valentim voltamos a pé para a casa de Dona Inês, era no máximo uns mil metros, de longe ouvíamos o som de um violão e alguém cantando “Foi na casa de Mané Pedro - numa noite de São João - Toquei moda de viola e cateretê lá do meu sertão – cantei modas paraguaias para alegrar o coração – eu fiz muita veia chorar e muita moça sentir paixão...”.
                   --Oi de casa - gritei.
                   --Vamos entrando minha gente, por favor - convidava o cantor ainda com o violão na mão.     
                  Entramos naquela humilde, mas, bem zelada casa, e seus moradores foram aparecendo um a um e sempre nos cumprimentando.
                  Ficamos muitas horas conversando, nos éramos dois, eu e Savarú, Antônio Pereira ainda estava na Aldeia Carajás, ao entardecer encostou o barco no porto da Dona Inês e ali nos arranchamos. Estivemos apenas resto da manhã seguinte hospedado na casa da velha pioneira. Logo zingamos rio acima. O pequeno barco do adventista ia atolado de enfeites indígenas e ele lá traz, junto ao piloto, mentalizava o lucro que teria e  sorria, e nos  outros seguíamos rumo aos nossos afazeres,  eu teria um encontro com o Prefeito de Luciara do qual eu era Secretário Geral e senti no âmago de minha alma que em breve eu estaria envolvido nesta difícil e perigosa pendenga.
                  
                  Para melhor ilustrar o  ator principal do relato seguinte necessário se faz retroagir.
                  Depoimento de Dom Thomas Balduino:
                                         Foi na vigília de Natal de 1954 que o pe. Francisco Jentel chegou, pela primeira vez, ao pequeno povoado de Furo de Pedras, ás margens do rio Araguaia. Apresentou-se discretamente àquela comunidade de pobres lavradores, na hora em que estavam reunidos para celebrar a boa nova do nascimento de Jesus. Com eles rezou a missa. No dia seguinte, 25 dezembro, atingiu a aldeia Tapirapé.. Os índios estavam muito reduzidos em numero, dizimados pelas doenças e desnutrição. Com eles já estavam as irmãzinhas de Jesus, concretizando o projeto de convivência na plena comunhão de vida e situação. O primeiro ato do pe. Jentel foi celebrar o Natal com os índios e as irmãzinhas. E lá ficou morando e era chamado de Pranxiko e tinha 32 anos de idade e não falava nada em português, mas cedo aprendeu ambas as línguas inclusive Tapirapé.   Etc.etc.
 
                  Uma luta desigual teve inicio, mas nem sempre o mais forte vence, preparamo-nos para ela... De um lado a Prefeitura na pessoa do autor desta obra e do Padre Francisco, do outro lado o BCN em peso com o irascível  Dr. Murat e o cauteloso  Dr. Seixas – Estava armada a briga...E, os índios Tapirapé e Carajá,  os posseiros e o povo de Santa Terezinha torcia por nós...

CODEARA X Padre Chico”.

                   A Codeara assume o comando, no lugar das Linhas Áreas Nacionais.
Subsidiaria do Banco Nacional de Crédito –BCN - com sede em São Paulo, era regida sob a batuta de Armando Conde, e tinha na sua direção o Dr. Luiz Gonzaga Murat um extrovertido executivo e o Doutor Seixas, maleável como as rochas. Na fazenda quem manobrava era o capataz Silveira e o Salomão, homens violentos talhados para este difícil encargo que era dominar a região, só que tinham um espinho atravessado em suas gargantas, um simples padre chamado Padre Chico que era um osso duro de roer.
                   Jentel organiza e cria a Cooperativa Mista do Araguaia, seu secretário particular o jovem Reis passou a Presidente da mesma, novo, lutador líder incontestável da nova geração era a medida certa para a luta que se iniciava.
                  A Vila crescia  desordenadamente  assustadoramente, bares, armazéns, açougues, cabarés, e farmácias se instalavam. A previsão do padre Chico se realizava.  Mulheres da vida fácil chegavam a toda hora em barcos carregados de peões arrebanhados nos mais longínquos recantos do nordeste era uma constante.
                  Estava satisfeito o ditado popular “Um lugar para ser bom tem que ter cinco” P “= Padre – Peão – Policia - Puta e Pinga”
                  Surgiram então os primeiros atritos entre Codeara e os peões posseiros e o Padre Jentel sempre defendiam estes últimos. Muitas vezes a Policia Federal teve que intervir.
                  Os “gatos” que contratavam e traziam os peões que se embrenhavam mata á dentro para as derrubadas, os que escapavam da maleita, não escapavam da faca ou do tiro.

                                                    *
                  Naqueles tempos assim eram qualificados os peões:
Peão do trecho.
1–Peão Urutu
2- Peão Paraquedista
3- Peão Macaco
4– Peão Liso
5- Peão Mambira
6- Peão Gente                 
 O Peão Urutu (cobra), normalmente bem vestido, chapéu Panamá na cabeça, botas de cano longo, costeletas, cinturão largo e usava sempre um radiozinho a pilha. Sempre era muito respeitado, gostava de andar armado com faca ou revolver, adorava frequentar cabarés e era sempre tido como valente, mas, se portava sempre bem com as ‘mulheres’. Gosta de ficar devendo muito nas pensões em que se hospedava, mas quando arrebanhado, paga as contas, depois de dar um belo tombo no patrão, no mato bom trabalhador.

                 Peão Paraquedista, normalmente é um homem solitário, só carrega uma mochila, não tem amigos, e gosta de trabalhar sozinho, sempre ao ser arrebanhado pelos Gatos necessita de dinheiro para mandar para a mãezinha que esta longe e doente e para pagar as despesas na pensão e ainda comprar umas roupas, Sua especialidade é fugir dos patrões quando são recambiados para as fazendas. Usam dentro da mochila uma ou duas câmaras de ar de bicicleta dobradas e cheias de ar em meio às roupas. Quando o carro que o transporta esta em alta velocidade e que a estrada seja em meio a cerrado fechado ou mata, ele acrobaticamente pondo a mochila no peito pula do carro e cai no chão sobre a mochila, daí num salto espetacular põe-se a correr se embrenhando na mata. Quando o carro consegue parar ele já esta muito longe.
         
                Peão Macaco, e similar do peão paraquedista, só usa uma mochila com poucas coisas, e nas costas, e, quando a viatura vai à alta velocidade em meio à mata ele, tal qual um Tarzan da um pulo agarra um galho de arvore que passa e malabarescamente cai de pé e foge mata adentro - Dizem que peão macaco não pode ver um galho que da vontade de pular.

                   Peão Liso, este é o mais difícil de todos, pois sempre anda em grupo de cinco ou seis, se hospedam em boas pensões, gastam muito nos bares e com o mulherio. Gostam de pegar grandes empreitadas, mas sempre querem muito dinheiro adiantado para pagarem suas despesas e quando estão prontos para partir ai é um Deus nos acuda quando aparecem quatro faltam dois, saem dois em busca dos outros e ai some os quatro e ai o “Gato” só falta ficar doido para ajuntá-los, uns estão no bar bebendo, outros enrolados com as mulheres, normalmente o Gato usa a policia para ajuntá-los quando já estão bêbados.

                  Peão Mambira, o mesmo que tamanduá, que é conhecido por sua vagarosidade, mas ao entrar em uma moita de mato sabe se esconder e fugir rapidamente. O Peão Mambira age assim mesmo, sempre com o machado ou foice na mão entra para o mato e começa a trabalhar o fiscal esta escutando o bater do machado, de repente para, o fiscal vai até o local do serviço e só encontra o machado no chão o peão já sumiu na mata, por tal motivo são fáceis de arrebanhar e não são exigentes, os Gatos resolvem o problema fazendo-os trabalharem com outros grupos, mas no fim sempre acontece o mesmo. Tempos depois aparece em outra fazenda e diz que fugiu daquela porque estava sendo ameaçado. E torna a dar o golpe. Muitos morrem por estes motivos.
                  Peão Gente é o homem honesto e trabalhador que cumpre a sua palavra.
                Ditado comum em Santa Terezinha à época dos Paus de Araras.
             "Se peão fosse bala e rapariga fosse fuzil Santa Terezinha ganhava qualquer guerra no Brasil".     



Assim eram arrebanhados:
                  Caminhões cheios de homens, mulheres e crianças, cruzam as estradas rumo ao sertão mato-grossense – eram os Paus de Arara.
                   Sempre desviando o mais possível dos grandes centros, para evitar a repressão por parte das autoridades, os motoristas e os “gatos’ os conduzem de maneira mais rápida possível, ao ponto mais próximo de sua meta final”.
Os arrebanhadores de peões.
                   Os “Gatos” são chamados os empreiteiros, homens rudes e não raras vezes violentos, que são especialistas no tráfico interno de pessoas, ou seja, o proxenetismo.
                   Munidos de boas quantidades de dinheiro, estes homens saem por cidades nordestinas, onde o desemprego é uma constante realidade e ali faz o arrebanhamento de trabalhadores, como o vaqueiro arrebanha o gado.
                    Seus escritórios são os bares, sua clientela os peões.
                    --Peguei uma empreitada na Fazenda Marimba do Doutor Oscar lá em Mato Grosso que só vendo, desta vez eu me aprumo mesmo, vou tirar a barriga da miséria.
--É donde hei? – pergunta um peão.
--Lá juntinho do rio Fontoura, é uma beleza, o cheimm, o rio Suia passa perto também, bem dentro da terra do patrão, e tem peixe pra da cum pau, até o pirosca passa o dia aboiando na fonte de lava roupa.
                   --E a caça nem se fala, oia o compadre Cirso mato quatro porco junto do barraco dele, ele subiu num pau e jogou o gogo em baixo e os porcos ficarão estraçaiando o carção dele e enquanto isto ele ia matando um por um...
--Puxa sô, a maleita? Ouvi dize que dá em até macaco?
--Mentira danada, oia cumo to forte mais que menino.
--E a cumo você pegou essa empreitada companheiro?
--Peguei a quatro mil o alqueirão, mas é mole, num tem pau grosso e o patrão não deixa derrubar Jatobá.
--É, pode ser né, eu vou pensar.
--Quanto da proce paga pra gente?
--Bem, como ocê é um cumpanheiro bom vo paga três mil por alqueire.
--To feito vai o cumpadre Cirso u Doca e o Raimundo Parafuso, e vou leva a menina Rosinha pra cozinhá pra gente, tem perigo não a bichinha não é muito arisca não, e é boa cozinheira.                    --É isso ai, companheiro bota a turma pra trabaia.  O Peão pensa: ”Dá pra derrubar vinte alqueirão por mês é isto da os sessenta mil dividido por quatro, a menina tem que ganhar também da quinze mil para cada um. Vigeeee é dinheiro demais num precisa nem fasê a conta”.
--Quanto é que nois vai saí?

--Nu fim da semana num sabe, Eu estou hospedado na pensão da Ritinha aquela maranhense ajeitada, viúva nova, não dá pra saí ligeiro.
--Vo precisa de um pouco de dinheiro pra deixa em casa e comprá umas traias.
--Num tem problema, ocê passa amanha cedo lá na pensão que eu vo bate um contratosinho, atoa ocê sabe, só pra garanti, quem é vivo é mortal, ocê assina e eu te arranjo um pouco da mufunfa.
--Entoncês vamo tomá a saideira – termina alegre o peão
                   Cinco dias depois o caminhão cheio de gente, agora era o “pau de arara”, sai rumo ao sertão mato-grossense. Oito a dez dias de viajem puxados, poeira e muito balanço, cansados chegam ao ponto final a “Caseara” bem na margem do rio Araguaia, daí para frente a viajem é feita de barco. Finalmente pega outro caminhão e chega á fazenda do destino. Ali a coisa muda de figura, a mata é grossa, o broque é difícil, e a maleita da até em macaco, a morte campeia solta com um sorriso no rosto, mas não há mais como voltar, já estão devendo muito. Rosinha passou a ser propriedade do patrão agora serve de empregada domestica e é mandada, depois de muitos dias, para a casa de Goiânia, ainda esta muito bonita, mas um pouco buchuda, a regra é esta, pai pode ser qualquer um menos o patrão. Um pesadelo transformado em realidade dura e crua, era a vida e o destino dos mais fracos. 
--Cumpadre ocê teve noticia do nosso pessoal que foi para o Mato Grosso?
--Vi falá que mataram o Cirso, que o cumpadre Raimundo ta trabaiando notra fazenda num sei quar, do cumpadre Juca nem noticia, só sei que Rosinha se perdeu lá na cidade de Goiânia, us outros devem tar pur lá, mais nem noticia, sarô tudo tomara que a Rosinha vorte pra casa. Fiz até uns versos para ela.
--Quem ta é a mãe dela que chora todo dia.
--Me fale destes versos cumpadre?                    ..


Flor do sertão”.      

Menina sapeca,
Cria do Sertão,
Rosa, flor desabrochando,
Brinca, ri, e sofre desde então,
Diamante na vida forjado,
Agora moça nova bonita,
Rapariga meiga, seio arrojado,
Gazela ligeira e arisca,
Flor menina, flor do prado.

Na vida doce da ilusão,
Agita dentro á mocidade,
Tal fêmea busca o seu ninho,
Um fogo interno a invade,
Inquieta o corpo lança,
Nas sendas das aventuras,
Perde-se por promessas e juras,
Perde-se pela grande cidade.

Hoje flor mulher,
No jardim da amargura
Olha pela porta e espera,
Um amante sequer,
Triste coitada anseia,
Por uma noite de amor desespera,
Fervelhe o sangue na veia.
Não sabe mais orar,
Nem tem forças para pedir,
Resta apenas lembrar,
Aquela menina alegre a sorrir,
Sapeca correndo a brincar.
Magra, abatida pela sorte,
Rosinha, pobre desventurada,
Lembra sua terra longe,

Tempo de criança encantada,
Triste pede descanso na morte,
Talvez deixando esta vida Amargurada,
Bem no fundo do chão,
Terá paz sua alma torturada.
Hoje, vestido rasgado,
Filho sem pai, nascido do amor,
Terá o mesmo destino negro?
Cheio de ódio e pavor?
Não... Não... Rosinha vai voltar,
Agradece a Deus lhe Ter atendido.

Fica ai Rosinha,
Junto com o teu verdadeiro amor,
Se ainda sonhas com doces aventuras,
Sonha com teu travesseiro,
Agradece ao Senhor que te amparou,
Pensa nas outras que não mais voltarão,
Vede como sois felizes, pois Ele te Amou,
E elas, as outras Rosinhas?
Certamente Ele também as perdoou,
Na parede um quadro,
Que enfeitando a felicidade dizia Assim:
“Se a Rosa morasse no vale”,
Ele estaria cheio de amor,
E este mundo seria um paraíso,
Repleto desta  flor.

             
                   Muito bonita cumpadre, tomara que de tudo certo.
                   Por outro lado Jentel continuava atento aos movimentos dos novos donos aprendera tudo sobre a Codeara, sabia muito bem seu compromisso de compra e venda com Michel Nasser dizia na Sexta clausula: “Fica reservada uma área de cinco mil e quinhentos e noventa e dois hectares de terra para assentamento dos posseiros de Santa Terezinha” e dizia mais que se caso a área fosse insuficiente o vendedor indenizaria a compradora no excedente.
                   O Bispo Don Thomas Balduino, então prelado de Conceição do Araguaia, havia recorrido ao Presidente da República que por sua vez passara a atribuição ao Ministério da Agricultura e este encarregara o IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma Agrária) para resolver o assunto.
                  Começou ai uma luta que durou mais de seis anos, Padre Jentel X Codeara. Um exigia que a área fosse demarcada em determinado local, o outro não aceitava o Padre só queria o que fosse bom para os posseiros e a Codeara só queria o que fosse bom para ela. Estava difícil de decidir.
                   Durante este período de transição Jentel viajava muito e sempre pelo seu retorno trazia grandes novidades. Recebia muito auxilio de fora e com isto os posseiros e os índios se beneficiavam. Chegou até a ganhar um avião monomotor que ficou com a Prelazia de Conceição.
                   Uma nova era viria a modificar muita coisa naquela região, Luciara ganha um novo prefeito José Liton Luz filho do Cel. Lúcio Pereira Luz.
                   Uma das metas do prefeito era resolver o problema dos posseiros do então distrito de Santa Terezinha, uma reunião foi convocada e o padre Jentel participou ativamente trazendo mapas e cartas aerofotogramétricas, documentos e fotos foram expostas abertamente e o problema discutido chegando-se finalmente a uma conclusão “convocar a Codeara. Para uma reunião de cúpula”.
                   Como Secretário Geral da Prefeitura, e assessor direto do Prefeito, fui incumbido de representar a municipalidade e o Padre Jentel os posseiros e no dia marcado lá se fomos nós, eu o Chico.

                           *
 
   EU O Padre Chico e a cidade de Rio de Janeiro.

                   O Padre Chico já velho viageiro para o Rio de Janeiro tinha seu hotel preferido, o Hotel Gloria e lá nos hospedamos.
                   Na parte da tarde saímos para darmos umas voltas pelo aterro da Gloria, a beira mar, Cinelândia e praias, afinal a reunião fora marcada para nos encontramos na sede do IBRA no dia seguinte pela manhã, fizemos uma boa caminhada e conversamos muito olhando as beldades da cidade maravilhosa, era época que as minissaias estavam no auge da moda e de vez enquanto passava uma garota e eu aproveitava para mexer com o padre.
--Olha padre que belezura.
--Bobagem na Europa esta pior do que aqui e na França nem se fala bom mesmo é nosso interior onde moramos porque ainda ha respeito ao pudor e comportamento.
                   --Será?
--Bem, melhor do que aqui, é.
--E você só usa esta cruz na lapela, ninguém vai saber que você é padre.
--O que faz as pessoas não é a roupa, quero dizer não é o traje que faz o monge.
                   Eu costumava chamá-lo de “Padre Francisco, ou Jentel”, nunca gostei de chamá-lo de Padre Chico, fomos até o Cristo Redentor e na volta passamos por um prédio chamado “Caritas”.
                   Nota de esclarecimento...
      “A Caritas Brasileira faz parte da Rede Caritas internacionais, rede da Igreja Católica de atuação social composta por  162 organizações presentes em 200 países e territórios, com sede em Roma, Organismo da CNBB –Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil, foi criada em 12 de novembro de 1956 e é reconhecida como de utilidade publica Federal”.
                                                    *
                    --É aqui que conseguimos o dinheiro que precisamos e também muitas outras coisas. Temos muitos amigos na Europa que nos ajudam e a “Caritas” distribui, espere aqui fora um pouquinho - e dito isto entrou no prédio.
                   Então era ali a mina de ouro do padre, aguardei um bocado de tempo, e quando voltou não aguentando mais a curiosidade eu perguntei:
--Como é que vem este dinheiro e as outras coisas?
--De avião, de navio, outros os trazem pessoalmente.
--Você viaja muito para o exterior?
--Já fui à Alemanha, França e até na Argélia.
                   Não entendi porque ele disse até na “Argélia”, também não perguntei, voltamos para o Hotel e após um banho fomos jantar, vi que Jentel estava apreensivo.
--O que há Francisco?
--Oh, nada, não se aborreça, mas não acredito que consigamos alguma coisa, já vim aqui tantas vezes e nunca deu nada certo - respondeu tristemente o francês.
--Não vamos desanimar agora, esperemos para ver o que acontece – e como queria mudar de assunto – continuei – ----Escuta padre você não usa batina?
--Uso, mas não estamos na missa agora, estamos num restaurante.
--Gostei da bronca, assim esta melhor, mas hoje você vai pagar a conta.
--Não tenho um centavo – respondeu – não trouxe dinheiro, deixe no hotel.
--Mas eu também não trouxe.
--Pendure.
                   Tive que pagar e voltamos ao hotel, mas o padre saiu em seguida, e pouco depois, atendi um telefonema que era para ele:
--Quero falar com o Padre Jentel.
--Denise?- perguntei ao reconhecer a voz da francesinha, louca de bonita que era a secretaria do padre em “Saint. Terezin”.
--Sim, Jentel esta ai Dankmar?- perguntou com um jeitinho bem danado.
--Não, foi visitar uns amigos, mas disse que voltava logo. (tomara que o prendam por ai, aquele padre sortudo,).          .
--Informe a ele que cheguei hoje e preciso lhe falar, ele sabe onde estou.
--Muito bem, mas apareça por aqui.
--Sim claro eu vou ai – desligou aquele pedaço de mau caminho.
                   Deu vontade de entregar o padre e não contar nada para ele, mas assim que chegou, com muita relutância, babujei:
--Sabe quem ligou para você?
--Não, quem foi?
--Denise.
--Esta brincando.
--É talvez eu esteja, mas ela não, e esta te esperando.
--É serio?
--Ela disse até que você sabia aonde encontrá-la.
--Ulala – disse e já estava saindo.          
                   Chegou no outro dia às sete horas da manhã quando eu já estava tomando o café.
--Passou bem à noite? Perguntei.
--Claro, na casa de uns amigos.
--Denise estava lá?
--Claro que estava – respondeu sem pestanejar.
                   Saímos direto para o IBRA.
       Fomos recebidos pelo Dr. Mário um dos assessores do Presidente do órgão, que após nos anunciar retorna dizendo:
--O General Sérgio quer falar com o Senhor Dankmar, quanto ao Padre é favor esperar aqui e aguardar.
                   Meneei a cabeça, olhei para o padre e entrei.
                   --Bom dia queira se sentar – formalizou aquele homem atrás da mesa e continuou – o Senhor deve ser o representante da Prefeitura Municipal Senhor Dankmar.
--Sim, respondi secamente – eu represento a Prefeitura e o padre representa os posseiros.
      --Muito bem, acredito que sua viagem se prenda ao que o Doutor Murat me comunicou pelo telefone, mas infelizmente ele não pode vir, mas o Doutor Seixas que é o Diretor Técnico da Codeara veio em seu lugar.
                   --Muito bem, mas a que hora será a reunião?
--A reunião será ás quatorze horas de hoje, aqui mesmo no IBRA, mas o Padre Jentel é considerado “persona não grata” e não poderá participar.
--Mas o Padre representa os posseiros e não vejo como se chegar a um final sem a participação dele – protestei.
--Ele que passe uma procuração para o Senhor e estará tudo certo.
--Vamos ver se ele concorda – terminei levantei, me despedi prometendo voltar no horário marcado e falei com Jentel:
                   --Jentel, eles querem que você substabeleça a procuração para eu representar também os posseiros.
--Não vai ser por isso que não vai haver reunião, vamos a um Cartório agora.
                   Foi feito o que o General pedira, mas que o padre gostou isto ele não gostou. No horário combinado lá se fomos os dois eu e o Chico rumo ao IBRA, pouco depois fui chamado em uma ampla sala com uma mesa muito grande no centro e lá estava o Doutor Seixas mais dois advogados, dois engenheiros do IBRA e outro que não fiquei conhecendo, mas lá de casa eu estava sozinho no meio daquelas feras, mas o padre Chico estava na sala ao lado, certamente com o olho na fechadura e o ouvido na porta, lembrei-me dos posseiros e resolvi enfrentá-los, um velho pensamento de Jentel me veio a mente: “Nunca vire as costas aos pobres, pois estará virando as costas para Deus”.
                   --Boa tarde para todos – cumprimentei.
--Boas tarde – responderam alguns.
                   Após as apresentações o General Sérgio, Presidente do IBRA tomou a palavra.
--Solicito às partes que sejam coerentes e este assunto tome uma solução definitiva - olhou para todos e prosseguiu - Já que o padre não participa, creio haver uma viabilidade de entendimentos – concluiu quase cansado.
                   --Sempre foi intenção de a Codeara fazer esta doação, mas não víamos uma solução viável para o problema, mas agora, com interveniência da Prefeitura, o elo que faltava, estamos dispostos a cumprir a nossa obrigação a Codeara fará a doação e a Prefeitura se encarregara do assentamento dos posseiros – discursou o Diretor Técnico a seguir abriu um enorme mapa em cima da mesa, era a planta do projeto agropecuário da Codeara, e mostrando um canto em cima na planta me diz - aqui esta o local que escolhemos para a área a ser doada, é uma ótima posição, mata de primeira, muita água e estrada fácil – concluiu.
 Se ele conhecia pessoalmente a área eu não sei, mas que eu conhecia isto eu sabia, por ai entendi o porquê da resistência do padre, o pessoal da Codeara não era mole.
--É muito bom mesmo Doutor Seixas, ótimo, mas, a que eu estou informado o IBRA fez um belo trabalho escolhendo uma área, e eu gostaria de saber qual é esta área, talvez tenha mais condições do que esta aqui tão longe e sem via de acesso, e, eu jamais me oporia à capacidade de trabalho do IBRA - poderiam me mostrar à área?
--Claro eu mesmo fiz o trabalho todo – respondeu um dos engenheiros ali presente abriu uma planta enorme e mostrou o seu trabalho a área estava situada, bem aonde nos interessava.
--Muito bem, é uma ótima área, não vejo porque não concordar com um trabalho como este afinal o IBRA é o órgão indicado para fazer o levantamento, não há o que contestar a não ser que a Codeara não considere o IBRA capacitado para este trabalho – perguntei ao Doutor Seixas. (joguei-o na fogueira).
--Absolutamente, achamos o IBRA totalmente capacitado para este trabalho.
--Então, já que estamos todos de acordo será aqui sugiro que se lavre uma minuta do acordo – terminei.
--Mas, temos um problema nesta área é a aguada – interferiu o Diretor.
--Problema nenhum, vamos usar a aguada em conjunto e os senhores nos reporão a terra na margem acima, o que diz? Mas terão que fazer a demarcação e a mudança dos posseiros e ainda indenizá-los nas benfeitorias que deixarem na outra área.
--Bem, por nós não há problemas – concordou a Codeara.
--Então vamos fazer a minuta do que ficou assentado e depois assinamos.
Feita a minuta do acordo, lida e achada aprovada todos concordarem? – perguntou o IBRA:
Todos concordaram. Disse adeus a todos e sai, estava doido para respirar um pouco e me ver livre.
--Como foi?– perguntou Jentel.
--Tudo bem, a Codeara concordou em doar a área que o IBRA demarcou e terá que indenizar os posseiros nas benfeitorias remanescentes e abrir estradas e fazer as mudanças dos posseiros.
--Neste pau tem abelha – ironizou Jentel acho que é bom demais para ser verdade.
                   No outro dia cedo passamos pelo IBRA para pegar a cópia da minuta, o General Sérgio havia viajado, mas o Doutor Mário nos atendeu:
--Eu não sei como aconteceu, se o Doutor Seixas ou o General levaram a minuta, só sei dizer que desapareceu lá de cima da mesa, mas o que foi dito será mantido e a doação será feita no dia cinco de março conforme o combinado.
                   O padre me olhou e sorriu e eu entendi o que ele queria dizer.
                   Voltamos para Mato Grosso. 
                   No dia anterior ao marcado para a doação nos chegamos a São Paulo, eu, João Neton irmão do Prefeito e o próprio.
                  Ao convite do Zezinho dono da empresa de ônibus Reunida nos hospedou em belíssimos apartamentos em sua garagem.
                   Às duas horas da tarde fomos para o escritório da Codeara que ficava no Edifício Francisco Conde no BCN da Rua Boa Vista, subimos pelo elevador e logo nos anunciamos ao Dr. Luiz Gonzaga Murat então Diretor Presidente da Codeara e genro do Armando Conde, ao nos receber apresentei meus companheiros:
--Este é o nosso Prefeito José Liton Luz e seu irmão João Neton Luz.
--Muito prazer – cumprimentou a todos.
--O Senhor vai amanhã para a reunião no Rio de Janeiro para doação da área?
--Mas que reunião é esta? Que doação é esta? – perguntou quase colérico.
--Dr. Murat o senhor sabe muito bem que tivemos uma reunião no Rio com o IBRA e o Doutor Seixas e ficou assentado que no dia cinco, amanhã, a Codeara faria a doação da área dos posseiros assinaram.
--Amanhã o Senhor Dankmar pode passar por aqui e pegar uma cópia e vamos marcar outra reunião para a escrituração da doação em São Paulo, creio que dia cinco de março estaria ótimo se todo para a Prefeitura – falei me contendo para não explodir.
--Em primeiro lugar o Doutor Seixas não é a Codeara, nós temos centenas de acionistas que teremos que consultá-los, portanto não vai haver reunião nenhuma e muito menos qualquer doação – vociferou o branquelo Diretor.
--Não gostei do seu tom de voz Doutor Murat – respondi – nesta história toda dizem que o padre está embrulhando, mas o embrulhão aqui é o senhor, e de outra vez quando mandar alguém representando a Codeara para uma reunião mande um homem que tenha responsabilidade e não um elemento qualquer, eu não tenho mais nada para conversar contigo – sai esquecendo meus amigos lá dentro e bati a porta com bastante força.
                   Retornei para o apartamento e esperei pelo Liton, já eram quase cinco horas da tarde quando chegou rindo:
--Sabe quem estava lá atrás da porta no escritório?
--Não.
--O Salomão, o bate-pau lá da fazenda e o Doutor Murat disse que você é muito atrevido em chamá-lo de embrulhão e ainda mais dentro do escritório dele
-- É, mas não tem nada não amanhã vamos continuar a briga, eu e Jentel voltaremos para o Rio de Janeiro e veremos o que o General vai falar.
                   No outro dia quando chegamos ao Rio fomos direto ao Hotel Gloria sabem quem estava lá? O padre Chico.
--Cheguei – disse ele.
--É, estamos vendo – respondi. Mas fiquei alegre.
                   Fomos para o IBRA e o General Sérgio nos recebeu a, inclusive Jentel.
--Lamento profundamente o desaparecimento da minuta, mas tudo que ficou combinado aqui na minha presença será cumprido, entrarei em contato com a Codeara e ela terá que manter o estabelecido, logo nos comunicaremos com todos os senhores a data da última reunião que faremos – terminou muito sério o Presidente do IBRA que estava visivelmente aborrecido.
                   Retornamos ao Hotel e depois bem mais tarde saímos para jantar, achamos um restaurante que era em uma adega, ficava no subsolo. Conversamos e rimos muito naquele dia, restava voltar para Mato Grosso e aguardar.            
                   Foi uma longa espera, e a resposta nunca veio e assim, decidimos voltar ao Rio de Janeiro, não poderíamos deixar a coisa esfriar e lá se fomos nós de novo, eu e o Chico.
                   O General novamente nos recebeu bem, mas olhava o padre sempre com reserva. Aconselhou-nos a ter paciência e que aguardássemos os resultados das providências que ele estava tomando.
                   Saímos a perambular pelas dependências do IBRA e lá ficamos conhecendo o Doutor Bertoni, Chefe do Cadastro do IBRA, e também Conselheiro da SUDAM, explicamos a ele o pé em que se encontrava a situação e ele, muito surpreso, comentou:
--Como é que a Codeara no último relatório que apresentou a SUDAM ela pediu a liberação das verbas atestando já terem feito a doação inclusive declararam que já abriram as estradas de acessos à área e outros benefícios.
--Mentira, muita mentira – delirou Jentel raivoso.
--Não é verdade Doutor Bertoni, nada disto aconteceu até agora – garanti.
--Mas então façam uma carta ao General Bandeira de Melo que é o Presidente da SUDAM, (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) e expliquem a atual situação sugerindo a retenção das verbas como medida acauteladora até que se concretize a doação e eu garanto a vocês que farei a leitura na próxima reunião que é no fim desta semana - nos confidenciou aquele cidadão.
--Só me falta uma maquina de escrever, pois papel timbrado da prefeitura eu tenho.
--E nos sabemos escrever – ajudou o padre.
                   E assim fizemos, escrevi a carta, assinei e a entreguei ao Conselheiro Bertoni, do jeitinho que ele nos ensinou.
--Agora eu sei que a coisa vai ferver – vaticinou o clérigo.
                   Não havia outro meio a não ser pressionar a Codeara, e havíamos arranjado um grande aliado.
                   Começamos a mexer os pauzinhos.                                   
                   Retornamos ao Hotel.
--Vamos sair um pouco?– perguntou o padre.
                                         
                          *
A Bela Mansão...
                        “Sem Fim”
Este era seu nome,

                   Pegamos um táxi e lá se fomos nós rumo a Petrópolis, embora fosse noite, podia-se notar o esplendor daquela mansão que havíamos chegado grandes jardins cercados de grades de ferro, fonte luminosa e iluminações artísticas realçavam num jogo místico a beleza do conjunto, e no portão de entrada sob um arco florido de plantas o nome em bronze polido “Sem Fim”. E um pouco ao lado umas casinhas a guisa de guarita abrigavam dois religiosos, possivelmente padres, que fiscalizavam as entradas e ao verem Jentel o saudaram exaustivamente.
                   Entramos em um enorme corredor que nos levou ao que parecia ser um salão de refeição, dezenas de enormes mesas e muitas cadeiras, junto a uma enorme cozinha com muitas pias e bancadas de mármore, fogões embutidos, armários e varias geladeiras e freezer, dali saímos em uma sala que parecia uma grande biblioteca, escutava-se a confusão de muitas vozes conversando a mesmo tempo, fomos nos aproximando, passando por muita gente nos corredores e portas, e finalmente entramos em um salão onde estavam reunidas pelo menos umas duzentas pessoas, ao lado uma porta ondulada em forma côncava dava entrada a um grande auditório onde estavam na maioria reunidos os presentes. O salão estava repleto, a frente um palco e um quadro negro, aonde faziam inúmeras anotações, vários conferencistas sentados aguardavam sua vez de se pronunciarem, ao que parecia a coisa ia longe. Dr. Bertoni era um deles que explicava a forma de distribuição das verbas arrecadadas pelo IBRA e repassadas pelo governo federal a CONTAG e outras entidades. O padre Francisco me apresentou para varias pessoas, era gente que entrava e gente que saia, que resolvi sentar perto de um grupo enquanto Chico se entrosava com os outros, eram todos religiosos de todas as categorias e espécies e de todo os lugares do planeta, ali estavam alemães, italianos, espanhóis, holandeses, e muitos outros a discutirem não sei o que, foi quando um deles em um péssimo português me perguntou:
                   --Você esta aonde?
                   --Eu vim com Padre Jentel e estamos no Araguaia.
--Mas que ótimo, quero conhecer Jentel.
--Já ele aparece por aqui e você de onde veio?
--Da Itália.
--Tem visto permanente – perguntei meio desconfiado.
--Não padre, nós padres não precisamos, eu vim fazer um curso de doenças tropicais e espero ficar por aqui para sempre, ninguém pede documento para padre não é verdade?
--Sim até hoje, não ouvi ninguém nem perguntar de onde o padre vem.
--Pois então não há perigo.
--Claro que não – Seria melhor me comportar como um deles antes que desconfiassem.
--Dankmar – me chamou o padre Jentel chegando junto com outros homens -- este aqui é o nosso encarregado na “Caritas” ele foi muito perseguido pela revolução, esteve preso e foi muito torturado, mas agora esta bem.
--Espero que continue tudo bem contigo – respondi apertando a mão do homem.
                   Outros me foram apresentadas eram as natas que a revolução andara atrás, a maioria era lideres sindical do nordeste. Fiquei preocupado afinal o que fazia aquele povo ali todo reunido? Jentel me deixou em outra saleta pequena e perto de uma geladeira cheia de cerveja, era o que me estava faltando e logo fiz companhia para outros dois ali sentados quando chegou um terceiro procurando:
--Sabe-me dizer onde estão fazendo vales?
--Não, não sei. - mas a idéia não era de todo má.
--Amigo de Jentel? – procurou um deles.
--Sim, estamos juntos. (afinal meu padre era famoso mesmo) e vocês são daqui do Rio?
--Não eu sou Búlgaro e este é italiano, mas já estamos no Brasil a mais de dez anos.
--E daqui vão para aonde?
--Não sabemos ainda, mas tanto faz.
--Com licença vou procurar Jentel. – me desculpei e sai achei Jentel conversando com Bertoni que nos procurava para dar uma carona de volta ao Rio.
--Dr. Bertoni vai nos levar até o Hotel, vamos?
--Porque não – Respondi afinal eu estava doido para sair dali.
                   Logo seguíamos de volta ao Rio de Janeiro, íamos a um carro grande, nunca mais esquecerei aquela experiência.        
                   Voltamos para Mato Grosso, eu e o Chico.
 
Os resultados não se fizeram esperar...
E numa tarde chuvosa um avião monomotor sobrevoou Luciara, no intimo eu sabia que era a Codeara.
                   Meia hora mais tarde entrou na Prefeitura o Dr. Olímpio Jaime, advogado de Goiânia e muito amigo de Liton e meu conhecido, não se fez de rogado foi entrando direto gabinete adentro, onde eu conversava com o prefeito.
--Boa Tarde meus amigos como vão passando?
--Muito bem doutor, que bons ventos o empurram para Luciara?
--Bons ventos nada Liton, o pessoal da Codeara estão fulo de raiva com vocês porque fizeram aquela carta para a SUDAM.
--Mas porque doutor?
--Vocês embananaram a vida deles agora estão com todas as verbas suspensas e me mandaram aqui para acertar a doação e levar um ofício seu dizendo que aquela carta foi um equivoco ou um mal entendido.
--Você tem que acertar com o Dankmar, ele quem fez a carta, só ele resolve, quem começou isto tudo foi ele e só a ele cabe á resposta.
--Marque o dia da doação o mais rápido possível e eu levo a carta em mão assim que receber a escritura eu a assino e entrego para eles - respondi.
                   Dr. Olímpio Jaime olhou para o Liton como a perguntar e agora? Como fica? Liton simplesmente abriu os braços como a dizer eu não sei fica do jeito que está.
--Tudo bem – interveio o advogado – de hoje a quinze dias a reunião será em São Paulo na sede da Codeara e o Doutor Murat exige que o prefeito vá pessoalmente.
--Nada feito, eu não vou ele vai – terminou Liton apontando para mim.
                  A conversa se prolongou até bem tarde da noite e ficou tudo acertado, dia e hora para doação e a entrega da carta. No outro dia cedo o advogado voou rumo a Capital de Goiás.

Finalmente a doação.                 
                  No dia anterior ao marcado eu já estava em São Paulo, e como não tinha boas recordações do escritório da

Codeara, ligue para o IBRA e pedi a interveniência do Dr. Roberto Canot de Arruda, então supervisor do IBRA para que arrastasse a reunião para sua esfera, lá no IBRA eu estaria seguro e assim foi feito e ficou marcada para as 14.00 do dia seguinte.
                   Cheguei ao IBRA exatamente na hora aprazada, quando Dr. Roberto me procurou:
--E o prefeito não veio?
--Não, eu mesmo é que vou resolver isto.
--O Doutor Murat hoje vai perder a criança.
--Farei tudo para ajudá-lo – respondi – vamos lá.
--Chegaram todos, já estão esperando.
                   A porta se abriu e eu entrei de pasta na mão, cumprimentando todos os presentes.
--Boas tardes senhores. – achei uma cadeira vazia bem longe do Murat e me sentei.
--Mas, e o prefeito?  Porque não veio?
--Infelizmente são muitos os afazeres e ele me delegou, desde o inicio poderes para representá-lo como o Sr, já sabe Doutor Murat. Mas se o senhor insistir em brigar posso me retirar dando meia volta para Mato Grosso – terminei secamente.
--Nada disto, já que estamos todos reunidos vamos terminar esta história, o General esta ansioso esperando o resultado no Rio de Janeiro e eu tenho que ligar para ele.
--Por mim esta tudo bem, eu peço apenas que leiam a minuta e em seguida a escritura.
--Se me permitem vou ler o conteúdo da minuta e do livro de registro, não é muita coisa – falou um simpático senhor de boa idade, sentado em frente a um monte de livros.  E fez a leitura por duas vezes. Era exatamente o combinado no IBRA - Rio agora eu sabia quem estava com a minuta e terminou dizendo – é isto senhores e esta pronta para ser assinado, primeiro a Codeara assinaria, depois a Prefeitura e a seguir o representante dos posseiros e demais da diretoria do IBRA e CODEARA. – terminou e ficou olhando como a pensar “quem vai ser o primeiro?”.
                   O Doutor Murat mostrou intenção de relutância foi quando Doutor Seixas interveio:
--Se você quiser, eu assino primeiro.
--Ora bola – resmungou o Diretor Presidente e pegando sua caneta assinou e empurrou o livro para o tabelião que passou para mim que assinei duas vezes, por mim e por Jentel e a seguir todos assinaram - está terminado, agora queremos o oficio insistiu Murat.
--Mas, eu quero a escritura, só vou lhe dar o oficio depois que me entregarem a escritura - respondi.
--Nós vamos mandar a escritura pelo correio – insistiu o nervoso Doutor.
--Não é preciso, Senhor Dankmar o senhor vem comigo até o Cartório eu lhe entrego a escritura ainda hoje, posso lhe garantir – amenizava o cartorário.
--Eu confio no senhor – dizendo isto tirei o envelope da pasta, abri e assinei embaixo da assinatura do prefeito e entreguei ao avexado Dr. Luiz Gonzaga Murat.
--Tudo bem – dizendo isto, levantou-se e saiu sem se despedir de ninguém.
                   Agradeci a todos, especialmente o Dr. Roberto, um grande homem e fui com o simpático senhor rumo ao cartório Medeiros e pouco depois de duas horas e meia recebia a escritura pronta. Agora era só voltar para Mato Grosso, mas desta vez eu ia só, mas com a missão cumprida.
                   Passei por Barra do Garças e registrei a escritura no Cartório de Imóveis e fui para Luciara
                   Finalmente estava tudo sacramentado, mas, comecei a pensar em Jentel “já que esta briga acabou logo ele vai arranjar outra e arrumou mesmo”.
                   Missão cumprida o resto agora era com o prefeito.
                   Ao chegar a Luciara a noticia correu “a doação fora feita”, no mesmo dia o Padre chegou e só acreditou depois de ver a escritura e o registro o padre deu um suspiro profundo que eu nunca pude entender, seria alivio ou uma decepção por uma briga que acabava.
Mas ele como que adivinhando meus pensamentos disse:
--Se você pensa que a briga acabou está muito enganado ainda faltam doar a área da cidade de “Saint Terezin”.
--Calma padre da uma folga.
--É, mas não vai ser fácil você vai ver... - e virando as costas lá se foi o padre rumo ou Saint Denise “sei lá”.
                              §.
“A guerrinha de Santa Terezinha”... 1972 a 1974                                                                                                 

                   A cabeça do padre já ia maquinando novas encrencas e isto fez com movimentasse a sua massa, Santa Terezinha parecia um formigueiro humano.                          
                   Os associados se reuniam constantemente em assembleias e deliberavam muitas melhorias. A força da união os mantinha coesos. Estavam bem “conscientizados”.  Comentava-se naquela ocasião que muitos jovens haviam chegado ao baixo Araguaia, ali por Xambioá, diziam que eram agentes pastorais e que se falava em guerrilhas e também se comentava a intervenção do exercito.
                   O processo de urbanização da cidade de Santa Terezinha tramitava na sua fase final e a Codeara já havia elaborado um plano da futura cidade, nos traçados velhos, pouca coisa seria respeitada. O Padre Jentel, também elaborara um projeto urbanístico da nova cidade respeitando os velhos traçados para não prejudicar os moradores antigos e este tramitava na Câmara de Vereadores de Luciara que o apoiava, não se sabia qual seria aprovado se o de Jentel ou o que a Codeara apoiava e que não respeitava quase nada.
                   Nestas alturas dos acontecimentos o padre Francisco resolve construir um ambulatório para os pobres, e escolhe um local que pertencia ao velho traçado da cidade, isto é, ficava em uma esquina na divisa dos dois traçados. Para a Codeara a construção ficava no meio de uma rua nova, para o Padre Chico não ficava e para a Prefeitura tanto fazia, estava armada a confusão.
                   Teimoso, sem escutar as advertências da Codeara que já queria mandar na cidade, pois julgavam que as terras eram suas, enquanto que o Chico achava que aquilo pertencia ao povo, e não deu ouvido e mandou começar a construção.
                   Novas advertências foram feitas e não ouvidas, o que o padre queria era fazer a obra e os alicerces subiam.
Um dia a Codeara mandou um monte de homens e um trator de esteiras, derrubaram tudo, abriram um buraco no chão e enterraram os escombros, cobriram de terra e alisaram o chão não ficou nem sinal do ambulatório. Nada restou.
                   Manoel Quitandeiro, um dono de venda em Santa Terezinha, havia trazido de Anápolis – GO. Um construtor para fazer os serviços, era crente, e com ele vieram vários parentes. Roberto era seu nome.
--Seu Manoel – dizia o crente – a coisa parece que vai ferver e eu sou crente e não posso me meter em confusão, acho que vou largar tudo e dar no pé.
--Que nada seu Roberto, isto ai num dá nada, vá ganhar o dinheiro do padre, homem...
--Mas pelo o que eu estou vendo vai sair chumbo voando por ai e este bichinho não tem endereço certo...
                   O Padre estava revoltado, neste mesmo dia convocou uma reunião geral. Era em 11 de fevereiro o dia da Grande Reunião.
                   O velho casarão fervilhava de posseiros, estavam em “Assembléia” era cerca de quatorze horas quando começaram:
--Estávamos construindo um ambulatório para vocês, e este dinheiro gasto era de vocês mesmo, resultados da Cooperativa, mas a toda poderosa Codeara não deixou e destruiu tudo, vocês sabem muito bem, agora eu pergunto: Fazer o que? Construir de novo?
--Sim vamos construir de novo – era a voz geral.
--Mas agora há o risco de uma agressão maior e vamos ser necessários nós reagirmos, vocês estão de acordo?
--Sim estamos todos de acordo vamos prosseguir e resistir.
--Então amanhã cedo, todos com as ferramentas que tiverem pás, enxadas, picaretas e vamos trabalhar para nos preparar para recebê-los.
                   E assim o fez, no outro dia quase cem homens trabalhavam sob a orientação de Jentel, uns abriam as valetas que serviriam de trincheiras, outros enchiam sacos de areia e os empilhavam fazendo um muro, alguns preferiram abrir buracos nas paredes das casas vizinhas cujos proprietários se evadiram, a noticia correu ligeira e a Codeara tomou conhecimento do que o padre estava fazendo e solicitou em Barra do Garças a vinda de policiais militares. Enquanto isto os candidatos a guerrilheiros também levantavam as paredes do ambulatório, os crentes ficavam com um olho na colher e outra na entrada da rua. As mulheres preparavam a comida e levavam para os homens nas trincheiras e assim ficaram por vários dias e nada da policia aparecer. Até que numa quinta feira o vigia lá do campo deu o aviso “A Policia chegou”, mas nestas alturas muitos dos posseiros tinham saído, mas chegavam os índios Tapirapé para ajudar. O Povo de Santa Terezinha torcia pelo Padre.
--Vamos aguardar até chegarem bem perto e deixem-nos começarem.      
                   Não demorou muito a apareceram duas caminhonetes cheias de soldados e trabalhadores da Codeara e vinha também um trator de pneus com uma lamina na frente, quando chegaram junto da construção pararam a comitiva e o capataz Silveira pulando de cima do trator no chão, gritou.
--Estão escondidos ali atrás vamos pegá-los.
              Foi a conta para começar o tiroteio, armas de todos os calibres e marcas de fabricação caseira começaram a cuspir chumbo, o primeiro atingido foi o Silveira bem no dedo da mão, o segundo foi o tratorista, ambos desapareceram  num instante. Na caminhonete da frente vinha o Capitão Moacir comandante da Policia Militar que diante da surpresa de tanta bala teve que abandonar a viatura escorando no soldado Amaro e nos dois crentes, mas deixou dentro do carro sua bolsa e sua arma Bereta.
                   Foi uma debandada doida a Policia não pode reagir porque não via ninguém em que atirar e tentaram ir buscar a caminhonete do Comandante que ainda funcionava, mas quando um pretenso herói se aproximava uma chuva de bala o fazia voltar. O carro apagou porque acabou a gasolina e com a vinda da noite á coisa se complicou. Resolveu esperar o dia amanhecer. E no outro dia quando a policia voltou não encontrou mais ninguém e nem o Padre Jentel que tinha fugido para Goiânia.
                   O Padre Jentel foi preso e posteriormente expulso do Brasil, e quando da busca que o exercito deu na Prelazia de São Félix do Araguaia, por estar o Bispo envolvido com os guerrilheiros de Xambioá, acharam a arma do Capitão Moacyr pendurada na parede com etiqueta. “Lembranças da guerra de Santa Terezinha”
                   O Padre François Jaques Jentel, nasceu a 29 de agosto de 1932 na cidade de Meriel, na França e já estava com 32 anos quando chegou como padre na aldeia Tapirapé no encontro das águas do rio Tapirapé com Araguaia.
                  Soube depois que o Padre François Jaques Jentel, ou Padre Chico ou ainda Padre Francisco, foi preso acusado de subversão, e conduzido para o Quartel Militar em Campo Grande, levado a julgamento no dia 21 de maio de 1974 e condenado a dez anos de prisão, mas foi absolvido pelo Superior Tribunal Militar. Já em liberdade voltou à França para junto de sua família. Ao retornar para Brasil em 12 de dezembro de 1975 quando saia da casa de D. Aloísio  Lorscheider em Fortaleza, acompanhado de um padre, quatro civis se precipitaram sobre ele  e o colocaram a força  num carro que  tomou direção desconhecida foi preso deportado para a França num decreto assinado pelo Presidente Geisel e o Ministro Amando Falcão isto em Janeiro de 1976. Morreu na sua terra natal de hemorragia interna no dia 01 de janeiro de 1979, três anos depois de sua expulsão no seu exílio onde sempre sonhava voltar Brasil. Nos meios governamentais, espalhou-se o boato de que teria havido um acordo tácito entre as autoridades religiosas e o governo, segundo o qual o padre  Jentel teria sido libertado da prisão de Campo Grande em troca de seu compromisso  de deixar definitivamente o Brasil; sua volta significava o desrespeito a esse acordo.         
                   Boas lembranças e muitas saudades de um matreiro rebelde e simples padre e grande amigo que viveu para os pobres e índios entre e eles como um deles, era a sua vida, ali guardava a sua alma e seu coração... Mas seus feitos ficaram guardados nos corações daquele povo humilde                
                  Um dia na sua humildade ele me disse:
                 ”Cristo veio ao mundo porem muito pobre, pequenino e aparentemente fraco, mas tinha em seus olhos a Luz do Céu”.
      ”Virar as costas aos pobres é o mesmo que virar as costas para Deus”. Chico, a bruxa continuava solta.
                       


    François Jaques Jentel - Padre Francisco
                   .
     Velho e matreiro amigo. Viveu para os pobres, 
     peões e índios como eles e sendo um deles.  
     Aqui fica o registro de sua luta. 
     Do  amigo e companheiro .    Dankmar.

                Prefeito de  Santa Terezinha.
Euclesio José Ferreto- Prefeito de Sta. Terezinha MT



 Senhor Prefeito, este livro conta a história da origem   de sua cidade,       foi extraída do Livro “Terras bravias”  deste mesmo autor. Trata-se de      um relato simples, mas autentico, pois o autor vivenciou estes                 acontecimentos. Ofereço este trabalho á  Vossa  Excelência com meus         agradecimentos  e autorização para publica-lo na integra se assim o desejar.   Wolfgang Dankmar Gunther
  Porto Alegre do Norte MT em 05/02/2018.


                                          §




Poema em verso dedicado a Santa Terezinha.

e ao Padre Pranxito - Francisco ou Chico.

. “Peão do trecho”    

Estrela solitária do nordeste,
Tens a sina do deserto,
Sem rumo, sorte relegada,
A terra prometida?
Nunca a vereis por certo.
Peão do trecho, sem destino,
Resto de migrante perdido,
Andas e andas sem parada,
Caminheiro sem rumo definido,
É tu o pó da estrada?

Na mata, braço forte, o machado,
Lenha a arvore com fervor,
Na alma pobre, maltrapilho,
No rosto tristeza estampada,
Lembra a mãe que chora o filho,
Lembra que apenas é o pó da estrada.
Sua alma inquieta agoniza,
Lembrando seu rincão natal,
Dentro desespero enfada,
No álcool, sua dor suaviza,
Com o sabor insípido do sal,
Lembra que é apenas o pó da estrada,

A violência tal espinho,
Fere a carne, solta a vida,
No chão a taça derramada,
Vermelho o sangue tal vinho,
Mancha o pó da estrada.
Quem morreu?
Pergunta o andarilho passante,
Ninguém não seu moço,
Esse ai não valia nada,
Era apenas um peão do Trecho,
Era apenas o pó da estrada.
Wdg.
Fim
              Histórico...

           O Autor, Wolfgang Dankmar Gunther, passou por esta  localidade, em 1952. Em visita ao Padre que estava em romaria reavivando os velhos casarões. Oriundo de São José do Rio Pardo no Estado de São Paulo integrou-se a Bandeira Piratininga em 1948  e  residiu em São Felix do Araguaia. Casou-se em março de  1953, em São Felix, com Maria Paciente Gunther, foi o primeiro casamento civil registrado em Cartório, mudou-se para Luciara onde  residiu por longos dez anos, durante este período foi Secretario de Planejamento da Prefeitura por dois mandatos e Sub Prefeito de Porto Alegre do Norte,  na sequencia, em 1958 ingressou na FBC em Santa Izabel do Morro passando a Chefe do Centro de Atividades da Ilha do Bananal, cargo que ocupou também por nove anos deixando muitos amigos. Com a extinção da FBC foi transferido para a Policia Federal em Brasília onde cursou na Academia (cursos intensivos) finalmente foi cambiado para Cuiabá, mas não residiu ali sendo colocado a disposição do Forum de Justiça de Barra do Garças e ali permaneceu por mais nove anos até se aposentar. Passou a residir desde 1981 em Porto Alegre do Norte já tendo completando 37 anos de permanência e entre  lapso de tempo foi eleito Presidente do Sindicato Rural em abril de 1995 e reeleito sucessivamente até 2009, tendo construído a séde própria.  Mas,  não deixando de visitar São Felix e Luciara. Dedicou-se a por em papel as suas memorias e finalmente terminou  décimo terceiro  livro todos lançados na Internet com a sigla "Gunther – Raízes A Historia de Luciara – Um Cantinho do Céu”. Também lançou a Historia de São Felix do Araguaia e de outros municípios. Agradece a Assembleia Legislativa  do Estado de Mato Grosso que lhe concedeu o Titulo de  "Cidadão Mato-grossense" em maio de 2002 e  seguidamente o titulo "Moção de Louvores" em 15 de dezembro de 2005 e a Câmara Municipal de Porto Alegre do Norte lhe concedeu o titulo de "Cidadão Porto Alegrense" em 29 de junho de 2005. mas, a melhor coisa que conseguiu neste quase 90 anos foi o presente da grata presença e carinho de seus amigos e de seus familiares sob a tutela de um Deus Único - e sempre usando o slogan: 
"PORQUE BUSCAIS A TANTOS QUANDO HÁ UM SÓ  A SER ENCONTRADO?"
Abraços a todos.

autor :Wolfgang Dankmar Gunther.
Avenida Piraguassú 1415.
Porto Alegre do Norte MT.
CEP 78.655.000.
Celular; 014.66.984071193. 
 Wdg  2018.

                                                           Reminiscências!!!
  

                                        §

Obs. Da cidade avista-se ao longe, rumo oeste, uma pequena
elevação, um morrote,  não muito longe Leonardo Villas 
Boas garimpou ali pedras cristais afloravam sobre o chão, 
ele tirou  varias viagens destas pedras, mas eram só das
 pequenas. não sei o valor destas. Ainda deve ter muitas 
por lá, se niguem tirou? Abraços = Dankmar



A beleza da índia brasileira.

















            




Autor  Wolfgang Dankmar Gunther
Av. Piraguassu 1415.
Porto Alegre do Norte MT
CEP78550.000
Cel.  984071193



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